A Verdadeira Face de Catarina de Aragão


Catarina de Aragão, normalmente é referida como uma mulher de boa índole, temperamento forte, paciente e muito religiosa, traços que conquistaram o povo inglês, que nunca foi muito ‘apegado’ à consortes estrangeiras. Entretanto, se selecionarmos alguns seriados e filmes, veremos o personagem de Catarina ser relegada ao script de uma velha e cansada esposa, já fora dos padrões de beleza aceitos pela sociedade (tanto a dela, quanto a nossa), beirando o fanatismo religioso e nada atraente se comparável à bela e jovem Ana Bolena, sua sucessora.

Deste modo, me senti motivada a ir atrás de algumas curiosidades a respeito da primeira consorte de Henrique VIII, uma vez que acredito que muitos leitores adorariam vê-la sendo retratada de modo fiel em filmes e seriados.

Catarina era espanhola, e não obrigatoriamente amorenada. Espanhóis não são necessariamente amorenados; eles possuem tanto a herança Visigótica (da época das invasões bárbaras) quanto a Muçulmana, mais precisamente no Sul (local das invasões árabes). Sendo assim, trata-se de uma população bastante rica culturalmente. Catarina descendia de monarcas ingleses pelo lado de sua mãe, a rainha Isabel, a católica. Na ocasião de sua chegada à Londres para casar-se com o príncipe Arthur, Catarina foi descrita do seguinte modo: Seu cabelo é acerca dos ombros, de tonalidade castanho avermelhada e possuí pele clara e olhos azuis”.

Também foi descrita por um contemporâneo como: ”A mais bela criatura no mundo”

Catarina de Aragão interpretada por Annetie Crosbie, Maria Doyle Kennedy  e Irene Papas, que atuaram nos respectivos filmes: As seis esposas de Henrique VIII 1971, The Tudors (série) e Ana dos Mil Dias.
Catarina de Aragão interpretada por Annetie Crosbie, Maria Doyle Kennedy e Irene Papas, que atuaram nos respectivos filmes: As seis esposas de Henrique VIII 1971, The Tudors (série) e Ana dos Mil Dias. Por último, Catarina pintada por Juan de Flandes.


Fatos interessantes:

  • Catarina foi a primeira mulher a exercer o papel de diplomata na Europa.
    Em 1507, ela serviu à Inglaterra como diplomata espanhola, enquanto seu pai, Fernando, procurava alguém para tal papel. Isto fez dela a primeira mulher a atuar como diplomata em uma corte européia.
  • Educação:
    Catarina foi uma Típica princesa renascentista. Quando jovem, teve uma educação exemplar, obra de sua mãe Isabel, que acreditava na erudição ao sexo feminino.
    Quando chegou à Inglaterra, ela convidou para a Corte, grandes intelectuais da época, como Erasmo de Rotterdam. Catarina fez questão de que sua única filha, Maria, fosse brilhantemente educada, tudo com aval do rei. O livro: “Educação para a mulher cristã” foi feito especialmente a ela, e comissionado em seu nome.
  • Passatempo em boa companhia:
    Catarina adorava caçar – especialmente com falcão – ouvir música e dançar. Seus passatempos favoritos eram o jogo de cartas, gamão e planejar o entretenimento da corte junto de seu esposo.

Catherine_of_Aragon

  • Uma Rainha amada por seu povo:
    Conforme mencionado acima, o povo inglês nunca foi muito receptível à rainhas estrangeiras, porém, no caso de Catarina, foi diferente. Com sua simpatia e generosidade, a rainha conquistou o coração de seu povo durante a situação da anulação de seu matrimônio com o rei. Os ingleses em sua grande maioria clamavam: ”Viva Catarina, Rainha da Inglaterra!”. Todo este carinho foi construído a base de seu trabalho para com os pobres, aliviando a situação precária que estes passavam. Quando foi feita regente da Inglaterra por Henrique VIII, que na época estava em viagem à França, Catarina, grávida, teve um papel ativo na Batalha de Flodden, na qual os invasores escoceses foram derrotados e a coragem de Catarina apreciada.

    – Catarina por seus inimigos:
    Todo estresse e tensão que Catarina submeteu-se em seu divórcio, a levaram a fortelecer sua fé e manter-se fiel a seus princípios. Junto dela estava Thomas More junto como o apoio do povo inglês, e uma boa parte da opinião internacional. Contudo, ela colecionou inimigos, que por mais que se opusessem a ela,  impressionavam-se com sua postura. Thomas Cromwell, ”arquiteto” da reforma inglesa e fiel secretário do rei, referia-se a ela dizendo que: ”Se não fosse por seu sexo, ela poderia desafiar todos os heroís da História”.

    Henrique VIII, que um dia fora apaixonado por ela, mencionou a respeito de sua ex-esposa: “A Dama Katherine é uma mulher orgulhosa, teimosa e de grandíssima coragem. Se ela quiser defender a causa de sua filha, poderia facilmente entrar em campo, reunir uma grande variedade de soldados contra mim mim e travar uma guerra tão feroz como Isabel, sua mãe, já travara na Espanha”

    O líder reformista e fundador da doutrina Luterana, Martinho Lutero, sobre Catarina e o divórcio:

    ”Antes que eu aprovasse tal repudio [a respeito do divórcio de Henrique VIII], eu não o permitiria casar-se com uma segunda rainha, e se ainda assim tivesse que haver um divorcio, Catarina continuaria rainha da Inglaterra e não sendo injustiçada diante de Deus e dos homens. Não meu amigo, se você é casado com uma mulher, você não é mais um homem livre, Deus te guie a ficar com sua esposa e filha, alimentá-las e criá-las.”

    E sua sucessora, Ana Bolena, em uma discussão com o rei, diria:

    ”Eu não lhe disse que qualquer coisa que você discuta com a rainha, ela vai ter a certeza de que está correta?”

    – Catarina e Ana:
    Em uma determinada ocasião, algumas damas de companhia começaram a amaldiçoar e maldizer Ana Bolena. Catarina então, ordenou que parassem e ao invés de critica-la, que rezassem por ela, pois a hora de lamentar seu caso estava para chegar.

    – O Jogo de Cartas:
    A cena em que ambas as mulheres participam de um jogo de cartas, é muito comum no imaginário popular, porém, não existe nenhum registro que apoie que a mesma tenha de fato ocorrido. É provável que a lenda tenha sido criada por George Wyatt (baseado nas recordações de Nan Gainsford, por volta de 70/80 anos após os eventos), e desperta a curiosidade ao imaginar como seria uma interação entre Ana e Catarina, com toda a situação do divórcio no contexto.

    – A morte da protetora de Ana Bolena:
    Dia 29 de janeiro de 1536, ocorreu o funeral de Catarina de Aragão, falecida em 8 de janeiro. Neste dia, coincidentemente, foi o dia em que Ana Bolena abortou –  acontecimento este, que segundo alguns historiadores, selaria seu destino. A queda de Ana deu-se de forma rápida e certeira, no dia 19 de maio do mesmo ano, ela foi executada por várias acusações, que certamente eram falsas.

    Por mais irônico que possa parecer, quando Catarina de Aragão faleceu, morreu junto com ela a maior proteção que até então Ana poderia ter como rainha. Isto porque, com Catarina  morta, o rei não mais possuía um empecilho para livrar-se de Ana (saiba mais aqui).

    Novo filme?
    Ainda hoje é especulado se a obra da escritora Philippa Gregory ”A princesa leal” irá ser adaptada para os cinemas. No entanto, o que se sabe, e que Catarina tem um filme espanhol em sua homenagem. O longa se chama ”Catalina de Inglaterra”. A produção de 1951, traz no papel da rainha, a aclamada atriz espanhola Maruchi Fresno.

Catarina de Aragão e Ana Bolena, jogando cartas.
Catarina de Aragão e Ana Bolena, jogando cartas.

Bibliografia:

Artigo escrito por Jéssica Rose

WEIR, Alison. The Six Wives of Henry VIII. Grove Press; 1st Grove Press Paperback edition (January 10, 1991).

FRASER, Antonia. As Seis Mulheres de Henrique VIII. Best Seller (27 de fevereiro de 2009).

IVES, Eric. The Life and Death of Anne Boleyn: ‘The Most Happy’. Wiley-Blackwell; Edição: 1 (9 de junho de 2008). 

18 comentários Adicione o seu

  1. Tomara que o livro seja adaptado! Da série os Tudors é o meu predileto!

    1. tudorbrasil disse:

      Espero que sim, seria sem dúvidas um ótimo filme!=)

  2. georgeboleyn disse:

    Sabia que esse filme (Catalina de Inglaterra) chegou na Itália com o nome de “Anna Bolena”???
    Olha só: http://www.benitomovieposter.com/catalog/anna-bolena-p-36551.html?language=IT

    1. tudorbrasil disse:

      Sério!? Nossa, que erro crasso!rss…
      É triste ver uma Rainha tão importante sendo ofuscada pelo brilho de outra…=/

      1. georgeboleyn disse:

        Ana diva! haha

      2. Mimi disse:

        Poxa, eu sou mais CATARINA de ARAGÃO! Além de delicada, gentil, piedosa, era bonita (sua aparência, na juventude, era apregoada por todos os contemporâneos). Bolena para mim, não passou de uma oportunista de quinta. Henricão, como psicopata que era, não deixava passar um rabo-de-saia. Mas Catarina ficou no meu coração como um EXEMPLO de virtude, força e coragem.

  3. Beatriz Maria disse:

    Ao contrário de que muitos pensam, ela era uma mulher forte e inteligente era uma guerreira, desde pequena aprendeu lutar por seus ideais e nunca desistiu lutou com todas suas forças para ver sua filha Maria no trono e conseguiu ela é um exemplo de mulher, e vai ser para sempre…

    1. tudorbrasil disse:

      Sem dúvidas Beatriz, mas felizmente, a imagem de Catarina, vem sendo, aos poucos, compreendida…
      Ela foi uma mulher incrível!

  4. Shaine Araujo disse:

    Eu amo essa mulher! Ela, Elizabeth Tudor, Lucrécia Bórgia e Joana d’Arc para mim são as maiores mulheres da História.

  5. Lyana Martins disse:

    Olá , pessoal . Queria dicas de biografias da rainha Catalina em português ou espanhol . Admiro muito sua força e coragem numa época tão difícil para as mulheres em geral .

  6. Também gosto e tenho admiração pela Rainha Catarina, devido sua postura e coragem para conduzir da melhor forma a situação ao qual o rei Henrique VIII a colocou.

  7. Magaly Caldas disse:

    Sou apaixonada por elas. Tudo que tiver, lerei.

  8. Eder Ap. Monteiro disse:

    Eu amo ler sobre história e personagens históricos. Muito obrigado aos autores deste site. Já Lu vários textos daqui. Todos excelentes. Parabéns.

  9. Eder Ap. Monteiro disse:

    Eu amo ler sobre história e personagens históricos. Muito obrigado aos autores deste site. Já li vários textos daqui. Todos excelentes. Parabéns.

  10. Jay disse:

    Vai ser interessante ter uma produção que retrate Catarina de Aragão como alguém que foi muito mais que uma esposa rejeitada. Poucos lembram por quantos abortos ela passou e quantos filhos ela perdeu quando retratam ela como uma pessoa amarga.

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