Devido a enorme repercussão a respeito da exumação dos corpos de D. Pedro I e suas esposas, D. Leopoldina e D. Amélia, resolvi escrever sobre a exumação dos restos mortais de Ana Bolena. A intenção deste artigo é ajudar a desvendar mitos envoltos a segunda consorte de Henrique VIII, e por sua vez, como de costume, criar outros. Acompanhe:
Ana Bolena foi acusada de traição, incesto, e adultério. Ela foi executada na manhã do dia 19 de Maio de 1536. Após sua execução, seu corpo foi levado por suas damas de companhia, colocado dentro de uma caixa de arcos e enterrado em uma cova sem marcação e sem nenhum tipo de cerimônia, em St Peter ad Vincula, Catedral localizada no complexo da Torre de Londres. Saiba mais sobre o assunto AQUI.
No livro ”History of England”, Lord Macaulay disse sobre a capela St. Peter ad Vincula: –
“Eu não posso deixar de expressar o meu desgosto com a bárbara estupidez que transformou esta interessante e pequena igreja, em algo como uma casa de reuniões de uma cidade industrializada. Na verdade, não há lugar mais triste na terra do que este pequeno cemitério. A morte está lá associada, não como em Westminster e St Paul, com gênio e virtude, com veneração pública e com renome imperecível; não como em nossas humildes igrejas e cemitérios, com tudo o que é mais cativante em instituições de caridade social e doméstica: mas com o que sempre é mais obscuro na natureza e destino humano, com o triunfo selvagem de inimigos implacáveis, com a inconstância, a ingratidão, a covardia dos amigos, com todas as misérias da grandeza decaída e da fama arruinada.
Para lá foram transportados através de sucessivas eras, pelas mãos rudes de carcereiros sem nenhum luto posterior, as relíquias do sangue dos homens, que haviam sido capitães de exércitos, líderes de partidos, oráculos de senados e membros de Cortes.”
Talvez tenha sido graças a este processo e ao péssimo estado de conservação da Capela, que surgiu o desejo de restaurá-la a sua condição original. Foi então que Sir Charles Yorke, guarda da Torre, apresentou no ano de 1876, projetos de recuperação para a Rainha Vitória. O trabalho então, começou naquele mesmo ano e tinha como objetivo restaurar a capela para que ela servisse ao uso de moradores locais e guardas da torre.
O piso da Capela encontrava-se quebrado e desigual em vários lugares diferentes. Ao removerem os bancos, a necessidade da troca do piso tornou-se evidente; junto com isso também foi decidido que um aparato de aquecimento deveria ser colocado na capela. Após a retirada do pavimento, descobriram que abaixo dele haviam corpos enterrados nos séculos XVI e XVII, e que os mesmos haviam sido profanados.
Houve a seguinte explicação:
” Quando a Torre deixou de ser a residência de um soberano ou prisão do estado, a capela de St Peter parece ter sido gradualmente considerada uma mera igreja paroquial, na qual foram enterrados não só aqueles que haviam vivido na Torre, como até mesmo os moradores das proximidades. “
Em alguns casos, os caixões haviam sido destruídos para dar espaço a um novo enterro. Assim, foi decidido que medidas imediatas deveriam ser tomadas para ” remover os restos mortais para a cripta”. Novamente, a proposta foi submetida à aprovação da Rainha, sendo então sancionada com a condição expressa de que: ”O maior cuidado e reverência deveriam ser exercidos nesta remoção, e que um cuidadoso registro deveria ser mantido de qualquer sinal que pudesse vir à luz”.
As condições foram acatadas e todos os restos humanos encontrados sob o piso da capela foram coletados e colocados dentro de caixas com suas devidas inscrições e informações. Alguns caixões intactos encontrados, foram removidos para a cripta.
Em outubro de 1876, a atenção voltou-se para a restauração da capela-mor, local conhecido por ser onde as rainhas Tudor, Ana Bolena e Catarina Howard, e os Duques de Somerset, Northumberland e Monmouth foram enterrados. Inicialmente, acreditavam que a área da capela pudesse permanecer intacta e que o novo pavimento pudesse ser colocado sobre o topo, mas no final, a possibilidade tornou-se inviável, pois o piso afundou em dois locais diferentes e não havia nenhuma outra opção a não ser removê-lo e substituí-lo por ladrilhos ou pisos simétricos, de modo que estaria de acordo com o resto da capela.
Decidiram então, retirar a pavimentação, a fim de corrigir o afundamento com o mínimo de dano ao chão. Cada pá de terra tinha que ser cuidadosamente examinada com uma peneira e qualquer vestígio encontrado deveria ser enterrado no mesmo local. Todo o trabalho realizado seria supervisionado por uma equipe de seis pessoas, incluindo o governador residente da Torre, o coronel Bryan G. Milman, C. B.
Doyne C. Bell documentou os resultados nos ”Avisos de Pessoas históricas enterradas na Capela de St Peter ad Vincula na Torre de Londres” (1877).
Uma vez que a capela-mor foi menos reformada que as outras áreas da capela, esperavam que alguns dos restos mortais de pessoas enterradas no século XVI fossem encontrados. Sr. Bell, Secretário da Bolsa Privada de Sua Majestade, consultou várias autoridades sobre tais personagens históricos, e produziu um projeto mostrando “as posições relativas nas quais acreditavam-se que essas pessoas haviam sido originalmente enterradas”.
Os restos de Ana Bolena:
No dia 09 de novembro de 1876, o piso da área onde acreditavam ser o local de descanso final da Rainha Ana Bolena, foi levantado e a terra removida em uma profundidade de dois pés. Em seu relato, Bell observa que os restos “certamente não haviam sido perturbados por mais de cem anos”. De acordo com Bell:
”Nessa profundidade os ossos de uma mulher foram encontrados, não estavam na posição original, e sim, evidentemente por algum motivo, foram amontoados em um espaço menor. Todos esses ossos foram examinados pelo Dr. Mouat, que anunciou que um deles era de uma mulher entre 25 e 30 anos de idade, de estrutura delicada, e que havia possuído proporções esbeltas e perfeitas, a testa e maxilar inferior eram pequenos e especialmente bem formados.”
Bell continua seu registro observando que “as vértebras eram particularmente pequenas, especialmente uma articulação (o atlas), que estava disposta ao lado do crânio. Ele disse também que a Rainha possuía um pescoço pequeno. Dr. Mouat afirmou que os ossos desta mulher haviam sido enterrados há mais de 300 anos. Nenhum outro esqueleto feminino foi encontrado nesta área”.
Todos os presentes estavam convencidos de que os restos mortais eram da rainha Ana Bolena, que de acordo com Bell, foi registrada como sendo enterrada em frente ao altar, ao lado de seu irmão George. No entanto, os restos George Bolena não foram descobertos durante a restauração, levantando a hipótese de que talvez tenham sido removidos ou enterrados ainda mais ao norte da parede norte, uma área que permaneceu intocada.
Veredicto da exumação Vitoriana:
O registro do Dr. Mouat sobre os restos femininos foram:
”Os ossos encontrados no local onde acreditam que a Rainha Ana Bolena foi enterrada, são certamente os de uma mulher na flor da idade, tudo perfeitamente consolidado e simétrico, e pertencem a mesma pessoa.
Os ossos da cabeça indicam um crânio bem formado, redondo, com uma testa intelectual, crista orbital em linha reta, olhos grandes, rosto oval, e queixo cheio e quadrado. Os restos das vértebras e ossos dos membros inferiores, indicam uma mulher bem-formada de estatura mediana, com um pescoço curto e fino. As costelas mostram a profundidade e redondeza do peito. Os ossos das mãos e dos pés indicam mãos delicadas e bem formadas, e os pés estreitos com dedos afilados.”
Segundo Mouat, os dados fornecidos pelo esqueleto eram todos consistentes com as descrições publicadas da Rainha, e os ossos do crânio podem muito bem pertencer à mulher retratada no suposto esboço que alguns acreditam ser de Ana Bolena, feito pelo pintor Hans Holbein, pertencente a coleção do Conde de Warwick. Um cuidadoso exame dos ossos dos dedos da mão, não mostraram qualquer evidência de um sexto dedo ou qualquer tipo de malformação.
Os restos de Catarina Howard, quinta esposa de Henrique VIII, acusada de traição e executada na Torre de Londres, não foram encontrados no local. A explicação dada foi que, devido ao fato de Catarina ser muito jovem na época de sua morte (ela possuía aproximadamente 19 anos), seus ossos ainda não estavam ”duros e consolidados” e deste modo, a cal utilizada nos enterros, fez com que seus ossos rapidamente se deteriorassem e virassem pó.
Controvérsias:
A escritora Alisson Weir, discute os resultados da exumação vitoriana e os registros do Dr. Mouat, médico que examinou os restos encontrados em novembro de 1876. Seu argumento é que os vitorianos cometeram um erro, pois segundo ela alega, as descrições de um ”pescoço pequeno” e ”um queixo quadrado e cheio”, além de sua data de nascimento mais aceita (1501), não coincidem. Ela diz: – “É possível que os ossos que acreditaram ser de Ana Bolena – mulher pequena, delgada, e com um queixo quadrado, na verdade pertençam à Catarina Howard. Miniaturas dela feitas por Holbein, mostram o que poderia ser uma mandíbula saliente e quadrada”.
Ela complementa dizendo que, as descrições de um outro esqueleto, encontrado perto do local onde acreditavam que Catarina Howard e Lady Rochford haviam sido enterradas, foi descrito como sendo de uma mulher de “proporções delicadas” com “cerca de trinta a quarenta anos de idade”, provavelmente Jane Bolena, Lady Rochford. Segundo Weir, é mais provável que estes ossos sejam de uma mulher de 35 anos de idade, ou seja, Ana Bolena, ao invés de Lady Rochford. Resumidamente, segundo a autora, os locais de descanso destas mulheres foram trocados, e Ana encontra-se abaixo do memorial de Lady Rochford.
O que acham? Tirem suas próprias conclusões.
Fontes:
On the Tudor Trail: AQUI.
Nossa não sabem então de fato se são elas ou não? Que absurdo… ninguém cuidou para que enterrassem de forma decente as mulheres? E pelo visto enterraram a cabeça junto ao corpo! Isso se for mesmo uma delas..
Que chato saber disso e pior nunca saber a verdade… a Elizabeth não cuidou disso por qual motivo? Medo da opinião pública? 😦 Apesar de que mesmo fazendo isso… ninguém poderia impedir que nos próximos séculos alguém pudesse cometer esses crimes nos túmulos né. Lamentável
Na realidade Ana, assim como Catarina, foi enterrada na época sem o menor cuidado ou preparação. Ana foi colocada em uma caixa de arcos, junto com sua cabeça! O corpo era de apenas uma pessoa, a autora apenas levanta a dúvida se era de Ana ou de Catarina…ai fica a critério do leitor…Quanto Elizabeth, em seu reinado Ana ainda era muito mal vista, e qualquer assunto que tocasse a respeito de sua mãe tinha de ser muito cautelosamente, no caso, abrir o túmulo da mãe, não cairia bem para sua imagem…=/
Eu li uma vez a respeito dessa exumação, mas algumas descrições eram um pouco divergentes das desse artigo – talvez só questão de tradução mesmo – mas agora estou mais inclinada a achar que talvez tenham achado Catarina mesmo. Pelo seguinte: descrições como a altura (algo como 1,60) sendo que Ana é descrita como não tão baixa, ao contrário de sua prima; o pescoço pequeno: sempre imaginei Ana pescoçuda mesmo (só implicancia mesmo agora rs); a estrutura facial coincide mesmo com a miniatura de Catarina feita por Holbein e não com qualquer suposto retrato de Ana; os ossos: mesmo que Catarina tivesse somente 17 anos, seu esqueleto nessa idade já estaria quase todo calcificado, o seu crescimento provavelmente já estava completo, então não vejo como a questão “ossos cartilaginosos” poderia explicar a falta de seus restos mortais; a idade também não ajuda: é mais provável que Ana tivesse mais de 30 anos do que menos.
Posso estar equivocada em certos pontos porque é a visão que tenho das coisas, mas acho que Alison Weir tambem não estava muito longe da verdade. Mas e quem não garante que o jazigo de Ana nem mesmo tenha sido na Torre? A vida e a morte dessa mulher é um mistério!
Procurei muitos artigos antes de escrever um objetivo com dois pontos de vista diferentes, justamente para que as pessoas tirassem suas próprias conclusões. Eu particularmente acredito que Ana esteja enterrada sim na capela, agora sobre a localização exata de seu corpo, ainda não tenho uma opinião formada, mas creio que Alison possa estar correta!=)
Sim, mas saber o local correto é que são elas. Só nos resta esperar como foi com Ricardo III.
Espero que um dia façam uma nova exumação, isso mudaria muitos fatos na história Tudor, sem dúvidas!