Teorias Tudor: Shakespeare foi filho de Elizabeth I?

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Cena do filme Anônimo; retratando Elizabeth e Edward de Vere.

Não é novidade que Elizabeth I é uma das figuras mais famosas e intrigantes da história inglesa. Sua extensa propaganda política que, tinha como função transportar a Inglaterra para uma nova era dourada (tática muito utilizada por diversos monarcas através do tempo), foi muito promovida pela historiografia protestante inglesa, durante e após sua morte, transformando a mulher em mito. Deste modo, é natural que muitos especulem sobre sua vida. Porém, até onde tais especulações tem respaldo histórico, e até onde são meras criações, frutos de intrigas na corte, de inimigos reais, ou até mesmo do intenso imaginário inglês criador de mitos?

Foi pensando nisso, que hoje resolvemos abordar uma das teorias mais controversas sobre o período Tudor, que envolve dois conhecidos nomes da história: Elizabeth I e o dramaturgo, William Shakespeare.

Conforme sabemos, existem inúmeras teorias mirabolantes sobre a verdadeira identidade do bardo. No entanto, recentemente, um autor fez uma escandalosa sugestão; o criador de Hamlet e Macbeth, seria em realidade, o filho ilegítimo da última soberana da dinastia Tudor.

Para muitos leitores, tal questão talvez possa não parecer tão sombria, uma vez que, devido ao sucesso do longa-metragem americano, ”Anonymous”, de 2011, uma vertente desta mesma teoria, tenha sido amplamente difundida no imaginário popular, através das telas dos cinemas. Porém, vamos tentar entender mais a fundo sobre o que ela se trata.

A teoria Oxford:

Paul Streitz, um escritor americano, alega que Elizabeth não gerou apenas um, mas vários filhos, confrontando então, o aceito imaginário da Rainha Virgem. Ele argumenta que, o primeiro filho, foi secretamente gerado em 1548, tendo então sido criado como Edward de Vere, 17 Conde de Oxford – que é um dos principais pretendentes ao nome de Shakespeare, para aqueles que não acreditam que um rapaz proveniente da zona rural inglesa, tenha possuído a capacidade de tornar-se um ícone da dramaturgia.

”Tenho reescrito a história elizabetana” – clamou Streitz, antes de visitar a Grã-Bretanha para uma futura Palestra sobre seu tema. A iconografia da ‘Rainha Virgem’, foi um dos muitos mitos fabricados e difundidos pela incansável máquina de propaganda Tudor, tendo sido copiado e reproduzido de modo pouco crítico pela grande maioria dos historiadores nos séculos seguintes. Segundo Streitz, os acadêmicos estão amedrontados “por sua audácia”. ”É como a Pedra de Roseta ou a Origem das Espécies, onde tudo de repente torna-se diferente. Você olha para ela a partir de uma perspectiva completamente diferente”.

Streitz, um autor de peças de teatro e musicais, tornou-se um defensor apaixonado da teoria Oxford, sobre a verdadeira identidade de Shakespeare, quando ele estava pesquisando para uma de suas peças. Seu livro, que já foi publicado nos Estados Unidos, começou como uma tentativa de “não discutir o caso, mas, ao invés disso, escrever um ensaio histórico do desenvolvimento de Oxford” (não possuindo portanto, valor histórico), disse ele. “Para fazer isso, eu sabia que ele foi criado na Corte na Inglaterra a partir dos 14 anos de idade, então eu comecei a ler muitas biografias sobre Elizabeth I, a fim de entendê-la e compreender a vida na Corte elisabetana”.

Muitos biógrafos prontamente reconhecem que houve algum tipo de envolvimento – que resultou em escândalo no período – entre a jovem adolescente Elizabeth e Thomas Seymour, um ambicioso cortesão, irmão da terceira consorte de Henrique VIII, Jane Seymour, e depois, marido de Catarina Parr, viúva e sexta esposa do monarca Tudor. No entanto, os historiadores concluem que nada de relevante ocorreu entre eles, apesar de relatos de funcionários que visitaram os aposentos da jovem, terem encontrado-a em um estado de semi-nudez e bruta impropriedade para o período.

O acadêmico, David Starkey apoia a noção histórica da Rainha Virgem, mas Streitz, um historiador amador, tornou-se famoso, por duvidar disso.

Ele argumenta que, após o suposto romance, Elizabeth teve que ausentar-se da casa de sua amada madrastra, no momento em que seria esperado que ela a fizesse companhia, a fim de abafar certos boatos inconvenientes. Dizem que neste momento, Elizabeth ficou doente, embora não haja registros de médicos indo visitá-la até meados do final de 1548. ”Fiquei desconfiado que ela estivesse grávida”, sugere Streitz, que claramente leva fofocas de reinado muito a serio, ao acrescentar: ”E se você começar a estudar literatura, houve rumores de que Elizabeth havia tido um filho.”

Em uma carta, a própria Elizabeth discute e condena rumores de sua “conduta lasciva”, mas Streitz sugere apenas que ”ela se queixava demais”.

Porém, as alegações (ou a falta delas) no discurso da jovem, tornam-se relevantes a Streitz, quando conveniente: “Ela não diz que os rumores são falsos, mas sim, que são prejudiciais”, disse ele.

Mas o que aconteceu com este suposto filho? Streitz argumenta que ele foi levado para um lar seguro, com o nobre John de Vere, o 16 Conde de Oxford, e que foi forçado a casar-se com uma mulher próxima aos conselheiros de Elizabeth, contra sua própria vontade.

Não há registros de batismo neste período da vida de Elizabeth, que indicassem o nascimento de um Edward de Vere. No entanto, é necessário ressaltar que ”Edward de Vere, 17º conde de Oxford” existiu, e foi filho de John de Vere. Porém, ele nasceu em 1550, quando Catarina Parr já estava morta, e anos antes do escândalo envolvendo Elizabeth e Thomas Seymour (meados de 1548).

Segundo aponta Streitz, a educação do jovem foi rigorosamente supervisionada por pessoas de altos cargos sociais. E quando sua tutela foi destinada aos cuidados da Coroa, após a morte de seu pai, ela não foi negociada financeiramente, mesmo que esta prática fosse bastante comum.

Isso significava que, a Rainha Elizabeth tinha o direito de determinar com quem Oxford iria casar-se. Streitz argumenta ainda que, Oxford sabia claramente de suas origens e refletiu-os em obras como Hamlet e  alguns sonetos.

Conclusão:
Este é um tema bastante delicado, assim como a maioria das teorias envolvendo personalidades do período, e devemos levar em consideração que, foi levantado por um curioso do período (embora a teoria Oxford, seja bastante antiga). Algumas alegações são bastante dúbias e controversas e não exprimem a opinião de muitos biógrafos, tanto referentes à Elizabeth, quanto a Shakespeare.

Acredito (minha opinião pessoal) que essa teoria é totalmente fantasiosa, possuindo poucos registros históricos que possam suportá-la. Porém, é necessário ressaltar que, não restam dúvidas que a estratégia da ‘Rainha Virgem’, era uma manobra de propaganda; embora não saibamos ao certo se ela era ou não virgem, seus flertes durante seu reinado são conhecidos, e sua propaganda política, que a colocava como uma mulher casada com seu povo e mãe de seu reino, reflete tal imaginário incansavelmente implantado em seu reinado e até mesmo após ele. Porém, a teoria Oxford é um tanto exagerada, considerando que (após algumas leituras de documentos da época, assunto para outro artigo) não parece que o suposto envolvimento (seja de qual natureza for) com Seymour, tenha ido muito além de ‘brincadeiras’ inconvenientes, e que jamais resultaria em uma criança. Não é espantoso que De Vere tenha ficado sob tutela da Coroa, afinal, Elizabeth era madrinha de muitos filhos de pessoas próximas a ela na corte, oferecendo-lhes apoio sob eventuais contratempos. É bastante provável que esta teoria, seja apenas fruto de uma mente bastante criativa, não correspondendo de maneira alguma à realidade.

FONTES:
Independent uk: AQUI.

5 comentários Adicione o seu

  1. Anna disse:

    Meio mirabolante.. porém sem fontes concretas..há um mundo de possibilidades ou impossibilidades, apesar do titulo de Rainha Virgem, seja como for ela se destaca por não querer dar continuidade a dinastia Tudor, coisa que Henrique Tudor mais temia … o fim deles!

    1. tudorbrasil disse:

      Concordo. Eu particularmente acho esta teoria absurda, mas como estudiosos do período, temos que conhecer todas as teorias que cercam tais personalidades. Não acredito de modo algum que Elizabeth não tenha querido dar continuidade à sua dinastia; esse era um dos seus deveres relegados a enquanto soberana. Ela não casou-se, por um infinidade de razões, abordadas aqui na página ao longo de vários artigos.
      Enfim, temos que entender estas teorias, para conhecer melhor o período. Algumas são até, de certa forma, interessantes, mas tanto essa, como a vertente da teoria Oxford, a ‘Tudor Prince Theory’, são totalmente mirabolantes ao meu ver; fruto de mentes criativas e nada mais.
      Obrigada por comentar!:)

  2. luiz eduardo disse:

    bom argumento mas acredito que Elizabeth virgem ou não não era mãe de Shakespeare

  3. leiapor favor disse:

    eeeeeeeeeeepode cre era verdade

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