As Doenças e Morte de Eduardo VI

em

Captura de Tela 2015-07-18 às 07.37.56Em 1537, a terceira esposa de Henrique VIII, Jane Seymour, finalmente deu à luz ao tão cobiçado herdeiro varão. Ele foi nomeado Eduardo e estava destinado a tornar-se rei da Inglaterra após a morte de seu pai – que ocorreu em 1547.
A infância do príncipe, foi passada em um ambiente protegido e seguro, envolta de uma educação humanista. Sua saúde foi acompanhada de perto por médicos que rondavam o pequeno príncipe, constantemente verificando sua temperatura e preocupando-se com o que fazia e comia. Eduardo foi alimentado de acordo com uma dieta rica e suntuosa.

JaneSeymourLucasHorenbout-298x300Em outubro de 1541, o embaixador francês descreveu o Príncipe como sendo “tão bonito, bem-alimentado e extraordinariamente alto para sua idade. ” 
O embaixador imperial observou a postura de Eduardo e disse que seu ombro direito era menor que o esquerdo. Ele pode ter tido uma leve escoliose na coluna vertebral. A condição também fora notada em seu tio materno, Eduardo Seymour, por isto, pode ter sido de natureza hereditária.

Naquele mesmo mês, Eduardo ficou doente com uma febre quartã, uma forma de malária.
Por cerca de dez dias, ele esteve tão mal, que chegaram a acreditar que sua jovem vida estava mesmo chegando ao fim.
O Rei Henrique VIII estava perturbado e despachou seu próprio médico, Dr. William Butts para cuidar do herdeiro.
O Dr. Butts visitou-o regularmente e confinou o Príncipe a uma dieta de sopas e caldos, mesmo quando ele estava implorando por carne. Eduardo tornou-se mal-humorado com a maneira exigente do bom médico e começou a chamá-lo de “tolo velhaco.”

Captura de Tela 2015-07-18 às 07.38.23O médico finalmente permitiu-lhe comer um pouco de carne, mas Eduardo estava ficando farto e pediu ao médico para sair.
Este era um bom sinal de que ele estava se recuperando, o que ele finalmente fez. Ele foi autorizado a retornar ao seu estilo de vida despreocupado, mas ele tornaria-se periodicamente doente com estas febres, conforme ia crescendo.

Após tornar-se Rei, em outubro de 1550, o diário pessoal de Eduardo fica em branco.
Ele estava de cama com uma doença misteriosa. Todos aqueles ao redor dele não esperavam que ele fosse sobreviver. Até os médicos desistiram de acreditar em uma melhora. Toda esta notícia foi mantida em segredo, mas até o final do mês, Eduardo havia se recuperado e voltado aos seus estudos. O jovem Rei nunca foi um espécime de físico robusto, mas foi capaz de desfrutar da caça e andar a cavalo. Quando ele amadureceu, até mesmo chegou a participar de torneios.

284b9bdeb2842ad7f53833283dd101c7Na primavera de 1552, os médicos ficaram muito preocupados quando Eduardo ficou doente, não apenas com sarampo, mas com varíola também. Desta vez, a doença foi breve e ele ficou totalmente recuperado. Em 12 de abril, ele estava escrevendo para seu amigo Barnaby Fitzpatrick na França.
Em outubro de 1552, Eduardo se reuniu com o astrólogo italiano e médico, Hieronymus Cardano, que observou que ele era míope e surdo. Ele usava um tipo de óculos para a leitura. Também foi observado que ele usava algum tipo de preparado, uma mistura para os olhos.

Em dezembro de 1552, as coisas realmente começaram a piorar, conforme Eduardo passou a exibir os sinais da doença que acabaria por revelar-se fatal.
É possível ele tenha sido exposto à tuberculose antes de sua luta contra o sarampo. Uma das consequências conhecidas do sarampo, é a supressão do sistema imunitário, o que permite a infecção latente caso a pessoa seja exposta.

Em 15 de fevereiro de 1553, o jovem Rei Eduardo pegou um resfriado febril. Sua irmã mais velha, a Princesa Maria, veio visitá-lo em um esforço para reparar seu frágil relacionamento, devido às diferenças religiosas. Eduardo estava de cama durante a reunião com uma tosse violenta.
A maior parte do que sabemos da última doença de Eduardo vem dos escritos do embaixador imperial, Jean Scheyfvre.
Ele estava em contato íntimo com John Banister, um estudante de medicina de 21 anos, cujo pai era um oficial menor na casa do rei.

30b3f71a0f4041564bf8f833c11e3d31Rumores de que o Rei havia sido envenenado, foram espalhando-se imediatamente. Havia um enorme sigilo a sua volta, pois ele fora mantido em isolamento. Sua doença e seus sintomas eram muito complicados e os médicos especialistas foram chamados para que pudessem consultar o Rei. O embaixador imperial relatou uma mulher desconhecida, que havia sido autorizada a tratá-lo.
Um escritor italiano, Giulio Raviglio Rosso, disse que uma mulher misteriosa havia vindo para a frente, alegando que poderia curar o Rei, e que apesar dos protestos dos médicos, ela fora levada até ele e suas poções logo o fizeram piorar, fazendo com que seus membros começassem a inchar.

Em 17 de Março, Eduardo ainda não havia melhorado, parecendo muito magro e fraco, ele não havia deixado seus aposentos. Os médicos acreditavam que se ele fosse movido, sua condição pioraria.
No início de abril, ele havia recuperado-se o suficiente para tomar um ar em Westminster Park, em dias em que o tempo estava bom.
Em 11 de abril, Eduardo fez um passeio pelo Tâmisa até Greenwich, onde acreditava-se que o ar estava mais limpo. Ele apareceu em público nos jardins no dia seguinte.
O embaixador Scheyfvre, disse que suas fontes relatavam que o rei estava ficando mais fraco à cada dia e menciona as diferentes cores da expectoração de sua tosse. Os médicos disseram que o muco vindo de sua boca, era de cor amarelo-esverdeado, ou enegrecido, chegando às vezes à rosa ou cor do sangue.

091312_PG_FromTheArchives_WonderfulWorldOfColor_7.1newEm 7 de maio, o conselheiro William Petre escreveu uma carta esperançosa, de que Eduardo estava melhorando e que sairia em breve. O regente, o Duque de Northumberland, escreveu para William Cecil dizendo que os médicos esperavam que o Rei tivesse uma completa recuperação.
Cinco dias depois, Scheyfvre escreveu que os médicos agora acreditavam que o rei sofria de um tumor supurado no pulmão, que fora agravado pela tosse e constante febre alta. Sua barriga estava inchada e começaram a aparecer úlceras em seu corpo, possivelmente escaras. O embaixador espanhol agora esperava que Eduardo fosse morrer em breve.

Em 17 de maio, Eduardo reuniu-se com os embaixadores franceses, mas tossiu muito e pareceu bastante fraco.
No final de maio, ele estava definhando rapidamente e não podia descansar sem opiáceos (substâncias derivadas do ópio, utilizadas como analgésicos).
Seu corpo estava inchado, especialmente a cabeça e os pés. Durante estes dias de agonia, Eduardo foi cuidado por dois dos principais Lordes Camareiros da Câmara Privada, Sir Thomas Wroth e Sir Henry Sidney, junto com o novo favorecido dele, Christopher Salmon.
Ele pode ter jogado jogos de tabuleiro com os homens, mas não temos como saber de que outras formas ele passou seu tempo.
Nós sabemos que ele estava preocupado com a sucessão. Em 21 de maio, o rei Eduardo VI alterou seu testamento, ao adicionar uma cláusula onde nomeava sua prima, Lady Jane Grey e seus herdeiros, como seus sucessores – para evitar que sua irmã católica, a Princesa Maria, governasse a Inglaterra e retornasse o país ao catolicismo.

Captura de Tela 2015-06-09 às 23.37.36Em 10 de junho os médicos deram ao rei três dias de vida. O embaixador imperial afirma que à partir de 11 de junho, ele estava incapaz de segurar qualquer coisa em seu estômago, de modo que estava vivendo apenas de tônicos.
Scheyfvre relata que Eduardo tinha uma febre que nunca abrandava, mas em 15 de junho, ele foi atacado por uma febre violentamente quente que durou 24 horas. Isto ocorreu novamente dois dias depois.
Eduardo não tinha mais forças para livrar o seu próprio corpo de certos humores, mas quando o fez, eles tinham um terrível mau cheiro. Suas pernas estavam inchadas e ele foi forçado a permanecer deitado de costas.

Em 19 de Junho, até mesmo o rei havia desistido. No dia 21 de junho, Eduardo ordenou que seu novo “testamento” fosse autenticado sob cartas patentes.
Em 24 de junho, Scheyfvre relatou ao imperador do Sacro Império Romano que Eduardo mal conseguia respirar e raramente se agitava. Seu corpo já não cumpria as suas funções normais, suas unhas e cabelos estavam caindo e ele estava coberto de crostas.
Os últimos dias do tão desejado filho varão de Henrique VIII parecem ter sido insuportáveis.
Nesta altura, ele era incapaz de fazer algo mais além de simplesmente esperar e se preparar para a morte.

No dia 1º de julho, Eduardo apareceu em uma janela, possivelmente para contrariar os rumores de que já estava morto. Sua aparência não serviu para inspirar aqueles que o viram. Ele estava fraco e magro.
Uma multidão reuniu-se nos dias 2 e 3 de julho, esperançosos de ele iria surgir novamente, até que anunciaram que o ar estava muito frio para ele poder fazer outra aparição.

1bcca0abf37a4d3cd34a276a2a0f4b10Sir Henry Sidney, foi quem acompanhou o rei em suas últimas horas. Antes de Eduardo perder a capacidade de falar, Sidney disse que ele orou a Deus para libertar a Inglaterra do papado e foi por isto que ele elegeu a protestante Lady Jane Grey para sucedê-lo no lugar de sua irmã Maria. Ele queria que seus súditos vivessem e morressem na religião protestante.
O bispo de Ely, Thomas Goodrich, ouviu sua última confissão. Então, no dia 6 de julho, por volta das oito ou nove horas da noite, o jovem Rei Eduardo VI da Inglaterra, morreu nos braços de Henry Sidney dizendo: “Eu sou fraco Senhor, tem piedade de mim, e tome o meu espírito”. O Rei, disse Sidney, entregou seu espírito em grande doçura. Também estiveram presentes Wroth e Salmon, juntamente com dois médicos, Owen e Wendy.

Um cirurgião abriu o peito de Eduardo após sua morte e decretou que o monarca havia morrido em decorrência de uma doença pulmonar. Os pulmões possuíam duas grandes úlceras, que estavam em estado de putrefação.
Alguns dos sintomas, tal como o inchaço das pernas, pulso fraco, a queda do cabelo e unhas, podem ter sido um indicativo de uma reação forte da tuberculose. No entanto, ele não exibiu a tosse com expectoração de sangue que era um sintoma da doença.

A biógrafa de Eduardo VI, Jennifer Loach, acredita que ele sofria de uma infecção pulmonar supurada, que é corroborado pelo que os médicos descobriram. Ela sugere que o frio pode ter deteriorado a doença em broncopneumonia bilateral aguda, para os quais não havia tratamento na época. A infecção prejudicaria os brônquios e pulmões causando abscessos. Isso criaria o escarro mencionado, assim como a tosse. Ela teria espalhado-se para a cavidade pleural, produzindo febre, perda de peso e mais escarro. Isso resultaria em uma Septicemia Geral atacaria os outros órgãos. A evidência de inchaço na parte inferior do corpo indica insuficiência renal.

A verdade é que nunca saberemos com certeza se era tuberculose ou não. Mas o que sabemos é que foi uma morte longa, dolorosa e insuportável. A morte de Eduardo, fora mantida em segredo por tanto tempo quanto possível. No entanto, sua irmã Maria descobriu sobre a cláusula para Jane Grey e partiu para East Anglia para formar tropas e reaver seu direito ao trono.
2cc8e4f3cd9ca0b4602c797bcff0ffb2Em 10 de julho, Lady Jane Grey foi declarada Rainha e levada para a Torre a fim de esperar sua coroação. Nove dias depois, Maria saiu-se vitoriosa no confronto resultado e tornou-se a Rainha Maria I de Inglaterra. Ela finalizou os ritos fúnebres de Eduardo e ele foi enterrado no dia 08 de agosto na Abadia de Westminster, em um túmulo branco em uma cova sem marcação na Capela de Nossa Senhora, ao lado de seus avós, o rei Henrique VII e a Rainha Elizabeth de York.

Seu túmulo permaneceu sem identificação até que uma pedra fora inserida na frente do altar onde pode-se ler: “EM MEMÓRIA DO REI EDUARDO VI enterrado nesta capela. Esta pedra foi colocada aqui pelo Hospital de Cristo em ação de graças ao seu fundador, em 07 de outubro de 1966.”

Dean Stanley visitou o túmulo de Eduardo no século XIX e registrou a inscrição em latim:

“Eduardo o sexto, pela graça de Deus rei da Inglaterra, França e Irlanda, defensor da Fé na terra sob Cristo, suprema cabeça das igrejas da Inglaterra e da Irlanda, partiu desta vida no dia 6 de julho, à noite na 8ª hora no ano do Senhor de 1553, no sétimo ano de seu reinado e no 16º ano de sua idade “.

Captura de Tela 2015-07-18 às 07.50.33
FONTES:
The Freelance History Writer: AQUI.

3 comentários Adicione o seu

  1. Estou confusa. Em outro texto (Eduardo VI – Parte I: Um garoto doente ou um típico monarca Tudor?) encontramos um trecho que diz “Infelizmente, muitos persistem em acreditarem em mitos e senso comum, consequentemente, repetindo erros históricos; o mais famoso, provavelmente, é que Eduardo sempre foi uma criança adoentada, quando na realidade, não existe nenhuma base histórica, para fundamentar tal afirmação.”. Porém aqui vemos descritas várias doenças pelas quais Eduardo VI passou.

    1. Tudor Brasil disse:

      Todo mundo passa por algumas doenças no decorrer da vida. Ninguém é 100% saudável. Ou você conhece alguém que nunca adoeceu?
      Eduardo era uma criança saudável, que foi acometida por alguns males no decorrer da vida. Algo perfeitamente normal e diferente de uma pessoa viver adoentada.

  2. Acabei de ler um livro de Mark Twain (o príncipe e o mendigo) onde Eduardo VI
    é um dos protagonistas. Triste saber q ele morreu tão cedo.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s