Ana Bolena Parte II – A corte Margarida da Áustria

Estátua de cera de Ana Bolena.

Com sua carreira diplomática como embaixador e com seu brilho e charme, Thomas Bolena ganhou muitos admiradores por toda a Europa. Quando foi enviado em uma missão diplomática para a Holanda em 1512/1513, ele conheceu a influente Margarida, arquiduquesa da Áustria e regente dos Países Baixos. Thomas deparou-se com uma mulher brilhante, bem educada e muito culta e  impressionou-se com sua corte, que na época era conhecida como o que Eric Ives descreve ”A meca do comportamento aristocrático’‘. Ai estava a deixa, Thomas Bolena sempre prezou em dar uma boa educação para seus filhos e a corte de Margarida, seria um ótimo local para sua inteligente filha Ana Bolena aperfeiçoar sua aprendizagem. Jovens, homens e mulheres com cargos na corte da arquiduquesa eram nada menos que, o sobrinho Habsburgo de Margarida, príncipe Charles e suas sobrinhas, princesa Eleanor, princesa Maria, princesa Isabella e outras crianças da “elite Europeia.” A afinidade de Margarida e Thomas foi tão imediata, que ela ofereceu a sua filha Ana, um lugar em sua Corte.

Retha Warnicke descreve um episódio interessante entre o pai de Ana Bolena e a arquiduquesa. Em agosto 1512, os dois encontravam-se em tão boas condições, que Margarida chegou a fazer apostas com Thomas, de que seu pai, o imperador, lhes permitiriam concluir suas negociações dentro de dez dias. Se Thomas ganhasse a aposta, Margarida lhe daria como prêmio um Corcel espanhol, mas se Margarida ganhasse, então Thomas lhe daria “um hobby” (antiga raça extinta de cavalos irlandeses). Warnicke diz que “como Margarida havia pedido-lhe tal cavalo, ela certamente conhecia sua família, pois Thomas era um herdeiro do condado irlandês de Ormond e tais corcéis eram associados a este país.”

Após o retorno de seu pai à Inglaterra, na primavera de 1513, Ana foi enviada com uma escolta para completar sua educação e servir de Dama de Companhia a arquiduquesa. Tão logo chegou, Ana impressionou Margarida com sua postura e inteligência. Em uma carta endereçada a Sir Thomas Bolena, logo após a chegada de Ana na Holanda, Margarida a elogiou dizendo:

“Recebi sua carta pela Bouton Esquire que apresentou sua filha a mim, ela é muito bem-vinda e estou confiante de ser capaz de lidar com ela de uma forma que lhe dará satisfação, de modo que em seu retorno, não precisaremos de nenhum intermediário para nós dois. Ana é tão agradável para sua tenra idade que estou mais em dívida com você por tê-la enviado, que você a mim. ”

Muitos historiadores usam esta carta como prova de que Ana tinha sete anos e não 12 em 1513, pois a arquiduquesa refere-se a sua tenra idade, porém é bastante provável que ela quisesse apenas ressaltar o quão precoce era Ana por ser mais nova que as outras “demoiselle d’honneur”.

Ana foi citada em uma lista junto com outras 18 “filles d’honneur” em um jantar com o Barão de Reiffenberg – “Chronique de Métrique Chastellain et de Molinet “:

“Aultre plat pour les filles d’honneur et aultres femmes ordonnés par Madame de manger avec elles que sont XVIII, assavoir:-

Mesdames de Verneul, Waldich, Reynenebourg, Bréderode, d’Aultroy, Hallewyn, Rosimbos, Longueval, Bullan, les II filles Neufville, Saillant, Middelbourg, Cerf, Barbe Lallemand et la mère.”

Ao conviver com a arquiduquesa, Ana Bolena havia obtido elementos especiais de conhecimento que não estavam escritos no livros, os de como se comportar e viver em uma corte real. Na verdade, foi Margarida quem aconselhou Ana que, ”confiar naqueles que estão à seu serviço, irá colocá-la na fileira daqueles que foram enganados.” Ana lembraria deste conselho pelo resto de sua vida.

Margarida da Áustria.
Margarida da Áustria.

Na corte, Ana aprendeu francês com o auxílio de um tutor chamado Semmonet. Ela começou suas aulas de escrita que baseavam-se na cópia do que haviam escrito e em seguida passou para ditados. Ana desenvolveu também sua conversação e comportamento, e enquanto esta lá, estudou arte, cultura, dança, literatura, música e poesia. O acesso que teve à magnífica biblioteca de Margarida permitiu-lhe ver e apreciar manuscritos ilustrados, trabalhos históricos, livros de música, poesia e obras de autores como Esopo, Aristóteles, Boccaccio, Boécio, de Christine Pizan e Ovídio. Hugh Paget (autor de Margarida da Áustria, regente da Holanda) cita Jane de Longh, dizendo sobre a corte de Margarida: –

“Os nobres e damas de sua corte refletem a influência dos gostos e preferências de sua senhora. Eles compõem música, escrevem poesia e recitam nesta pequena corte no silêncio e reclusão de Malines. “

Sem dúvidas o tempo em que passou na corte de Margarida, mudaria a vida de Ana para sempre. Seu amor pela arte, música, poesia e manuscritos ilustrados, tiveram início na corte da Arqueduquesa. Eric Ives escreve sobre como “mais tarde na vida, Ana ficou fascinada com tecidos e cores”, amor esse que deve ter surgido devido as tantas tapeçarias presentes na corte de Margarida. Ana também foi patrona do artista Hans Holbein, assim como Margarida, que havia dado seu patrocínio para grandes artistas do continente.

Eric Ivesdiz que o Palácio de Margarida da Áustria também fez com que Ana Bolena apurasse seu gosto na arquitetura. Ele diz que foi pela face sul do palácio de Margarida, que Ana teria conhecido um tijolo local modelado, em um estilo semelhante ao de Hampton Court Palace.

Por fim, Hugh Paget fala sobre as “consequências importantes” com o tempo que Ana passou na Corte de Margarida : –

”Foi a base de seu conhecimento em francês e “outras realizações da corte”, o que a levaria a ser escolhida por Maria Tudor em 1514 para servi-la.
As habilidades que aprendeu em Mechelen, que foram então, desenvolvidas na França, provavelmente a fizeram “um consorte digna” de Henrique VIII.
Seu tempo em Mechelen pode ter tido um efeito sobre o desenvolvimento da música e da arte na Inglaterra. O estilo flamengo de música tornou-se popular e Paget aponta que os Bolena eram patronos da Gerard e Hornebolt Lucas, a quem somos devedores pela fundação da arte dos retratos em miniatura na Inglaterra. ”

Com tudo isso, podemos concluir que Ana Bolena foi muito bem instruida durante sua estada de apenas 15 meses na corte de Margarida, e que o que vivenciou e aprendeu lá, mudariam sua vida para sempre, preparando-a para seu futuro, que nem ela podia imaginar ser tão grande, ser rainha da Inglaterra.

 

Ana tocando seu alaúde.
Ana tocando seu alaúde.

Fontes:
Katelyn coments: AQUI.

Citações de Hugh Paget.

Carta de Ana Bolena à seu pai.

Livro: The life and death of Anne Boleyn.

2 comentários Adicione o seu

  1. Rayssa Bilinski disse:

    Uau! Interessantíssimo texto, louca para ler mais! Adorei a ”teoria” da idade no post antecedente, é de explodir cabeças! Poderia pedir permissão de utilizar seu estudo como base em meu trabalho escolar? Agradeço desde já pela leitura!

    1. Tudor Brasil disse:

      Pode usar sim, Rayssa. Fico feliz que tenha gostado!

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