Este é um artigo diferente do que costumamos postar na página. É um texto opinativo, que reflete nossa opinião e ponto de vista sobre os fatos a seguir apresentados. O artigo foi desenvolvido com base em anos de pesquisa sobre a vida de Henrique e suas seis consortes.Este texto é uma defesa de Jane Seymour, aquela esposa que poucos conhecem ou que a poucos chamou atenção, porém, que muitos estão sempre prontos para criticar, difamar ou desaprovar qualquer aspecto referente à sua vida ou trajetória:
É irônico, pois a maioria que desaprova Jane, são fãs quase ”xiitas” de Ana Bolena. Sabe onde reside a ironia? É que a mesma situação que Ana passou durante séculos, sendo criticada, difamada dentro da História e apenas hoje, existindo um cuidado em investigar quem ela realmente foi, é o que os fãs de Ana fazem hoje com Jane, ou seja, ao invés de combater este desserviço histórico, em realidade, reforça-se tal lastimável anacrônica e misógina conduta.
Devemos no entanto, salientar que não se deve cometer o erro de dizer que Jane foi uma santa. Ela claramente não o foi. Esta foi a visão post-mortem propagada durante o reinado de seu filho. Jane não era santa, não era má. Análises históricas não devem basear-se em maniqueísmos. A terceira consorte de Henrique VIII foi uma mulher esperta e treinada por sua família, tal como sua antecessora. Minha pergunta é, se Ana Bolena pôde ajudar a influenciar as leituras, as opiniões e a diminuir o poder da facção aragonesa na Corte, por que quando Jane e os Seymour fizeram o mesmo, tal conduta tornou-se condenável? Se Ana acreditou que era seu destino ser Rainha da Inglaterra, por que Jane não poderia acreditar no mesmo?
Nem Jane, nem Ana, nem Catarina, nem ninguém era inocente no intrincado contexto político-religioso do século XVI. Todos tinham seus interesses e ambições nesta história, e fizeram o que puderam para manter suas peças no tabuleiro.
Vamos relembrar que Ana, sempre que pôde, humilhou Catarina e seus apoiadores e perseguiu (autorizada por Henrique) sua enteada, Maria. Acredito que o estresse, a insegurança de sua instável posição, também seguido pelo ciúmes por suas inimigas serem adoradas e ela não, a fizeram agir desta forma; mas ainda assim, Ana o fez. No final de sua vida comemorou junto do esposo, a morte da rival, e em seu trágico fim, pediu perdão à Maria por suas atitudes.
Antes que alguém venha falar que a “perseguição” de Ana à Maria é um exagero ou invenção de Chapuys, que odiava Ana e queria ver seu Senhor em guerra com a Inglaterra, apenas digo duas coisas: Este homem que odiava Ana, foi o mesmo que, quando acusada de traição, desacreditou de qualquer culpa que ela tivesse. Este homem era um diplomata e não um mentiroso profissional.
Jane fez o mesmo, mostrou escandalosamente o pingente que Henrique lhe deu, pôde também, lhe ser creditado, que falou a Henrique, que a Inglaterra nunca aceitaria Ana como Rainha. Jane, quando sentiu-se segura, trouxe Maria de volta aos favores do pai e isso trouxe maior apoio da facção pró Maria.
O que quero deixar pontuado, é que, ambas fizeram seu melhor pra sobreviver na posição que ocupavam e proteger aqueles por elas queridos. Pode-se preferir Ana (meu caso, apesar de não aguentar os defensores xiitas dela) ou preferir a Jane, estas são questões de identificação pessoal, de personalidades. Mas menosprezar, difamar alguém que morreu a 500 anos atrás, em um contexto completamente diferente e em uma situação de difícil sobrevivência, é algo que nunca deveria ser encorajado. Procurar informar-se não é difícil. Ana Bolena não era o script da Natalie Dormer em The Tudors, Jane Seymour não foi santa, mas também não foi megera. Eram mulheres tentando sobreviver em um mundo patriarcal. Por sinal, fazemos isto até hoje. Vamos nos unir mais, mulheres, antes de apontar o dedo umas para as outras e dizer quem é melhor e quem não é.
Eu nunca compreendi totalmente porque as duas despertam visões tão antagônicas sendo que elas jogaram o mesmo jogo; claro que tem a propaganda da época que ainda repercute em interpretações da mídia atual, mas o estereótipo de Jane começa a apresentar desgaste. É normal que uma hora isso começasse a ruir e mais ainda é uma personagem história receber um viés negativo. Não tenho problemas quanto a isso – conquanto seja feito com imparcialidade – até ajuda a tirar um pouco da mornidão dessa rainha 🙂
Pessoalmente, Jane sempre foi minha despreferida. Não por Ana ser minha número um – Catarina de Aragão vem logo atrás – mas porque eu tenho a impressão que ela foi uma pessoa falsa. Explico: ela tinha suas ambições e seus venenos como qualquer mulher em qualquer lugar ou época, mas os maquiava com sua face translúcida e lábios contraídos – como qualquer mulher do século XVI. Já Ana deu a cara para bater, gerou polêmica e pintou o sete, mas sempre foi ela mesma! Até hoje, quem ama ou odeia o faz pelos mesmos motivos.
Porém, no final, Team Jane won: ela passou seus últimos dias em um leito real e não na Torre 😉
Jane foi cautelosa Rayssa, ela viu o que Ana sofreu, ela jogou, não queria terminar como a anterior. Vale lembrar que todas as vezes que tentou sair desta concha que projetou sobre ela, foi seriamente advertida. Não acho que foi falsidade, foi cautela, se Ana tivesse ocupado o lugar de uma Catarina decapitada, sua posição seria mais comedida, até em seus últimos dias, Ana nunca acreditou realmente, que fosse morrer.
Sinto que falta muito para o mito sobre Jane cair, as pessoas não perdoam quem jogou e saiu-se melhor, claro, foi um jogo de sorte, mas ela conseguiu dar o herdeiro varão para Henrique, ela não foi uma víbora por isso, teve um destino igualmente triste e sofrido. Não sei o que é pior, morrer em um leito Real, apodrecendo em agonia e delírios ou ter a cabeça cortada rapidamente por um bom espadachim francês, acho que tirando o lado macabro que é uma execução, as duas não mereciam morrer de tais maneiras e sofreram muito.
Também prefiro a Ana, mas entendo a Jane.
Obrigada por comentar, sempre com pontos de vista válidos!:)
Camila.
Definitivamente ela pagou os pecados em seu parto e sua doença, mas o ponto é, mesmo assim a sua imagem póstuma foi muito positiva: “Você está fazendo isso muito certo” diria algum meme. E sim, cautela é a chave.
Falsidade e cautela (incluindo esperteza), não são coisas iguais. Jane não precisava de muita capacidade cognitiva, para entender que o Henrique pós-reforma, era um verdadeiro Rei absoluto. Ela viu o que ele fez com Catarina, com Maria, com Ana e com Elizabeth. Se ela seguisse a mesma estratégia de bater de frente, como suas antecessoras fizeram, ela deveria receber não título de Rainha, mas sim, titulo de ignorante, por não entender a situação que se encontrava. Por sinal, Jane tentou, pelas beiradas, ajudar em assuntos políticos, como a dissolução dos monastérios, clemência aos revoltosos de 1536 e principalmente, em restabelecer Maria na sucessão. Deveras injusto com ela pensar que la foi assim, tão morna por não ter cometido as falhas das antecessoras.
Desculpe, mas não entendi o “Definitivamente, ela pagou os pecados em seu parto e sua doença” Porque, se for seguir esta lógica “karmica”, Ana também pagou por todos os seus pecados sendo enclausurada, perdendo a cabeça e principalmente, tendo sua reputação manchada na História.
Jéssica.
Jessica:
Quanto ao: “… ela pagou seus pecados[…]” é a força da expressão popular; eu estava concordando com Camila sobre o fato dela ter sofrido em seu leito de morte 🙂
E sim, concordo com você que Ana também pagou seus pecados com sua execução e posteriormente com seu nome manchado. Seguindo essa lógica, pode-se arriscar dizer que ambas tiveram o que mereceram e embora forte, não é de todo uma mentira. Me chame de tola, mas eu acredito na lei do Karma sem a chamá-la desse modo.
Quanto à cautela x falsidade: Embora o adjetivo mais apropriado para Seymour seja o primeiro, não se pode negar que alguém que age de uma forma para colher benefícios próprios sem os declarar é uma forma de blefe. 😉 Talvez eu tenha me animado demais e não medi as palavras, mas aí está o que penso sobre.
E sim, ela é morna a primeira vista. Não fosse ter dado um filho homem para Henrique e talvez seu nome não fosse tão lembrado assim.Não lembro onde li, mas era mais ou menos assim: “Ana foi um vendaval, mas Jane é apenas uma brisa”.
Ana e Jane viveram
Ambas viveram à sua maneira, mas jogaram o mesmo jogo, as táticas, eram pessoais.
Camila.
Concordo com a autora do link. Somos espectadores dos fatos históricos. Não devemos e nem temos condições para criticar essa mulheres que, para mim, guerreiras que viveram num período dominado pelo opressor. Nas suas lutas para sobreviverem naquele mundo de falsidade, preconceito e ambições pelo poder, tiveram que lutar pelas armas que possuíam. Santas não foram, mas quem pode dizer que foram demoníacas?
Exatamente Zenilde, foram mulheres incríveis, viveram, lutaram e jogaram, não são menos dignas por isso, para mim, foram todas admiráveis!:)
Obrigada por comentar!
Camila.
elas lutaram elas jogaram pena que as duas acabaram de um jeito trajico Ana decapitada e Jane morreu dias apos o parto
Exatamente Luiz Eduardo, ambas tiveram um trágico fim, e uma rápida ascensão!
Obrigada por comentar!:)
Camila.
Mas nao ha como negar que Ana Bolena deu a Inglaterra a futura rainha que mudaria a história do país. Ana tbm influenciou na criação da Igreja Anglicana que mudou o rumo do país e tbm a vida do rei. Se Henrique VIII pudesse ter visto o que Elizabeth I fez pela Inglaterra veria que o tão sonhado herdeiro homem foi ofuscado pela meia irmã. Cá pra nós os melhores monarcas e que mudaram a historia desse país foram mulheres. Rainhas Ana Bolena, Elizabeth I e Vitoria
Analisando em um viés historiográfico e com respaldo em fontes e não fundamentado em mitos, filmes ou romances, vamos lá:
Vamos por partes, primeiro você diz: “Mas não há como negar, que Ana Bolena deu à Inglaterra a futura rainha que mudaria a história do país”. Bom, Ana ou Henrique, nenhum deles poderia sonhar que a Elizabeth tornaria-se rainha e tão pouco que ela seria a filha com mais tempo de reinado para fazer a política dar certo, ou que ela teria uma propaganda forte para torna-la a idealística rainha virgem. Sim, a mítica rainha Elizabeth, aquela sem defeitos que construiu o império britânico é uma criação, uma propaganda, sinto lhe informar. Alias, Elizabeth na época de sua morte deixou um país altamente endividado e a área militar furiosa, já que ela simplesmente abandonou os soldados no pós armada. A Inglaterra seria forte e politicamente relevante em fins do século XVII até parte do século XX. Não no século XVI.
Segundo, “Ana também influenciou na criação da Igreja Anglicana, que mudou o rumo do país e também a vida do rei”. Sim, ela foi uma influencia, da para dizer que ela foi um catalizador, mas é importante lembrar que a relação da igreja de Roma com a Inglaterra SEMPRE foi traumática e com tendências separatistas. Antes de Ana pensar em existir, houve tentativas no clero inglês de separação. Agora, justiça seja feita, o motor da reforma foi Cromwell, mas como ele não viveu uma “história de amor arrebatador” com Henrique, ele passa quase que despercebido.
“Se Henrique VIII pudesse ter visto o que Elizabeth I fez pela Inglaterra, veria que o tão sonhado herdeiro homem, foi ofuscado pela meia irmã”.
Novamente, é um absurdo negar a importância dos reinados de Eduardo e de Maria antes da Elizabeth. Eduardo foi o PRIMEIRO rei protestante da Inglaterra, altamente bem educado e inteligente ao ponto de com apenas 9 anos, escreveu uma crítica ao papa e a igreja católica. Elizabeth retomou o livro de orações e a política religiosa do irmão. Ela devia a ele isto. Sobre Maria, a primeira rainha mulher da Inglaterra, ela criou uma legislação de gênero, abrindo espaço para todas as rainhas inglesas a seguirem no trono. Além de ter reformado as Universidades com doações, reformulado todo o pároco católico inglês ( Elizabeth também foi influenciada por esta política) e reformulado a área militar inglesa, sem contar o novo sistema monetário criado no período de Eduardo VI e posto em prática no período de Maria I, que facilitou a vida de Elizabeth.
Então, é importante que antes que aceitemos mitos e filmes hollywoodianos, estejamos com as nossas fontes históricas ao lado, para sabermos a fundo o que é verdade, o que é mito e o que foi propaganda.
Elizabeth foi uma das grandes monarcas da história Inglesa, mas não foi a única. Vitória foi importante sim ( com a Inglaterra em ápice e grande império, foi necessário “criar” uma identidade inglesa, que foi altamente baseada no reino dos Tudors, na separação com a Igreja e na ligação mítica criada entre Elizabeth, servindo de espelho à Vitória. Mitos não surgem à toa, eles são politicamente calculados.)
Eu prefiro a Ana, eu pesquiso mais sobre ela, e nutro uma relação de amor e ódio. A mais fascinante de todas, tanto pela história de paixão arrebatadora com o rei, como pela marcante personalidade. Não gosto muito da Jane, mas entendo que num jogo como esse, as vezes é necessário se resguardar ao invés de dar a cara a tapas.
É ridículo dizer que Ana e Jane pagarem seus pecados com a execução e o sofrimento do parto, afinal,(embora eu não concorde com alguns meios que elas utilizaram para chegar ao poder) elas fizeram o que fizeram, talvez por ambição, mas também para ajudar a quem amavam e para promover o que acreditavam. Sem contar que a Ana, a que tudo indica, não era culpada pelas acusações e portanto, não deveria morrer por elas. Eu não entendo essa mania de querer que as pessoas paguem um preço por outro “crime”. Ninguém pode julgá-las, afinal, num tempo bem mais patriarcal do que hoje, as mulheres tinham de fazer o necessário para sobreviverem, ainda mais numa corte.
Enfim, eu queria saber o que as mulheres Tudor fizeram em relação a questões de gênero.
O feminismo é um movimento moderno e por este motivo, não existia naquele período. No entanto, existiu o que foi considerado como protofeminismo, termo que nós historiadores, utilizados para falar sobre mulheres que abordaram e trataram de questões de gênero, antes do movimento moderno existir. Com isto em mente, existiram mulheres que prezaram pela educação feminina, divulgação do saber, e etc; podemos citar entre elas, as rainhas Catarina de Aragão e Catarina Parr, a primeira, que prezava pela educação feminina através da instrução de grandes eruditos em sua corte, e a segunda, sendo a primeira rainha inglesa a publicar um livro em seu nome. Existe também outra mulher abordada dentro do protofeminismo, ela seria a filha de Thomas More, escritora e tradutora inglesa, considerada uma das mais inteligentes mulheres do período Tudor.