Uma consequência da primeira metade da Guerra das Rosas, ou Guerra dos Primos, seu nome contemporâneo, é que Henrique Tudor foi reconhecido como herdeiro da casa de Lancaster após 1471 e foi capaz de usar este fator, para ajudá-lo a impulsionar-se ao trono em 1485. Muitas vezes fora registrado, que sua reivindicação hereditária era tão fraca, que ele astutamente clamou sua coroa perante uma ato de conquista, garantindo que fosse coroado na Abadia de Westminster antes que o Parlamento fosse convocado e antes de seu casamento com Elizabeth de York, que consideravam possuir uma grande reivindicação por meio de seu pai, Eduardo IV. O processo pelo qual Henrique Tudor atingiu seu manto de herdeiro Lancaster é fascinante, particularmente em luz de outros potenciais reivindicantes durante o final do século XV. Geralmente acreditam que Henrique fora a única alternativa viável para aqueles de persuasão Lancaster, que desejavam que a casa de York fosse removida do trono, mas este é verdadeiramente o caso? É entendido que quando os Tudors ascenderam ao trono, havia uma legião de nobres que foram capazes de demonstrar uma reivindicação geral mais forte ao trono através do sangue, mas e sobre aqueles com sangue especificamente Lancaster?
A Casa de Lancaster, foi um ramo cadete da casa Real de Plantageneta, fundada pelo terceiro filho de Eduardo III, John de Gaunt, Duque de Lancaster. Em 1399, o filho de John, Henrique de Bolingbroke, usurpou a coroa do controverso Ricardo II e elevou os Lancaster ao trono, tornando-se Henrique IV. Seu filho e neto, tornaram-se Henrique V e VI, respectivamente, antes desta linha direta morrer em 1471, com a morte de Henrique VI e seu filho, o príncipe Eduardo, durante o rescaldo da Batalha de Tewkesbury, que colocaria a casa rival de York no trono, descendentes do segundo e quarto filho de Eduardo III. Os irmãos de Henrique V, Thomas, Duque de Clarence, John, Duque de Bedford e Humphrey, Duque de Gloucester não tinham herdeiros, enquanto suas irmãs Blanche e Philippa também morreram sem filhos. Henrique IV enquanto isso, teve apenas um filho, que por sinal, não teve filhos. Esta linha de Henrique IV, fora literalmente considerada como sendo um beco sem saída. Os defensores dos Lancasters então, viraram-se para os outros descendentes de John de Gaunt, como modo de combater os Yorkistas e foi assim que o desprovido em linhagem direta de 14 anos, Henrique Tudor, Conde de Richmond, passou a ter destaque nesta teia de reivindicações e guerras. No entanto, houveram outros com o sangue da rosa vermelha em suas veias, apesar do quão pouco realistas fossem suas intenções de tomar a coroa em 1471.
Vamos conhecer neste artigo, um pouquinho mais das casas reais dos outros descendentes de John de Gaunt.
Casa de Avis:
O primeiro filho de John de Gaunt com sua primeira esposa Blanche de Lancaster, de quem ele inicialmente derivou seu título Lancaster, foi Philippa, que tornou-se Rainha consorte de Portugal através de seu casamento com João I de Portugal. Isto fez com que o sangue Lancaster, fosse semeado na família real portuguesa e seus descendentes. O filho mais velho e herdeiro de Philippa, foi Duarte, que tornou-se Rei de Portugal entre 1433-38 e fora ostensivamente nomeado, em honra de seu bisavô Eduardo III (Eduarte = Eduardo = Duarte). O filho de Duarte, foi Afonso V, que viveu até 1481 e portanto, poderia ser considerado um herdeiro Lancaster, durante 1470, enquanto seu filho João II, reinava no momento de Bosworth. O rei João de Portugal, fora então um trineto de John de Gaunt. Outro notável herdeiro da casa de Aviz, através do qual o sangue Lancaster passou a ser grande rival e aliado dos Tudors, foi Maximiliano, o Sacro Imperador Romano, que era neto do Rei Duarte, através de sua mãe Eleanor. Maximiliano, foi também trineto de John de Gaunt. Outro herdeiro da reivindicação Portuguesa-Lancaster, foi Carlos o Temerário, Duque da Borgonha, sobrinho materno do rei Duarte de Portugal e por isto, bisneto de John de Gaunt. O Duque Carlos, estava maritalmente ligado a casa de York durante 1470, através de seu casamento com Margaret de York, a mulher que seria uma pedra no sapato de Henrique Tudor, com suas tentativas de removê-lo do trono, em favor de qualquer pretendente que estivesse disposto a colocar-se em seu caminho. Ele deveria casar sua herdeira Maria, com o Imperador Maximiliano, fundindo assim, suas respectivas reivindicações, em aliados Tudor posteriores e rivalizando com Filipe de Castela e seu filho Carlos V. Um descendente final de John de Gaunt, através de sua filha Philippa, fora a Rainha Isabel de Castela, que foi filha de Isabella de Portugal, que por sua vez, foi filha do Príncipe João, um filho mais novo de Philippa.
Casa de Holland:
A segunda filha de João de Gaunt com sua primeira esposa Blanche, foi Elizabeth de Lancaster, que casou-se três vezes e teve sete filhos. Sua filha mais velha, com seu segundo marido John Holland, Duque de Exeter, fora Constance Holland. Constance casou-se com Sir John Grey e seu filho mais velho foi Edmund Grey, que fora então, bisneto de João de Gaunt. Durante a Guerra das Rosas, Grey esteve ao lado de seu primo Lancaster, porém, trocou de aliança para o lado Yorkista, sendo recompensado por sua traição, tornando-se brevemente o tesoureiro da Inglaterra em 1463 e Conde de Kent em 1465. Ele carregou uma espada na coroação de Ricardo III, mas reconciliou-se com Henrique Tudor, morrendo em 1490. O quarto filho sobrevivente de Elizabeth de Lancaster com seu marido o Duque de Exeter, foi seu herdeiro John Holland, Segundo Duque de Exeter. John foi um sobrinho de Henrique IV e primo de Henrique V e embora seu pai houvesse sido executado por traição, ele serviu os Lancasters ao longo de sua vida, recebendo precedência sobre todos os nobres no reino, com exceção de Ricardo, Duque de York. Seu único filho fora Henry Holland, que sucedeu-o no Ducado de Exeter em 1447. Henry Holland tornaria-se um Lancaster convicto durante o conflito e como um bisneto inglês de John de Gaunt e um nobre de prestígio, tinha a reivindicação tão forte como a de qualquer outro Lancaster, sem mencionar, que ele era também um descendente separado (também por outra via de sangue) de Eduardo III, através de sua avó materna, Anne de Gloucester. Holland foi um comandante-chave Lancaster ao lado de Jasper Tudor e conseguiu grandes vitórias em St Albans e Wakefield, embora tenha sofrido uma derrota em Towton em 1461 e forçado a ir para o exílio. Após a derrota dos Lancaster em 1471, ele aparentemente reconciliou-se com o rei Eduardo IV, embora tenha misteriosamente afogado-se durante o retorno de uma expedição para à França, com o rei, em 1475. Uma das possibilidades, é que ele tenha sido morto por ordens do rei, devido seu sangue Lancaster. A meio-irmã de Holland, Anne, teve um filho com seu marido, Sir John Neville – que também herdou a reivindicação – Ralph Neville, Conde de Westmoreland. O pai de Neville, foi morto lutando pelos Lancasters em Towton e não fora até 1472, que Ralph pode herdar suas terras dos Yorkistas, eventualmente, tornando-se Conde de Westmoreland, sob o reinado de Ricardo III em 1484. Ele foi um trineto de John de Gaunt.
Casa de Trastámara:
John de Gaunt também teve uma filha com sua segunda esposa, Constanza de Castela. Catarina de Lancaster, casou-se com o Rei Henrique III de Castela em 1393 e teve três filhos, as duas primeiras filhas, morreram sem filhos. Seu único filho homem, foi João II de Castela, que da mesma forma que seu primo Henrique VI, pareceu ser incapaz de reinar. Ele foi sucedido ao trono, por seu filho Henrique IV, que governou durante 1454-74. Henrique não teve herdeiros e foi sucedido por sua meio-irmã Isabel de Castela. Com o sangue Lancaster de seus ancestrais Avis, Isabel foi então bisneta de John de Gaunt. Acreditam que sua filha, Catarina de Aragão, recebeu seu nome em homenagem à Catarina de Lancaster.
Casa de Beaufort:
A amante de longa data de John de Gaunt, Katherine Swynford finalmente tornou-se sua esposa após a morte de Constanza de Castela e desta união, nasceram os Beauforts, um clã ilegítimo que seria peça integral na Guerra das Rosas. Juntos, eles tiveram quatro filhos, dois deles, Cardeal Henry Beaufort e Thomas Beaufort de Exeter, morreram sem descendência. O filho mais velho, John Beaufort, foi feito Conde de Somerset e teve seis filhos que herdaram seu sangue Lancaster. Após a morte de seu filho mais velho, Henrique, seu segundo filho e homônimo, John Beaufort, herdou o condado que posteriormente fora elevado a um ducado. John Beaufort teve apenas uma filha, Margaret Beaufort, que nasceu em 1443 e era bisneta de John de Gaunt. Ela casaria-se com Edmund Tudor e passaria sua reivindicação, para seu filho Henrique Tudor, que a usaria no lugar de sua mãe, em 1485, em sua vitória em Bosworth. O patriarca da família Beaufort, após a morte do pai de Margaret, foi seu tio, Edmund Beaufort, que tornou-se o segundo Duque de Somerset e foi um dos principais personagens da Guerra das Rosas e um Lancaster convicto. Sua rixa pessoal com o Duque de York, ajudou a alimentar o descendente para a guerra e ele fora morto em St Albans, em 1455. Seu herdeiro, Henry Beaufort, foi morto em 1464, após a batalha de Hexham e seus irmãos, Edmund e John Beaufort, foram mortos na Batalha de Tewkesbury, em 1471. Foi com esta batalha, que morreram altos membros Lancaster, Henrique VI, Príncipe Edward e os irmãos Beaufort, que colocaram sob os holofotes, seu jovem sobrinho, Henrique Tudor. Todos os três irmãos Beaufort, morreram sem filhos. A irmã deles, uma outra Margaret Beaufort, casou-se com Humphrey Stafford e seu filho foi Henry, Duque de Buckingham. Buckingham fora descendente Eduardo III através de três de seus quatro avós e isto pode ter desempenhado um papel em sua aliança com seu primo Henrique Tudor em 1483, a fim de tentar derrubar Ricardo III. Parece que Buckingham estava tentando colocar Henrique no trono, mas com um pedigree tão ilustre, pode ser que ele apenas estivesse usando-o como peão para seus próprios fins.
Casa de Stewart:
A neta de John de Gaunt, Joan Beaufort, tornou-se Rainha consorte da Escócia em 1424, por seu casamento com o Rei James I. Juntos eles tiveram oito filhos, dos quais muitos tiveram seus próprios filhos, que tiveram suas reivindicações Lancaster-Beaufort durante o final do século XV. A princesa Isabella Stewart, tornou-se Duquesa da Bretanha por seu casamento com Francis I, tendo duas filhas, Margaret e Marie da Bretanha. O filho da princesa Joan Stewart, John Douglas, foi trineto de John de Gaunt e morreria na batalha de Flodden, lutando contra o exército de seu primo distante, Henrique VIII, enquanto Joan também foi mãe de James II da Escócia e avó de James III. Os Stewarts iriam depois, reivindicar o trono da Inglaterra dos Tudors, através de seus descendentes Beaufort, mas os próprios Tudors, também descendiam do clã.
Casa de Neville:
Os Neville são muitas vezes considerados como tendo sido leais aos Yorkistas, após o papel desempenhado em derrotar os Lancaster durante a primeira fase da Guerra das Rosas de 1455-1471. Mesmo assim, eles também descendiam de John de Gaunt, através de sua filha, Joan Beaufort, que casou-se com Ralph Neville, Conde de Westmoreland. A primeira filha do casal, Katherine Neville, entrou via matrimônio para a família Mowbray e seu neto, foi John de Mowbray, 4 Duque de Norfolk, o trineto de John de Gaunt. A segunda filha, Eleanor Neville, casou-se com Percy Conde de Northumberland, que curiosamente, envolveu-se mortalmente com os Neville, durante a Guerra dos Primos. Os filhos de Eleanor, foram dizimados durante a guerra, com quatro de seus filhos, morrendo durante várias batalhas. Seu irmão, Richard Neville, Conde de Salisbury e seu filho Richard Neville, Conde de Warwick, foram líderes da facção dos Neville e aliados à causa Yorkista, cruciais para Richard de York. Não é à toa que Warwick, ficara conhecido como Kingmaker ”criador de reis”. O Conde de Salisbury teve muitos filhos para passar seu sangue Lancaster, assim como Warwick, incluindo John Neville, Marquês de Montagu e seu filho, George Neville, Duque de Bedford. O irmão mais novo de Salisbury, foi Edward Neville, Barão Abergavenny, que junto com seu filho George Neville, lutou para os Yorkistas em Tewkesbury.
Casa de Stanley:
Eleanor Neville, filha de Richard Neville, Conde de Salisbury, foi neta de Joan Beaufort, e primeira esposa de Thomas Stanley, Conde de Derby. Seus filhos, George Stanley e Edward Stanley, por este motivo, herdaram a reivindicação Lancaster, como tetranetos de John de Gaunt. Eles iriam ligar-se a outro herdeiro Lancaster, Henrique Tudor, após o casamento de seu pai com Margaret Beaufort.
Casa de York:
Talvez os herdeiros mais impressionantes dos Lancaster, fora a própria Casa de York, que havia os colocado de lado para herdar o trono. A reivindicação vinha de Cicely Neville, filha de Joan Beaufort e por isto, neta de John de Gaunt. Casada com Richard, Duque de York, ela uniu então, sua reivindicação Lancaster com a reivindicação Yorkista e Mortimer de seu marido, que passou para seus filhos, incluindo os Reis Eduardo IV e Ricardo III.
Conclusão:
Espero que este artigo, sirva para iluminar um pouco esta parte do período histórico inglês, que fora tão importante para entendermos melhor os fins políticos da Dinastia Tudor, assim como as respectivas reivindicações de cada nobre inglês e europeu, durante a Guerra das Rosas. Em todo modo, podemos dizer que a vitória de Henrique VII em Bosworth, fora mais que merecida, levando embora, qualquer dúvida sobre seu direito ao trono!
FONTES:
Artigo traduzido do orginal da página Nathenamin: AQUI.