Bisley é um charmoso vilarejo em Gloucestershire, a poucos quilômetros de Stroud. Ele fica localizado em uma colina com vista para o Vale do Frome, e suas estreitas e íngremes ruas são até hoje muito visitadas por turistas. Este vilarejo é um dos poucos lugares na Inglaterra onde ainda existe a antiga tradição do ”bem vestir”, uma antiga cerimônia – que possivelmente remonta aos tempos pagãos, como um ritual de agradecimento a pureza da água, após a Peste Negra no século XIV – em que todo o local é decorado com flores. Não sabe-se se os moradores medievais de Bisley de fato praticaram este rito como é conhecido hoje, afinal a tradição atual foi instituída em 1863 pelo reverendo Thomas Keble. O festival ocorre no dia da Ascensão, em Maio. Depois um culto na igreja local, uma procissão é liderada pela vila por alunos locais.
O nome do reverendo Keble muitas vezes associa-se ao vilarejo e com a lenda local do menino de Bisley. O reverendo parece ter realizado uma série de escavações em uma mansão local – Overcourt ou Over Court – bem como a restauração de seus poços. Overcourt é uma pequena mansão do vilarejo que data do século XIV. Segundo o folclore local, foi um antigo pavilhão Real de caça, embora pareça ter pouca evidência à respeito em registros históricos. A propriedade não pertencia à Coroa, e foi alugada a uma série de famílias locais no decorrer dos anos. A mansão tornou-se conhecida por sua frequente associação com o menino de Bisley, um conto que fascinou Bram Stoker a ponto de escrever um livro intitulado ”Famous Imposters” – Impostores Famosos.
No final de 1800, o ator Henry Irving comprou uma casa na área. Ele ficou intrigado ao descobrir certas idiossincrasias nas comemorações do dia da ascensão comemorado em Bisley no mês de Maio; assim como a maioria das comunidades rurais do período, a aldeia escolheu a Rainha de Maio, mas em Bisley, ela sempre foi retratada como um menino, vestido trajes Tudor. Determinado a descobrir a razão para isso, Irving pediu a Bram Stoker – que foi contratado por ele como um assistente, para investigar o caso. Stoker descobriu um conto tão improvável, que parece impossível de acreditar, porém ele levou à sério. Stoker incluiu o caso em seu livro Impostores Famosos, explicando todos os indícios que o levaram a crer em tal história.

De acordo com a história, Henrique VIII enviou Lady Elizabeth para viver em sua casa de caça em Overcourt. Londres estava infestado de pragas, sendo considerado um lugar perigoso para viver, o Rei então, sentiu que Elizabeth viveria melhor no campo. Um de seus companheiros no lodge era o seu próprio sobrinho, o filho do filho ilegítimo de Henrique, o duque de Richmond. Certo dia, o rei anunciou sua intenção de visitar sua filha, porém antes que isso ocorresse, Elizabeth caiu enferma com um forte febre, e morreu logo em seguida. Atormentada e assustada com a fúria que o rei teria, a enfermeira de Elizabeth decidiu encontrar uma garota local com os mesmos traços da princesa para passar-se por ela. Infelizmente ela não encontrou nenhuma. Desesperada, ela vestiu o filho do Duque de Richmond com as roupas de Elizabeth e substituiu-o em seu lugar. Curiosamente, o Rei parece não ter notado o engano, e como resultado, o filho de Richmond passou a governar a Inglaterra por 43 anos sob o disfarce de Elizabeth I.
Stoker parece ter levado a lenda tão à sério, que enumera vários argumentos à seu favor em seu livro Famosos Impostores. O principal argumento, é claro, foi a firme recusa de Elizabeth em se casar, apesar da necessidade de um herdeiro, juntamente com os rumores que circulavam na época, dizendo que ela era incapaz de ter filhos. Em 1529 o embaixador espanhol Conde de Feria escreveu “Se meus espiões não estão mentindo, o que acredito que não. por uma certa razão, eles me fizeram entender que ela (Elizabeth) não vai ter filhos”. Stoker também cita sua estreita relação com os retentores Kat Ashley, Blanche Parry, e Thomas Parry como prova de que havia algum segredo bem guardado entre todos eles, e ele também refere-se à natureza geralmente secreta de Elizabeth. Outros comentaristas sobre a história tem referido-se ao hábito de usar vestidos de gola alta, perucas e ceruse branco no rosto, para esconder possíveis traços masculinos, como pomo de Adão, barba e uma possível calvice. Sua insistência em que não deveria haver nenhuma exumação após sua morte, também foi vista como suspeita.

A real origem desta lenda é incerta, porém, tudo indica que elas tenham começado com o reverendo Keble. Ele alegou ter descoberto o corpo de um jovem em um caixão de pedra em Overcourt, vestido elegantes trajes Tudor, ele teve o corpo enterrado em um túmulo secreto para protegê-lo de especulações macabras. O local deste túmulo nunca foi revelado. O que sabemos é que a tradição moderna do ”bem-vestido” começou com o reverendo, e parece provável que os trajes Tudor masculinos da Rainha originaram-se com ele também. Todas as referências contemporâneas descrevem-no como um homem sóbrio e sério, porém, ele parece ter sido um criativo publicitário para o vilarejo de Bisley. Ele também pode ter sido um defensor da teoria do século XIX, que afirmava que um governante com a estatura de Elizabeth não poderia ter sido mulher, e talvez tenha usado o conto do Menino Bisley para comprovar tal teoria.
Porém, há inúmeras evidências que confirmam a feminilidade de Elizabeth. Filipe II pagou espiões para comprovar a fertilidade da Rainha, talvez motivados pela especulação de Feria sobre o assunto. Seu emissário subornou lavadeira que relatou que a rainha estava menstruando normalmente. Há também uma série de pinturas em que podemos vê-la com vestidos decotados. E suas perucas foram usadas com o passar dos anos, quando estava ficando mais velha, a fim de esconder os fios grisalhos. Sua estreita relação com Robert Dudley – que foi possivelmente sexual, é outro indicador de que ela não era homem, afinal, teria sido bastante difícil esconder tal segredo de Dudley.
Elizabeth no entanto, tem uma ligação histórica com Bisley e com Overcourt. Em 1551 seu irmão Eduardo VI concedeu-lhe os direitos de uma mansão nos arredores do local, e durante o próximo meio século, foi arrendado a vários dignitários locais em seu nome. Talvez essa conexão formou a base sobre a qual o reverendo Keble construiu o conto do Menino Bisley.
A lenda do menino de Bisley, é apenas mais uma no meio de tantos mitos acerca da vida de Elizabeth. É natural que uma Rainha que foi tão importante para história inglesa, e que por opção, em uma época em que uma mulher tinha de ser casada, optou por ser solteira, tenha aguçado tanto a criatividade de muitos.

FONTES:
Yorkshire Mixture: AQUI.
É realmente um assunto delicado. Como você disse, há pinturas dela com decote e também, quando ela se vestisse, eram suas serviçais que a vestiam, logo, elas podiam ver seus seios. Não teria como esconder uma coisa dessas naquela época. Logo mais com várias pessoas que gostavam de bisbilhotar a vida dos outros, alguém teria pago alguém para ver a rainha nua (caso ela proibisse qualquer um de vesti-la). Também acho sem noção a enfermeira trocar a Elizabeth por medo do rei ficar com raiva. Ele sabia que ela poderia contrair uma doença logo logo, ele não ficaria com raiva da enfermeira, até porque ela também tentaria avisar ao rei anteriormente que sua filha se encontrava doente. E se ela trocou de fato, Elizabeth teria que estar bem jovem para que seu pai não notasse a diferença. Porque uma menina de 15/16 anos normalmente já tem seios e um menino de 15/16 já tem barba ou o pomo de adão. Se o menino não tivesse ambos atributos seria uma baita cagada, mas ao envelhecer, com 30 anos, ele com certeza teria barba e alguém notaria que a rainha tinha barba. Essa teoria tem muitas dificuldades para se manter erguida lol.
Sim. Eu realmente não acredito nesta teoria, mas como uma mulher enigmática que fora Elizabeth, acho compreensível que lendas e mitos estejam ao seu redor. Apenas temos que tomar cuidado, para que não nos deixemos levar demais por estes assuntos e esqueçamos outros mais importantes e factuais, né!? 🙂
Talvez ele fosse hermafrodita!!!!!