Os Tudors na América: Os problemas e as primeiras colônias em solo americano

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Em setembro 1498, Cristóvão Colombo, um genovês a serviço da Espanha, tornou-se o primeiro europeu a pisar na parte centro sul do continente americano: 15 meses antes, John Cabot, um veneziano a serviço do rei Henrique VII da Inglaterra, tornou-se o primeiro europeu desde os Vikings, a fazer uma chegada semelhante à América do Norte. No entanto, apesar da proximidade das datas, o que aconteceu depois divergiu amplamente.

Dentro de 50 anos, os espanhóis haviam conquistado três impérios e estavam transportando riquezas inimagináveis rumo à Ibéria. Cerca de 130 anos depois, os ingleses, enfrentando tal oposição, haviam perdido milhares de homens ao tentar persistir em uma praça d’armas compreendida entre os bancos baixos de um rio; em James, uma pequena colina em Plymouth, Massachusetts e em algumas estações externas na terra nova. Por que tal discrepância?

As fortunas da Inglaterra e Espanha podem ter divergido, mas a fonte antecipada de tal riqueza, não. Ambas as nações compartilhavam uma grande obsessão: o ouro. Considerando que os espanhóis o descobriram em abundância e os enviaram para os porões das casas das frotas anuais de tesouro, os ingleses exportaram de Baffin Island e Virginia, centenas de toneladas de agregados sem valor, que eles convenceram-se ser aurífera. Uma vez que a verdade sem brilho saiu à tona, parecia haver pouca razão para investir em uma terra que era estéril de tal recompensa.

No entanto, nem tudo estava perdido para os ingleses, pois logo descobriu-se uma maneira muito mais fácil de conseguir ouro, ou seja, aproveitando-os a partir dos convenientemente lentos e pesados navios contentores espanhóis. A Inglaterra era uma nação pária, cujo os corsários, ao contrário daqueles que operam a partir de hoje, portos na Somália, possuíam o total apoio do governo que, baseava parte da riqueza pirata para equilibrar suas contas.

Tais presas fáceis, defletiam empresários ambiciosos de arriscarem seus investimentos e vidas de outras pessoas, em um local de retorno incerto como o litoral americano. Além do mais, para quem gostaria de estabelecer uma plantação, havia terra disponível muito mais perto de casa, através do confisco e redistribuição de fazendas irlandesas. Os defensores da colonização americana, portanto possuíam um rival, aparentemente menos arriscado, lutando contra quem se aproximava.

Houve no entanto, uma iniciativa em que os ingleses estavam preparados para assumir os riscos. Eles estavam em busca de uma passagem noroeste, para a rica Catai (China), evitando assim os mares reivindicados pelas nações ibéricas. Como marinheiros após marinheiros fracassaram, tentando espremer-se através de fissuras sempre constritivas e espessamento no gelo, seus patrocinadores continuaram a ver a América, como um obstrutivo baluarte a ser ignorado, ao contrário da imposta visão da terra prometida.

De qualquer maneira, a terra fora prometida. Em 1496 Henrique VII concedeu a Cabot e seus herdeiros, uma licença para ”conquistar, ocupar e possuir algumas cidades, castelos e ilhas por eles descobertas”, adquirir para os ingleses o domínio, título e jurisdições dos mesmos; em outras palavras, invadirem.

Esta generosidade na concessão de terras que pertenciam a outros, foi uma característica de todas as cartas régias subsequentes. Assim, em 1584, foi dado a Walter Raleigh, soberania de uma área que estendia-se até 600 milhas para cada lado de seu primeiro assentamento, que ele lisonjeira e sensatamente, chamou de Virgínia, em honra de sua Rainha Elizabeth. Seu sucessor, James I, em sua primeira carta para a companhia de Virginia em 1606, licenciou a colonização de uma área de terra de 34° norte, para 45° norte, à uma distância de 660 milhas, enquanto os fretamentos posteriores de Virginia, prorrogaram a concessão de terras de costa a costa, que eram a partir do Atlântico ao Pacífico.

A carta-patente da companhia da Terra Nova, concedeu-lhes a totalidade daquela ilha para seu empreendimento. Além disto, os beneficiários poderiam sublocar – e eles o fizeram -, atribuindo propriedades do tamanho de condados ingleses para aqueles dispostos a investir nelas.

Mas a coroa inglesa não estava por si só preparada em investir, seja em homens, materiais ou dinheiro em tais empreendimentos no exterior. As ambições de Henrique VIII, começaram e terminaram na França; o jovem Eduardo reinou por um tempo muito curto; Maria não poderia agir de forma a conflitar com os objetivos do marido espanhol e Elizabeth, disfarçou parcimônia como prudência; enquanto James I assinou um tratado de paz com o rival colonial do país. Dado tal desinteresse de estado, a América permaneceu periférica à política inglesa, embora fundamental para a bolsa espanhola.

Dada uma mão livre, nem os aventureiros ingleses coincidiram com ações de ampliação do horizonte, atribuídos a eles no papel. A Cabot, que foi concedido um continente, aventurou-se para o interior, “à distância de disparo de uma besta”, antes de retirar-se para seu navio. Assim, 150 anos depois, nenhum inglês havia estabelecido-se além do alcance da maré e todos olhavam as vias navegáveis para seus próprios fins pessoais: ou seja, ninguém havia esquentado a cabeça, a fim de estabelecer sua própria terra.

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Vagabundos Ociosos:

Não que isso fosse tão considerado por aqueles que subscreveram a maioria das viagens. Para a maioria, os colonos eram vistos como empregados enviados para uma vida de risco, a fim de como recompensa, manter seus mestres seguros em casa. O que os investidores queriam, era que o retorno fosse rápido e os deixassem ricos. Esta dicotomia obteve resultados óbvios. Os próprios plantadores, raramente eram os melhores da Inglaterra, muitas vezes, compreendendo na nata de vagabundos ociosos, criminosos e até mesmo colegas mais inativos, sendo que nenhum deles via benefício no excesso de trabalho e esforço.

Em segundo lugar, dado que o comércio inglês estava na mão de monopolistas, a maioria dos empresários pretendiam importar os itens nos quais investiam. Vidro e ferro, obras assim não rentáveis e uma fazenda de seda, foram estabelecidas no rio James e não foi até a América começar a exportar seus produtos, como tabacos e peles, que a viabilidade econômica dos assentamentos foi criada, auxiliada pela introdução de terras de propriedade livre.

Além disto, apesar de extensa propaganda, não foi até 1630, que haviam colonos suficientes enviados para a América, a fim de garantir a sobrevivência de uma plantação, dada a elevada taxa de mortalidade. Apenas um contraste com a prática espanhola, é suficiente para ilustrar este aspecto.

Em 1493, Colombo fundou a cidade de La Isabella em um local mal escolhido, na costa norte de La Hispaniola. Cinco anos depois, os sobreviventes desiludidos, aproximaram-se da margem sul e fundaram uma nova e duradoura capital, Santo Domingo. Mas até então, 1.500 colonos desembarcaram no local proposto de La Isabella e haviam construído uma estrutura em pedra com muralhas, capazes de resistir a qualquer ataque lançado contra eles.

Por outro lado, em 1587, o grandiloquente e egoisticamente nomeado órgão social, o Governador e assistentes da cidade de Raleigh, nomearam John White, um artista incomparável e um líder incompetente, para trazer 110 pessoas para o Novo Mundo. Aqui, ele esforçou-se para estabelecer uma nova cidade em Roanoke (na atual Carolina do Norte), quando ele originalmente pretendia aportar em um local mais promissor dentro da baía de Chesapeake. Cinco anos mais tarde, provavelmente até menos, o local não mais existia.

O Assassino Inesperado:

O grande número de imigrantes espanhóis, é um indicador de apoio do Estado, assim como a composição dos grupos que para lá navegavam. Aqueles da Espanha, incluíam uma série sólida de soldados. Tanto Cortez, o conquistador dos Astecas, quanto Pizarro, que derrotou os Incas, lideravam soldados de infantaria profissionais, assim como uma vasta cavalaria. Por outro lado, confrontado com um inimigo determinado, os ex-mercenários, John Smith na Virgínia e Myles Standish em Plymouth, tiveram que unir seus companheiros civis em uma milícia, apenas para defender as paredes de seus assentamentos.

Em uma vasta escala, tal oposição de desvantagem, provinha de sua realização. O principal problema que os ingleses não constataram, era que eles estavam invadindo o território de um outro povo. O inimigo que os ingleses temiam, era a Espanha, que havia mostrado seu ressentimento contra invasores estrangeiros, massacrando os habitantes de um povoado francês na Flórida, em 1565. No entanto, para os ingleses, os espanhóis latiam, mas nunca mordiam. Seus verdadeiros inimigos eram agora os índios, a fome e as doenças – que juntas, eliminavam mais da metade dos invasores; uma porcentagem digna de comparação, seria a perda da marinha mercante, ou o comando do bombardeiro durante a Segunda Guerra Mundial.

Destes, era a doença o maior assassino, mas o inimigo fora do cerco de navegação, era o sustento, assim como o assalto, que também fez grande contribuição para a devastação que os colonos ingleses sofreram. No entanto, estas perdas, especialmente no norte, empalideceram contra a destruição de comunidades indígenas inteiras, incapazes de resistir à doenças estranhas, tais como varíola e sarampo.

Os ingleses haviam subestimado a ameaça nativa, descartado-a como inconsequente, mesmo sendo uma grande ameaça. Isto significava que eles só poderiam se mover de forma segura pela água, o que permitiu a ambos a incursão e forragem, mas sem forçar a fronteira através da floresta. Até que eles limpassem a floresta, não poderiam criar uma colônia.

O tabaco foi a cultura que levou às folgas e em 1622, os índios ao longo do rio James, ressentidos com a apropriação de terras em expansão, levantaram-se em um coordenado ataque surpresa e massacraram os ingleses ao longo da extensão do rio. Inexplicavelmente, eles não estenderam sua iniciativa, sitiando Jamestown. Se o tivessem feito, a vitória teria sido completa. Eles então retiraram-se e permitiram que reforços chegassem.

Estes reforços, ilustraram outro fato que favoreceu os ingleses: eles poderiam dizimar a oposição. As tribos indígenas não poderiam facilmente, substituir aqueles guerreiros que perderam na guerra. Já os ingleses, poderiam exportar outra navegação para compensar sua baixa – por este motivo, os ingleses derrotaram seus inimigos.

Dada uma homogeneidade religiosa em casa, a Espanha também exportou jesuítas para proclamar e converter os nativos, muitas vezes brutalmente, à única e verdadeira fé. Por outro lado, embora cada carta real inglesa incluísse um parágrafo sobre a necessidade de propagar o evangelho, poucos missionários ingleses viajaram para a América do Norte.

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De fato, o Novo Mundo era visto como um lugar para despachar aqueles, fossem católicos ou dissidentes, que irritantemente realizavam uma doutrina considerada falsa. A exportação de tais inconformistas, começou com a viagem do Mayflower em 1620 e atingiu um clímax durante o reinado de Charles I, quando milhares cruzaram o Atlântico para Massachusetts, para fugirem da perseguição que estava sendo instigada pelo Arcebispo Laud. Um êxodo semelhante, levou os católicos à Maryland e os puritanos Quakers, para a Pensilvânia.

Estas pessoas não consideravam-se forasteiros; eles não tinham um futuro diferente no novo mundo. No entanto a vida tornou-se difícil e eles tiveram que trabalhar duro para sobreviver, pois não mais iriam retornar. Suas lealdades, eram para a sua comunidade e fizeram suas próprias leis, a fim de garantir sua sobrevivência em comunidade. A partir de regras, como o Mayflower Compact, a democracia na América nasceu. Assim, ironicamente, o futuro do Novo Mundo Inglês, foi assegurado por aqueles que chegaram com a maldição, ao invés da benção da Corte inglesa.

Embora a frase “Império Britânico”, cunhada em 1577 por John Dee, dê a impressão de que Britannia quis definir seus limites, cada vez maiores para a glória da coroa, país e credo protestante, a realidade era muito diferente. O primeiro argumento para a colonização foi, na realidade, baseado em encontrar uma passagem para Catai, deixando a Espanha desconfortável, estabelecendo elementos indigentes ou criminais, monopolizando os pesqueiros distantes, buscando metais preciosos e reassentando grupos leais, mas não anglicanos.

Apesar de todos estes objetivos poderem ser reivindicados como de interesse nacional, a coroa, além de cartas de concessão, manteve-se distante, enquanto o desejo arrogante daqueles mentores de empreendimento, foi o auto-engrandecimento. O sucesso nunca foi certo e surgiu não por meio de uma política de longo alcance deliberada, mas através de uma série de acidentes, a partir do qual os ingleses surgiram como os sobreviventes.

The First Thanksgiving in 1621, a year after the Pilgrim Fathers had left the Old WorldFONTES:
Artigo traduzido do orignal do site, History Extra: AQUI.

 

4 comentários Adicione o seu

  1. Buen articulo. Como siempre, tienes buenos articulos y me gusta como estan estructurados.

    1. Tudor Brasil disse:

      Fico muito feliz com isto! Muito obrigada pelo carinho!

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