Jane Parker, era filha de Henry Parker, 10 Barão Morley, e Alice St John, filha mais velha de Sir John St John (1426-1488) e sua esposa Alice Bradshaigh. Jane era prima em segundo grau de Henrique VIII. Ela nasceu em Norfolk, Inglaterra, por volta de 1505, sua família era rica e bem relacionada, contando com respeitados membros politicamente ativos da classe alta inglesa. Seu pai era um intelectual, com um grande interesse em cultura e educação. Ela foi enviada à corte no início da adolescência, certamente antes de seu 15 aniversário, onde tornou-se dama de companhia da primeira esposa de Henrique VIII, Catarina de Aragão. Ela é registrada como tendo acompanhado a comitiva real na famosa visita de Estado à França em 1520, que ficou conhecida como “O Campo do Tecido de Ouro”.
Embora suponha-se há muito que não há nada registrado sobre sua aparência (e não há nenhum retrato sobrevivente que pode ser comprovadamente identificado como ela), sua biógrafa Julia Fox (Jane Bolena: A Verdadeira História da infame Lady Rochford) sugere que há uma possibilidade muito remota de que o esboço de Holbein seja de Jane (acima). Ela foi provavelmente considerada atraente na época, uma vez que foi escolhida para interpretar uma das virtudes na apresentação de máscaras no “Château Vert” da corte em 1522. As oito mulheres selecionadas para interpretarem as virtudes eram damas da corte, conhecidas em grande parte por seus atrativos físicos. Dessas mulheres, duas seriam as futuras cunhadas de Jane, Ana e Maria Bolena.
Casamento com George Bolena:
No final de 1524 ou início de 1525, Jane casou-se com George Bolena, Visconde Rochford e irmão de Ana Bolena que viria a ser a segunda esposa de Henrique VIII. Nesta fase, no entanto, Ana não estava comprometida com o Rei, embora já fosse conhecida na corte por sua elegância e beleza. Estes primeiros encontros com a sofisticada e glamurosa Ana Bolena, ajudariam a criar a lenda de que Jane odiou-a instantanêamente. No entanto, não haviam sinais que comprovassem a veracidade de tal fato naquele momento ou anos vindouros.
Como presente de casamento, o Rei Henrique VIII deu a Jane e George o Solar de Grimston em Norfolk. Desde que ela ganhou o título de cortesia de viscondessa de Rochford por casamento, ela era geralmente conhecida na corte (e por historiadores posteriores) como “Lady Rochford”. Com a riqueza e influência da família Bolena, o casal usou como residência principal o Palácio de Beaulieu, que George e Jane decoraram com uma capela, um campo de ténis, um banheiro com água corrente quente e fria, tapetes importados, móveis de mogno e sua própria coleção de talheres. Seu leito conjugal estava envolto em tecido dourado com um dossel de cetim branco, colchas de linho e uma colcha amarela. Tecnicamente, o Palácio de Beaulieu nunca foi formalmente dado como um presente de George e Jane Bolena, ao contrário do Solar de Grimston Manor. Beaulieu inicialmente pertenceu aos Bolenas como um refúgios no país, antes de o venderem para o rei que gastou mais de £ 17.000 em reformas e expanções. No início da década de 1530, o palácio de Beaulieu tornou-se a residência principal de Maria, filha mais velha de Henrique VIII, mas quando ela caiu em desgraça e foi banida para Hatfield, George Bolena recebeu o palácio para viver, embora nenhuma escritura tenha sido formalmente assinada.
O casamento de Jane com George Bolena, fez com que ela se tornasse cunhada da Rainha consorte Ana Bolenam assim como tia de Elizabeth (futura Elizabeth I da Inglaterra).
Tradicionalmente, o casamento de George e Jane tem sido retratado como um matrimônio infeliz. Um historiador moderno chegou a sugerir que George era homossexual (assunto para outro artigo), explicando o por que do casamento ser tão miserável. A historiadora britânica Alison Weir concluiu que o casamento foi infeliz, principalmente por causa de George, embora ela tenha também tenha concluido que a natureza exata de sua sexualidade era difícil de definir: “…jovem e talentoso … ele era muito bonito e muito promíscuo. Na verdade, de acordo com George Cavendish, ele viveu de forma ‘bestial’, forçando viúvas e deflorarando virgens … também tem sido sugerido que George entregava-se a espectáculos de atividades homossexuais, mas não há nenhuma evidência para isso”. No entanto, o biógrafo mais recente de Jane discorda de ambos os argumentos, concluindo que a natureza exata do casamento não é clara, mas sugerindo que ele não era infeliz.
A natureza exata da relação de Jane com sua cunhada não é clara e não há nenhuma evidência sobre o que ela achava de sua cunhada, Maria Bolena, que havia estado na corte com ela quando eram adolescentes. Geralmente supõe-se que Jane não relacionava-se tão bem com Ana, devido ao ciúmes que sentia da relação de seu marido George com ela. Independente disso, Jane tramou com Ana para banir uma das jovens amantes do Rei da corte em 1534. Quando o rei descobriu seu envolvimento, Lady Rochford foi exilada por alguns meses.
Intrigas na execução de George:
Depois de onze anos de casamento, George Bolena foi preso na Torre de Londres em maio de 1536 e acusado de ter tido relações sexuais com sua irmã, Ana Bolena. Haviam rumores de que o pivô de tal acusação teria sido um suposto testemunho de Jane acusando-o de incesto e traição, e afirmando que ela acreditava que George e sua irmã Ana haviam se envolvido em um relacionamento sexual desde o inverno de 1535, implicando que ele seria o pai biológico de um feto que Ana havia perdido no início de 1536. Não há verdade alguma nesses rumores, mas de acordo com a grande maioria das testemunhas da época, eles forneceram o pretexto legal que os inimigos dos Bolenas necessitavam para enviar Lord Rochford a execução.
O testemunho de Jane contra seu marido pode ter sido um ato de malícia, causado por seu difícil relacionamento e possivelmente por causa de seu ciúme da estreita relação que seu marido possuia com Ana. Certamente, esta foi uma conclusão formada muitas gerações depois. Gerações posteriores de historiadores também acreditam que o depoimento de Jane contra seu marido e sua cunhada em 1536 foi motivado mais por despeito do que qualquer crença real em sua culpa, daí sua histórica reputação desfavorável. Dentro de uma geração, George Wyatt, cujo pai Thomas Wyatt havia conhecido pessoalmente os Bolena, Jane foi descrita como uma “esposa ruim, que acusou seu próprio marido, de se relacionar com alguem do próprio sangue dele”. Um século mais tarde, um historiador inglês afirmou que a causa de Jane ter testemunhado contra eles foi puramente baseada em seu “ódio inveterado” da Rainha Ana, que nasceu da inveja das habilidades superiores e sociais de Ana e a preferência que George mantinha pela companhia de sua irmã ao invés dela, sua esposa. Histórias georgianas e vitorianas apontavam para uma eventual morte violenta de Jane em 1542, sugerindo que a justiça moral triunfou, pois “a infame Lady Rochford … recebeu o destino merecido por sua preocupação em fazer com que Ana Bolena, bem como George fossem executados”.
A visão negativa de Jane foi rejeitada por sua biógrafa moderna, Julia Fox, que acredita que Jane realmente gozava de uma solidária e calorosa relação com Ana Bolena e que foi o medo do golpe palaciano contra os Bolena em 1536 que provocou o testemunho de Jane, que foi obrigada pelos inimigos de sua família a falar o que queriam de qualquer jeito. Com a queda dos Bolena, Fox escreve:
“Jane Rochford viu-se arrastada para um turbilhão de insinuações, intrigas e especulações. Pois quando Cromwell intimou Jane a responder as perguntas, ele já possuía muito mais do que precisava, não só para derrubar Ana e seu círculo, mas também para tornar possível casamento do Rei com Jane Seymour … As perguntas a Jane [Rochford] teriam sido rápidas e complexas … Diante de ameaças e perguntas incessantes, ela não tinha escolha a não ser responder, Jane teria procurado em sua memória cada incidente por menor que fosse que ocorreu com ela … Mas Jane não havia sido rápida para contar os fatos, e cedeu à pressão do implacável questionamento… E foi sua fraqueza sob interrogatório que deu a seus detractores a feliz oportunidade de encontrar um bode expiatório para exonerar o Rei da hedionda e insensivel acusação de matar sua inocente esposa…’’
Viúva:
George Bolena foi decapitado em Tower Hill em 17 de maio de 1536 perante uma grande multidão. Seu último discurso foi essencialmente preocupado com a promoção de sua nova fé protestante. Outros quatro homens, um deles plebeu, também foram executados ao seu lado, também acusados de terem sido amantes de Ana. Apenas o plebeu, um músico, confessou e segundo boatos ele havia sido barbaramente torturado para fazê-lo (membros da aristocracia e nobreza não podiam ser torturados). Ana foi executada dois dias depois, decapitada por um mestre de espadas francês dentro das paredes da Torre de Londres. A coragem de Ana no patíbulo foi muito comentada nas semanas e meses seguintes, muitas vezes faziam de Ana, ” Uma heroína perseguida, brilhante, com promessas e bondade, assim como uma jovem mulher, bonita e elegante”. Não se sabe se Jane testemunhou a execução de seu marido ou sua cunhada, mas a simpatia póstuma de Ana despertou em muitos (especialmente sentimentalistas) a ira e o título de vilões para aqueles que foram ligados a sua queda. Segundo a historiadora Julia Fox, essa mentalidade explica como as ações de Jane foram interpretadas como sendo de um ciúme intrigante e cruel.
Qualquer que seja a verdade sobre o envolvimento de Jane na queda dos Bolena, o resultado imediato foi muito difícil para ela, tanto social como financeiramente. As terras que os Bolena haviam conseguido durante o reinado de Ana Bolena e nas últimas quatro gerações, incluindo os títulos Conde de Wiltshire e Conde de Ormond (Irlanda) eram herdadas apenas pelos homens, assim sendo, com a morte de George, Jane não teria direito a nada.
Jane continuou a usar o título de cortesia de viscondessa de Rochford, mas sem um filho, ela realmente não poderia beneficiar-se do que restava da fortuna da família Bolena.
Intrigas:
Após a execução de seu marido, Lady Rochford ausentou-se da corte por um tempo, durante o qual ela passou a maior parte tentando estabilizar sua situação financeira, o que fez através de negociações com o seu sogro, mas principalmente com Thomas Cromwell, ministro chefe do rei. Os Bolenas eventualmente alocavam a ela uma considerável pensão anual de £100, precisamente o que tinham dado a sua filha mais velha Maria, quando havia ficado viúva oito anos atrás. Não era nem de longe a quantidade que ela havia pedido por ter sido cunhada da rainha consorte, mas foi o suficiente para financiar um estilo de vida de classe alta moderada, essencial para seu retorno à vida na corte, o que era algo Jane trabalhou obstinadamente durante 1536 e 1537. Não se sabe quando ela voltou a corte, mas ela foi dama de companhia da rainha Jane Seymour, o que significa que ela provavelmente retornou no prazo de um ano após a morte de seu marido. (Jane Seymour morreu poucos dias após o parto, dezoito meses após tornar-se esposa de Henrique). Como viscondessa, ela foi autorizada a trazer uma série de seus próprios serventes com ela, no palácio ela passou a ser chamada de “Lady Rochford”. Refeições finas foram fornecidas a ela todos os dias, a partir do orçamento da casa da rainha.
Após a morte de Jane Seymour, o Rei posteriormente casou-se com Ana de Cleves recomendado por Thomas Cromwell, Lady Rochford viria a testemunhar em julho de 1540 para o divórcio de Henrique com Ana, afirmando que a rainha havia confiado nela e que seu casamento nunca havia sido consumado. Isso permitiu que o rei anulasse o casamento com Ana de Cleves e se casasse com a jovem Catarina Howard.
Lady Rochford manteve seu posto de dama de companha da nova rainhae e exerceu considerável influência sobre ela, tornando-se uma de suas favoritas. Quando Catarina entediou-se com seu velho e obeso marido, era Lady Rochford que ajudava a organizar reuniões secretas entre a rainha e Thomas Culpeper. O caso evoluiu com ajuda Lady Rochford durante toda a excursão real do Norte em 1541, sendo descoberto no outono resultando em uma investigação de sua vida privada.
Primeira, a Rainha foi detida em seus apartamentos e eventualmente colocada sob prisão domiciliar na Abadia de Syon, um convento abandonado longe da corte. Seus confidentes e favoritos foram questionados e seus aposentos revistados, muitos dos servos e damas de companhia foram questionados, um deles lembrou um comportamento suspeito entre Lady Rochford, Catarina e Culpeper, Jane então, foi detida para interrogatório.
Posteriormente, uma carta de amor de Catarina para Culpeper foi descoberta, na qual mencionava explicitamente o papel de Jane na organização de suas reuniões. Este era um crime de misprision of treason, que levava a pena de morte na Inglaterra dos Tudor. Jane foi levada para a Torre de Londres ficando presa lá durante vários meses, enquanto o governo decidia quando e como proceder contra a acusada.
Execução:
Durante sua prisão na Torre, ela foi interrogada por muitos meses, mas como era uma aristocrata não foi torturada. Sob pressão psicológica no entanto, ela parece ter sofrido um colapso nervoso e até o início de 1542 foi declarada insana. Seu ‘fits of frenzy’ significava que legalmente ela não poderia ser julgada por seu papel em facilitar o adultério da rainha , mas desde que o Rei estava determinado a castigá-la, ele implementou uma lei que permitia a execução de um insano. Jane foi assim, condenada à morte por um ato de proscrição (isto é, sem julgamento) e a data d execução foi marcada para 13 de fevereiro de 1542, o mesmo dia de Catarina Howard.
A rainha morreu primeiro, aparentemente em fraco estado físico, embora não estivesse histérica. Jane, que estava no cadafalso para assistir a morte da Rainha, em seguida, falou antes de se ajoelhar para ser execultada. Apesar de seu colapso nervoso nos últimos cinco meses, ela estava calma e digna e as duas mulheres conseguiram uma aprovação póstuma por seu comportamento. Uma testemunha ocular, um mercador chamado Ottwell Johnson, escreveu que “Suas almas devem estar com Deus, pois elas tiveram o mais cristão e piedoso fim”. O embaixador francês Marillac limitou-se a afirmar que Jane deu um “longo discurso’; Johnson diz que ela pediu desculpas por seus” muitos pecados “, mas nenhum homem relatou sobre a lenda de que ela falou sobre seu marido ou cunhada. De acordo com Alison Weir, a rainha morta não tinha muito mais do que 17 anos no momento de sua morte e Jane tinha por volta de 36.
A execução foi realizada com um único golpe de machado e foi enterrada na Torre de Londres ao lado de Catarina Howard, muito próximas aos corpos de Ana e George Bolena.
O que eu posso dizer dessa mulher? Um mistério sem dúvida, mas um peça chave importantíssima da facção anti-Bolena. Penso que é muito provavél que ela quisesse manter seu pescoço á salvo quando viu que as coisas estavam desfavoráveis para seu marido e cunhada, quero dizer, não era dificil perceber o quão ameaçado estava o posto de Ana. Portanto, isso, somando o fato de que ela era enraizada no catolicismo, sua família pendia para coroar a “ingênua” Jane Seymour e seu casamento não era o dos mais felizes – penso que era apenas um contrato, que ambos não se viam como marido e mulher e apenas mantinham as aparências- não é de se admirar que ela tenha tomado essa decisão. Para nós isso parece extremamente cruel, mas era muito comum nas Cortes aquele tempo: jogos baixos e pisadas em calos apenas para se darem bem com o rei.
Acho interessante como as coisas se voltavam para seus praticantes, é um cru pensamento de “a que se faz a que se paga”; Jane testemunhou contra George e Ana totalmente consciente do destino que lhes esperava, da mesma forma como iludiu a tola Catarina Howard ( que só precisava de instrução e sabedoria) a seguir com seu perigoso “amor cortês”. No final ela não só teve o mesmo fim que seu marido e cunhada, bem como sujou-se do sangue de sua soberana antes de partir desse mundo.
Exatamente, Jane Parker é um enigma para todos, é difícil saber o que se passou em sua cabeça, mas creio que foi altamente motivada pelo ciúmes e medo…
Pra mim ela foi uma despeitada, que na primeira oportunidade, soube como aproveitar-se, para denegrir a figura de George e Ana Bolena.
Teve o que mereceu!
Jane foi e é uma incógnita até hoje para mim, mas sinto que foi uma pessoa bastante incompreendida…
Obrigada por comentar!=)