Ana Bolena e a doença do Suor Malígno

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Em 1528, o embaixador francês – Du Bellay, perguntou se o relacionamento entre Henrique VIII e Ana Bolena seria forte o suficiente para sobreviver por um longo período de separação. A pergunta do embaixador logo seria respondida, quando em 16 de Junho de 1528, uma das damas de compania de Ana caiu doente com a temida doença do suor maligno, ” uma doença altamente contagiosa e frequentemente fatal”, que Eric Ives acreditava ter sido uma infecção de vírus semelhante ao da gripe espanhola de 1918 (pág. 100).

Como de costume, quando havia qualquer sinal da doença, Henrique VIII fugia de casa em casa em busca de um refúgio da epidemia assassina. Ana Bolena voltou para a casa de sua família em Hever e o rei, acompanhado pela rainha Catarina, “começou a mais meticulosa rodada de práticas religiosas” (Ives, pág. 100).

No entanto isso não impediu Henrique de escrever para sua amada Ana, para tranquilizá-la, de que: “poucas mulheres tinham esta doença”, mas apesar das palavras de encorajamento do rei, Ana Bolena caiu doente, enquanto esteve em Hever Castle. Seu pai, Thomas Bolena também adoeceu do suor durante esta epidemia (Starkey, pág. 331).

Ao ouvir sobre sua súbita doença, o rei escreveu: “…que ficaria feliz em ter metade dela para que Ana ficasse bem… “(Cartas de amor a Ana Bolena, pág. 22).

Em 22 de junho, mesmo dia em que Ana Bolena ficou de cama, William Carey, marido de Maria Bolena, também sucumbiu à doença (Weir, pág. 186).

William Carey, marido de Maria Bolena, irmã de Ana Bolena, pintura atribuida a Hans Holbein the Younger (o Jovem).

O rei respondeu enviando seu segundo melhor médico, William Butts, “O médico em quem coloquei mais confiança,quando poderia me dar mais alegria, agora está ausente…” (Ives, pág. 101).

Butts carregava uma carta de “solidariedade e apoio” de Henrique VIII, assinada com as iniciais ‘H’ e ‘R’   flanqueando um coração e ‘AB’ (Ives, pág. 101). Henry pediu a Ana “…para seguir os conselhos dele (Dr. Butts) sobre sua doença, para que assim eles em breve pudessem ficar juntos novamente…”, e que ele (o rei) então ficaria “mais feliz do que se tivesse todas as pedras preciosas do mundo” (Love Letters to Anne Boleyn, Pg. 23).

Felizmente tanto para Butts quanto para Ana, ela e seu pai se recuperaram.

Os favores de Butts também “Não passariam despercebidos. No Natal de 1528, ele havia sido nomeado Médico Real e gozava de um saudável salário de 100 libras por ano (Starkey, pág. 332).

Ele também passou a forjar uma estreita relação com Ana, cuidando tanto de sua saúde física, quanto de seu bem-estar espiritual (Starkey, pág. 332).

Cardeal Wolsey aconselhou o rei e seu conselho sobre quais preucações tomar com relação ao curso que seguia a doença do suor. Brian Tuke informou ao Rei:

“Agradeceu sua graça: e mostrou-me primeiramente a maneira como o processo infeccioso se formava; como as pessoas foram infectadas; se estavam fora de risco, se necessitavam ficar em observação; quantos foram mortos; que Ana, e Lord Rochford estavam infectados;  do perigo que eles estavam correndo  retornando do suor antes do tempo; do esforço de Mr. Butts, que foi junto com eles e retornou; e muitas outras coisas sobre esses assuntos e finalmente sobre sua recuperação perfeita. “(Ives, pág. 101)

O rei estava tão contente pela total recuperação de Ana, que enviou a ela cartas e presentes, assim como Cardeal Wolsey.

Dentro de um mês após o período de quarentena imposta, Ana Bolena estava de volta a corte e Du Bellay teve uma clara resposta à sua pergunta anterior. A separação não teve efeito negativo sobre a relação de Ana e Henry. Muito pelo contrário, no retorno de Ana, Du Bellay observou que “O rei estava em tamanho extase, que apenas Deus poderia tirá-lo desta condição… ” (Ives, pág. 101).

O tempo em que Henry e Ana haviam passado distantes, não diminuíra sua paixão por Ana, ao invés disso, apenas alimentou o fogo de seu coração e o fez afeiçoar-se ainda mais…

É importante agora observarmos mais detalhadamente sobre o “Suor malígno”, para que possamos compreender o quão sortudos Ana e seu pai foram em ter sobrevivido. Especialmente quando consideramos que tal doença custou a vida de muitos que a contrairam, como Charles Brandon e os filhos de Catherine Willoughby, Henry e Charles, com poucas horas de diferença um do outro em 1551.

Quando a doença Tudor do Suor Malígno apareceu?

A doença do suor, uma das mais temidas e mortais do período Tudor, primeiramente deu as caras em 1485. Ela chegou com muita ferocidade, deixando muitos mortos.

De 1485 até 1507, quando um surto menos generalizado da doença ocorreu, a Inglaterra ficou praticamente adormecida.

Em 1517 ela novamente reapareceu, desta vez resultando em uma epidemia ainda mais mortal. Em Oxford e Cambridge a doença era freqüentemente fatal e em algumas cidades, dizimou metade de sua população.

Já em 1528, a doença do Suor voltou com força total, rompendo em Londres e rapidamente espalhando-se por toda a Inglaterra. A alta taxa de mortalidade em Londres obrigou a corte a se romper, abandonando o curso de verão e fugindo em busca de segurança.

Nesta ocasião, a epidemia atravessou o Canal Inglês e espalhou-se pela Europa, sucumbindo muitos à doença dentro de algumas semanas.

Foram relatados casos na Suíça, Dinamarca, Suécia, Noruega e também surgiram casos em Antuérpia e Amsterdã.

Henry Brandon, 2º Duque de Suffolk

Até o final do ano, a epidemia estava com tudo, mas desapareceu para nunca mais voltar para a Europa continental.

A Inglaterra não teve a mesma sorte e em 1551 foi reportado um grande surto da doença.

Quais eram os sintomas da doença do suor?

Os sintomas começaram muito de repente e foram típicos de uma infecção viral ou gripe: Dores de cabeça, calafrios, dores musculares e grande cansaço.

Isto era seguido por calores e transpirações, acompanhados de dores de cabeça e delírios. O paciente também sofria dores no peito e dificuldade para respirar.

A morte geralmente ocorria dentro de 24 horas após o primeiro sintoma, embora em alguns casos, o paciente chegasse a morrer no prazo de algumas horas após contrair a doença.

Qual foi a causa desta assustadora doença?

Alguns sugerem que a doença do suor foi trazida em 1485 da França, pelos exércitos de Henrique VII.

Infelizmente, a origem e causa exatas são desconhecidas, embora muitos historiadores concordem que provavelmente, tenha sido relacionada com a doença moderna, conhecida como Hantavírus. O problema com esta teoria é que a Síndrome Pulmonar por Hantavirus é uma “doença mortal transmitida por roedores infectados através de urina, fezes ou saliva”, já a doença do suor era transmitida de humano para humano.

Além disso, a maior parte dos infectados pela doença eram homens de status elavados e saudáveis, embora as mulheres não fossem imunes. Provavelmente os Tudors mais pobres teriam entrado com mais frequência em contato com roedores e suas fezes que os Tudors mais ricos.

Outra teoria proposta é uma febre recorrente, transmitida através da picada de piolhos e carrapatos, embora isso novamente não explique por que a doença do suor foi mais dominante na alta sociedade.

Charles Brandon, 3º Duque de Suffolk

Outro fato que descartaria essa hipótese é que o Hantavírus deixava uma crosta negra no local da mordida e o pessoal encarregado dos cuidados e enfermagens dos afetados pela doença na época Tudor não teriam feito nenhum relatório a respeito desse detalhe tão importante.

Assim, parece que a doença do Suor Malígno é outro mistério Tudor que vai continuar a nos intrigar por muitos e muitos anos…

Referencias e Fontes:

E. Ives The Life and Death of Anne Boleyn, 2004.

Love Letters of Henry VIII to Anne Boleyn, n.d.

D. Starkey, Six Wives: The Queens of Henry VIII, 2003.

A. Weir, The Six Wives of Henry VIII, 2007.

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