Por muito tempo, o poema Tudor ”Oh Death Rock me Asleep”, foi creditado à segunda esposa de Henrique VIII, Ana Bolena – quando estava presa na Torre de Londres. Porém atualmente, estudiosos tem creditado este obscuro poema, a uma pessoa igualmente interessante, o irmão de Ana – também preso na Torre de Londres -George Bolena.
A seguir, vamos ler o pema:
”Ó morte,
Ponha-me para dormir
Traga meu tranquilo descanso
Deixe caminhar, meu inocente fantasma
Fora de meu seio cuidadoso
Ressoe o triste sino
Deixe-o ressoar
Minha morte fala,
Para que eu deva morrer.”
Análise:
Este é um poema romântico, escrito por alguém aflito, aguardando sua morte para curar seus pesares mundanos. Existem alguns artifícios literários neste poema, como a personificação da morte na frase ”Ó morte, ponha-me para dormir”. No poema, a morte é como um ser humano, que pode colocá-lo para dormir. Ele usa palavra ”dormir”, em referência ao fato de que quando um ser humano morre, seus olhos são fechados e assim, muitos acreditam que lhe é trazido o descanso eterno. Também existe, uma metáfora neste poema ”…deixe caminhar meu inocente fantasma’‘, ele refere-se à morte iminente e ao fato de que ele é inocente do que lhe foi acusado (no caso, poderia ser o fato de que George, é inocente das acusações de incesto com sua irmã, Ana). Pode também, haver uma referência a Torre de Londres, pois quando alguns traidores eram executados, fogos, rojões ou sinos tocavam, avisando os outros de que a sentença havia sido cumprida (no caso, o prisioneiro, havia sido executado). Quando ele escreve por fim, ”…minha morte fala, para que eu deva morrer.”, significa que ele sabe qual vai ser seu destino e aguarda ansiosamente para que ele ponha fim à sua miséria. É um poema muito forte, escrito por alguém, que apenas queria desabafar a triste situação na qual encontrava-se.
Os registros sobre quem o escreveu, são confusos e obscuros. Podemos apenas dizer que é muito provável que não tenha sido Ana Bolena, pois antes de morrer, ela estava em seu quarto na Torre, cercada por suas damas de companhia, que registraram tudo o que puderam deste curto período. Os boatos sobre a autoria do poema, começaram pelo fato de que Robert Jordan -um ex-capelão de Ana- foi o responsável pelo arranjo musical do poema (embora também fosse provável, que como capelão de Ana, ele conhecesse George). De qualquer modo, existem registros sobre os últimos momentos de vida de Ana, assim como algumas citações e cartas trocadas. Se ela houvesse escrito este poema, ele constaria nos registros históricos, o que não é o caso.
Como ele é associado à Ana Bolena, estudiosos estenderam-se explicando que em alguns registros posteriores, ele apenas aparece escrito como Bolena, podendo muito bem ser George, seu irmão. Quanto ao destino particular em que o personagem refere-se neste poema, poderia muito bem ter pertencido tanto a Ana, quanto a George, afinal ambos estavam em cárcere. Apenas um adendo deve ser feito, George era conhecido por ser um ótimo poeta, tendo escrito alguns poemas, de estilo bastante semelhantes a este.
Podemos apenas imaginar que ao sofrer preso na Torre, angustiado por um crime que não cometera, George pode ter visto na poesia – assim como vira outrora – uma maneira de escapar de suas angústias e preparar-se para o que viria à seguir.
Fiquem com o poema, juntamente de seu arranjo musical:
Esse poema foi uma das primeiras coisas que aprendi sobre Ana Bolena, e por Deus, eu o havia esquecido completamente! Mas olhando agora, não me parece mesmo algo que ela tenha escrito e até mesmo nunca vi uma adaptação em que ele aparecesse. Acho que se houvesse possibilidade desse poema ser dela ele teria aparecido em alguma coisa, afinal, é belo, trágico e instigante.
P.S: Na 11ª frase de análise está escrito: ”…minha forte fala, para que eu deva morrer.” (?)
Exato, é quase certo que este poema não foi de autoria de Ana, pelo simples fato de que, naquele período próximo à sua execução, existem inúmeros registros, como cartas e poemas, que alegam serem dela e depois, mostram-se apócrifos.
Acredito que seja de seu irmão, afinal, ele sim era conhecido por seus poemas fortes e impactantes, muito parecidos com este…
Existe assim como em Greensleeves, uma parte acrescentada depois, com mais estrofes, mas não datam do período pelo que li.
Quanto à tradução, busquei um texto em português dentro de um livro de cânticos que cita esta última linha:
”Minha morte fala, para que deva morrer…”’
Algo como, o fim de sua vida, clama para que ele morra; ele sabe que não há salvação em seu caso…