A Coroação de Elizabeth I

Importante:
Por questão de tamanho, o artigo sobre a coroação de Elizabeth I, será dividido em duas partes. Deste modo, não ficará cansativo e você poderá dispor melhor de todos os dados.

Recomendo ler este artigo ao som destes vídeos (clique).

A coroação de Elizabeth I, foi a última ocasião em que foram utilizados os costumeiros rituais de coroações versados dentro dos costumes católicos latinos, derivados de toda a dinastia Plantageneta. O que ocorreu na ocasião, provavelmente foi um presságio do cenário político-religioso que estenderia-se durante seu reinado. Isto deu abertura à muitas dúvidas e conjecturas sobre eventos que poderiam ter acontecido, como por exemplo, será que a rainha permaneceu presente em toda a missa, ou retirou-se para sua Câmara Privada na Capela de St. Edward – exatamente no ponto crucial da consagração e elevação da Hóstia? Ou então, será que o bispo consagrou-lhe a Hóstia? Este artigo escrito pelo historiador e pesquisador A.L. Rowse, em Maio de 1953, é até agora, o mais completo a respeito deste evento.

Torre de Londres. Local onde Elizabeth esteve em duas diferentes ocasiões, uma para ser presa, outra rumo a sua coroação.
Torre de Londres. Local onde Elizabeth esteve em duas diferentes ocasiões, uma para ser presa, outra rumo a sua coroação.

O processo completo de uma coroação nos tempos medievais até o período Tudor – Elizabetano, dividia-se em quatro etapas. O novo monarca deveria primeiramente seguir rumo à Torre de Londres; o significado deste processo é bastante óbvio – a fim de evitar rebeliões ou invasões, era o melhor local para ter um vislumbre estratégico e esconder-se antes que algo pudesse ocorrer. Esta tradição inglesa continuou a ser simbolicamente respeitada por algum tempo após o fim desta real necessidade. A segunda etapa foi o trajeto do soberano através da cidade até Westminster, na véspera da coroação. A terceira, foi a própria coroação na Abadia de Westminster, seguida de uma procissão. A quarta e última, foi o banquete em Westminster Hall após as cerimônias na Abadia.

Naquele período, era aconselhável investir no novo soberano tão logo quanto possível, com a plena autoridade que a unção e coroação lhe confeririam. Maria morreu em 17 de novembro de 1558; Elizabeth foi coroada em seu lugar dentro de dois meses depois. Ela havia tido uma calorosa recepção de Londres. Elizabeth tentou conquistar os corações das pessoas como bem pôde. Ela passou o Natal em Whitehall e na quinta-feira do dia 13 de Janeiro de 1559, ela mudou-se para a Torre, cruzando o trajeto por água, com uma barcaça pelo Tâmisa. Um enviado italiano que viu o espetáculo, recordou a grande cerimônia dos Doges – o casamento místico de Veneza com o mar.

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Panorama de Londres no ano de 1543 por Wyngaerde.

No sábado, toda a Corte reuniu-se na Torre. Elizabeth então, saiu para a procissão, com a rua branca de neve e belos flocos vindos do céu pelos caminhos tão familiares para nós a partir das gravuras de Wyngaerde, Hollar e outros. Há apenas 25 anos atrás, Elizabeth seguiu este mesmo trajeto, rumo ao mesmo destino, só que a partir do ventre de sua mãe (Coroação de Ana Bolena, segunda esposa de Henrique VIII, Rainha da Inglaterra, coroada no dia 1 de Junho de 1533).

Os alegres versos sobre sua coroação, haviam sido escritos pelos poetas da corte, John Leland e Nicholas Udall:

”I, decens Regina, tuam ad coronam,
Et diu omins vive doloris expers,
Regis Henrici, superum favore, Optima coniunx.”

”Encantadora Rainha é coroada,
E por um longo tempo, todos viverão sem tristeza,
Rei Henrique, por graça divina, e sua boa esposa.”

Muitos que naquele dia assistiram o triunfo da filha, devem ter visto o espetáculo da mãe – a neta do Lord Prefeito de Londres; alguns poucos devem ter refletido, sobre as chances e ironias da história…

De todos eles, ninguém foi mais consciente das traiçoeiras areias da política que Elizabeth e desde o início ela compeliu-se a conquistar o coração do povo, já bem inclinado e disposto a acompanhar seu trajeto de biga. O Duque de Feria, representante de Filipe na Inglaterra, escreveu: “Ela é muito apegada ao povo e pensa como eles, e assim como eles, trata os estrangeiros com desprezo”. O reinado de Elizabeth trouxe certa insegurança aos espanhóis. Afinal, ela devia sua própria vida e segurança ao tácito apoio do povo inglês. Feria logo foi obrigado a mudar seu tom, do desprezo à apreensão: “Ela parece para mim, incomparavelmente mais temida que sua irmã e dá ordens e possui um jeito absolutamente igual ao de seu pai”.

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Ana Bolena, mãe de Elizabeth I e segunda esposa de Henrique VIII.

Completou-se então a conquista de Elizabeth à Londres. “Sua Graça, segurando suas mãos e com semblante alegre o suficiente para ver de longe, com a mais terna e suave linguagem aos que estavam perto dela, declarou-se não menos grata por receber a boa vontade de seu povo, quanto eles da sua.” em troca ‘‘O povo foi mais uma vez maravilhosamente arrebatado com as respostas de amor e gestos de sua princesa, como as que haviam experimentado antes em sua primeira vinda de Hatfield à Torre de Londres” (quando foi presa à mando de Maria).

Em Fenchurch, um ricamente ornamentado palco havia sido erguido, sobre a qual havia o constante som de instrumentos musicais e uma criança em um dispendioso vestuário, que foi nomeada para saudar Elizabeth em nome de toda a cidade. “A jovem criança começou a proferir grosseiramente o convencional discurso Elizabetano para a ocasião”. Elizabeth ouviu atenciosa e polidamente, mas teve de pedir silêncio as pessoas para que pudesse escutar melhor. O que ela ouviu, foi algo como isto:

”O segundo são corações verdadeiros, propriedades ablativas de Júpiter a partir de sua raiz,
De quem o pedido triunfou e agora domina o jogo.
Que os fiéis ganharam, e todos os falsos foram expulsos;
Que pulam de alegria quando ouvem tal alegre nome.”

É a poesia do âmago do tecelão, do agradável marceneiro, do alegre músico, de quem a Rainha pensar, é a poesia vinda a alegria enraizada em um povo, vendo novamente um novo horizonte, um outro amanhã, como era comum em coroações. E não há de fato, nenhuma evidência concreta de qual fora seu estilo particular favorito de poesia. Ela atuou seu papel, como uma ótima atriz que era, como sempre lhe confiaram a fazer.”Aqui foi notado no semblante de Vossa Majestade, durante o tempo em que a criança falou, além de uma atenção constante em seu rosto, uma maravilhosa mudança em seu olhar, como se as palavras da criança tivessem tocado tanto sua pessoa, como as línguas e corações do povo”. Não haviam dúvidas sobre o significado dos versos, os protestantes estavam agora no auge.

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Procissão de coroação de Elizabeth I.

Do outro lado da Gracechurch Street, estendia-se uma estrutura com muralhas e três portas. Acima do palco principal encontravam-se três palcos menores; no mais baixo estavam as figuras de Henrique VII e Elizabeth de York (avós paternos de Elizabeth); no próximo acima estavam as de Henrique VIII e Ana Bolena, agora ressuscitada (Ana, mãe de Elizabeth, foi executada por decapitação, acusada de traição em 19 de Maio de 1536, na Torre de Londres). No topo estava Elizabeth, sozinha (muitos devem ter perguntado-se por quanto tempo mais). Os dois lados da estrutura estavam vibrando com música e todos os lugares vazios da mesma, foram decorados com frases em referência a união. Todo o palco foi decorado com rosas vermelhas e brancas e intitulado ”A união das duas casas de Lancaster e York”, nós lembramos da famosa crônica de Edward Hall neste tema, cujo material histórico e tema, foram usados por Shakespeare; e tudo o que podemos supor sobre a crueza das apresentações é que não podemos esquecer o que eles levaram para o ciclo de peças de Shakespeare na história inglesa.

Em Cornhill, o conduíte foi curiosamente aparado com ricas bandeiras, e lá houve a segunda apresentação, refletindo as virtudes do bom governante: ”Religião pura, amor aos assuntos, sabedoria e justiça, que fez trilhar seus vícios contrários sob seus pés”.

Aqui também podemos notar a inclinação protestante da cidade:

”Enquanto que a verdadeira religião deve
suprimir a ignorancia
e com o peso de seu pé
romper cabeças supersticiosas…”

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CONTINUA: AQUI.

8 comentários Adicione o seu

  1. Land Walker disse:

    Será que ela prestou o juramento na investidura, e, por acaso, há alguma tradução em português: “do become your liege man of life and limb, and of earthly worship, and faith and truth, I will bear unto you to live and die against all manner of folks.” Muito obrigado!

    1. tudorbrasil disse:

      Houve um tipo de juramentação à coroa, mais voltada ao povo e aos deveres do monarca, Elizabeth prestou, conforme podemos ver acima.
      Após o período Tudor, no período da revolução gloriosa, as juramentações mudaram para: ”Promise and Sweare to Governe the People of this Kingdome of England and the Dominions thereto belonging according to the Statutes in Parlyament Agreed on and the Laws and Customs of the same…”.
      Quanto a tradução do que disse acima, eu não sei muito sobre ela, mas pode ser proveniente de um período anterior ao Tudor.
      Eu traduzi para você: ”…tornar seu vassalo de vida ou integridade física, e adoração terrena, a fé e verdade, eu vou arcar com vocês, para viver e morrer, contra todos os tipos de nações…”
      Bom, aqui segue o link da segunda parte, onde Elizabeth prestou os juramentos:

      https://tudorbrasil.wordpress.com/2014/05/21/elizabeth-i-parte-vi-a-coroacao-parte-ii-de-ii/

  2. Gabriel Moreira Medeiros Laureano disse:

    Parabéns para a equipe do site The Tudor Brasil pela biografia da Rainha Elizabeth I. Seria excelente se publicassem uma bibliografia sobre a rainha, que não seja apenas de cunho romântico, mas sim histórico. Como os trabalhados da historiadora Elizabeth Norton sobre os Tudors, de modo especial sobre Ana Bolena.

    1. tudorbrasil disse:

      Obrigada Gabriel!
      Existem inúmeros livros biográficos sobre Elizabeth, mas infelizmente, a maioria está em inglês…
      Anotamos a sugestão e colocaremos em prática!:)

      1. Gabriel Laureano disse:

        Estou aguardando ansiosamente, e não tem jeito: a maioria é em inglês mesmo. Mas dá para ler tranquilamente.

      2. tudorbrasil disse:

        Exato! Evito postar títulos em inglês, pois a maioria dos leitores não dominam a língua. Como você é a terceira pessoa que me pede uma bibliografia sobre Elizabeth, dedicarei um artigo sobre o assunto!:)

      3. Gabriel Laureano disse:

        Excelente, estou pedindo também porque estou cursando História e uma bibliografia sobre a Rainha Elizabeth será bastante útil. Pretendo também divulgar entre meus colegas.

      4. tudorbrasil disse:

        Postado Gabriel!:)

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