Após Ana entrar em trabalho de parto, o bebê nasceu às 15:00 horas da tarde do domingo, dia 7 de Setembro de 1533.
Até os preparativos para o nascimento, tudo ocorreu em alguns poucos dias, desde a reclusão de Ana aos seus aposentos.
O nascimento foi fácil, tanto para Ana quanto para o bebê, que nasceu com os cabelos ruivos e nariz adunco de seu pai, mas com os olhos negros de sua mãe.
Muitos procedimentos protocolares eram elaborados para o nascimento de um bebê da realeza, ainda mais, quando o bebê em questão, era um menino e herdeiro de uma Dinastia. Não foi o caso. Para a frustração de Ana, dos astrólogos, dos médicos e de Henrique, o saudável bebê, era uma menina.
Anteriormente, Henrique tinha dúvidas de como chamaria seu filho: Henrique ou Eduardo. No fim, o bebê chamaria-se Elizabeth, em homenagem a mãe de Henrique VIII (alguns apontam que em homenagem à Elizabeth Howard também, mãe de Ana Bolena). O bebê veio ao mundo no palácio de Greenwich, mesmo local onde o rei nascera, 42 anos antes. O Palácio era a residência favorita de Elizabeth de York, mãe do monarca, e viria a tornar-se um refúgio importante para seu filho e neta também.
A Inglaterra estava em festa esperando o herdeiro varão; justas haviam sido organizadas, assim como festas por todo o país, e cartas anunciando a chegada do ”Pequeno Príncipe” ao mundo. A chegada de um filho homem era motivo para comemoração, já a de meninas, era algo mais discreto. Portanto, um ”S” foi acrescentado no fim da carta de anúncio, passando de ”PRINCE”para ”PRINCES”e as justas foram canceladas.
Naturalmente Henrique ficara um tanto decepcionado perante o ocorrido. Até o Embaixador Imperial Eustace Chapuys comentaria: ”Deus esqueceu-se completamente dele”. No entanto, por mais frustrante que tenha sido para o Rei aceitar que ele não tinha seu herdeiro e sim, outra menina, Henrique tinha esperanças que Ana ainda poderia lhe dar muitos outros filhos, e que um deles seria um varão.
O nascimento de uma filha, não foi menos amargo para Ana que, prometeu outrora, carregar em seu ventre o futuro Rei da Inglaterra. Ela teve de suportar os comentários que faziam e o desapontamento do Rei. Uma vez que o bebê havia nascido saudável e Ana havia concebido sem maiores dificuldades, é provável que isso tenha revelado-se um alívio para todos que, novamente passaram a esperar que a Rainha, pudesse conceber o herdeiro.
Na quarta-feira, dia 10 de setembro de 1533, um magnífico batismo foi realizado na igreja Observant Friars. O local estava a certa distância do Palácio de Greenwich e também havia sido onde Henrique VIII fora batizado.
A localização em si, foi uma estratégia para acabar com as pessoas hostis ao novo casamento do Rei, já que a maioria da população naquela altura, ainda era favorável à causa de Catarina.
Uma grande fonte de prata foi trazida de Canterbury e colocada em um grande palco octogonal dentro da igreja. A fonte foi forrada com linho macio para garantir que o metal não prejudicasse o bebê Real, e o palco estava coberto com tecidos em vermelho e azul.
Nas portas da ala oeste, onde a procissão entraria, foram pendurados tecidos de ouro. Starkey descreve o evento em detalhes:
”Os arautos carregavam seus tabardos. Atendentes e serviçais, carregavam tochas apagadas. Lordes e Ladyes carregaram o equipamento necessário para a cerimonia: Uma vasilha de ouro com sal, para o exorcismo da criança; bacias grandes de prata dourada, onde os padrinhos poderiam lavar os vestígios de óleo santo com o qual a criança foi ungida, um tecido chrisom, para ser anexado sobre a coroa na cabeça do bebê, após ter sido ungido, e uma vela que seria acesa após o batismo ser concluído. Elizabeth foi carregada por uma Duquesa, e a longa cauda de sua roupa, por três pariatos e pariatas de sangue nobre. Quatro barões seguraram um dossel sobre ela. Ela foi batizada pelo bispo de Londres, e o Arcebispo de Canterbury foi seu padrinho. O bebê foi três vezes mergulhado na água da fonte. Em seguida, a vela foi acesa. Neste momento, todas as tochas foram acesas; os arautos colocaram seus tabardos (vestes especiais) e trombetas e soaram em homenagem à Elizabeth, a Princesa da Inglaterra e França”.
Ao total, 21 pessoas listadas pelo cronista Edward Hall, participaram do evento. Ives identificou os Bolena e Howard, como:
”O pai e irmão de Ana e oito conexões Howard, Thomas Cranmer (como padrinho), uma pessoa que foi relacionada a William Brereton e outra a Thomas Cromwell…”
O Duque de Suffolk escoltou Elizabeth; O Marquês de Exeter, carregou o círio da cera virgem; John, Lord Hussey, ajudou a carregar o dossel, e a Marquesa de Exeter foi uma das madrinhas. Estranhamente, Lord Hussey, foi camareiro de Lady Maria e a Marquesa de Exeter, uma amiga que apoiou Catarina de Aragão. Eles apenas concordaram em participar da cerimonia, para evitar lidarem com a ira do Rei.
Os padrinhos, 0 Arcebispo Cranmer e a Duquesa de Norfolk, em seguida presentearam Elizabeth, e as bebidas foram servidas.
A procissão foi escoltada por mais de 500 portadores de tochas. Após concluída, a pequena Elizabeth retornou aos aposentos da rainha. Lá, Ana, com sua túnica e deitada em sua grande cama francesa, tendo o rei ao seu lado, recebeu alegremente sua filha e ofereceu mais bebida aos convidados. Um cronista francês presente no evento, notou que: ”toda a ocasião, foi tão perfeita, que nada faltou”.
A única lacuna diante de todos estes eventos, sem dúvidas foi o sexo do bebê. Ana e Henrique fizeram vista grossa sobre os acontecimentos, mas estava claro que estavam desapontados, mesmo que tentassem agir do melhor modo possível.
A promessa pairava no ar, Ana deve ter sentido naquele momento, a fragilidade do lugar que agora ocupava. Ao conhecer Henrique, sem nunca antes ter concebido, ela deve ter imaginado que dar um filho ao Rei, era de fato, mais fácil do que parecia e que poderia ser a pessoa ideal para tal tarefa. Ao dar à luz a Elizabeth, Ana pode ter notado que nem tudo estava em suas mãos, e que sua vontade em trazer um herdeiro ao Rei, era sem dúvida a mesma que a Rainha que outrora ocupou seu lugar.
O vestido de batismo:
Existe um vestido de cetim branco, que acreditam ter sido feito para o batismo de Elizabeth I e usado por ela em tal ocasião. Atualmente o vestido encontra-se em exposição no Castelo de Sudeley. Trata-se de uma peça muito bem costurada e encontra-se em excelente estado de conservação. Porém, atualmente acreditam que ele tenha sido feito no século XVII.
FONTES:
Elizabeth – The struggle for the throne. Starkey, David.
Los líos de La corte: AQUI.
On the Tudor Trail: AQUI.
Ué, o nome da filha de Ana Bolena não era Isabel??
Não, Bianca. Isabel é a versão aportuguesada do nome Elizabeth. Tal nomenclatura geralmente é utilizada em Portugal. Na Inglaterra e aqui no Brasil, o nome original é Elizabeth! 🙂