Catarina de Aragão – A primeira esposa de Henrique VIII


Neste mundo, irei confessar-me ser a verdadeira esposa do rei, e no seguinte, eles irão saber como estou injustificadamente aflita”.
Catarina de Aragão, 1532.

Nome: Catarina de Aragão (Castelhano: Catalina de Aragón; Aragonês: Catarina d’aragón; Inglês: Catherine of Aragon)

Casa Real: Trastámara (nascimento); Tudor (casamento)

Nascimento: 16 de Dezembro de 1485

Casamento com Henrique VIII: 11 de Junho de 1509

Anulação do casamento com Henrique VIII:1533

Morte: 7 de Janeiro de  1536 no Castelo de Kimbolton

Funeral: Peterborough Abbey (agora: Peterborough Cathedral)

Inicio da Vida:

Catarina nasceu no Palácio do Arcebispo em Alcalá de Henares perto de Madrid, na noite de 16 de Dezembro de 1485. Ela era a filha mais jovem a sobreviver do rei Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela. Catarina era muito pequena em estatura, tinha longos cabelos avermelhados, grandes olhos azuis bem claros, um rosto redondo e uma tez clara. Ela era descendente, por seu lado materno, da casa real inglesa de Lancaster; sua bisavó Catarina de Lancaster, após a qual foi nomeada e sua tatara-avó Filipa de Lancaster foram neta e filha de John de Gaunt e Eduardo III da Inglaterra. Consequentemente tornando-a prima de terceiro do sogro de Henrique VII da Inglaterra e prima em quarto grau de sua sogra Elizabeth de York.

Catarina foi educada por um tutor, Alessandro Geraldini, que era um eclesiástico da Ordem. Ela estudou religião, história, latim, heráldica e genealogia, tendo uma educação religiosa muito forte e desenvolvendo uma fé que mais tarde iria desempenhar um importante papel em sua vida. Ela aprendeu a falar, ler e escrever em espanhol e latim e também falava francês e grego. Também aprendeu habilidades domésticas, como bordado, crochet, música e dança. O grande erudito Erasmus diria mais tarde que Catarina “amava a boa literatura que tinha estudado com sucesso desde infância”.

Devido à ascendência Inglesa que herdou de sua mãe a Rainha Isabel I de Castela, Catarina em uma idade precoce, foi considerada uma esposa adequada para Arthur, o príncipe de Gales, filho mais velho de Henrique VII de Inglaterra e herdeiro do trono. Por meio de sua mãe, Catarina tinha uma reivindicação legítima mais forte ao trono Inglês do que o rei Henrique VII, através das duas primeiras esposas de John de Gaunt duque de Lancaster 1: Blanche de Lancaster e a Infanta espanhola Constança de Castela. Em contraste, Henrique VII era descendente de Gaunt por seu terceiro casamento com Katherine Swynford, cujos filhos nasceram fora do casamento e apenas foram legitimados após a morte de Constança. Os filhos de John e Katherine enquanto legitimados, foram impedidos de herdar o trono Inglês, uma estenose que foi ignorada em gerações posteriores. Por causa da ascendencia de Henrique através de filhos ilegítimos impedidos de suceder ao trono Inglês, a monarquia Tudor não foi aceita por todos os reinos europeus. Na época, a casa de Trastâmara foi a de maior prestígio na Europa devido à regra dos Reis Católicos, por isso a aliança de Catarina e Arthur validaria a Casa de Tudor aos olhos da realeza européia e também reforçaria a reivindicação do trono Inglês via ascendência Catarina de Aragão. Ela também teria dado ao futuro herdeiro do sexo masculino, uma reivindicação indiscutível para o trono. Os dois se casaram por procuração em 19 de maio de 1499 e  se corresponderam em latim até que Arthur completasse quinze anos, quando ambos teriam idade suficiente para se casarem. Quando Catarina de Aragão viajou a Londres, ela trouxe um grupo de seus assistentes africanos com ela, incluindo um trompetista identificado como John Blanke. Eles foram os primeiros africanos registrados a chegar a Londres na época e foram considerados servos de luxo, causando uma grande impressão sobre a princesa e o poder de sua família.

Suposto retrato de Catarina de Aragão durante sua infância.

Casamento com o Príncipe Arthur:

O casal se conheceu em 4 de Novembro em Dogmersfield, Hampshire. Pouco sabe-se sobre suas primeiras impressões um do outro, mas Arthur escreveu a seus sogros dizendo que seria “um verdadeiro marido amoroso” e disse a seus pais que estava imensamente feliz  por “contemplar a face de sua adorável noiva”. Infelizmente, o casal descobriu que não podia entender um ao outro, pois tinham aprendido diferentes pronúncias do latim. Dez dias mais tarde, em 14 de novembro de 1501, eles se casaram na antiga catedral de São Paulo.

Uma vez casados, Arthur foi enviado ao Castelo de Ludlow na fronteira do País de Gales para presidir o conselho de Marcha do País de Gales, seu dever como príncipe de Gales e sua esposa o acompanhou. O casal instalou-se no Castelo de Ludlow. Poucos meses depois, ambos ficaram doentes, possivelmente de Suor Malígno que estava varrendo a área. Arthur morreu em 2 de Abril de 1502; Catarina recuperou-se, porém viúva.

Neste ponto, Henrique VII encarou o desafio de evitar ser obrigado a devolver o dote de Catarina ao pai dela. Para resolver a questão, foi acordado então que Catarina se casasse com o segundo filho de Henrique VII, Henrique Duque de York, que era 5 anos mais jovem que ela. A morte da mãe de Catarina, Isabella de Castilho, no entanto fez com que seu “valor” no mercado de casamentos diminuísse. Castela era um reino muito maior que Aragão e foi herdado pela mentalmente instável irmã mais velha de Catarina, Joanna. Aparentemente o casamento foi adiado até que Henrique tivesse idade o suficiente, mas Henrique VII procrastinou tanto sobre devolver o dote pago de Catarina, que seria duvidoso que outro casamento tomasse seu lugar. Ela viveu como uma prisioneira em Durham House, Londres.Algumas de suas cartas escritas a seu pa,i Catarina queixava-se do tratamento que recebia. Em uma dessas cartas ela lhe disse “Eu escolho o que acredito e não digo nada. Pois isto não é tão simples como parece.” Ela tinha pouco dinheiro e lutou para fornecer bem estar para suas damas, bem como o seu próprio. Em 1507 ela serviu como embaixadora espanhola na Inglaterra, tornando-se então a primeira embaixadora mulher na história da Europa.Enquanto Henrique VII e seus conselheiros acreditavam que ela seria facilmente manipulada, Catarina provou a eles que estavam enganados.

Seu casamento com o irmão de Arthur dependia de uma dispensa Papal, pois na lei canônica os homens são proibidos de desposarem a mulher de seus irmãos. Catarina testemunhou que seu casamento com Arthur jamais havia sido consumado, pois também de acordo com as leis canônicas, um casamento não é oficialmente válido até que seja consumado.

Rainha da Inglaterra (1509-1533):

Casamento:
O casamento de Catarina ocorreu no dia 11 de Junho de 1509, sete anos após a morte do príncipe Arthur. Ela casou-se com Henrique VIII, que tinha apenas ascendido ao trono em uma cerimônia privada na Igreja de Greenwich. Ela tinha 23 anos de idade. O rei estava a apenas alguns dias de seu 18° aniversário.

Coroação:
No sábado dia 23 de Junho, véspera da tradicional procissão de coroação em Westminster, eles foram recebidos por uma grande e entusiasmada multidão. Como era de costume, o casal passou a noite antes de sua coroação na Torre de Londres. Em um dia de verão, Domingo, 24 de Junho de 1509, Henrique VIII e Catarina de Aragão foram ungidos e coroados juntos pelo arcebispo de Canterbury em uma cerimônia na Abadia de Westminster. A coroação foi seguida de um banquete em Westminster Hall. Muitos novos cavaleiros de Bath foram criados em honra a coroação. No mês que se seguiu, muitas novas ocasiões sociais apresentaram a nova princesa espanhola de Gales ao público inglês. Ela causou uma boa impressão e foi muito bem recebida pelo povo da Inglaterra.

 Gestações:
No dia 31 de Janeiro de 1510, Catarina deu a luz prematuramente a uma filha natimorta. Um filho, Henrique Duque da Cornualha nasceu no Ano Novo de 1511. Ele viveu por apenas 52 dias. Em 1513, Catarina engravidou novamente e perdeu outro filho quando Henrique retornou da França. Em dezembro de 1514, ela teve outro filho, príncipe Henrique, que morreu logo após nascer. Em 18 de fevereiro de 1516, Catarina deu a luz a uma menina saudável. Ela foi chamada de Maria e batizada 3 dias depois em uma grande cerimônia na Igreja Observant Friars. Em 1518, Catarina ficou grávida por uma última vez. Ela deu a luz a uma filha dia 10 de Novembro, mas o bebê era fraco e morreu pouco tempo após nascer. Catarina ficou ao todo grávida seis vezes.

*Bebê natimorto; Nascimento: 31 de Janeiro de1510  ; Morte: 31 de Janeiro de 1510.
*Henrique Duque da Cornualha ; Nascimento: 1 de Janeiro de 1511; Morte: 23 de   Fevereiro de 1511.
*Filho natimorto; Nascimento: Outubro de 1513; Morte: Mesmo dia.
*Henrique Duque da Cornualha; Nascimento: Dezembro de 1514; Morte: Mesmo dia.
*Maria I, Rainha da Inglaterra; Nascimento: 18 de Fevereiro de 1516; Morte: 17 de Novembro de 1558.
*Menina sem nome; Nascimento:10 de Novembro de 1518; Morte: dentro de uma semana.

Pintura de Catarina implorando à Henrique VIII para reconsiderar seu casamento.

Influencia:
Em 11 de Junho de 1513 Henrique apontou Catarina como regente ou governadora da Inglaterra enquanto ele estivesse em uma campanha militar na França. Quando Luiz I d’Orléans, Duque de Longueville foi capturado na batalha de Guinegate, Henrique enviou-o para ficar na casa de Catarina, que prontamente escreveu para Wolsey dizendo que ela e seu conselho prefeririam que o Duque ficasse na Torre de Londres, pois nunca estiveram “tão ocupados como estavam agora” e adicionou suas preces para “Que Deus nos mande sorte contra os escoceses, como o Rei há de fazer“. A guerra com a escócia ocupou seus assuntos e ela estava” horrivelmente ocupada fazendo bandeiras e brasões” no Palácio de Richmond. Os escoceses invadirama Inglaterra e em 3 de Setembro ela ordenou Thomas Lovell a levantar  um exército nos municípios de Midland.

Apesar de estar grávida, Catarina seguiu ao norte trajando uma armadura completa para enfrentar os soldados. Seu belo discurso foi relatado pelo historiador Peter Martyr d’Anghiera  em Valladolid dentro de quinze dias. Apesar de um boletim italiano dizer que ela estava 100 milhas ao norte de Londres quando as notícias da vitória da Batalha de Flodden Field chegaram a ela, ela estava perto de Buckingham. A partir da Abadia de Woburn ela mandou uma carta a Henrique com um pedaço do casaco ensanguentado do Rei James IV da Escócia, que morreu em batalha, para Henrique usar como bandeira.

A dedicação religiosa de Catarina, assim como seus interesses acadêmicos iam aumentando conforme ia envelhecendo. Ela continuou a ampliar seus conhecimentos e prover treinamento para sua filha. A educação entre as mulheres tornou-se moda, em parte por influência de Catarina. Ela também doou uma grande soma de dinheiro para inúmeras faculdades. Henrique, no entanto ainda considerava essencial um herdeiro masculino. A dinastia Tudor era nova e sua legitimidade ainda era contestada. Uma longa guerra civil (1135–54) foi travada a última vez que uma mulher (a Imperatriz Matilda) herdou o trono. Os desastres de uma guerra civil ainda estavam frescos em suas memórias desde a Guerra das Rosas.

Em 1520, o sobrinho de Catarina o Imperador do Sacro Império Romano, Carlos V fez uma visita de estado à Inglaterra e Catarina pediu para que Henrique fizesse uma aliança com Carlos ao invés da França. Imediatamente após sua partida ela acompanhou Henrique à França, onde foram visitar o célebre Francisco I, que conheceu no Campo do Tecido de Ouro. Dentro de dois anos, uma guerra foi declarada contra a França e o Imperador foi novamente à Inglaterra, onde fez planos para casar com a filha de Catarina, a princesa Maria.

Assinatura de Catarina de Aragão.

O Grande Dilema do Rei:
1525, Henrique VIII se apaixonou por Ana Bolena, uma dama de companhia da Rainha Catarina, que era bem mais nova que ele. Henrique começou a cortejá-la; Catarina não era mais capaz de gerar filhos a essa altura. Henrque então começou a acreditar que seu casamento fora amaldiçoado e buscou confirmação na Bíblia, que interpretou dizer que ”se um homem casar com a mulher de seu irmão, a união não gerará filhos”. Mesmo que seu casamento com Arthur não tenha sido consumado (e Catarina insistia jurando por sua vida que quando se casou com Henrique era virgem), a interpretação de Henrique da passagem bíblica significava que seu casamento havia sido um erro aos olhos de Deus. Se o Papa tinha o direito de invalidar o casamento de Catarina com Arthur, ele julgou que o tema bíblico seria mais que suficiente para uma anulação de seu casamento. É possível que a ideia de uma anulação tenha sido sugerida muito antes, e é altamente provável que tenha sido motivada por seu desejo em ter um filho.

”Minhas tribulações são tão grandes e minha vida tão perturbada pelos planos diários para promover más intenções no Rei, que as surpresas que o Rei me causa com certas pessoas de seu conselho, são tão mortais, que meu tratamento, Deus sabe, é suficiente para encurtar dez vidas, quanto mais a minha.”
A anulação de seu casamento logo tornou-se um objeto de desejo do Rei. Catarina foi desafiadora quando foi sugerido que ela calmamente se retirasse a um convento, dizendo: “Deus nunca me chamou a um convento. Eu sou a legítima esposa do Rei!” Ele depositou suas esperanças a um apelo para a Santa Fé, agindo independentemente do Cardeal Thomas Wolsey, não lhe dizendo nada sobre seus planos. William Knight, secretário do Rei, foi enviado ao Papa Clemente VII para conseguir uma anulação, com base no argumento de que a bula de dispensa do Papa Júlio II fora obtida sob falsos pretextos.

Como o Papa era naquela época, prisioneiro do sobrinho de Catarina, o imperador Carlos V, em função ao Saque de Roma em Maio de 1527, o cavaleiro teve dificuldade de obter acesso a ele. No final, o enviado de Henrique teve que retornar sem muitas realizações. Henrique agora não tinha escolha, a não ser colocar seu grande problema nas mãos de Thomas Wolsey, que fez todo o possível para garantir uma decisão segura a favor de Henrique.

Wolsey foi longe, tentando convocar um tribunal eclesiástico na Inglaterra com um representante do Papa presidindo e uma audiência com Henrique e Catarina. O Papa não tinha a intenção de permitir que essa decisão fosse alcançada na Inglaterra e seu legado foi lembrado. (É difícil dizer se o Papa foi influenciado por Carlos V, mas é claro que Henrique viu que era improvável que o Papa anulasse o casamento da tia do Imperador). O Papa proibiu que Henrique se casasse novamente antes que uma decisão fosse tomada em Roma. Wolsey falhou e foi demitido de seu cargo público em 1529. Então Wolsey começou a tramar um plano secreto para que Ana Bolena fosse forçada ao exílio e começou a comunicar-se com o Papa para esse fim. Quando seu plano foi descoberto, Henrique ordenou que Wolsey fosse preso e com uma doença terminal ele morreu em 1530, sendo que poderia ter sido executado por traição. Um ano mais tarde, Catarina foi banida da corte e seus antigos aposentos foram dados a Ana Bolena. Quando o Arcebispo de Canterbury William Warham morreu, o capelão da família Bolena, Thomas Cranmer, foi nomeado para o cargo vago.

Quando Henrique decidiu anular seu casamento com Catarina, John Fisher tornou-se o mais fiel conselheiro de Catarina e um de seus principais defensores. Ele chocou muitas pessoas com a franqueza de sua linguagem, declarando que, como João Batista, ele estava pronto para morrer em nome da indissolubilidade do casamento. Henrique ficou tão furioso com isso que escreveu uma longa carta em latim em resposta ao discurso de Fischer. A copia de Fischer ainda existe, com suas anotações manuscritas na margem, que mostram o quão pouco temia a ira de Henrique. A remoção da causa para Roma terminou com o papel de Fischer no assunto, porém Henrique nunca o perdoou. Outras pessoas que apoiaram a causa de Catarina incluem Thomas More, a irmã de Henrique Maria Tudor Rainha da França, Maria de Salinas, O imperador do Sacro Império Romano Carlos V, o Papa Paulo III e os reformistas protestantes como Martinho Lutero e William Tyndale.

Últimos Anos e exílio:
Ao retornar a Dover de um encontro com o Rei Francisco I da França em Calais, Henrique casou-se com Ana Bolena em uma cerimônia secreta. Henrique defendeu a legacidade de sua união, apontando que Catarina havia sido casada anteriormente. Se ela e Arthur haviam consumado seu casamento, Henrique pela lei canônica tinha o direito de casar-se novamente. Em 23 de Maio de 1533, Cranmer, sentado em um julgamento em uma corte especial convocada em Dunstable Priory para decidir sobre a validade do casamento do Rei com Catarina, declarou o casamento ilegal, mesmo que Catarina tenha testemunhado que ela e Arthur nunca haviam tido relações intimas. Cranmer decretou o casamento de Henrique e Ana válido 5 dias depois, em 28 de Maio de 1533.

Até o fim de sua vida, Catarina se referiu como a única esposa legítima de Henrique e Rainha por direito da Inglaterra, e seus servos continuaram a se dirigir a ela por esse título. No entanto, Henrique recusou-lhe o direito a qualquer título, com exceção de  “Princesa viúva de Gales” em reconhecimento a sua posição como viúva de seu irmão.

Catarina passou a viver no Castelo The More no inverno de 1531/32.Em 1535 ela foi transferida para o Castelo de Kimbolton. Lá ela limitou-se a apenas um quarto (que deixava apenas para assistir a missa), jejuando frequentemente. Mesmo autorizada a receber visitas ocasionais, ela foi proibida de ver sua filha Maria. Elas também foram proibidas de se comunicarem por cartas, embora alguns simpatizantes discretamente transportassem cartas entre as duas. Henrique ofereceria a mãe e a filha quartos melhores e permissão para se verem, se ambas reconhecessem Ana Bolena como sua nova Rainha. Ambas recusaram.

No final de Dezembro de 1535, sentindo sua morte se aproximando, Catarina fez seu testamento e escreveu para seu sobrinho, o Imperador Carlos V, pedindo que protegesse sua filha. Ela então escreveu uma última carta a Henrique, seu “mais caro senhor e marido”:

”Meu mais caro senhor, Rei e marido,

A hora de minha morte agora se aproxima, e neste caso o terno amor que devo a vós, força-me  a lembrar-vos de algumas palavras de saúde e conforto para sua alma, a qual deve preferir antes de todos os assuntos mundanos e antes dos cuidados e mimos do corpo, para o qual tu me lançaste para tantas calamidades e inquietações. De minha parte, eu vos perdôo de tudo e rezo devotamente a Deus para que lhe perdoe também. Para o resto, recomendo-vos vossa filha Maria, suplicando-lhe que seja um bom pai para ela, como eu havia desejado antes disto. Rogo-vos também em nome de meus empregados, para dar-vos ajuda, que não é muito, sendo que são apenas três. Para todos meus outros serventes eu solicito-vos seus devidos salários e uma ano a mais, para que não fiquem desamparados. Por último, faço-vos este voto, aquele para qual meus olhos desejam sobre todas as coisas.

Katharine the Quene. Catarina a Rainha

Morte:
Catarina morreu no Castelo de Kimbolton em 7 de Janeiro de 1536. No dia seguinte a notícia de sua morte chegou ao Rei. No dia do funeral de Catarina, Ana Bolena abortou um filho, o que mais tarde seria um dos pivôs de sua execução. Houveram rumores de envenenamento, aparente após a descoberta de uma mancha negra em seu coração durante seu embalsamamento. Médicos modernos dizem que a cor enegrecida de seu coração não era devido a envenenamento, mas sim a câncer, algo que não era compreendido na época.

Catarina Foi sepultada na Catedral de Peterborough com uma cerimônia de uma Princesa viúva de Gales, não de uma Rainha. Henrique não foi ao funeral, proibindo Maria de ir.

Catarina de Aragão, nascida para ser esposa e morta como viúva.

 

Túmulo de Catarina de Aragão

 FONTES:
Gareth Mattingly (2005) Catherine of Aragon. Ams Pr Inc.
Giles Tremlett (2010). Catherine of Aragon: The Spanish Queen of Henry VIII. Faber & Faber.
Patrick Williams (2012). Catherine of Aragon. Amberley.
James Anthony Froude (2009). The Divorce of Catherine of Aragon.
Mary M. Luke (1967)Catherine, The Queen, a biography of Catherine of Aragon, first wife to Henry VIII. Coward-McCann, Inc.
Philip Yorke ed. Miscellaneous State Papers, vol. 1 (1778).
Karen Lindsey (1995). Divorced Beheaded Survived: A Feminist Reinterpretation of the Wives of Henry VIII.
Tim Coates (2001). Letters of Henry VIII 1526–29.Tim Coates Books.
Mike Ashley (2002). British Kings & Queens.
G. W. Bernard (2007). The King’s Reformation: Henry VIII and the Remaking of the English Church.


7 comentários Adicione o seu

  1. ana luisa disse:

    Que injustiça, proibida de ver a própria filha…

    1. tudorbrasil disse:

      Sim, de fato deve ter sido uma dor imensurável passar o que passou, e ainda não poder ver sua filha…

  2. Luísa disse:

    Que triste… Ela deu de tudo para o Henrique e no final ele a abandona pela “Bolonhesa”.

    1. Tudor Brasil disse:

      hahahaahha… Melhor comentário até hoje Luísa. Verdade, pobre Catarina!

  3. lourdes disse:

    Que istorias macabras.

  4. João Magalhães do Carmo disse:

    Henrique VIII foi castigado por Deus, por ter maltratado Catalina. As seis mulheres que teve não conseguiram lhe dar um filho e a única que deu, esse filho morreu pouco depois de ser coroado, e antes de morrer, obrigado pelo ministro, teve que abdicar o trono em favor de sua prima a qual não era herdeira e isso apenas porque essa prima teria casado com o filho do ministro. Ela não durou muito como rainha porque Maria a verdadeira herdeira lhe tomou o trono e condenou a morte a ele e seu marido e tambem muitos e muitos protestantes para que o catolicismo voltasse à Inglaterra. Daí ter o codinome de BLOODY MARY,devido ao sangue derramado de tanta gente.

    1. Tudor Brasil disse:

      Nossa, João, tem muito senso comum no seu comentário. Não entendi muito essa parte, mas Jane Seymour nunca foi coroada rainha consorte inglesa, tampouco viveu para ver seu filho ser coroado. Eduardo não foi forçado abdicar ao trono de modo algum! Ele era um jovem muito inteligente e pensava por si só. O problema do golpe de estado ocorrido devido a sucessão de Jane Grey, deveu-se pelas próprias convicções de Eduardo VI. Ele acreditava que sua irmã Maria não podia reinar, uma vez que era católica devota. Elizabeth por sua vez, era a filha de uma traidora do reino, e não poderia possuir mais reivindicação que sua meia-irmã mais velha. Maria não matou protestantes para que o catolicismo voltasse à Inglaterra, ela fez isso mediante à uma bula enviada ao parlamento. Os protestantes executados em seu reinado (muito menos do que costumam creditar) tentaram contra sua vida ou contra a coroa, e morreram por traição. O apelido Bloody Mary é uma alcunha posterior, reflexo da historiografia protestante inglesa, que tratou Maria como ‘vilã’, especialmente por suas crenças religiosas.

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