No dia 12 de julho 1543, duas dezenas de convidados amontoaram-se em uma pequena capela em Hampton Court, para ver seu monarca, casar-se pela sexta vez. O casamento, ao contrário do esperado, fora discreto, levando a comunidade diplomática presente, a surprender-se com tal fato.
Notou-se que “o rei desposou a rainha em privado e sem cerimônia”. O noivo, no entanto, estava entusiasmado quando tomou seus votos, sustentando um “alegre semblante”. Henrique apesar de tudo, estava velho – tinha 52 anos – e bastante doente. Sua nova esposa, Catarina Parr, não era tão jovem como a pueril Howard; aos 31 anos de idade, ela fora duas vezes viúva e uma madrasta experiente para a prole real. Certamente, este foi um casamento nascido do senso comum. Como sabemos, dentro destas uniões, a paixão joga uma pequena e quase irrelevante parte; ou será que não!? Os românticos vitorianos, retratam o casal como: o tirano irascível e sua digna enfermeira matrona. A verdade, porém, era muito diferente.
Ao contrário do que muitos gostam de acreditar, o velho e cansado Henrique, estava procurando uma esposa, não uma enfermeira ou dona de casa. Ele queria uma companheira para sua cama, que pudesse agraciá-lo com herdeiros e levar seu papel de rainha consorte, de modo impressionante. Catarina, que havia desistido de outro homem para desposar o monarca, estava ciente de que seus deveres, definitivamente caminhariam para mais que uma polida conversa e um afago na testa real. Sua determinação em tornar-se um sucesso, levou o casal real à uma grande afeição, que em Maio de 1546, pode ter salvado sua vida.
Catarina Parr não era uma beldade. Com sua pele de alabastro, cabelos arruivados e olhos cinzentos, ela tinha o que era agradável ao período, porém, em uma Corte de jovens frívolas, era em seu aguçado intelecto e dom de conversação, que a viúva escondia sua verdadeira natureza sensual. Seu outro pretendente, Sir Thomas Seymour (ex-cunhado do rei), já havia percebido isto, assim como Henrique.
Até agora, as cortinas ao redor do leito marital de Henrique VIII e sua última esposa, haviam sido mantidas firmemente fechadas. Havia no entanto, sem dúvidas, relações sexuais. Catarina levou à sério seus votos para ser “Boa e obediente, na cama e na mesa”. Ela banhava-se com leite, para manter sua pele macia e um dia após seu casamento, ordenou que “perfumes finos” fossem trazidos para seus quartos em Hampton Court. Ela estava claramente determinada, a tornar seu corpo tão atraente quanto sua mente.
O pesado e doente Henrique em suas vestes de dormir, deve ter sido uma visão arrebatadora. Um ano antes de sua união definitiva, já era notado que o monarca estava “muito gordo e tornando-se diariamente mais pesado… três dos maiores homens da Corte, poderiam caber dentro de seu gibão”. A dor e doença em sua perna purulenta, haviam deixado uma profunda marca nele. Entre 1543 e 1545, ele passou a usar 300 pares de meias por ano. Este era o homem que Catarina havia tomado como seu terceiro marido. Ele adorou-a e fascinou-se por ela rapidamente – mas ela poderia tê-lo amado?
No início, quase certamente não. Ela casou-se com ele, por interesses familiares e acima de tudo, por não poder recusar. Ela era obediente e disposta a convencer-se de que seu destino era a vontade de Deus. No entanto, Catarina também era uma mulher amorosa e otimista, bem como inteligente. Ela sabia que a oportunidade que havia agarrado era muito grande e logo pensou em transformá-la em algo vantajoso.
O desenvolvimento de um bom relacionamento com todos os três filhos do rei, certamente fora importante, mas no coração da estratégia de Catarina, repousava o próprio Henrique. O monarca não era simplesmente um monstro com sobrepeso, mas um homem solitário e infeliz após o desastre de seu casamento com a jovem e acima de tudo, inexperiente Catarina Howard. Parr reconhecida sua necessidade de amor e atenção. Circunstâncias lhe permitiram estabelecer-se rapidamente como uma grande influência em sua vida, como a peste os manteve continuamente fora da capital e em companhia um do outro, durante seis meses. Tal cenário, mostrou-se uma base ideal para o desenvolvimento do relacionamento. O rei presenteou-a com belas jóias, peles e roupas caras, confiou o país à sua regência – enquanto lutou contra os franceses pela última vez em 1544 – e acreditou poder ter filhos com ela.
Henrique e Catarina compartilharam muitos interesses, desde caça e arco e flecha, até música, mascaradas e livros. Ela era uma dançarina graciosa e ambos amavam os irmãos venezianos Bassano, músicos patrocinados por ela. Henrique, um homem culto, estava encantado de ter uma rainha que inspirou o respeito de embaixadores e com quem poderia conversar e debater inúmeros temas. Marido e mulher estavam comprometidos com a crença do século XVI, na aprendizagem ao longo da vida. Catarina lustrou seu latim e começou a editar e escrever livros religiosos, assim que seu compromisso em fazer avançar a causa da nova reforma cresceu. Em 1545, ela tornou-se a primeira rainha da Inglaterra a ser publicada, quando cópias de seu livro, ”Orações ou Meditações”, foram produzidas pelas prensas reais. Sua influência sobre Henrique, parecia inabalável.
Mas em 1546, o último ano completo da vida do rei, a posição de Catarina ficou ameaçada. A saúde de Henrique diminuiu de forma alarmante, e os atributos negativos de sua personalidade: seu caráter caprichoso, astúcia e imperiosidade, foram amplificados pelo reconhecimento relutante, de sua própria mortalidade. A luta pelo poder para o futuro da Inglaterra, foi travada ao longo de seu corpo doente e sua esposa leal, que sentiu-se segura em sua afeição, devolvendo-a com devoção, encontrou-se no centro do combate.
A Batalha Final:
O emaranhado de histórias de conspirações contra a Rainha, fora contado de forma dramática por John Foxe, quase duas décadas mais tarde. No momento em que Foxe estava escrevendo, quase todos aqueles que haviam sido próximos de Catarina, estavam mortos, de modo que, os detalhes de sua obra, não possam ser verificados. A própria Catarina, nunca falou destes assuntos. Porém, é certo que uma amarga luta entre as forças da reforma religiosa e o conservadorismo, chegaram perto da rainha.
As damas de seu quarto de dormir, foram alvos em busca de livros proibidos, e Anne Askew, uma reformadora sem reservas, foi torturada para que revelasse vínculos próprios com a rainha. Anne foi posteriormente queimada na fogueira, sem nada relatar. Mas uma temerosa Catarina, rapidamente escondeu muitos itens de sua própria coleção de livros, mudou trancos e fechaduras de cofres e até convocou seu tio doente, para apoiá-la neste momento difícil.
Henrique com certeza sabia sobre os pontos de vista e interesses de sua esposa. Foxe acreditou que o monarca os achavam irritantes, não tanto por seu conteúdo, mas pelo fato dela contradizê-lo em público. Ela ainda nem houvera concebido e o tempo estava passando. A tendência de Henrique para aborrecer-se com suas esposas após anos sem herdeiros, tornou-se um catalisador. No entanto, o que aconteceu no verão de 1546, não destruiu seu casamento. Talvez Henrique tenha – como clamou Foxe – dado à uma penitente Catarina ajoelhada a seus pés, a tranquilidade e segurança de seu amor.
Na realidade, ele parece ter estado ansioso em fazer as pazes, ao encomendar “todo tipo de pedras preciosas, pérolas e jóias…peles de zibelinas… para nossa mui querida esposa, a rainha”. Ela, porém, sabia que sua posição havia mudado. Após uma segunda lua de mel no outono, eles se separaram antes do Natal. Henrique precisava colocar seu reino em ordem e preparar-se para sua morte. Não há provas de que Catarina o vira novamente. Seu presente de Ano Novo para o Príncipe Eduardo, foi um retrato dela com seu pai, um indício revelador, de que ela esperava-se agarrar a influencia que um dia houvera aproveitado.
Henrique morreu em 28 de janeiro de 1547. A esperança de Catarina, em ser feita regente do menino, fora frustrada quando Eduardo Seymour assumiu o poder. Na primavera de 1547, Catarina casou-se secretamente com o irmão mais novo de Seymour, Thomas, a quem ela certamente amava, embora o par também esperasse recuperar o controle da prole real através da união.
O casamento foi tempestuoso. Catarina sofreu consideravelmente durante uma gravidez difícil, pois seu marido flertou com a princesa Elizabeth, que vivia sob seus cuidados. Ela morreu de febre puerperal. em 05 de setembro de 1548, após dar à luz a seu único filho, uma menina, nomeada Maria Seymour. Foi um final trágico para esta notável mulher, que havia percebido que casar-se com Henrique VIII era uma tarefa perigosa, porém, com grandes e incríveis recompensas. Ela tentou desde o início ganhar seu coração, e não poderia ter conseguido com mais louvor.
Mas e o campo amoroso do relacionamento de Henrique com suas outras cinco esposas?
1. A primeira esposa de Henrique, Catarina de Aragão, foi uma consorte capaz. Eles se adoravam e por alguns anos, pareciam mais que felizes. Porém, após a rainha parar de sangrar, a falta de um herdeiro varão e a tentação da jovem Ana Bolena e seu ventre vazio, fizeram Henrique insistir em um novo casamento.
2. Ana Bolena esperou seis anos por Henrique, mas sua paixão por ela não sobreviveu muito tempo após seu casamento. Orgulhosa, sensível e temperamental, Ana foi uma cônjuge difícil. Em meados de 1536, a convivência entre o casal, beirava o insuportável. Ana foi acusada de adultério e executada.
3. Henrique casou-se com Jane Seymour, dez dias após a decapitação de Ana. Sua aparência e submissão, agradaram o monarca, por provar ser o oposto de Ana Bolena. Em todo modo, os verdadeiros sentimentos de Jane para Henrique, permanecem um mistério. Ela morreu após o nascimento de seu filho, o futuro Eduardo VI, em 1537.
4. Ana de Cleves casou-se com Henrique em 1540. O rei havia encantado-se por seu retrato, mas tinham muito pouco em comum, como a convivência mostraria. Ele divorciou-se dela, sem consumar o casamento após seis meses de união.
5. Catarina Howard já havia chamado a atenção de Henrique. Ele estava obcecado por sua vivacidade, juventude e sensualidade. Ela no entanto, apenas queria ser rainha. A descoberta do passado e ligações secretas envolvendo a jovem Catarina, deixaram um Henrique devastado. Ela subiu ao cadafalso em 1542.
FONTES:
History Extra: AQUI.
Is there an English translation please?
Hi, you can use the google translator, here:
https://translate.google.com/