A morte da esposa de Robert Dudley, Amy Robsart, em 08 de setembro de 1560, gerou uma considerável controvérsia. O que levou à morte desta jovem dama encontrada no fundo de uma escadaria em Cumnor Place, Oxfordshire?
Filha única de Sir John Robsart, Amy casou-se aos 18 anos, em 1550, com o rico e bem sucedido Robert Dudley, filho do Duque de Northumberland. Rumores que circulavam na época, intensificados atualmente, diziam que foi um casamento infeliz, com destaque na estreita relação de Robert com a princesa e futura rainha Elizabeth. Um mistério rodeia as circunstâncias da morte de Amy, apesar de existirem várias possíveis explicações: suicídio, câncer, homicídio (tanto por agentes da Rainha, quanto por Dudley) ou simplesmente, porém não menos trágico, um acidente.
Primeiramente vamos começar pelos fatos. Amy Dudley, apesar de ser nora de um duque (mais tarde em desgraça), não acompanhou seu marido Robert à Corte em 1559, quando este serviu a nova rainha, Elizabeth I, como seu fiel cortesão. Ela parece ter passado seu tempo viajando por todo o país, visitando amigos da família e gastando dinheiro com compras em Londres.
Não sabemos detalhes sobre a relação conjugal de Robert e Amy. Em uma época em que casamentos arranjados entre a nobreza e aristocracia visando fins sociais, materiais e políticos eram comuns, a maioria dos casais não priorizavam (e nem podiam) encontrar a felicidade ou amor no casamento, embora quando ocorresse fosse naturalmente benéfica.
O casal não teve filhos, mas não sabemos se foi devido a problemas de fertilidade ou o fato do casal ter ficado mais tempo separado do que em companhia sobre quatro paredes. Circulavam rumores que Dudley teve um caso de amor com a rainha Elizabeth, porém não possuímos uma prova real que justifique totalmente tal afirmação. No entanto, cortesãos mencionaram que um ano antes da morte de Amy, a rainha e seu favorito estavam esperando a deixa da morte da jovem para que então pudessem se casar.
É plausível considerar que o casamento de Robert e Amy não fosse inteiramente feliz. Eles estavam muitas vezes separados, não tinham filhos, e uma vez que muitos contemporâneos acreditaram que Robert poderia de fato ter assassinado sua esposa, parece credível argumentar que o casamento fosse um tanto turbulento. Após o verão de 1559, Robert jamais veria Amy novamente.
Em 8 de setembro de 1560, um dia após o aniversário da rainha, Amy mandou seus servos embora de Cumnor Place, conforme descrito pelo mordomo de Robert,Thomas Blount: –
”Ela não iria sofrer mais um dia de sua vida permanecendo naquela casa, e era tão sério que mandou todos seus funcionários à feira. Qualquer um teria dito para que ficassem em casa; ela estava furiosa, veio então a Sra. Odingsells, que recusou-se ir à feira naquele dia, o que deixou-a bem irritada com ela também. Porque [a Sra. Odingsells] disse que não era o dia das damas irem, ao que minha senhora respondeu dizendo que ela poderia escolher ir à seu bel-prazer, porém gostaria que todos fossem; estava muito zangada. Eles perguntaram quem deveria ficar fazendo-lhe companhia, já que todos sairiam, ela então disse que a Sra. Owen poderia fazer-lhe companhia no jantar. Certamente, meu Senhor, pelo pouco tempo em que estive aqui, ouvi tantas histórias sobre ela, que me fazem julgar que era uma mulher estranha de espírito.”
Suspeitosamente, ela foi descrita como bastante irritada com os três servos que resistiram em deixar Cunnor Place. Mais tarde naquele dia, Amy foi encontrada no fundo de um lance de escadas, com o pescoço fraturado e dois ferimentos da cabeça.
O que então causou a morte de Amy?
Primeiramente, este artigo irá considerar a explicação moderna de que Amy sofria de uma doença nos seios, sendo esta, a responsável por sua morte.
Foi suposto no momento da morte em 1560, que uma simples queda não poderia ter causado a morte da jovem – considerando que era uma queda curta, já que foi descrito que o capelo de Amy ainda permanecia em perfeito repouso sobre sua cabeça. Em 1956, Ian Aird propôs a teoria moderna, argumentando ao mesmo tempo que “um veredito de desventura, no caso do acidente, não era facilmente aceitável”. A profissão de Aird como professor de medicina, sem dúvida, ajudou-o na apresentação da teoria de que, ao invés de suicídio, acidente ou assassinato, Amy estava sofrendo de câncer de mama. Tal enfermidade faria com que seu pescoço ficasse particularmente frágil a ponto de quebrar-se facilmente. Esta teoria tornou-se popular nos tempos modernos. Conforme ele observou: “em uma mulher da idade de Amy, a mais provável causa de uma fratura espontânea da coluna seria um câncer de mama …”. De fato, o Conde de Feria relatou em abril 1559, que Amy Dudley “possuía uma doença em um dos seus seios “. Quando lemos o artigo de Aird, seu argumento de que a morte de Amy resultou de uma queda das escadas, que foi agravada por uma coluna enfraquecida em razão de um câncer de mama, seu ponto de vista é convincente. No entanto, ele foi atacado. Simon Adams, por exemplo, afirma que “esta teoria explica uma série de circunstâncias ocorridas, porém com tal grave doença, em abril 1559, seria difícil de conciliar suas extensas viagens nos meses seguintes”.
Uma explicação alternativa é o suicídio. Se ela estava sofrendo de doença ou depressão, ainda que potencialmente o câncer de mama, isso pode tê-la levado a cometer suicídio na tentativa de escapar de uma vida não mais suportável. Esta teoria pode ser suportada pela evidência de seu “desespero” citada por algumas fontes, porém, alguns historiadores levantaram a hipótese de que Amy mandou seus funcionários embora na manhã do dia 8 de Setembro, a fim de cometer suicídio em segredo. O próprio Robert Dudley pode ter aludido a esta possibilidade. No entanto, Aird atacou este ponto de vista, afirmando que “atirar-se de um lance de escadas não levaria a um suicídio, e muito menos teria ocorrido nos período Elizabetano, pois os degraus eram largos e baixos, possuindo um ângulo de descida gradual”. Além disso, é difícil acreditar que, se Amy se matou, seu capelo ainda estava em sua cabeça, sendo que ela não teria sido capaz de colocá-lo, pois já estava morta ao chegar ao chão.
Outros sugeriram que a morte de Amy foi acidental. James Gairdner em 1898, sugeriu que sua morte foi um trágico acidente. O veredito do médico legista em 1561, foi de que Amy Dudley, “estava sozinha em um determinado cômodo… quando acidentalmente caiu vertiginosamente para baixo… as escadas encontravam-se na parte inferior do mesmo”. Isso causou dois ferimentos na cabeça e ferimentos em um polegar. Tragicamente, ela havia quebrado o pescoço na queda. Devido a isso, ela “morreu instantaneamente … Lady Amy … por infelicidade ela seguiu rumo à morte, e não o contrário”. No entanto, os historiadores têm sugerido que Robert Dudley, como um influente e poderoso cortesão, foi capaz de influenciar o júri. Aird argumentou que “há várias circunstâncias em relação à morte de Amy Robsart que fez com que seus contemporâneos, assim como os historiadores de épocas posteriores, hesitassem um pouco em aceitar sem reservas o veredicto de desventura do júri”.
No entanto, talvez a teoria mais famosa, tenha sido a de que Amy foi assassinada. Após sua morte, houve “uma balbuciante grave e perigosa suspeita” tanto na Corte quanto no país. O povo comentava sobre a morte de Amy e a relação entre a rainha e seu favorito, Dudley. Acreditam que William Cecil, principal secretário de Elizabeth, sentiu-se ameaçado pela crescente influência de Dudley. O embaixador espanhol soltou boatos de que ”no rescaldo da morte de Amy, Elizabeth e Dudley conspiraram para matá-la com veneno”, dando a entender que ”ela estava doente, porém não tão doente assim”(temos que levar em consideração que o embaixador espanhol nunca gostou de Elizabeth, e há registros anteriores de que ele, em várias ocasiões, tentou por em cheque sua reputação). Em 1567, o meio-irmão de Amy, John Appleyarde, irritado com Dudley, afirmou que ele “não havia ficado satisfeito com o veredito do júri sobre a morte de sua irmã, e que Dudley acobertou o assassinato de sua irmã.” Contemporâneos acreditam que Dudley foi quem matou sua esposa.
A descoberta de correspondências de embaixadores espanhóis contemporâneos do século XVII apoiam a teoria de assassinato, relatando que Amy estava doente, e que seu marido havia aplicado doses de veneno, para que seu divórcio ocorresse na primavera de 1559. O relatório de 11 de setembro de 1560, três dias após a morte de Amy, afirma que Cecil acreditava que foi Dudley quem havia assassinado sua esposa. Uma crônica de 1563, escrita por alguém violentamente hostil aos Dudleys, sugeriu a prisão de Robert Dudley e Sir Richard Verney, pelo assassinato de Amy ao quebrar seu pescoço (este tema inclusive já foi abordado em um romance). Católicos exilados escreveram uma obra satírica de Leicester em 1584, sugerindo que Verney enviou os servos de Amy para o mercado quando chegou ao Cumnor antes de quebrar seu pescoço e cuidadosamente colocá-la ao fim de um lance de escadas.
O historiador vitoriano James Anthony Froude, encontrou uma correspondência que o embaixador espanhol escreveu em 1863, que dizia: “ela foi assassinada por pessoas que esperavam lucrar com a elevação dele ao trono, e Dudley … utilizou meios privados … para evitar ser inconvenientemente pressionado “. Alison Weir, em 1999, sugeriu que Cecil, ao invés de Dudley, estaria disposto a matar Lady Amy, pois tinha um motivo para fazê-lo: impedir o potencial casamento de Dudley com sua amante, Elizabeth I, uma vez que ele beneficiaria-se com o resultado de tal escândalo. Outra evidência foi apresentada: um tempo considerável antes de Amy morrer, tanto Dudley, quanto a Rainha, previram que o embaixador espanhol morreria logo.
No entanto, muitos historiadores desmentem rumores de que Amy foi assassinada. A correspondência de Dudley com Thomas Blount e William Cecil nos dias que precederam a morte, foi vista como prova de que ele era inocente, enquanto outros têm observado que tanto ele como a rainha Elizabeth ficaram muito chocados com a notícia da morte de Amy. Plausivelmente, foi sugerido que ele não teria matado sua esposa por causa do enorme escândalo que se seguiria implicando que ele seria o assassino. David Loades afirmou que “podemos estar razoavelmente certos de que Lorde Robert não tinha a morte da esposas nas mãos.” Aird afirma que “não há provas de que ele [Dudley] tinha qualquer pensamento de assassinar sua esposa”, mesmo que ele quisesse casar-se com a Rainha. Ele também afirma que “uma escada [não é] uma arma conveniente para o assassinato. Empurrar uma pessoa da escada nem sempre faz com que ela morra”, não se pode afirmar que “ela foi assassinada por meio de uma violência extrema, e em seguida, atirada para baixo”. Os historiadores também reconhecem que o veneno “não era comum no comércio do século XVI” desacreditando adversários políticos, e falando que o sugerido assassinato de Amy, nada mais era que ”fofoca”. Como as fontes eram todas católicas e portanto hostis à Rainha e a Dudley, devemos considerar com cautela as afirmações de assassinato.
Conclusão:
É impossível saber o que realmente aconteceu. Com base em evidências, podemos de fato acreditar que, a morte de Amy foi causada tanto por um câncer de mama, quanto por um infeliz acidente, ou seja, se ela estivesse fisicamente saudável, ela não morreria ao cair da escada. Porém, considerando a trágica circunstância da doença, seu corpo estaria muito mais frágil, e uma simples queda a levaria à sua morte devido ao afinamento dos ossos. Podemos com base nos relatos, afastar a hipótese de suicídio como provável explicação, pois vieram de fontes que beneficiariam-se tanto com a desgraça de Dudley, quanto a de Elizabeth. É mais provável com base nas teorias apresentadas, que ela sofreu uma morte acidental decorrente de uma doença, possivelmente câncer de mama.

FONTES:
Conor Byrnex: AQUI.
Acho mais possível que ela tenha sido assassinada mesmo, não necessariamente a escada foi o motivo, tudo foi planejado para parecer ser um acidente. De qualquer forma entra a pergunta: quem? Na minha humilde opinião, Cecil é um forte candidato pois esse escândalo abalaria qualquer possibilidade de casamento entre Robert e Elizabeth; mas esses não podem ser descartados também. Na verdade nenhuma hipótese pode ser descartada. Esse assunto é de encher páginas e páginas e foi brilhantemente resumido, mais um ótimo artigo!
P.s. mais artigos sobre Robert e Elizabeth são muito bem vindos =)
Agora o Tudor Brasil tem mais um membro, que também estuda sobre o período porém focado em Elizabeth I, estamos planejando ótimos artigos, aguarde!
Como sempre, muito bom ”vê-la” por aqui!=)
😀