
Em 30 de agosto de 1548, Catarina Parr, viúva de Henrique VIII e em seguida, esposa de Thomas Seymour – Lord Sudeley, deu à luz uma filha no Castelo Sudeley, em Gloucestershire. Catarina tinha 36 anos e pelo que consta nos registros históricos, esta foi sua primeira gravidez. Considerando que a idade para casar-se e começar a ter filhos no período Tudor, era mais cedo que atualmente, Catarina engravidou tardiamente aos padrões da época e isto, poderia implicar inúmeros problemas, tanto para ela, quanto para o bebê. No entanto, tirando alguns registros de desconfortos matinais, ela parece ter saído-se bem. O estado geral de sua gravidez apenas tornou-se alarmante, após descobrir os flertes entre seu marido Thomas e sua enteada Lady Elizabeth, filha de seu falecido marido e agora sua aia. Os flertes cada vez mais escandalosos, haviam então naquele momento, ultrapassado os limites da decência. Elizabeth foi então mandada embora e em seu lugar, Lady Jane Grey acompanhou Catarina durante sua gestação. Thomas e Catarina parecem ter relevado tal situação, mediante a crescente excitação sobre a gravidez e a esperança do nascimento de um menino.

Embora não tenha sido um menino, Seymour parece ter ficado igualmente encantado com sua recém-chegada filha. Ela foi batizada de Maria, em homenagem a enteada mais velha de Catarina (a própria Catarina receberia seu nome em homenagem à mãe de sua enteada Maria, Catarina de Aragão). A pequenina era bonita e saudável, com dois pais amorosos zelando por ela. O trabalho de parto de Catarina, havia sido bastante longo e de natureza inquietante. Em consequência disto, a ex-rainha desenvolveu febre puerperal, o maior perigo para a saúde das mulheres em pós-parto naquele período. Ela havia recebido a melhor assistência médica disponível, acompanhada de seu médico pessoal, o Dr. Robert Huicke. No entanto, ela não era mais capaz que uma mulher humilde, em suportar os perigos da infecção bacteriana, que piorava cada vez mais. A doença então, seguiu seu curso inexorável. Catarina tornou-se desorientada, assustada e inquieta, contando a uma de suas damas, na manhã de 03 de setembro, que “temia que estes problemas nela, a faziam ter certeza de que não iria sobreviver…”. Foi também noticiado que ela havia repreendido o marido por seu comportamento, enquanto estava a seu lado na cama, tentando acalmá-la (para mais informações, acesse: A Morte de Catarina Parr e seu Cadáver Incorrupto).
No entanto, quando seus medos foram confirmados por seu médico, Catarina ditou sua vontade, deixando tudo o que tinha para Thomas e desejando que fosse ”mil vezes mais”. Ela parece não ter feito nenhuma menção à pequena Lady Mary, deitada nas proximidades em seu esplêndido berço de ouro e carmesim, que Catarina outrora havia preparado. Não sabemos se ela pediu para ver a criança, durante os poucos intervalos de lucidez que foram deixados à ela.
Catarina Parr, morreu nas primeiras horas de 05 de Setembro e foi imediatamente envolta em camadas de tecidos, colocada em um caixão de chumbo bem vedado e enterrada na pequena igreja nas terras do castelo. O funeral foi simples, o primeiro serviço do gênero protestante para uma rainha da Inglaterra. Lady Jane Grey, com 11 anos de idade, serviu como chefe enlutada da cerimônia. Thomas – como era costume na época – não compareceu à cerimônia. A morte de sua esposa o deixou atordoado: “Eu estava tão surpreso”, ele escreveu para o pai de Jane Grey, ”Que tenho um pequeno pesar, tanto de mim, quanto de meus atos”. No entanto, ele pensou em sua filha e voltou-se para o apoio de sua família, levando-a para Londres com ele, para ser cuidada na casa de seu irmão, o Lord Protetor Somerset. O Duque e a Duquesa de Somerset tiveram inúmeras crianças e um novo e recém chegado bebê, parecia ser bem-vindo. Infelizmente, suas relações com Thomas, eram muito mais voláteis.
Sem a influência estabilizadora de Catarina Parr e talvez sofrendo com os efeitos do luto – conforme é suposto – acreditam que Thomas Seymour, que havia sido imprevisível no passado, havia tornado-se naquele momento, ainda mais. Seu ressentimento contra o poder e a autoridade de seu irmão o irritavam; sendo seu próprio papel na política mal definido, isto o fez começar a desenvolver planos de revoltas e até mesmo cogitar uma união com a jovem Elizabeth. Nenhuma destas ideias eram boas, ambas representavam inúmeros perigos e Thomas não tinha qualquer base de poder Real na Inglaterra. Ele eventualmente foi pego, aparentemente, tentando sequestrar Eduardo VI – que antigamente gostava muito de seu tio mais novo, até que o mesmo atirou em seu cão de estimação, que o perturbava. O pano de fundo a este incidente permanece obscuro, mas a campanha de difamação contra Seymour, foi rápida e implacável. Ele foi levado a julgamento e executado por traição, em 17 de março de 1549, deixando Lady Mary órfã, com apenas sete meses.

Thomas não nomeou qualquer um de seus próprios parentes ou os de Catarina como guardiões de sua filha. Ele dificilmente teria cogitado entregá-la a seu irmão, que assinou sua sentença de morte, e ninguém mais parecia ter interesse na criança. A maioria de seus antigos “amigos”, estavam todos tentando manter o máximo possível de distancia do nome de Thomas Seymour. Em vez disto, Katherine Brandon, Duquesa de Suffolk – uma amiga próxima de Katherine Parr – e de ideais religiosos reformistas aparentemente questionáveis, foi apontada como responsável. Ela aceitou com entusiasmo.
Apesar de suas fortes convicções religiosas, ela não o fez por caridade cristã. Lady Mary pode ter sido uma órfã, mas era valiosa. Como filha de uma antiga rainha, ela veio com uma casa própria, consistindo de uma governanta, babás, lavadeiras, entre outros criados. O governo deveria fornecer para ela, manutenção e pagamento de sua equipe, mas não foi possível que a Duquesa recebesse a parte do dinheiro de Somerset, até que ela apelou para William Cecil, um membro proeminente da casa do Duque, de intervir em seu nome. A carta que escreveu, deixa claro o quanto ela preocupava-se com a menina, referindo-se à ela friamente como ”a filha da Rainha”.
A reclamação da Duquesa, claramente obteve alguma resposta; em janeiro 1550, Lady Mary Seymour foi permitida, por ato de parlamento, a herdar qualquer uma das propriedades de seu pai. À partir daí, a filha de Catarina Parr, desaparece completamente dos registros históricos. O que poderia ter acontecido com ela?
A resposta para este atraente mistério Tudor, parece estar em um livro de poemas e epitáfios em latim, escritos por John Parkhurst, capelão de Catarina Parr – que havia servido anteriormente o Duque e a Duquesa de Suffolk. A descoberta foi feita pelo acadêmico americano, Janel Mueller, mas foi esquecida pelos historiadores. Graças a Jean Bray, o arquivista de Sudeley Castle, eles novamente retomaram a atenção. Em Ludicra sive Epigrammata juvenilia de Parkhurst, publicado em 1573, aparece o seguinte poema, traduzido:
Embora nenhum nome tenha sido dado, este certamente deve ter sido o epitáfio que Parkhurst teria conhecido de Lady Mary Seymour, escrito em sua morte. Ele sugere – como tem sido amplamente conjeturado – que ela morreu jovem, provavelmente em torno dos dois anos de idade. Ela pode muito bem ter sido enterrada em Lincolnshire, perto Grimsthorpe, a fazenda de propriedade da Duquesa de Suffolk, onde ela havia vivido como um indesejável fardo para a maioria, em sua curta e triste vida.
TEORIAS:
A biografa vitoriana, Agnes Strickland, alegou em seu livro sobre Catarina Parr, que Mary Seymour, ao contrário da crença comum, viveu até a idade adulta. Ela teria casado-se com Sir Edward Bushel, um membro da família Real dinamarquesa da Rainha Ana, consorte do Rei James VI da Escócia e I da Inglaterra. A teoria de Strickland, sugere que a Duquesa de Suffolk, após seu casamento com Richard Bertie em 1553, fugiu da Inglaterra durante as perseguições marianas em 1555, ou depois.
Outra teoria, afirma que Maria foi levada para Wexford, Irlanda e criada sob os cuidados de uma família protestante, os Hart, que haviam envolvido-se em pirataria ao longo da costa irlandesa sob a proteção de um acordo de participação nos lucros com Thomas Seymour.
O historiador S. Joy, afirma que “Mary definitivamente viveu após os 10 anos, mas depois disto, pouco se sabe…”.
FONTES:
HISTORYTODAY: AQUI.

Estou encantada com a possibilidade de conhecer, pode-se dizer intimamente os integrantes de uma das casas reais mais importantes do mundo ocidental. Parabéns aos idealizadores.
Ficamos muito felizes que tenha gostado, Sonia. É sempre muito gratificante para nós, saber que estamos ajudando na compreensão de muitos a respeito de uma das mais fascinantes Dinastias inglesas!
Obrigada por comentar!:)
Esse testamento de C.Parr deixando tudo a Thomas S. … Como terá sido obtido? Foi muito conveniente numa época em que Thomas necessitava de todo o dinheiro que pudesse para a rebelião que preparava…
Li certa vez em um livro sobre Catarina Parr, que embora estivesse lúcida o suficiente para ditar seus desejos testamentários, houve por parte de seu marido, bastante pressão sobre seus bens e como estes seriam re-direcionados a ele. No entanto, não é incomum que ela tenha deixado os bens ao seu marido, o único fato destoante, é não ter tido mais nenhum beneficiário em sua lista…
Bom texto! Gosto muito de História e agora que estou aposentado devido a este «blog» estou aprendendo muito sobre o período Tudor. Nós por cá em Portugal estamos sempre tão focados na nossa expansão do sec. XVI que nesse século não ligamos a mais nada…l
Que bom João. Ler é sempre um ótimo passatempo, ainda mais quando conseguimos juntar a diversão com os novos horizontes de um aprendizado, não!?
Aqui no Brasil, também focamos muito em períodos específicos e acabamos esquecendo de muitos outros, o Tudor Brasil, surgiu com a intenção de ampliar os horizontes das pessoas. Fiquei feliz com seu comentário!
tudorbrasil, terminei de assistir a série The Tudors na semana passada, e fiquei curiosa sobre o sumiço de Katherine Brandon, Duquesa de Suffolk. Vocês saberiam o que pode ter acontecido para a saída da atriz?