Após os conflitos religiosos da Reforma – ocorridos no século XVI- as crenças religiosas tornaram-se uma questão de vida ou morte. A religião, política e monarquia, estavam no coração da maneira de como a Inglaterra era governada.
No século XVI, a maioria do continente europeu, estava sob liderança espiritual da Igreja católica romana e do Papa, em Roma. Até mesmo os Príncipes e Reis, buscavam a orientação papal. Foi nesta época, que os protestos contra a Igreja Católica e sua influência, levaram à formação do movimento protestante na Europa.
Na Inglaterra, o poder do clero estava a cada dia maior, sendo quase tão grande quanto o do Rei. Neste mesmo contexto, Henrique VIII buscou a anulação de seu casamento com sua primeira esposa e viúva de seu irmão, Catarina de Aragão. Sua esposa, vinda da nata católica da Europa, não podia mais dar-lhe um herdeiro varão. O discurso de Henrique VIII para a anulação, fundamentou-se em um trecho do Antigo Testamento (Levítico capítulo 20 versículo 21), onde refere-se que:
“Se um homem tomar por mulher a mulher de seu irmão, impureza será; descobrirá a nudez de seu irmão, ficarão sem filhos”.
Quando o Papa recusou-se a oferecer-lhe o divórcio (afinal Roma havia sido invadida pelo sobrinho de Catarina, Carlos V Sacro Imperador Romano), Henrique rompeu com a igreja Católica e fundou sua própria igreja, a igreja da Inglaterra. Após a morte de Henrique, ele foi sucedido por seu filho (fruto do casamento com sua terceira esposa, Jane Seymour), Eduardo VI. Durante seu curto reinado, Cranmer escreveu ”O livro de Oração Comum’‘ e esta uniformidade de adoração, ajudou a transformar a Inglaterra em um Estado Protestante. Após a morte de Eduardo VI, ele foi sucedido por sua meia-irmã Maria (e filha de Catarina de Aragão, primeira esposa de Henrique VIII), que buscou uma Contra Reforma dentro da Inglaterra. Aqueles que recusaram-se a desistir de suas crenças protestantes, foram queimados na fogueira (futuramente, após um total de 300 execuções, Maria foi apelidada – como forma de anti-propaganda- de Bloody Mary).
Após a morte de Maria, a jovem filha de Ana Bolena (criada protestante), Elizabeth, tornou-se a nova Rainha da Inglaterra. Ela queria uma Inglaterra forte e independente, com sua própria religião, comércio e política externa. O Ato de Uniformidade foi aprovado, que restaurou a Igreja da Inglaterra e todos os que não conformaram-se, foram multados, torturados ou presos.
Durante o reinado de Elizabeth, houveram vários católicos tentando derrubá-la, para que o trono fosse entregue a sua prima, a católica convicta, Maria Rainha dos Escoceses. Filipe II de Espanha, viúvo de Maria I, apoiou a causa da prima escocesa de Elizabeth e iria mais tarde (após a execução de Maria), enviar uma Armada Espanhola contra a Inglaterra (1588), a fim de restaurar definitivamente o catolicismo em solo inglês.
Neste clima de tensão religiosa, foi considerado um ato de Alta Traição que um padre católico pelo menos entrasse na Inglaterra e qualquer um que fosse encontrado abrigando ou ajudando um padre, seria severamente punido. Para esta finalidade, foram incumbidos que os ”caçadores de padres”, coletassem informações e localizassem qualquer sacerdote.
A ordem religiosa jesuíta, foi formada em 1540 para ajudar a Igreja Católica com a Contra Reforma. Muitos padres jesuítas, foram enviados através do canal da Mancha para a Inglaterra, a fim de apoiarem famílias católicas. Padres jesuítas viveriam com ricas famílias católicas, sob o disfarce de familiares ou professores.
Às vezes, os padres jesuítas de uma região, fariam reuniões em uma casa segura. Estas casas, eram identificadas por símbolos secretos, e apoiantes e famílias católicas, iriam passar mensagens entre si, através de códigos.
Os esconderijos ou ”buracos” de padres foram construídos nestas casas, para serem usados, caso houvesse um ataque. Eles eram construídos em lareiras, sótãos, escadas ou paredes ocas e foram em grande parte, criados entre os anos de 1550 e a Conspiração Católica da Pólvora, em 1605. Às vezes, algumas alterações nas construções, seriam feitas com os padres dentro dos buracos, a fim de não levantarem suspeitas.
O buraco dos padres, era geralmente pequeno, sem espaço para mover-se ou levantar-se. Durante um ataque, o sacerdote teria de ficar o mais quieto e silencioso possível, por dias se fosse necessário. A comida e bebida, seriam escassas e o saneamento inexistente. Às vezes, um padre poderia morrer nestes buracos, por falta de ar ou fome. Enquanto isso, os caçadores de padres, mediriam as casas do lado de fora e dentro, para ver se existia algum local escondido. Eles contariam as janelas de fora e as de dentro; e iriam tocar nas paredes para ver se estavam ocas, ou destruir paredes de madeira para olhar por dentro. Outra tática, seria os caçadores fingirem que iam sair e então voltarem para ver se algum sacerdote saiu de seu esconderijo.
Uma vez detectados e capturados, os sacerdotes seriam presos, torturados e condenados à morte. Baddesley Clinton em Warwickshire, era uma casa segura para os sacerdotes e casa do padre jesuíta Henry Garnet, por quase 14 anos. Ela possuía vários buracos de padres construídos por Nicholas Owen, um irmão jesuíta e carpinteiro leigo, porém qualificado. Um esconderijo de apenas 1,15 de altura, encontra-se no telhado, acima da parede de um dormitório. Outro fica no canto da cozinha, onde os visitantes atualmente, podem ver através de drenos medievais, onde o padre Garnet escondia-se. O acesso a este esconderijo, foi através do eixo do banheiro medieval (garderobe) no chão da sacristia acima. Um espaço escondido sob o piso da biblioteca, era acessado através da lareira no Grande Salão.
Nicholas Owen, foi um dos mais qualificados e prolíficos construtores de buracos de sacerdotes. Ele foi fundamental na criação de uma segura rede de casas para sacerdotes, durante o início de 1590 e arquitetou a fuga do padre jesuíta João Gerard, da Torre de Londres em 1597. Pouco tempo após o fracasso da Conspiração da Pólvora em 1605, Owen foi preso em Hindlip Hall e depois torturado até a morte na Torre de Londres, em 1606. Owen foi canonizado em 1970 e tornou-se o santo padroeiro dos mágicos e ilusionistas. Os habilmente construídos buracos de sacerdotes de Owen, salvaram muitas vidas durante este turbulento período de perseguições religiosas.
FONTES:
Historic UK: AQUI.