Estudiosos sobre a vida de Ana Bolena frequentemente associam o mês de Maio ao sangrento mês de sua execução, porém, não podemos esquecer que Maio foi também o mês em que as cerimônias de sua coroação começaram. Após muitos anos de incerteza, estes quatro dias teriam dado-lhe um alívio monumental. Neste período ela estava segura de que estava à beira de tornar-se uma Rainha ungida e mãe do futuro herdeiro do trono inglês, o príncipe que daria continuidade a linhagem Tudor e apaziguaria a consciência do rei.
As cerimônias de coroação duraram quatro longos e generosos dias. No primeiro dia, Ana seria escoltada pelo rio até a Torre de Londres, onde permaneceria por duas noites. No terceiro dia, uma procissão teria lugar na Torre de Westminster e no último dia ocorreriam a coroação e o grande banquete em Westminster Hall.
Na quinta-feira 29 de maio, 50 grandes barcaças elaboradamente decoradas e escoltadas por muitas embarcações menores deixaram Billingsgate rumo à Greenwich. Os barqueiros tiveram que remar contra a maré, levando então duas horas para chegar a Greenwich.
Como Eric descreveu em seu livro, The Life and Death of Anne Boleyn (2004) , eles estavam ricamente trajados:
”Bandeiras e tecidos estavam pendurados com folhas de ouro que brilhavam ao sol e pequenos sinos que tilintavam, os barcos possuíam músicos de todos os tipos e canhões que pareciam protegê-los do lotado canal. A frota foi liderada por uma barcaça iluminada ornamentada com um dragão mecânico que poderia mover-se e cuspir chamas, com ele estavam outros modelos de monstros e enormes homens selvagens que atiravam fogos de artifício e proferiam horríveis gritos ( Ives 2004 , p.173 )”.
Podemos deduzir à partir desta descrição, que a procissão pelo rio foi um trabalho artístico e orquestrado, visando mostrar a população uma magnificência pura.
Não podemos ter certeza quanto à existência ou não do povo de Londres, se eles saíram para cumprimentar Ana por curiosidade ou lealdade para com seu Rei, mas o que sabe-se com certeza é que a procissão pelo rio projetada por Henrique para sua “mais cara e bem amada esposa”, atraiu milhares de ansiosos espectadores.
Finalmente, para Ana, após o que deve ter sido uma cansativa espera, ela embarcou em sua própria barca suntuosamente decorada junto com as principais damas de sua corte. O resto das mulheres foram transportadas por uma segunda barca e o rei seguiu atrás com sua guarda vestida com suas melhores roupas. Eric Ives afirma que haviam cerca de 120 grandes ofícios e 200 menores na procissão do rio – que evento deve ter sido!
Ana chegou à Torre sob uma onda quase contínua de fogos de canhão e foi recebida por um grupo de funcionários da Torre que finalmente a levaram para o Rei, que conforme manda à tradição, observou tudo em segredo. O casal real passou os próximos dois dias nos apartamentos privados que Cromwell havia pessoalmente organizado para a coroação, para que eles pudessem apreciar os antigos rituais da corte associados a uma ocasião tão importante. Infelizmente, nada restam destes apartamentos, mas você pode visitar o local onde eles ficaram, entre a Torre Branca e a principal parede de cortina.
Durante os dois dias na Torre, foram criados 18 Cavaleiros de Bath, muitos deles possuíam fortes ligações com Ana ou seus parentes Howard. Talvez o mais notável seria Francis Weston, que em apenas três curtos anos iria embarcar em sua jornada final de volta para a Torre, em circunstâncias terrivelmente diferentes.
As 5 da manhã do sábado, 31 de maio de 1533 a procissão saiu da Torre rumo à Westminster. Até 300 pessoas de diferentes graus de importância compareceram, a procissão caminhou lentamente passando pela multidão que a esperava. Haviam seis pontos habituais para cortejos na rota pela cidade, tudo isso mais um adicional de 3 locais foram ricamente decorado para Ana. Henrique tinha provado seu amor eterno e devoção por sua nova esposa, excedendo a pompa da cerimônia de coroação de sua primeira esposa, Catarina de Aragão.
Ana viajou em uma liteira de cetim branco forrada com tecido branco de ouro por dentro e por fora. Seus longos, belos e escuros cabelos foram usados soltos até a cintura e ela vestia-se com um ”tecido branco transparente e uma coroa de ouro” ( Ives 2004 , p.177 ). Ives descreve a cena em grandes detalhes:
”Acima dela estava um dossel de pano de ouro feito pelos barões do Cinque Ports. Ana estava em seu próprio palafrem também branco. Doze senhoras em veludo carmesim andavam atrás dela, seguidas de duas carruagens uma branca e outra vermelha e trinta damas à cavalo, desta vez, trajando veludo negro. Elas foram seguidas pela guarda do rei, em duas filas, uma de cada lado da rua…e por último, todos os criados uniformizados ao lado de seus senhores ou senhoras (Ives – 2004, p.177 )”.
Fontes relacionadas à reação da população variam muito e por isso é difícil dizer com exatidão como a nova Rainha foi recebida. O que podemos dizer é que para Ana, sentir seu filho mexendo em sua barriga, seguido da adoração de seu marido envolvendo-a a cada momento, devem ter transformado este momento em algo único.
No dia 1 de Junho de 1533, após o que deve ter parecido uma vida inteira de espera, Ana Bolena entrou em Westminster Hall pronta para ser coroada rainha da Inglaterra. Ela trajava ”vestes de coroação de veludo roxo, pele de arminho e a mesma coroa de ouro que havia usado no dia anterior” ( Ives 2004 , p.178 ). A procissão em seguida, andou 640 metros ao altar da abadia onde Ana Bolena tomou seu lugar na cadeira de St. Edward e cimentou seu lugar na história.
Na quinta-feira, 29 de maio, Lady Ana, marquês de Pembroke, foi recebida como rainha da Inglaterra por todos os senhores daquele país. O prefeito, vereadores e todas as corporações da cidade de Londres, foram para Greenwich em seus barcos seguidos de uma barcaça de bacharéis de alianças do prefeito ricamente decoradas com tecido de ouro. E assim todos os senhores de Londres vieram pelo rio de Greenwich rumo a Torre de Londres para levar a nova rainha, o Rei então recebeu-a seguido de mais de mil armas de fogo sendo disparadas na Torre, em Limehouse e em outros navios que ainda encontravam-se no Tâmisa.
E no sábado, último dia de maio, Ana seguiu da Torre de Londres, à partir da cidade com a agradável companhia de Lordes, cavaleiros e senhores, todos ricamente trajados. Ela mesma subiu em uma rica carruagem adornada com tecido prateado e um rico dossel prateado acima de quatro senhores dos portos em vestidos de escarlate. Eles foram seguidos por quatro carruagens ricamente decoradas com damas e várias senhoras à cavalo, todas em vestidos de veludo carmesim. Houveram vários espetáculos feitos em andaimes na cidade, e todos os empregados trajando ricos uniformes, cada um de acordo com seus cargos ocupados, na frente o prefeito e vereadores de pé em Cheapside. Quando Ana apareceu antes de todos, o arquivista de Londres fez uma agradável apresentação para ela, em seguida, o prefeito deu -lhe uma bolsa de tecido vincado com milhares de anjos, como um presente de toda a cidade. Os senhores a trouxeram para o Palácio de Westminster e a deixaram lá aquela noite.
No dia 1 de Junho, a Rainha Ana foi trazida de Westminster Hall para a Abadia de St Peter em procissão. Todos os monges de Westminster trajavam lindas vestes de ouro, seguidos de treze Abades com mitras, e depois de todos, o capelão do Rei que também trajava ricas vestes seguido de quatro bispos e 2 arcebispos mitrados. A coroa foi carregada pelo Duque de Suffolk, e os dois cetros Reais por dois condes, Ana seguia sob um rico dossel de tecido de ouro, vestido uma túnica de veludo carmesim decorado com pele de arminho, um robe de veludo roxo e arminho e uma rica coroa ornamentada com pedras preciosas e pérolas. A velha duquesa de Norfolk carregou seu manto de escarlate com uma grinalda de ouro no topo, Lord Burgh, Chamberlain da rainha, ficou no meio da comitiva.
Seguindo Ana, também estavam suas 10 damas em trajes escarlate aparadas com arminho e coroas redondas de ouro em suas cabeças, atrás delas vinham as outras empregadas da rainha em vestidos de escarlate adornados com pele branca. E assim ela foi levada para a igreja de St Peter e colocada em seu trono Real, onde foi feita uma elevada plataforma diante do altar. E lá estava ela ungida e coroada rainha de Inglaterra pelo arcebispo de Canterbury e arcebispo de York. Lá ela sentou-se coroada, em sua sede real durante a missa. Após a missa, todos saíram em ordem rumo à Westminster Hall, Ana coroada, sob o dossel, com os dois cetros Reais nas mãos seguiu rumo a um banquete tão suntuoso quanto todo o evento.
O grande salão de Westminster foi ricamente decorado com mesas postas nas extremidades superiores do Hall, indo até doze lugares onde a rainha jantou com um rico tecido de estado adornado sob sua cabeça. Haviam também outras quatro mesas ao longo do corredor.
Este foi o começo de uma nova vida da Ana, onde tudo iria mudar de uma hora para outra…
CONTINUA…
FONTES:
ON THE TUDOR TRAIL: AQUI.
Lindo e triste ao mesmo tempo…