Como vimos anteriormente nos artigos sobre higiene, os Tudors não prezavam apenas por sua higiene, como também com a de suas roupas e casas. Neste artigo vamos explorar ainda mais este assunto, inclinando para um lado mais enigmático, os perfumes.
Qual seria o envolvimento dos Tudors com os perfumes?
Os perfumes foram introduzidos ao povo inglês (assim como a todo o resto da europa) na época das cruzadas, vindos provavelmente da Arábia, durante as inúmeras viagens feitas pelos templários ao oriente. Eles eram vendidos por comerciantes àrabes chamados mascates, que lidavam com essas mercadorias. Os principais produtores de perfumes nesta época, foram os monges, por serem bastante hábeis em destilação. Os perfumes mais populares no período Tudor, eram produzidos à partir de flores, como rosas, lírios e violetas. Na antiguidade, o povo europeu acreditava que os ”gases sujos no ar”, ou odores ruins, causavam doenças e o perfume foi então, uma boa forma de mascará-los.
Segundo Dr. Elizabeth T. Hurren em ”King Henry VIII’s Medical World”, contas reais do reinado de Henrique VIII, mostram um interessante registro sobre o assunto:
” O cheiro de suas bandagens eram muitas vezes repugnante. Suas feridas inflamadas muitas vezes escorriam pus. Contas domésticas de Henrique, mostram que ele gastou gandes somas em perfumes para disfarçar o decadente cheiro que emanava de seu corpo sitiado.”
O perfume diferente dos dias modernos, não era colocado diretamente sobre a pele, e sim em recipientes denominados Pomos (Pomanders). A palavra Pomander tem origem francesa, pomme d’ambre, que significa ”maçã de âmbar”. Ele consistia de um ornamento muitas vezes circular, no qual seriam depositadas as especiarias e essências, como seria preso a roupa, ao andar exalaria seu perfume, livrando as pessoas de odores desagradáveis.
O perfume também foi citado em um acontecimento interessante na história Tudor, a apresentação no Chateau Vert. Em sua crônica, Edward Hall diz:
”…As virtudes defenderam o castelo com água de rosas e doces, enquanto a dama do escárnio e companhia se defendia jogando fitas…”
Mas segundo Holly Dugan, autora do livro ”The Ephemeral History of Perfume: Scent and Sense in Early Modern England”, o uso da água de rosas foi muito mais simbólico que performático, segundo ela:
”…O uso da água de rosas na apresentação de máscaras de Henrique, celebrou um profundo acaso agrícola e tecnológico: a domesticação do damasco e rosa na Inglaterra coincidiu com a chegada da arte da destilação, permitindo a produção nacional da água de rosas…”
A reforma inglesa de Henrique VIII, alterou drasticamente o modo como o perfume foi produzido e consumido na Inglaterra. Como vimos acima, os monges eram os responsáveis pela destilação do perfume, e com a dissolução dos monastérios na Inglaterra, o número de jardins reais aumentaram consideravelmente. Quando jardineiros reais tranformaram os jardins antes privados para os monges em espaços públicos, eles também alteraram as práticas da produção de perfumes na Inglaterra. Não mais controlados pelo episcopado, a produção de perfumes tornou-se um assunto interno. Os perfumes ingleses não eram mais barras sólidas prontas para serem usadas em pomos ou queimadas. Boticários ingleses, desenvolveram águas perfumadas misturadas à partir de óleos destilados, especiarias e flores.
Perfume de Elizabeth I:
A receita de um perfume original com mais de 400 anos de idade usado por Elizabeth I, foi descoberta em um livro na biblioteca da Sociedade Real de Horticultura em Londres, em um livro intitulado “O Mistério e Sedução dos Perfumes” por CJS Thompson.
”Pegue 8 grãos de almíscar e coloque 8 colheres de água de rosas, 3 colheres de água de damasco e 1/4 de grama de açúcar. Ferva por cinco horas e coe.”
A reprodução deste perfume é vendida no site Historic Royal Palaces.
Existem também registros do perfume favorito de Henrique VIII, compossto de uma mistura de Almíscar, civetona e âmbar.
Podemos concluir que os Tudors tiveram bastante envolvimento com o perfume e sua história, não sendo ele usado apenas como um mero objeto de vaidade. O perfume foi usado com fins simbólicos e medicinais e sociais.
Fontes:
Livro: Aroma: the cultural history of smell – C. Classen, Howes David, Synnott Anthony.
Livro: Tudor costume and fashion – Herbert Norris.
Livro: The Ephemeral History of Perfume: Scent and Sense in Early Modern England Por Holly Dugan
Artigo: King Henry VIII’s Medical World – Dr. Elizabeth T Hurren
Desde que li O Perfume sou encantada por essa arte milenar. Muito interessante essa questão de que a Reforma modificou a obtenção de fragrâncias, porém, ainda existem exemplares de pomos perfumados?
Boa pergunta, não posso afirmar com exatidão, sei apenas que existem registros de receitas de fragrâncias!=)
Que legal! Me deu vontade de fazer o perfume da Elizabeth xD
Olá Helena. O perfume é uma delícia. Não sei como funcionaria sendo feito de modo artesanal, caso faça, conte para nós! ❤