Antes de ler este resumo, recomendamos a leitura do resumo do primeiro episódio Three Card Thick: AQUI.
Wolf Hall é uma minissérie inglesa de televisão do canal BBC Two – com sete capítulos – baseada no livro homônimo de Hilary Mantel. O desenrolar da história ocorre no período Tudor e mostra o conturbado momento durante o reinado de Henrique VIII, onde ocorre a Reforma inglesa, execução de mártires, anulação do casamento de Catarina de Aragão e matrimônio com sua amante, Ana Bolena; tudo isto, sob o metódico ponto de vista de Thomas Cromwell – o filho de um ferreiro que foge do abuso familiar, tornando-se advogado e mais tarde, estadista e primeiro-ministro de Henrique VIII.
Esta minissérie não fala sobre poder, não, isso é algo muito sintético; ela fala sobre o que faz uma pessoa desejá-lo tanto e o que ela pode ser capaz de fazer para consegui-lo. O núcleo inicial, trata de pessoas comuns que subiram na vida, indo parar em uma das maiores Cortes européias. Thomas o filho do ferreiro, Thomas o filho do açougueiro, Bolenas os camponeses… Porém, a Corte inglesa era um pântano arenoso, se não soubesse dançar conforme a música, sua queda seria tão rápida quanto sua ascensão.
Os episódios são deliciosos, a maneira humana como mostram os personagem históricos, tão dicotômicos atualmente, nos faz sentir como se fossemos transportados ao núcleo de intrigas inglesas do século XVI. Por este motivo, resolvemos fazer um resumo de cada episódio, para que possam sentir e entender do que se trata, uma das melhores produções atuais sobre o período Tudor.
Episódio #2: Entirely Beloved:
”- Mestre Cromwell, sua reputação é ruim… (Henrique)
*silêncio*
– Você não se defende? (Henrique)
-Sua Majestade pode formar suas próprias opiniões… (Cromwell)”
Enquanto Cromwell luta para salvar seu mestre em meio a chantagens, quedas de favores reais e abandonos, ele não tem opção, a não ser recorrer a Henrique. O monarca que também possuí um coração batendo em seu peito, sente-se compelido à ajudar seu antigo amigo e favorecido, porém, sem que sua Corte o escute, afinal, como um bom monarca renascentista, Henrique sabia que teria de manter a famosa pose do príncipe temido de Maquiavel e escolher qual dos dois corpos do rei eles veriam, o pessoal, ou o político.
Novamente vemos o esboço de um embate entre Cromwell e More, que possuem uma relação antiga, muito interessante e complexa, baseada em ego, poder e disputas dentro da dura vida de ascensão social inglesa e convicções pessoais. Ao vê-los, a primeira coisa que nos vem à mente, é a guerra fria, travada episódio atrás de episódio entre estes homens.
Maria Bolena é a uma menina tola e impulsiva, porém, que opta por viver sua vida, e por esta escolha – dentro de uma sociedade essencialmente patriarcal, onde a mulher, nada mais é que um joguete usado por seus familiares – ela paga um preço muito alto. É rejeitada por sua família, e constante alvo de deboches da irmã e de toda a corte. Numa cena muito bem construída, ela aparece desabafando a Cromwell, sobre sua insustentável situação. É quase impossível, não sentir uma crescente empatia pela esquecida e subestimada irmã Bolena…
A vida no seio da Corte inglesa, começa a mostrar seu preço. A intrigas nunca param e tudo acontece ao mesmo tempo. A perseverante Ana, tenta aliar Cromwell a sua facção, ao mesmo tempo que ele, tem de lidar com seus inimigos (que antes de tudo, são inimigos de seu senhor). É neste momento que ele bate de frente com a invisível Jane Seymour. Jane é uma incógnita, pois ela chegará muito longe, não por ser uma filha de grandes reis ou por ser sedutora e perseverante, mas justamente por ser o oposto de suas predecessoras ( o que muitos consideram como pouco, mas não é). Afinal, como sabemos, às vezes o melhor jogador, é o mais calmo e cuidadoso.
O ponto alto do segundo episódio, é quando os nobres discutem sobre a sucessão. Enquanto Henrique diverte-se com os passatempos da Corte, Cromwell ouve atentamente a conversa de Norfolk, Norris e Suffolk. Os três dizem que é impossível e contra a natureza, uma mulher subir ao trono inglês; afinal, não é capaz de praticar os ditos ”atos masculinos”, como liderar um exército. É ai que Cromwell interfere na conversa dos lordes, lembrando-lhes que está equivocada visão, condiz muito mais com a vontade pessoal dos que falam, que a realidade, já que a própria avó da princesa Maria, liderou exércitos. Vale ressaltar, que Catarina liderou o exército inglês na batalha de Flodden, Maria liderou o exercito quando foi proclamada rainha, e Elizabeth liderou um exercito quando enfrentou a armada espanhola. Ou seja, eles nada sabem do poder de uma mulher e o principal, nunca deve-se subestimar ninguém.
Henrique admira-se da lealdade que Cromwell esboça a Wolsey e o quão longe ele pode chegar por ela, e acaba desabafando com ele várias vezes, sobre não ter um herdeiro, sobre ter herdado o trono que deveria ser de seu irmão e sobre os monastérios. Tudo pesa em sua mente e passa a ser Cromwell – com sua calma e racionalidade – a pessoa adequada para escutá-lo e incentivá-lo a tomar as rédeas de seu reino.
Wolf Hall é uma das poucas séries que aborda a reforma religiosa inglesa, onde podemos vislumbrar de forma tão crua, a política do período. Diferentemente de outros filmes e séries, onde o foco sustenta-se sempre no “surreal e infindável amor platônico, ou paixão ardente…” e mais vários outros blá blá blás que os os romancistas (e hollywood) adoram nos fazer engolir, a autora e a série mantiveram-se fiéis a um dos aspectos mais incríveis, mais complexos e menos atraentes ao grande público: a política por detrás dos panos.
O divórcio do rei e da princesa espanhola vai muito além da necessidade de um herdeiro ou de uma “paixão” intempestiva; é em sua essência, política pura: Envolve o poderio da Espanha/Áustria Habsburgo, um dos maiores impérios da História dando seus primeiros passos, envolve a rival de todos e amiga de ninguém: França querendo dar seu pitaco, envolve a Inglaterra que não era nem de longe, a sombra da atual e muito menos uma Corte de peso substancial na Europa (sinto muito gente, História política nua e crua: Inglaterra desempenharia seu poder em solo Europeu, séculos depois e não no XVI). Envolve Roma que depois de combater e varrer os “infiéis” e ”hereges” muçulmanos, combate também, todos seus contrários dentro da cristandade, em uma contra-reforma incansável.
Wolsey morre e Cromwell tem que engolir, o duro festejo dos inimigos de seu mestre, e a peça escrita por Ana – que debocha de um Wolsey pecador no inferno. É naquele momento, que o filho do ferreiro – Thomas Cromwell – coloca todas as suas peças no tabuleiro, decide o que vai fazer e o caminho que vai tomar: a vingança pelo seu senhor.
Continua em: Episódio #ANNA REGINA