Pourquoi ou Purkoy, foi o cãozinho de estimação de Ana Bolena. Algumas fontes afirmam que ele era da raça Bichon havanês, um cão que originou-se em Cuba. Cães havaneses, são conhecidos por ter o famoso hábito de inclinar a cabeça de modo pouco usual, quase mostrando dúvida, o que pode originar a raiz do nome Pourquoi, que em frânces, significa ”Por quê?’‘. Em inglês, seu nome é mais comumente escrito como “Purkoy”, uma ortografia fonética, que também fora usada no francês antigo.
Pourquoi foi dado à Ana por Honor, Lady Lisle. Honor era uma mulher muito ambiciosa, que esforçou-se desde o início para fazer com que sua família subisse socialmente, cultivando uma estreita relação com a rainha. Ela nasceu Honor Grenville e seu segundo marido, foi Arthur Plantageneta, filho bastardo do monarca Eduardo IV (ou seja, Arthur era tio de Henrique VIII e meio-irmão de sua mãe, Elizabeth de York). Honor viajou com Ana para um evento importante em Calais no ano de 1532, terminando por ficar no local, quando seu marido fora nomeado governador. Ela continuou informada sobre as idas e vindas da Corte inglesa, através de cartas que trocou com sua família e amigos; destas correspondências, 3.000 estão preservadas no Arquivo Nacional como ”as Cartas Lisle”. Elas formam um incrível arquivo de informações sobre à corte real.
Pourquoi é mencionado nas cartas por John Husee, no inverno de 1533. Ele pede à Lady Lisle, que envie seu cão “Purquoy” para ele, pois Lord Francis Bryan está perguntando sobre ele duas ou três vezes por dia. Será que Bryan e Lisle acharam que Ana gostaria do cãozinho? Recentemente o monarca havia recebido um de seus spaniels, através de um amigo. Henry Norris escreveu à Lisle, para dizer-lhe que o rei agradecera pessoalmente eles, algo muito importante quando considera-se que ele recebia presentes todos os dias; mencionar um deles e o doador pelo nome, era algo digno de comoção. Talvez por este motivo, eles pensaram que presentear a rainha com um cão, seria igualmente eficaz na obtenção de sua atenção.
Francis Bryan levou Pourquoi à Corte e Ana Bolena parece ter instantaneamente, caído de amores pelo cão. Bryan relatou que o cão não ficou mais de uma hora em suas mãos, que a rainha o tomou dele e enviou à Lisle, seus ”sinceros agradecimentos” pelo presente.
Porém, se Honor acreditou que o presente acarretaria em nomeações de suas filhas com cargos na corte, ela pode ter ficado bastante desapontada. Ela enviou depois para à câmara da rainha, uma codorna viva e uma gaiola com pássaros. Seu agente, escreveu para contar à Honor que a ave não deixou de agradar Ana com suas músicas adoráveis, o que deve ter sido um conforto para Lady Lisle. Mas o “conforto” que Honor procurava, não estava à venda: Ana não tinha cargos em aberto para as meninas Plantageneta em sua comitiva; talvez ela se lembrasse como chegou às graças do Rei e tivesse algum receio que as adoráveis meninas, fossem cativá-lo também. Não foi até o reinado de Jane Seymour, que Lady Lisle conseguiria seu desejo.
Pourquoi teria tido uma dieta de pão, que as pessoas no período Tudor, acreditavam manter o cão gentil e desencorajar seus instintos de caça. Diariamente, ele teria sido perfumado, escovado, ou tido sua pele friccionada com um “pano de pêlos”, para remover todo o pêlo sobressalente e aderir aos finos ornamentos dados por sua dona.
Infelizmente, Pourquoi morreu em dezembro de 1534. Margery Horseman, uma das damas de Ana, escreveu à Lisle que o cão havia ”caído de uma janela” e suas damas estavam com tanto medo da reação da rainha, que pediram que o rei desse à ela a notícia.
O embaixador Chapuys, relatou o infortúnio de Ana, em uma de suas cartas ao Imperador. Mais tarde ele fez uma piada, dizendo que a notícia da decepção militar de um de seus aliados, fizeram o rei e a rainha, olharem como cães que haviam caído da janela. Graças a este comentário, algumas pessoas tem apontado Chapuys como responsável pelo acidente, mas isso é completamente improvável.
Lisle discutiu a possibilidade de dar à Ana outro cão, mas disseram que a rainha não queria um. Ao que parece, ninguém poderia substituir Pourquoi. Todos sabem que um animal não é substituído no coração de seus donos, talvez Ana tenha sentido-se assim…
Lisle pensou em ideias e propôs à Ana que recebesse um macaco, mas ela disse que não suportava a visão daquelas bestas. Alguns escritores especularam que o desgosto de Ana por macacos, era porque eles eram importados da Espanha, país de origem de Catarina de Aragão, mas talvez ela apenas não gostasse deles, não importando necessariamente suas origens.
Ana tinha um outro cão, um galgo de caça chamado Urian, dado à ela em 1532, por William Brereton. Brereton havia nomeado o cão em homenagem ao seu irmão mais velho, antes de entregá-lo à Ana. Escritores posteriores, acreditavam que “Urian” era um nome satânico, atrelando isto, à reivindicações póstumas sobre praticas de bruxaria de Ana. Porém, no período Tudor, Urian era um nome comum, sem nenhuma conotação ruim.
Urian envolveu-se em um infeliz incidente durante o último progresso de Ana. Ele escapou de seu cuidadores e junto com outro cão, arrancou a garganta de uma vaca pastando nas proximidades. Existe um registro do reembolso nas contas do rei, para o proprietário da vaca.
Em 1526, Henrique havia emitido um decreto, de que os únicos cães de estimação das damas na corte, seriam cães de colo, ou de pequeno porte. Existiam tantos cães na Corte, que seus dejetos estavam tornando-se um incomodo. Parte do problema, é que por muitas vezes, os animais não ficavam dentro dos recintos de seus donos – e um servo tinha de limpar a sujeira feita por eles. Porém, se um servo não visse a sujeira, alguém consequentemente, acabava pisando nela. Com centenas de cães no palácio, estes “acidentes” acabavam por tornarem-se um problema real. Os cães menores no entanto, eram mais fáceis de lidar.
Apenas os nobres poderiam ter cães de grande porte, por isto, possuir um galgo, mastiff, ou um Lébrel irlandês, era um símbolo de status. Um plebeu com um cão de grande porte, era acusado de caça furtiva. Em cada distrito havia um aro e um cão que pertencesse a um plebeu, tinha de ser pequeno o suficiente para passar por ele.
Alguns cortesãos podiam obter uma licença especial para manter seus cães de grande porte na corte, mas eles tiveram que ser alojados em canis para manter o palácio “doce, saudável, limpo e bem decorado, como a casa de um príncipe deveria ser”.
Henrique tinha spaniels, beagles e galgos de caça. Houve registros de que seu bobo, Patch, dormiu entre os spaniels na câmara do rei. Seus galgos usavam coleiras de ferro, algumas com rebites sobre elas. Quando o rei falecera, sessenta e cinco coleiras de cães, foram inventariadas em suas posses.
Dois cães favoritos de Henrique, Cut e Ball, perderam-se. Felizmente, os cães de colo do monarca, usavam coleiras de couro de cabra com ouro, prata, a rosa de Tudor e emblemas reais adornados, de modo que os cães puderam imediatamente, serem identificados como do rei. As contas do monarca, mostram pagamentos de recompensas para as pessoas que os encontraram e os devolveram ao Palácio. Eles receberam a grande soma de quinze xelins, o equivalente moderno à £ 100, R$:400 reais aprox. (segundo a cotação atual).
FONTES:
Artigo escrito por Lissa Bryan, da página Under This Restles Skies: AQUI.