O Porquinho-da-índia no Período Tudor

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Os porquinhos-da-índia, foram domesticados por volta de 5.000 a.c., servindo como alimento para o povo da região andina da América do Sul (atual parte sul da Colômbia, Equador, Peru e Bolívia), alguns milhares de anos após a domesticação dos camelídeos sul-americanos.

GallinazoceramicvesselExistem estátuas de porquinhos, datadas de 500 a.c., que foram desenterradas em escavações arqueológicas no Peru e Equador. O povo Moche, do antigo Peru, adorava estes animais e muitas vezes representava-o em sua arte. A partir de 1.200 dc, até a conquista espanhola em 1532, cruzamentos seletivos resultaram em muitas variedades de porquinhos domésticos, que formaram a base da dieta local. Até hoje, eles são uma fonte de alimento na região; os folclores envolvendo os porquinhos, são numerosos; eles são trocados como presentes, usados em cerimônias religiosas e sociais, e frequentemente referenciados em metáforas faladas. Eles também desempenham um papel em rituais de cura tradicional por médicos populares – ou curandeiros – que usam os usam para diagnosticar doenças como icterícia, reumatismo, artrite, e etc. Eles são friccionados contra os corpos dos doentes e vistos como criaturas de poderes sobrenaturais.

Mas como estes animais, que são parte essencial da cultura andina, foram parar na Inglaterra Tudor?

Os porquinhos-da-índia, foram introduzidos na Europa, por comerciantes espanhóis e holandeses, após a conquista do Peru, em 1532. Foram descobertos em sítios arqueológicos em solo europeu, os restos de apenas três porquinhos. Primeiramente, eles foram considerados exóticos e caros – destinados apenas à nobreza e realeza – porém, um novo estudo arqueológico, feito no terceiro esqueleto, descoberto em Mons, na Bélgica – em 2007 – prova que de fato, eles foram rapidamente introduzidos ao alcance da classe média européia.

il_fullxfull.276984323O registro mais antigo conhecido de um porquinho da Índia, data de 1547, em uma descrição do animal em Santo Domingo; mesmo assim, eles não são nativos da Hispaniola. Acreditam que ele fora anteriormente introduzido por lá, por viajantes espanhóis, com base em escavações mais recentes nas ilhas das Índias Ocidentais. Porém, ossadas foram encontradas em Porto Rico, muito antes do advento dos espanhóis. O porquinho-da-índia, foi descrito pela primeira vez no Ocidente, em 1554, pelo naturalista suíço Conrad Gessner.

Ao que parece, na Europa eles eram fundamentalmente domesticados. Um estudo publicado no jornal Archaeological Science, analisou os restos do porquinho de Mons. Eles confirmaram que o esqueleto pertencia a um porquinho domesticado. Eles também foram capazes de confirmar usando datação por radiocarbono e camadas de terra do sítio arqueológico, que o animal morreu no final do século XVI – início do XVII. A Análise isotópica dos ossos do porquinho de Mons, apontou que ele alimentava-se de lixo e sobras de comida, ao contrário dos porquinhos andinos, que alimentavam-se principalmente de pequenas aves e milho. Então é possível que tenha sido um porquinho nascido e criado na Europa. Seu esqueleto foi descoberto completo e enterrado em sua formação original, mostrando que ele não fora fonte de alimento. Se houvesse sido comido, haveria algum tipo de desmembramento. Ele foi carinhosamente, enterrado no local.

Captura de Tela 2015-05-18 às 21.07.42Graças a cerâmica e copos encontrados em Mons, os donos do porquinho, foram identificados como membros da classe média, sugerindo que “o animal estava disponível para várias classes de populações e não apenas os aristocratas”.

Isto não significa que os europeus do período não os comessem. Um livro escrito pelo agricultor francês, Olivier de Serres em 1563, mostra o outro destino que eles poderiam ter – ele aparentemente achou o sabor menos agradável sem a utilização abundante de especiarias – mas esta é a única referência do período, de porquinhos da índia serem consumidos na Europa.

Este estudo mostrou que os porquinhos-da-índia, foram amplamente difundidos durante os séculos XVI e XVII. Ou seja, os porquinhos começaram como animais exóticos, mas sem dúvidas, graças a sua excepcional habilidade de reprodução precoce, levaram apenas alguns anos para que eles partissem das ricas casas senhoriais, até os becos e subúrbios europeus.

Elizabeth Reitz, uma zooarqueóloga da Universidade de Georgia em Atenas, disse que o estudo é minucioso e realmente ”atinge todas as bases”.

 “Sua interpretação de que houve um enterro para este porquinho, é provavelmente real”, disse Reitz.

Na Inglaterra Tudor:

(c) Saffron Walden Town Council; Supplied by The Public Catalogue Foundation
Em 1554, Sir Thomas Smith adquiriu a propriedade de Theydon Mount em Essex, e em 1557, começou a reconstruir o edifício principal na propriedade – Hill Hall. Sir Thomas era de origem humilde, mas de intelecto precoce, movendo-se em ambos os círculos acadêmicos e jurídicos; ele então, serviu como embaixador na França. Suas empreitadas de construções, tornaram Hill Hall, um dos melhores exemplos da arquitetura Tudor no país, incorporando influências artísticas do continente. Quando morreu em 1577, suas obras de construção ainda estavam em pleno andamento. Assim como o estilo arquitetônico, o alto padrão de vida de Sir Thomas, é exemplificado por fragmentos de cerâmica de alta qualidade e vidro recuperado de escavações em Hill Hall, em 1982/5, sob a vanguarda da English Heritage, e posteriormente publicado com a ajuda de Wessex Archaeology.

Entre os restos deste edifício elisabethano, em uma camada datada de 1574-5, estava a ossada de um porquinho-da-índia. Esta foi uma descoberta e tanto, uma vez que eles até então, ainda eram extremamente raros em contextos arqueológicos na Europa. Elizabeth I também foi conhecida por ter um porquinho-da-índia, e é fácil ver como Sir Thomas – que manteve uma alta posição na Corte – pode adquirir tal espécime como uma curiosidade para um zoológico pessoal.

Além do exemplo de Sir Thomas Smith, uma pintura pouco conhecida de três crianças elizabetanas, pode ser a primeira já existente, contendo um porquinho-da-índia. Esta pintura a óleo do século XVI – datada de 1580 aprox. – mostra o animal sendo embalado por três crianças desconhecidas. Ele faz parte da exposição Elizabeth I and her people, do National Portrait Gallery, em Londres. Especialistas acreditam que ela é a mais antiga representação de um porquinho-da-índia em um retrato.

Um porta-voz da galeria, disse: “Nós sabemos que os porquinhos foram introduzidos na Europa por comerciantes e mantidos como exóticos animais de estimação”.

guinea-pigs-bonesO mais jovem está segurando um pintassilgo, animal de estimação popular entre as crianças, devido a sua bela plumagem, e muitas vezes retratado simbolizando o cristianismo, pois muitas aves foram usadas nas descrições do menino Jesus. O irmão mais velho, evidentemente, fora consideradas demasiado crescido para possuir tais animais de estimação. Acreditam que as crianças – com idades de seis, sete e cinco anos – foram filhos de uma rica família da nobreza ou aristocracia, por estarem elegantemente vestidos.

Uma porta-voz da galeria acrescentou: “Os retratos de crianças, tornaram-se populares em toda a Europa, entre a nobreza e aristocracia no século XVI, permitindo que as famílias documentassem sua linhagem e fertilidade, e capturassem a imagem destes indivíduos, uma vez que a taxa de mortalidade infantil era alta.”

main (2)Acreditam que a pintura tenha sido feita por um artista holandês ou flamengo anônimo. Os artistas norte-europeus, eram muito requisitados pela nobreza e aristocracia inglesa, pois tinham a capacidade de retratarem com precisão, todo e qualquer botão de ouro, pérolas e grande ostensividade dentro dos retratos familiares.

Além do porquinho-da-índia, outros animais aparecem na exposição, incluindo um elefante no brasão de uma família, um anel no formato de um gafanhoto, e uma bolsa no de um sapo. Fora recentemente descoberta uma miniatura de Elizabeth I, por Isaac Oliver, onde podemos vê-la com um pavão. Além destes animais, William Cecil – Lord Burghley, aparece montado em uma mula e a própria rainha, é retratada com um arminho.

Bônus:

Sabem quem mais adorava porquinhos-da-índia? O pintor flamengo Jan Brueghel, o Velho. Ele colocava-os em diversas pinturas, incluindo pelo menos quatro das pinturas que fez com seu amigo Peter Paul Rubens (O Jardim do Éden, Flora e Zephyr, O Retorno de guerra: Marte Desarmado por Vênus e a Madonna e a Criança). Ele usou-os para representar a fecundidade.


FONTES:
Wessexarch: AQUI.
Folksy: AQUI.
The Potteries Guinea Pig Rescue: AQUI.
The History Blog: AQUI.
National Geographic: AQUI.

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