Maria manteve estreitos laços com suas damas de companhia, mulheres que testemunharam em primeira mão, os períodos mais agitados de sua vida. Elas a acompanhavam em todos os lugares e apreciaram os luxuosos entretenimentos da Corte, tão importantes no século XVI. Porém, o que aconteceu com as quatro mulheres designadas como companheiras e mais tarde, damas de companhia da rainha escocesa? Neste artigo, saberemos então, qual foi o destino de cada uma delas.
”…À tarde a Rainha tinha quatro Marias,
Porém à noite terá apenas três,
Eram Mary Seton e Mary Beaton,
e Mary Carmichael e eu…”
E é assim que cantam a antiga balada, sobre as quatro amigas e companheiras da quinta Maria – Mary Stuart. O destino e trágico fim que sofreu esta Rainha, todos sabem, mas e o destas quatro Marias? O que aconteceu com elas?
Maria Stuart, tornou-se Rainha da Escócia desde seu berço. Seus primeiros anos foram passados em uma atmosfera preocupante ao lado de sua mãe, Marie de Guise, que tentava proteger seu rebento dos predatórios nobres escoceses, que lutavam pela regência e controle da pequenina rainha. A nobreza foi dividida entre os que apoiavam a tradicional aliança franco-católica que Maria representava e os que seguiam a recém protestante Inglaterra, a fim de apoiarem uma reforma em solo escocês.
Apesar deste clima de desfavorável tensão, Marie de Guise procurou dar à sua filha uma vida feliz, designando quatro jovens para serem suas companheiras e mais tarde, damas de companhia. O que todas estas meninas possuíam em comum, bem como o nome de batismo, era o nascimento nobre e semelhança de idade com a Rainha. Houve também – deliberadamente ou não – um trocadilho na escolha de meninas chamadas Maria, já que “Marie” era uma palavra escocesa, que designava uma dama de companhia, derivada do islandês ‘maer’, que seria maid.
A balada retratada acima, erra um pouco os nomes – estes eram Seton, Beaton, Fleming e Livingston. A mãe de Fleming, Janet – Lady Fleming, foi meia-irmã ilegítima do pai de Mary, James V, e Livingston, foi filha do guardião da rainha, Alexander – 5 Lord Livingston. O avô de Beaton era primo em primeiro grau do Cardeal David Beaton, um dos homens que disputavam o papel de regente, enquanto Seton era filha de George – 4 Lord Seton, sendo ela e Beaton, filhas de duas damas de companhia de Marie de Guise.
Da Escócia, rumo à França:
O local que Marie de Guise escolheu como mais propenso a manter a pequena rainha segura durante aquele conturbado período, foi a quase inexpugnável fortaleza do Castelo de Stirling. No entanto, logo mais, tornaria-se evidente que esta não era uma solução segura a longo prazo. O reino Inglês, primeiramente sob o comando de Henrique VIII – tio-avô de Maria – e em seguida, sob o do conselheiro e Lord Protetor de Eduardo VI, determinaram que ela deveria casar-se com Eduardo – uma solução apoiada por alguns nobres escoceses.
Marie de Guise e a facção pró-francesa entre os nobres, estavam determinados a impedir tal tentativa, visando favorecer a “Auld Alliance” com a França – especialmente quando esta, vinha com o belo apoio das pensões francesas – e destinava casar Maria, com o herdeiro e Dauphin francês, Francois – filho do rei Henrique II da França. Em meio aos preparativos para uma fuga à França, a rainha foi primeiro enviada à Inchmahome Priory, e depois para a costa, em Dumbarton. Foi em Inchmahome, que as quatro Marias juntaram-se à sua comitiva. Em 1548, elas então, partiram rumo à França.
A viagem fora conturbada e difícil – todos, exceto a Rainha, foram atingidos por fortes enjôos. Livingston e Fleming, pelo menos tiveram o consolo de viajar com suas famílias, uma vez que Lord Livingston e Lady Fleming, acompanharam a rainha como tutor e governanta. Na chegada, Maria foi imediatamente levada à nursery do rei Henrique, enquanto suas quatro companheiras, foram mandadas para outro local.
A razão para Henrique II separar Maria de suas companheiras, era a seguinte: primeiro, ele gostaria que ela falasse francês ao invés de escocês e segundo, ele queria que seus amigos mais próximos, fossem suas filhas, as princesas Elisabeth e Claude. Henrique nunca fora avesso aos escoceses, a prova disto, é que Lady Fleming, mais tarde fora enviada à Escócia em desgraça, carregando um filho seu no ventre.

As quatro Marias, foram então despachadas para o priorado Real dominicano de Saint Louis em Poissy. Longe de ser um retiro, Poissy era a vanguarda de aprendizado da renascença, mantendo estreitos laços com à Corte francesa. Foi lá que as Marias receberam uma educação completa à moda renascentista; altamente instrutiva e humanista, envolvendo todas as habilidades necessárias para no futuro, serem dignas de desposarem nobres e tornarem-se assistentes de uma Rainha francesa.
Seton, parece também ter aprendido a cuidar de cabelos e penteados. Sua habilidade em pentear Maria – primeiramente com o já muito elogiado e encaracolado cabelo acobreado europeu; e mais tarde, quando estes tornaram-se ralos, acinzentados e adornados por perucas – sempre fora comentada e elogiada. Mais tarde, as Marias retornaram à casa da rainha, onde desfrutaram dos prazeres domésticos, como fazer geléias, compotas e frutas cristalizadas.
No centro do furacão – A Corte Escocesa:
Maria casou-se com Francois em 1558. Após seu breve período como rainha da França, a viúva – Francois morreu em dezembro de 1560 – retornou à Escócia em 1561, com 18 anos e pronta para assumir o encargo da soberania. As Marias, voltaram com ela, agora, como suas damas de companhia.

Os primeiros anos na Escócia foram retomados com a determinação de Maria em controlar a complexa situação política com que fora confrontada. Um grupo de nobres, liderado por James Stewart, primeiro Conde de Moray (meio-irmão de Mary), e denominando-se os Lordes da Congregação, haviam se convertido (alguns com um pouco mais de veemência que outros) para o protestantismo, mudando a religião oficial da Escócia. Isso os levaram a procurar o apoio da Inglaterra protestante, ao invés da França católica.
Mary tentou orientar um curso entre as diferentes facções que buscavam dominá-la. Quando não estava a serviço do Estado, a rainha recriou alguns dos esplendores da luxuosa corte francesa, sendo então auxiliada por suas Marias. As quatro Marias seguiam a rainha por toda parte, inclusive estiveram ao seu lado no parlamento, em 1563. Elas, que dividiam simples penicos em seus quartos, sabiam que sentarem-se na presença de um monarca em tais ocasiões, era uma extraordinária honra, e faziam por merecer tal confiança. Elas tomaram os principais papéis na pródiga Corte, com os tão importantes entretenimentos da monarquia do século XVI. Faziam mascaradas, tocavam, visitavam embaixadores, montavam, caçavam e praticavam falcoaria com a rainha e seus nobres.
Em âmbito mais informal, elas ajudavam à Rainha a vestir-se ricamente, para caminhar ao redor de Edimburgo e St Andrew, faziam compras no mercado e cozinhavam. Elas chegaram a vestir trajes masculinos em certa ocasião, um banquete para o embaixador francês, bem como por razões práticas, como a caça – que ultrajou os radicais religiosos do período.
Para a infelicidade de Maria, seu maior inimigo em casa, foi John Knox. Knox, um calvinista militante, foi ainda mais misógino que a maioria dos homens do período, e passou um bom tempo lutando contra o domínio feminino, em tomos como “A primeira explosão da trombeta contra o monstruoso regimento das mulheres”, e arengando Mary, tanto em público como em privado. Knox fez o máximo para transformar cada passatempo inocente das jovens e sua rainha na Corte, em uma luxuriosa vida imoral.
Graças a isso, novamente surgiu uma pressão para que a rainha se casasse. Muitos nobres em casa ou no exterior, estavam interessados em desposar a jovem Rainha e colocarem suas mãos sob a coroa escocesa. Em um assustador incidente, um jovem poeta insensato, Chastelard, foi encontrado escondido sob a cama real. Depois deste acontecimento, Maria ficou muito nervosa em dormir sozinha e nomeou Fleming, como sua ‘companheira de cama’. A afeição da rainha com suas Marias, foi um argumento utilizado para persuadi-la a tomar um marido, já que elas haviam prometido permanecerem solteiras enquanto ela também estivesse. Maria casou-se novamente em julho de 1565, mas a vida de todas as Marias, provavelmente teria sido melhor, se a Rainha houvesse continuado viúva – o casamento com Lord Darnley (quem desposou em 1565) foi desastroso.
Tudo por um amor:
Sejam qual forem as intenções matrimoniais anteriores das Marias, a primeira delas, Livingston, casou-se em março de 1565, com John Sempill, filho de Robert – Lord Sempill. Knox, que havia referido-se à Livingston como “vigorosa”, sugeriu que o

casal foi apressado – Livingston e Sempill, que era um notável dançarino, haviam noivado rapidamente e com isto, Knox interpretou que ela estaria grávida. Parece improvável, como o noivado ocorreu um ano antes do casamento e o primeiro de seus vários filhos, não nasceu até um ano depois.
A rainha compareceu à elaborada cerimônia, e deu-lhes de presente uma cama, com veludo negro e escarlate pendurados, seguidos de cortinas bordadas com tafetá e franjas de seda. Livingston permaneceu na corte como guardiã das jóias da rainha. Quando Mary fez um testamento em 1566, Livingston elaborou um inventário de suas jóias – cujos modelos seriam legados às Marias, caso a rainha morresse dando à luz.
Beaton, considerada a mais bonita das quatro Marias, chamou a atenção de Thomas Randolph, o embaixador Inglês. Com cerca de duas vezes a sua idade, talvez ele esperava que sua posição atraísse ela. O biógrafo da rainha, John Guy, refere-se a eles como amantes, mas parece pouco provável que uma das amigas mais próximas da rainha, exporia Mary aos riscos de vazamentos de informações confidenciais – a menos que Beaton estivesse agindo à mando de Maria, para extrair informações de Randolph.
Beaton deve ter tido a reputação de ser politicamente influente com a rainha, já que recebeu cartas e presentes da esposa de Sir Nicholas Throckmorton, um dos outros embaixadores ingleses. Beaton foi cortejada por Randolph por algum tempo, mas em 1566, casou-se com Alexander Ogilvy, por quem ela teve pelo menos um filho. Ela morreu por volta de 1598, e seu viúvo prontamente casou-se com Lady Jean Gordon, a mulher que James Hepburn, Conde de Bothwell, havia dispensado ao casar-se com a Rainha Mary.
Livingston era espirituosa e Beaton a mais bonita, mas Fleming, aparentemente, levou a palma para a atratividade total. Como ‘Queen of the Bean” nas cerimônias da duodécima noite em 1564, ela estava vestida em tecido de prata e jóias, e esta rosa sem espinhos, ficou tão deslumbrante, que atraiu prosas e poesias panegíricas. Fleming foi cortejada em 1564 por William Maitland de Lethington. Maitland tinha um conturbado histórico à serviço de Maria: um dos poucos nobres que era protestante por convicção, ele juntou-se aos Lordes da Congregação e era amigo de Sir William Cecil, o secretário de Estado Inglês, cuja grande parte da vida fora dedicada a eliminar Mary.
Maitland falhou em avisar Maria da conspiração para assassinar seu secretário, David Rizzio, e é provável também, que ele soubesse da trama contra Darnley – Darnley e um grupo de nobres protestantes, esfaquearam Rizzio até a morte, em 9 de Março de 1566, depois que fora convencido de que ele, era amante de Maria. Ela nunca perdoou Darnley, que foi assassinado em 9 de Fevereiro de 1567.

Fleming, é claro, provavelmente não tinha idéia da extensão da duplicidade de Maitland. Maitland parece ter caído de cabeça em sua paixão, e seu amor foi o assunto de algum escárnio na Corte – ele era quase 20 anos mais velho do que ela, e foi descrito por um cortesão, como sendo tão “adequado para ela, como sou para ser papa”.
Maitland foi identificado como o principal suspeito em falsificar as letras do casket letters, principal fator acusatório da cumplicidade de Maria, no assassinato de Darnley. O casket letters, contêm oito missivas e uma série de sonetos dito ter sido escrito por Mary, rainha da Escócia, ao Conde de Bothwell, entre janeiro e abril de 1567. Eles foram produzidos como prova contra ela, pelos Lordes escoceses, que se opunham ao seu reinado.
Quaisquer que sejam suas maquinações, Maitland mais tarde tornou-se um adepto do que ficara conhecido como, ”The Queens Party”, que desejava restaurá-la ao poder, ou pelo menos a colocar na regência de seu filho, James. O Queens Party, que incluiu Fleming e Maitland, foi realizado no Castelo de Edimburgo em 1573, mas quando foram capturados pelo Ingleses, foram entregues ao regente, Morton.

Fleming foi libertada, lutando para manter seu colar de diamante e rubi, que havia sido da rainha Mary; enquanto Maitland, que foi levado para fora do castelo em uma liteira, morreu antes que pudesse ser levado a julgamento. Boatos sugeriam um suicídio. O King’s Party, planejou como punição, o hang, draw and quarter de seu cadáver, mas Fleming escreveu a Cecil, pedindo-lhe para intervir. Ele passou o pedido para Elizabeth, que pediu aos Lordes escoceses, para pouparem o corpo.
Fleming esperou até 1583, para que as terras de Maitland fossem restauradas. Ela e Maitland tiveram dois filhos – um menino James, convertido para a antiga fé, que fugiu para a França; e uma menina, Margaret, que tornou-se Condessa de Roxburghe.
A quarta Mary, Seton, nunca se casou, mas ficou com sua senhora por muitos anos. Após a rendição em Carberry Hill – Maria rendeu-se e depois foi para o exílio na Inglaterra, seguido da batalha de mesmo nome, em 15 de junho de 1567, que teve lugar perto de Edimburgo, após uma série de Lordes escoceses se oporem ao governo de Mary, diante de seu matrimônio com Conde de Bothwell, que muitos acreditam ter assassinado seu antigo marido, Lord Darnley – ela juntou-se à Mary em cativeiro no Castelo de Lochleven.
Por estar em uma janela, vestida com as roupas da rainha, ela deu à Mary, tempo para escapar do castelo e fugir, atravessando o lago em um barco a remo. Mais tarde, quando Mary fugiu para uma prisão até mais onerosa na Inglaterra, Seton foi autorizada a juntar-se a ela, e passou 15 anos encarcerada em uma série de castelos, onde Mary passou seus últimos anos.
Em 1570 a mãe de Seton escreveu para ela, e foi presa pelo Partido do Rei, que tentou bani-la da Escócia por se comunicar com a comitiva de Maria. Elizabeth interveio, pedindo paciência “se o problema não for maior” do que escrever à sua filha.
Em 1583, até mesmo a devoção e saúde de Seton foram cobradas pelo longo período em confinamento, e ela foi autorizada a retirar-se para um convento francês em Reims. Seton viveu para ver o filho de Maria herdar a coroa da Inglaterra, antes de morrer em 1615. Ela foi enterrada no convento onde havia estado por mais de 30 anos. Foram seus últimos pensamentos, dedicados à carismática rainha, a quem ela havia servido tão fielmente, ou tudo no final, pareceu apenas um sonho distante?
“Mas por que eu deveria temer uma lápide sem nome
Quando anseio pela eternidade…
Eram Mary Seton e Mary Beaton,
E Mary Fleming e eu…”
FONTES:
Artigo escrito por Melita Thomas: AQUI.
A série popular Reign, mostra de maneira quase totalmente romanceada, o relacionamento de Mary com suas damas de companhia.
Excelente blog
Parabéns pelo trabalho
Maria Esther
Muito obrigada, Maria Esther. Ficamos felizes que tenha gostado! 🙂