Quando pensamos no papel desempenhado pela mulher no período Tudor, o primeiro aspecto que nos vem em mente é a submissão típica de uma mulher nos tempos mais antigos. Porém, por mais incrível ou difícil que possa ser para acreditarmos, seu papel foi bastante diferente do imaginado.
A mulher no período Tudor, foi muito mais ativa no campo do trabalho do que podemos imaginar e muitas deixavam seus papeis dentro de sua família para segundo plano, gerindo negócios, muitas vezes maiores que de seus maridos.
A vida da mulher no século XVI, ainda girava muito em torno do lar e da família. A separação do trabalho com seu lar, estava muito longe de ser tão óbvia como é para nós atualmente, mas isto não a impedia de executar seus trabalhos. Uma mulher poderia trabalhar de diversas maneiras, como por exemplo, fazendo cerveja para o uso doméstico e vendendo o excedente para fora. Isto não era feito apenas com a cerveja, mas também com laticínios, que elas poderiam levar para vender no mercado. Era esperado também, que as esposas de ricos comerciantes, assumissem certos papéis dentro dos negócios de seu marido. Algumas mulheres mais intrépidas, inclusive aventuravam-se abrindo seu próprio negócio, chegando a ter de lidar com uma grande quantidade de dinheiro. Poucos sabem, mas também no período Tudor, haviam um grande número de mulheres que não casavam-se e portanto não tinham escolha, a não ser seguir uma vida de negócios para sustentar-se.
AS MULHERES DA SEDA:
A mais famosa profissão das ricas mulheres naquele período, era sem dúvida, a das mulheres da seda, profissão esta, que provavelmente atingiu seu apogeu no século XV. Na Inglaterra Tudor, a mulher da seda, não tecia o pano de seda, e sim, tratava os fios de seda crus, este processo derivaria em uma variedade de produtos, tais como fitas, laços e cintas. Os laços de seda, não eram o que conhecemos hoje por rendas, e sim cordas de seda torcidas, que possuíam uma enorme gama de usos, como o de anexar selos para documentos, até o de decorar a roupa dos mais abastados. As mulheres da seda também podiam vender os tecidos já terminados e trabalhados.
No continente, como por exemplo, em Paris, as mulheres da seda possuíam suas próprias corporações de ofício. Na Inglaterra, embora não houvesse um negocio formal, as mulheres da seda eram um negócio respeitado. Dentro da Inglaterra, o local de maior influencia destas mulheres, certamente foi em Londres, onde o mercado de venda para os artigos de luxo eram consideravelmente maiores. Em 1482, o preâmbulo de uma petição enviada ao rei, fala de ‘‘um posto de ofício de mulheres da seda na cidade de Londres e em outros lugares, como vilas, aldeias e municípios do reino da Inglaterra…”.

Estas mulheres, também possuíam aprendizes, assim como os homens em outras profissões, e elas serviam sob os mesmos tipos de termos que os aprendizes para profissões masculinas. Existem dois registros públicos sobreviventes, um sobre uma menina de Yorkshire e outro de uma em Lincolnshire, ambas as quais eram aprendizes em Londres. As escrituras vinculam as meninas, assim como outras mulheres e seus maridos, a aprenderem o ofício de outras mulheres da seda. As meninas foram aprendizes por sete anos, os requisitos básicos, eram que, elas tinham de comportar-se bem, não ofender seu mestre e ajudar no negócio. Em troca deste serviço, a senhora promete tomar conta de instruir a aprendiz neste ofício, doar comida, roupas, calçados e todas a outras necessidades básicas.
As mestras das aprendizes, não eram apenas empregadoras, muitas chegavam até a tomar o lugar dos pais da criança, assumindo a responsabilidade por sua educação, desenvolvimento e comportamento, dentro e fora do local de trabalho. Como a maioria delas tinham pais morando realmente longe, elas não tinham de fato, outra opção. Lembrando que o que está sendo mencionado sobre as aprendizes e suas empregadoras, eram exatamente o mesmo ocorrido entre o lado masculino das profissões. O resultado, muitas vezes, era de uma relação repleta de dificuldades, já que as questões profissionais, misturavam-se as emocionais.
A relação no fim, era muito proveitosa as aprendizes, afinal, à elas, não eram apenas ensinadas informações sobre seu ofícios, como também, sobre como gerir os negócios, com o objetivo de seguir com o próprio no futuro, ou até, dependendo da relação com sua mestra, herdar as responsabilidades do dela. As aprendizes envolviam-se tão profundamente dentro dos negócios de suas senhoras, que até mesmo chegavam a comprar e vender bens em nome das mestras delas. Para tornar as coisas ainda mais confusas, as aprendizes muitas vezes tinham permissão para fazer negociações por conta própria. É claro que devido a tantos privilégios, muitas vezes disputas acabavam ocorrendo entre as aprendizes e suas senhoras. Um registro sobrevivente, relata tal desacordo entre Joan Woulbarowe e sua ex aprendiz. As duas mulheres, entraram em disputa sobre o que exatamente havia acontecido com alguns panos de seda que a aprendiz deveria entregar a Joan, e houve também quem afirmou que a aprendiz comprou a seda para si, em vez de Joan. A disputa, evidentemente, tornou-se bastante amarga entre as duas mulheres, pois ambas tinham a sensação de terem sido lesadas.

O gerenciamento de aprendizes, eram apenas um dos problemas que as mulheres da seda enfrentavam. Alguns dos outros problemas envolviam-se em transações complicadas de larga escala, que muitos homens deveriam ter invejado. O fio de seda crua não foi produzido na Inglaterra, e sim comprado de comerciantes italianos. Jane Langthon, a viúva de um seleiro, tornou-se obrigada a fazer pagamentos de bens, no valor de seda, equivalente a 300 libras para dois comerciantes de Génova. Este pagamento, seria efetuado no lugar de sua filha Agnes que falecera. Não há nada para mostrar se Agnes era simplesmente uma intermediária, ou se ela estava comprando a seda para mais trabalho, mas certamente, a família estava fortemente envolvida no negócio de seda. A própria Jane Langton foi descrita como uma mulher da seda em seu testamento datado de 1475, e Elizabeth, a segunda esposa de seu filho, provavelmente, foi uma mulher da seda que forneceu cerca de ₤ 100 no valor dos bens da família real em 1503.
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