Ciganos no Período Tudor

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Uma das etnias mais perseguidas, massacradas e estigmatizadas da História foram – e ainda são – os ciganos. Sabe-se muito pouco sobre eles e basicamente o que chega até nós, são mitos e preconceitos construídos desde a Idade Média. Foram massacrados na 2° guerra mundial, ao lado de negros, homossexuais, deficientes e Judeus, mas só conhecemos amplamente os relatos do sofrimento do ultimo grupo.

gypsy2Existem duas teorias a respeito da origem dos ciganos. A primeira e mais difundida, seria de que estas populações teriam se originado no norte da Índia e de lá, partido para diferentes locais, como o Egito, Portugal, Espanha (Gitanos), França (Gitane), Alemanha, Grécia, Turquia, Hungria, Romênia, Rússia e por ai vai…Chegando até o Brasil, no inicio da colonização. A outra, é de que os Ciganos teriam sido originários das 13 tribos de Israel, ou seja, ainda mais antigos do que podemos imaginar.

Uma das possibilidades para o emprego do termo “cigano”, é que seria a variante de “gitano” que por si só, varia de “egiptano”, significando “egípcio”. Utilizado na península Ibérica por espanhóis e portugueses ao referir-se aos grupos ciganos. Entre eles são, conhecidos como os povos ROM e sua língua como ROMANI. Dentre os Rom, existem clãs diferentes, com culturas muito diversas entre si, fortemente influenciadas pelo local de sua moradia, mas ainda assim com o diferencial de serem ROMA. No período Tudor, os ciganos eram designados por ”egyptians”, tanto por eles, quanto pelos outros.

No período da Inglaterra Tudor, existiam muitos ciganos, embora não saiba-se o número exato. Neste artigo, vamos entender a forma que foram tratados, não diferindo do que ainda acontece hoje…

“O escritor Tudor, Edward Hall, em suas cronicas publicadas em 1548, descreveu duas senhoritas na corte, em meados de 1517, ou talvez antes, com acessórios de cabeça parecidos com os egípcios. E antes de 1520, ele diz que oito senhoras foram a um banquete na corte, vestidas ricamente como egípcias. Entre 1513 e 1523 alguns “gypsions”, foram entretidos pelo conde de Surrey em Tendring Hall, Suffolk.“

gypsy4De acordo com Edward Eeid, 1528 teria sido o ano da “invasão” cigana na Inglaterra, ou seja, em pleno governo de Henrique VIII.

Quando os egípcios, banidos de seu próprio país, estabeleceram-se ao sul da Inglaterra, foram logo conhecidos por suas vestimentas diferenciadas, cultura ‘pitoresca’ e língua. Eles liam a sorte, praticavam quiromancia e tinham como líder, Giles Hather, a quem chamavam de Rei, e Kit Calot, sua Rainha.
Em 1530, já eram alvo de perseguição na Inglaterra e no mesmo ano, já eram formulados atos no parlamento, como maneira de impedirem sua migração ao reino. Fosse em qualquer país da Europa, os Ciganos chegavam e eram rechaçados.

Em 1531, John Popham nasceu, em Huntworth ou Wellington, em Somesetshire. Ele, acabou ascendendo a posição de Chefe de Justila da Inglaterra. Quando era criança ele foi “roubado” por um grupo de ciganos, por alguns meses, de acordo com Campbell ou por anos, de acordo com Eoberts. Os ciganos o teriam desfigurado, queimando sua mão esquerda em um ato místico. Em dezembro de 1536, um grupo de pessoas que se chamavam de “gipcyans”, foram condenados por um vergonhoso e detestável assassinato cometido entre eles, mas receberam o perdão do rei. Após o perdão, este grupo teria rapidamente saído do reino.

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Em 22 de Junho de 1549, o jovem rei Eduardo escreveu que “O conselho privado fez uma grande procura em Sussex atrás de Vagabundos, ciganos, conspiradores, profetas e apostadores de todo tipo”. Em 20 , 21 e 30 de novembro.

No reino de Maria I, em janeiro de 1555, os ciganos da Inglaterra e de Gales foram deportados, aqueles que continuaram por lá, iriam sofrer sanções até o momento que saíssem da Inglaterra.

As leis contra os ciganos:

Até 1783, uma pessoa poderia ser legalmente condenada à morte na Inglaterra, apenas por ser cigana. Exatamente, nenhum crime precisaria ser cometido; apenas por existirem, os ciganos estariam quebrando a lei. Este aspecto da situação jurídica dos ciganos, foi trazido a atenção do público em 1783, a partir de uma onda de interesse em acabar com o ato parlamentar de 1562, que fazia com que tal ‘’punição’’ fosse possível. O ato elisabetano estipulava que:

Toda e qualquer pessoa que for vista ou encontrada dentro do território do reino de Inglaterra ou País de Gales em qualquer companhia ou camaradagem com vagabundos comumente chamados ou auto-intitulados de ‘’egípcios’’, serão por este motivo, considerados e condenados como criminosos e portanto, segundo as leis deste reino, deverão recair sobre eles punição mediante julgamento, pelo conselho ou habitantes do condado local, sendo apreendidos por meditatem língua (apenas aplicado em casos criminais e não civis), e deverão perder os privilégios e benefícios do santuário e clero.

gypsyEsta lei, tinha como objetivo, esclarecer confusões a respeito de uma lei anterior (‘’ato de punição de certas pessoas que se autodenominavam egípcios’’). Ela foi complementada por outras leis Tudor, que de modo mais geral, visavam a punição de “malandros”, “vagabundos’’ e ‘’pedintes’’, que claramente tinham características associadas aos ciganos do período. Outra lei elisabetana, criada uma década depois que a lei egípcia (desta vez representando como bandidos ‘todos e todas as pessoas sem trabalho, ou terra ou senhor, não mantendo qualquer meio para viver ou se sustentar’’), punia ‘todas as partes deste reino, assassinos horríveis, roubos e outros aspectos de grande preocupação da comunidade’. Ou seja, tal legislação, sugeria que grande parte do medo e temor inspirados na sociedade Tudor, para aqueles com habitação e empregos regulares, eram provenientes desta parcela da população, sem bens ou emprego. Como punição, incluía ser queimado com ferro quente e perder suas terras e bens, assim como os egípcios. Ser um andarilho no período Tudor, simplesmente era algo não aceitável.

A definição de “mendigos, vagabundos e pedintes’, neste último ato de 1572, incluía características claramente identificadas como sendo ciganas: feirantes, funileiros, vendedores itinerantes, condenando aqueles que usavam ‘’jogos de adivinhações, azar, conhecimento da fisionomia, quiromancia ou outras ciências que pudessem dizer o destino das pessoas’’). Ou seja, ao que parecia, a maior ameaça que eles poderiam representar era a de serem ciganos, ou de não terem empregos e ficarem ‘’vagando’’ por ai. Talvez seja por esta razão, que a Lei egípcia de 1562, não fora revogada até 1783: ela ficara empoeirada e negligenciada, havendo pouca necessidade de invocar atos para lidar com estes andarilhos incômodos. Mas se ela fora negligenciada, não fora esquecida, David Mayal, identifica o enforcamento de vários jovens ciganos em Nothampton em 1780 como “a simbólica marca d’água que assinalava o fim da excessivamente severa perseguição dos ciganos e suas comunidades na Europa’’ em sua ‘’Dissertação sobre os ciganos”:

Nos reinados de Henrique VIII e Elizabeth I, houve uma perseguição geral de ciganos na Inglaterra. No entanto, não sabe-se o número exato. Durante sete ou oito anos, eles ameaçaram atear fogo na cidade de Northampton, pois os magistrados prenderam alguns de seus jovens, cuja solicitação de libertação fora em vão. Vários deles foram enforcados por isto.

A Moda Cigana:
Enquanto os ciganos eram odiados pela nobreza e classes mais abastadas, eles eram apreciados pelos mais pobres e plebeus. Graças a isto, os legisladores Tudor, parecem ter incomodado-se com a existência de homens e mulheres nativos, gypsy3que fingiam ser ciganos, assumindo seus nomes e trajes. O nome ‘’egípcios’’, atraiu homens e mulheres ingleses, embora o número considerável seja posto em dúvida. Mesmo assim, parece ter sido bem menos que os pseudo-ciganos conhecidos atualmente. Mas o cigano de uma nova geração nascido na Inglaterra, ainda poderia considerar-se um egípcio? Tecnicamente, não. Ele seria inglês. Como tal, poderia muito bem, ser capaz de evitar as penalidades envolvidas na lei. A atratividade dessas pessoas com os ciganos, provavelmente fora reforçada pela ”estranheza de seu vestuário e roupas ”. Dr Andrew horda, o primeiro inglês a proporcionar um debate sobre os costumes e linguagem cigana, escreveu em 1547:

”As pessoas do país (Egito) eram escuras e usavam roupas cobertas, ao contrário de outras nações. Eles tinham dedos leves e praticavam furtos. Eles tinham maus modos, mas eram bons dançarinos … Eles dançavam com roupas que usavam habitualmente, vestiam-se como príncipes do Egito, com adornos de cabeça enfeitados com ouro. Seus chapéus, foram usados em 1510 por artistas da corte’.

John Skelton, em Elynour Rummynge de 1517, disse: ”Eles usam tecidos na cabeça, que pesam como chumbo…”.

Suas roupas de ricos tecidos, encimadas por mantos e ornamentos, deixavam homens e mulheres comuns admirados, assim como seus dotes com o ocultismo e artes místicas da adivinhação. Sua cor de pele escura, linguagem e costumes exóticos, fizeram deles irresistíveis para o povo comum do período Tudor e odiados pela nobreza e mais abastados, que viam neste povo livre de pensamento e ao mesmo tempo enigmático, uma ameaça ao sem bem estar social e protocolar do período.

Artigo escrito por:
Camila Maréga e Jéssica Melo Prestes

FONTES:

Pre-elizabethan England, em Tudor Travellers;

The Elizabethan Underworld – A collection of Tudor and Early Stuart Tracts and Ballads – Judges, A. V.

 

2 comentários Adicione o seu

  1. ADOREI O SITE. OBRIGADA PELAS INFORMAÇÕES.

    1. Tudor Brasil disse:

      Fico muito feliz! Disponha Renata! 🙂

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