Seja no campo, na floresta, nos Palácios ou vilas; as tentações carnais, corpos sedentos e romances tórridos, eram uma realidade. O sexo estava presente em todos os contextos sociais do período Tudor. Muitos que assistiram a série televisiva The Tudors, notaram que as cenas picantes de sexo, aguçam o telespectador, a ponto de imaginar como seria a tórrida onda de sentimentos carnais no período Tudor. Como eles lidavam com o sexo? Como eram realizados os casamentos e quais as soluções para disfunções eréteis e gravidezes indesejadas? Resolvemos fazer este artigo, para que muitos curiosos entendam um pouco mais deste lado oculto, porém muito interessante do período Tudor.
Casamento, Consumação e relações sexuais:
A idade mínima para o casamento no período Tudor, era de doze anos para as mulheres e quatorze para os homens.
Entre as classes mais baixas, o casamento geralmente ocorria por volta dos vinte anos ou mais – quando houvesse sido poupado dinheiro suficiente para gerir um lar. Em graus mais altos da escala social, os casamentos ocorriam geralmente em idades muito mais precoces, por volta do final da adolescência para as mulheres e alguns anos mais tarde para os homens. Os casais também não possuíam muita voz de escolha, uma vez que os casamentos eram arranjados desde o berço pelos pais, por razões quase inteiramente relacionadas ao avanço familiar – a fim de proporcionar proveitosas alianças políticas estrangeiras.
Haviam muitas preocupações e questionamentos sobre a idade apropriada para as meninas começarem a cumprir seus deveres de esposa. Por volta do século XVI, doze anos era considerado jovem demais, dezesseis anos geralmente era aceitável e quatorze anos não era incomum entre as camadas superiores da sociedade. Consumação marital em meados da adolescência, podia ou não ser incentivada pelos pais. Presumivelmente, a aceitação e permissão do ato sexual, dependia da saúde e nível de desenvolvimento do jovem casal.
Quando o irmão mais velho de Catarina de Aragão, Juan, casou-se aos 15 anos com Margarida da Áustria, houve uma discussão se era apropriado ou não, que o casamento fosse consumado. No final, Fernando e Isabel decidiram permitir que o jovem casal consumasse a relação, já que eles “pareciam muito apaixonados”. Pode-se dizer também, que Fernando e Isabel, estavam muito apaixonados pela aliança com o Império que Marguerite representava e uma não-consumação, teria dado uma brecha para que o sempre escorregadio Imperador Maximiliano, arranjasse uma maneira de sair do jogo – caso ele assim desejasse.
A causa mortis de Juan – dentro de um ano de casado-, foi atribuída a “muito esforço no leito conjugal.” Aparentemente, os dois não poderiam manter suas mãos longe um do outro.
Quando Catarina casou-se com Arthur, também foi debatido se eles deveriam ser impedidos de consumar o casamento por causa de sua juventude, mas o que sabemos, é que o casal permaneceu vivendo junto. Se eles realmente consumaram ou não o casamento, porém, ainda permanece como uma das grandes questões da história.
Existe o pernicioso mito, de que pré-adolescentes estavam casando-se regularmente na Europa medieval e renascentista e que gestações em idade muito tenra, eram normais; mas isto não é exatamente verdadeiro. Registros da igreja, mostram que as idades mais comuns para casamentos, pairavam em cerca de 18 à 23 anos. Meninas muito jovens, não costumavam ter bebês no período medieval e renascentista e tal parâmetro de gravidez precoce, foi baseado em exceções praticadas no período e não em um todo.
No livro de Kim M. Phillips, intitulado “Medieval Maidens: Young Women and Gender in England, c. 1270-1540”, é dito que:-
“A emergente evidência, está corroendo o estereótipo medieval de casamento infantil. A tese de Goldberg e Smith, sobre as mulheres de baixo e médio status social, refutou o argumento de Hajnal sobre o casamento geralmente ocorrer cedo para as mulheres medievais. Razi diz que “O início da idade de casamento para as meninas em Halesowen, dificilmente indica o casamento infantil, pois grande parte das senhoras casaram-se entre as idades de dezoito e vinte e dois anos…”. Goldberg ofereceu evidências de que nos séculos XIV e XV, pelo menos em Yorkshire, as meninas urbanas tendiam a casar no início ou meados de seus vinte anos e meninas rurais, casaram normalmente no final da adolescência, perto dos vinte e poucos anos e em ambos os grupos, elas geralmente casavam-se com homens de idade aproximada…”
É importante ressaltar, que considerava-se pouco saudável para os jovens adolescentes terem relações sexuais, mesmo para os homens.
A nobreza muitas vezes casava-se mais cedo do que as pessoas comuns, já que as questões financeiras ou políticas, faziam as uniões necessárias, porém, geralmente as relações sexuais entre o casal, eram adiadas até que os dois ficassem mais velhos.
Henrique VIII casou seu filho, Henry FitzRoy, quando o menino tinha quinze anos de idade; porém, ele ordenou explicitamente que o jovem casal não consumasse a união e mandou os dois para casa com suas respectivas famílias, para esperar até que ficassem mais velhos. Ele citou o seu irmão, Arthur e a sua morte prematura com a mesma idade, como tendo sido causada por sua atividade sexual com Catarina de Aragão em uma idade muito precoce – É claro que ele estava usando isto, como uma outra chance de atacar a legitimidade de seu divórcio de Catarina.
A avó de Henrique, Margaret Beaufort, foi casada aos doze anos de idade e deu à luz seu primeiro e único filho aos treze anos. O parto foi extremamente difícil e era comumente dito, que o dano a seu jovem corpo, foi a razão pela qual ela nunca mais engravidaria novamente durante seus outros dois casamentos. Margaret foi casada tão jovem, devido à circunstâncias extremas. Guerra, rebelião e um futuro incerto para a sua família e para a família de seu marido, fez do casamento, uma necessidade política. Seu marido morreu antes de seu bebê nascer. Mesmo assim, o caso de Margaret Beaufort foi considerado brutal, cruel e perigoso por seus próprios contemporâneos.
A neta e homônima de Margaret, a princesa Margaret Tudor, foi casada por procuração com o Rei James da Escócia, quando tinha doze anos, para selar um tratado muito necessário. Porém, seus pais estavam muito relutantes em mandá-la para viver com seu novo marido, por medo de que este, não adiasse a consumação da união. O próprio Henrique VII, falou sobre isto com o Embaixador Espanhol: –
“Além de minhas próprias dúvidas, a Rainha e minha mãe são muito contra este matrimônio. Elas dizem que, se o casamento for celebrado e que caso devamos ser obrigados a enviar a princesa diretamente para a Escócia, temem que o rei dos escoceses não espere, mas iria feri-la e pôr em perigo a sua saúde.”
Assim, a princesa Margaret foi enviada à Escócia quando tinha treze anos, mas todos os estudiosos acreditam que James não teve relações sexuais com sua esposa por vários anos. Ela não engravidou até ter dezesseis anos e depois disto, ela teve filhos em rápida sucessão.
Há outros exemplos de casamentos juvenis para a nobreza da época medieval e renascentista, mas eles são a exceção, não a regra. Na maior parte dos casos, era reconhecido que os corpos dos jovens, deveriam estar totalmente maduros antes da consumação de um casamento.
Claro que nem todos dispunham desta mentalidade. Os médicos no entanto, consideravam a abstinência ruim para a saúde de homens e mulheres. Jovens que atravessavam o que hoje sabemos ser as alterações hormonais normais da adolescência, eram aconselhados a casarem-se.
Contra esta visão do sexo como bom para as pessoas casadas, a Igreja tentou regulamentar as relações conjugais. Teólogos mais convictos, consideravam a atividade sexual excessiva dentro do casamento, uma situação pecaminosa e ditavam que quando ocorria, o marido estava tratando sua esposa como uma prostituta. A mente clerical, quando fixada em sexo, culpava a mulher por ser tentadora demais para um homem e elas – como seres inferiores-, eram consideradas muito mais afetadas por desejos físicos que eles. Muitos dos contos humorísticos medievais, são sobre esposas insatisfeitas correndo atrás de homens mais jovens – como fica evidenciado em vários contos de Chaucer.
Foi também sugerido, que os cônjuges não deviam ter relações sexuais nos dias de festa, em dias de jejum, nos dias santos, domingos, ou durante qualquer período em que a mulher estivesse “impura”; ou seja, menstruadas, grávidas, amamentando, ou no prazo de 40 dias após dar à luz.
Se levarmos todas estas regras em conta, vemos que resta uma frequência de cerca de um dia por semana, admissível para as atividades sexuais entre marido e mulher. No entanto, não há evidências de que a maioria das pessoas – exceto os excepcionalmente religiosos, ou aqueles que queriam evitar um cônjuge sem atrativos – prestassem atenção a isto, a não ser a abstenção após o parto, até que a mulher fosse “churched”. Esta foi uma cerimônia realizada cerca de quarenta dias após o parto, para mostrar que ela havia se recuperado e que poderia ser readmitida na sociedade e sua vida diária.
Adultério e Gravidez:
Os contos românticos de amor cortês – onde um homem jovem, geralmente de nível inferior, apaixona-se por uma mulher casada – estavam destinados a serem apenas isto, contos para divertirem as noites e aquecerem os corações; pois uma mulher casada que traísse seu marido, estava potencialmente sujeita às mais severas punições, tanto pela Igreja, quanto pelo Estado. O adultério poderia até mesmo ser punido com pena de morte, pois era visto como traição, ou seja, a rebelião de um sujeito (a esposa) contra seu mestre (o marido). Felizmente, isto raramente acontecia.
O adultério masculino, foi tratado com um pouco mais de tolerância e o adultério físico por parte deles, raramente surpreendia a esposa – provavelmente porque, se o casamento houvesse sido arranjado, o ciúme sexual não era sentido em nenhuma grande medida.
O status social de uma mulher no período Tudor, era definido por seu desempenho como mãe e esposa. Em termos gerais, isto significava ser submissa e respeitosa para com seu marido, independentemente de seu comportamento; ser diligente e engenhosa na casa, ter boa moral, ser temente a Deus e trazer à vida, uma série de crianças saudáveis – de preferência do sexo masculino. O escândalo da ilegitimidade, portanto, deveria ser evitado a todo custo.
A linha católica estrita, não poderia ter sido mais clara: fornicação e adultério eram contra a lei; relações sexuais dentro do casamento eram aceitáveis apenas para a procriação de filhos e as penalidades caso estas regras fossem quebradas, seriam duras e públicas. As crianças nascidas fora do casamento poderiam ser batizadas e até mesmo legitimadas por votos de casamento seguintes, mas o estigma social da ilegitimidade e suas implicações jurídicas, não poderia ser tão facilmente retirado.
As ramificações de ilegitimidade – especialmente no seio das famílias nobres e reais – poderiam ser sentidas ao longo de décadas, ou mesmo gerações posteriores.
A realidade das relações sexuais e da unidade familiar, eram muito mais complexas. A maioria dos jovens não podia dar-se ao luxo de casar-se até seus vinte e tantos anos, ainda que muitas vezes vivessem e trabalhassem juntos, ou em estreita proximidade.
Devemos compreender então, que a tentação nunca os venceu alguma vez? Correndo o risco de soar excessivamente romântica, devemos acreditar que eles nunca apaixonaram-se perdidamente? Será que estamos realmente sugerindo que a natureza humana mudou tão drásticamente no decorrer dos séculos? Não, é claro que os jovens não casados na época dos Tudor, faziam sexo – com ou sem a bênção da igreja ou da sociedade – mas muitas das vezes, as mulheres eram quem precisavam lidar com as consequentes gravidezes.
Servos compartilhavam quartos com mestres, os jovens desapareciam nos arbustos em feiras e adultério podia ser ouvido e observado através de buracos e janelas; e mesmo as formas mais rudimentares de contracepção, estavam além do alcance da maioria.
Contraceptivos e Coabitação:
Os preservativos surgiram no século XVI, mas não teriam estado amplamente disponíveis ao público. O famoso método do coito interrompido, também era notoriamente não confiável – crenças antigas ofereciam várias misturas de ervas inúteis e métodos de parar o útero usando coisas perigosas, como cera quente.
Enquanto Catarina Howard é famosa por dizer que sabia como “entreter-se” com um homem sem engravidar, os registros Tudor estão cheios de acusações e pedidos relativos à paternidade e manutenção de bastardos. Na ausência de provas ou da fuga dos acusados, a maioria dos filhos ilegítimos acabavam sendo cuidados pela paróquia local até os sete anos de idade, o que não era popular com os dizimistas, que pagavam por estes cuidados. Assim, era um interesse financeiro da comunidade, policiar de perto os seus jovens para que eles não fizessem sexo.
Inevitavelmente, noivados e alianças informais surgiram o tempo todo – bem como relações temporárias, que eram celebradas de boa fé e quebrada quando o casal se mudava ou encontrava parceiros alternativos.
As promessas verbais de casamento ou de Handfasting (um comprometimento de ligação espiritual, não legal), podia geralmente ser suficiente para licenciar relações físicas; como fica provado com a queda de Catarina Howard, a quinta rainha de Henrique VIII. Menos de dois anos após seu casamento, descobriu-se que ela havia conhecido dois amantes em sua juventude e que os havia omitido para seu novo marido. Com Francis Dereham, ela trocou promessas, presentes e passou muitas noites junto em um dormitório – que era compartilhado com outras garotas – como marido e mulher. Testemunhas famosas, recordaram que eles haviam “juntado-se” pela barriga “como dois pardais”. Catarina ainda poderia ter mantido a cabeça neste caso, mas infelizmente para ela, estas investigações levaram à descoberta de seu suposto caso de adultério contra o rei, sendo ela então, mandada ao cadafalso, em fevereiro de 1542.
O Handfasting poderia até ser substituído por posteriores casamentos na igreja, caso a consumação não tenha ocorrido – como Henrique tentou provar no caso do pré-contrato de Ana Bolena e Henry Percy e estabeleceu com sucesso, para fugir de sua união indesejada com Ana de Cleves. Antes disto, Ana Bolena provavelmente concebeu Elizabeth em dezembro de 1532, antes de seu casamento secreto com Henrique, no ano novo. Promessas de casamento poderiam ser feitas a qualquer momento ou em qualquer lugar; quartos, cozinhas e áreas diversas, testemunharam vários acordos secretos e não foi até 1563, que o Concílio de Trento declarou que um casamento era nulo, caso não fosse celebrado na frente de um sacerdote – embora a lei Inglesa não tenha aderido a isto, até o século XVIII.
Casamentos legais poderiam ocorrer em qualquer lugar – desde que os votos fossem feitos corretamente – e isto permitiu que casais como Catarina Grey e Edward Seymour se unissem. Eles fizeram os votos em segredo, em seu quarto em 1560 e imediatamente consumaram sua união, o que provou ser uma condenação ao casamento. A irmã de Edward – sua única testemunha-, faleceu logo depois e ele foi para exterior, enquanto Catarina viu-se tentando esconder sua gravidez sob o olhar atento de Elizabeth I, incapaz de provar que seu casamento era legal. Ela já havia sido casada uma vez aos treze anos, mas este casamento ocorreu quando foi politicamente conveniente, embora isto não a tenha ajudado, quando a Rainha com raiva, enviou-a para a Torre.
A coabitação foi particularmente desaprovada. Pois muitos dos casais “que viviam em pecado”, haviam realizado a ação através de algum tipo de Handfasting ou promessa; fica claro mais uma vez, que o segredo era sempre a raiz do problema – embora os registros de tribunais, estivessem cheios de julgamentos feitos por vizinhos, com base sobre o que haviam visto.
Filhos Fora do Casamento e Deveres de Paternidade:
Em uma reunião em Surrey, no ano de 1569, foi decidido que para estabelecer a paternidade de uma criança, seria “prova suficiente” que a mãe e o acusado tivessem sido descobertos juntos em circunstâncias “suspeitas”, por uma testemunha credível.
Provisões para filhos ilegítimos – especialmente aqueles que nasceram em famílias pobres, sem abrigo ou servos – poderiam ser um dreno na paróquia, cujos cuidados as crianças eram frequentemente confiadas.
Na Páscoa 1575, as sessões gerais em Chelmsford aprovaram uma lei – para o alívio dos vagabundos e pobres-, que ditava que: –
“Se alguma mulher tiver um filho bastardo e qualquer pessoa puder ser acusada ou veementemente suspeita por presunções razoáveis, a fim de ser culpada de gerar a criança ou de incontinência, os juízes devem certificar-se de que o homem e a mulher, mantenham a referida criança; eles devem também certificar-se, de que a mãe possa manter e nutrir a criança; se eles deixarem o filho ou recusarem-se a manter o mesmo, eles [juízes] devem encontrá-los para cumprir seu dever e se o homem suspeito de ser culpado de gerar a criança, for transportado para longe ou escondido por seus pais ou por outras pessoas – ou aconselhados por eles a sair do país ou do seu local de residência, para que não precise responder às acusações contra ele-, em seguida, os juízes devem cobrar aos pais e conselheiros, a guarda da dita criança, até que o acusado apareça e devem garantir o vínculo do progenitor com a criança. Caso ele se recuse a cumprir as obrigações, em seguida, devem encarcerá-lo na prisão.”
Os tribunais possuíam uma visão sombria e negativa daqueles pais que não haviam conseguido manter sua prole e empregavam multas e prisões para garantir o pagamento.
O marinheiro John Brooke de Burnham, não conseguiu sustentar sua filha com Agnes Nicoll, em abril 1579 e foi ordenado pelo tribunal local, a pagar 8 ducados semanais para a paróquia, pelo sustento da criança. Na Páscoa de 1591, Robert Barnard de Little Totham, também permaneceu sob custódia na prisão de Colchester, até que foi capaz de sustentar a criança de quem era o pai, com uma mulher chamada Mary Turner de Southminster. Em outubro de 1586, John Poole foi preso por se recusar a pagar os 8 ducados semanais para o sustento de uma criança nascida de Mary Warde, que estava sendo mantida pelos guardas da igreja de West Hanningfield. Ou seja, a classe social não era barreira para as repreensões.
Graves castigos públicos por fornicação e adultério foram criados e difundidos como meios de dissuasão e muitos moradores ativamente denunciavam um ao outro por tais transgressões. Alguns casos dos tribunais em Essex, sugerem que as comunidades eram muito apegadas as seus códigos de conduta moral, relutantes em ver seus vizinhos se livrarem de seu comportamento ilícito. Uma intolerância de quebra de regras e a implicação financeira para a paróquia, pareceu repetir-se em muitas declarações e cartas de reclamação.
A cultura “de denúncia”, não ajudava as relações de boa vizinhança – como visto no número de pedidos feitos para manter a paz e o elevado número de confrontos físicos e verbais, que exigiam a mediação jurídica. Denúncias poderiam ser apoiadas por juramentos de mais de dez pessoas, que viajavam para o tribunal local para dar testemunho. Seria então, providenciada uma audiência para a implementação de chicotadas e outras penalidades usadas para envergonhar os culpados. Estas medidas foram muitas vezes realizadas em praças ou igrejas públicas, nos horários mais movimentados do dia.
No entanto, a sociedade não poderia substituir biologia humana e apesar do estigma social e gama de meios de dissuasão, as pessoas no período Tudor, continuaram a ter relações sexuais fora do casamento e produzir filhos ilegítimos.
O que você quis saber e nunca teve coragem de perguntar sobre o sexo na Idade Média e Período Tudor-Elizabetano:
– Calcinhas? Para quê!?
As mulheres do período Tudor, não usavam calcinhas. Elas usavam inúmeras camadas de roupas sobre o conhecido vestido, a camada que ficava em contato com o corpo, era chamada de chemise (bata). Sobre o chemise, vinham todas as outras camadas, como o farthingale, vestido, corset, mangas e etc… Abaixo da chemise, não existia nada. Poderia ser conveniente na hora de usar o urinol, entre outras coisas…
– Donzelas nem sempre eram donzelas:
O vergonhoso comportamento das mulheres jovens na corte Inglesa, foi muito comentado no exterior. Em 1581, a dama real Anne Vavasour, deu à luz – aos 16 anos – no dormitório das donzelas no palácio de Whitehall, tendo sido seduzida por um homem muito mais velho com quem se casou – o Conde de Oxford. Ambos foram aprisionados na Torre, por uma furiosa Rainha Elizabeth. Na década de 1590, o favorito da Rainha – o Conde de Essex – foi acusado de manter relações carnais com nada mais nada menos, que quatro das Damas de Companhia da Câmara privada.
– A contracepção era um negócio muito mal feito e complicado:
A contracepção era ilegal – uma vez que interferia no plano de Deus -, mas os homens mais ricos muitas vezes recorriam a um “quondam”, ou preservativo formado à partir de intestinos de cordeiro. Algumas mulheres utilizavam lã embebida em vinagre, inserida nas regiões inferiores; outras usaram velas de cera de abelha e até mesmo placas de madeira. Quando tudo isto falhava, elas poderiam recorrer a uma mistura de ervas para induzir um aborto – ao invés de sofrer a vergonha de uma gravidez indesejada.
– O quarto não era local de novidades:
Uma vez casada, a posição de missionário, foi a única modalidade sexual sancionada pela igreja – pois acreditavam ser a mais propensa para a produção de herdeiros do sexo masculino. O sexo era meramente um fator de procriação e continuidade da linhagem e qualquer posição mais criativa, faria com que o diabo deixasse o filho do casal com alguma deficiência envolvida no nascimento. Os boatos de um feto defeituoso, fizeram com que muitos acreditassem que Ana Bolena, fazia parte deste seleto grupo.
A mulher por cima, ou sexo “a tergo” (de quatro), não foram favorecidos, pois interferiam no processo natural. Sexo anal e oral era pecado, pois só poderiam ser praticados por prazer e não pela procriação. As punições para aqueles que utilizam posições sexuais “desviantes”, poderiam ser muito duras: três anos de penitência para a mulher (por sexo oral e sexo a tergo, que era geralmente vista como a posição mais pecaminosa, com a possível exceção de sexo anal). Estas foram as ideias oficiais da Igreja, mas alguns teólogos “progressistas”, começaram a questioná-las. Albertus Magnus, nomeou cinco posições sexuais e as classificou de mais aceitáveis para menos aceitáveis:
1) missionária,
2) lado a lado,
3) sentado,
4) de pé, e
5) a tergo.
Magnus disse que a missionária, era a única posição totalmente “natural”; as outras eram “moralmente questionáveis, mas não mortalmente pecaminosas. Em determinadas situações, no entanto – tais como obesidade extrema-, estas outras posições poderiam ser não apenas aceitáveis, como também práticas e necessárias.
– Era um mundo machista:
A maioria das mulheres casadas, viviam sob o domínio de seus maridos e tinham de ser obedientes e submissas. Se o marido não gostasse do comportamento de sua esposa, ele era autorizado a bater-lhe com um pau um pouco mais grosso que um polegar, mas de maneira que não pudesse matá-la ou deformá-la. Outro castigo comum destinado às mulheres, era desfilar em público usando rédeas de ferro, com um aparato para a língua. A humilhação era certa.
– Pode olhar, mas é melhor não tocar:
A Igreja proibiu a expressão livre de desejo sexual, mas a noção medieval de “amor cortês”, sugeria que o amor e a admiração, poderiam existir em algum lugar entre o desejo erótico e a realização espiritual. Um escritor definiu o amor cortês como algo “de uma só vez ilícito e moralmente elevado, apaixonado e disciplinado, humilhante e exaltando, humano e transcendente”.
– Adultério:
Para qualquer um que levasse à sério a moralidade cristã, o sexo não era uma opção. O celibato era a maneira ideal para conduzir a própria vida e o sexo era tolerado, apenas como parte da procriação do casamento. O sexo pré-marital, ou extra-conjugal, fornecia um risco grave. Os sacerdotes eram obrigados a condenar adúlteros e fornicadores (aqueles que tiveram sexo fora do casamento) e as punições poderiam variar. Porém, não foi apenas a Igreja que desaprovou o adultério e a fornicação, os nobres também o faziam, já que queriam ter certeza de que todas as crianças de seu casamento, eram na verdade, suas próprias.
Uma história real de amor que deu errado, envolveu o Rei Filipe IV da França – também conhecido como “Felipe, o Belo”. Ele descobriu que duas de suas três noras estavam tendo relações íntimas com alguns de seus cavaleiros e ordenou que os homens fossem estripados publicamente. Suas noras foram então, enviadas para conventos e especula-se que pelo menos uma delas foi possivelmente assassinada.
Na realidade, houve uma atitude mais branda para este aspecto, especialmente em populações rurais, onde flertes sexuais eram rotina. Muitas vezes os sacerdotes iriam forçar os “pecadores” a se casarem e tudo seria perdoado. Se o casamento estivesse fora de questão, as punições podiam envolver anos de penitência.
– Homossexualidade:
A posição da Igreja, definia a homossexualidade como “atos contra a natureza”, assim como a masturbação solitária, masturbação mútua, a cópula entre as coxas (sexo interfemoral) e cópula “na parte traseira”(o sexo anal). São Tomás de Aquino, expandiu a definição de sodomia para incluir todos os atos que não fossem o coito vaginal. Ele também nomeou o lesbianismo um pecado. A igreja começou a julgar os pecadores sexuais nos séculos XII e XIII. Sodomia era punível com a morte, o que poderia envolver a mutilação, a queima das partes, enforcamento e no caso de sacerdotes pegos em flagrante, ser pendurado em uma gaiola suspensa, até que morressem de fome.
– A Moda de Virilidade:
Uma das mais populares modas no renascimento, foi o codpiece – uma aba ou bolsa que era anexada à frente da virilha de calças masculinas e acentuava de forma que pudesse enfatizar ou exagerar os órgãos genitais. Eles foram recheados com serragem ou pano e eram mantidos fechados por laços de cordas, ou outros métodos. O codpiece era muitas vezes, extremamente grande e passava a idéia de um pênis ereto. Outro símbolo da virilidade na moda, era um estilo de sapato chamado poulaine. Estes foram sapatos longos de bico fino, que também foram feitos para sugerir o tamanho do pênis do utilizador – quanto maior era o bico, mais viril era o homem.
Codpieces e poulaines, são frequentemente vistos nas pinturas do artista holandês, Pieter Bruegel. Há um retrato de Henrique VIII, um dos grandes homens da “moda” no renascimento, em que está usando ambos. A Igreja não apreciava estes artigos de vestuário, chamando-os de “modas do diabo”.
– Dildos:
Há algumas referências ao uso de dildos por mulheres na Idade Média, em particular, um encontrado no livro “penitencial” da igreja, que prescreve punições pelos pecados. Ele dizia: –
“Você fez o que certas mulheres estão acostumadas a fazer, que é usar algum tipo de dispositivo ou implementá-lo na forma e dimensão do membro macho para corresponder ao seu desejo pecaminoso? Se você tiver feito isto, você deve fazer penitência por cinco anos nos dias santos.”
– Virgindade e Castidade:
A crença da Igreja medieval, de que o celibato era a única maneira que poderia-se adorar a Deus, era encarnando a Virgem Maria. Na Idade Média, a virgindade era um ideal a ser aspirado, mas raramente foi conseguida por plebeus e nobres. Porém, era possível tornar-se uma virgem, ou “nascida de novo”. A Igreja tornou possível para as mulheres que não só haviam tido sexo, como também gerado filhos, a confessar seus pecados, realizar anos de penitência e passar seus anos restantes em um convento. As mulheres que escolhiam este caminho, renunciavam ao seu chamado papel do “pecado original” (de tentar Adão com o fruto do conhecimento) e se juntavam ao que era conhecido como, o culto da Virgem. Elizabeth adotou seu estigma icônico de Rainha Virgem – porém muito mais brando e permissivo que o citado acima – a fim de aumentar politicamente, o respeito, devoção e amor de seus súditos.
A castidade tem quase o mesmo significado que a virgindade. Muitos acreditam que o “cinto de castidade” – um cinto usado por mulheres sobre seus órgãos sexuais, para evitar a penetração -, era um fenômeno medieval, mas na realidade, foi uma invenção do século XIX.
– Prostituição:
A prostituição prosperou na Idade Média e período Tudor – independentemente de ter sido aprovada pela Igreja ou não. Em cidades maiores, as prostitutas podiam praticar o seu comércio no anonimato e esta, foi considerada uma profissão honesta e essencial. Por um tempo, a Igreja realmente aprovou a prostituição. Ironicamente, a prática foi considerada como uma forma de evitar o adultério e homossexualidade em uma escala maior, por isto, foi vista como um mal necessário. São Tomás de Aquino, um dos teólogos mais severos, escreveu: –
“Se a prostituição fosse suprimida, concupiscências descuidadas, iriam derrubar a sociedade”.
As prostitutas mais respeitáveis, trabalhavam em bordéis ou tavernas e a maioria das aldeias tinha um dos dois. Em algumas aldeias, as prostitutas tinham que identificar-se por tipos específicos de roupas, como um véu com uma listra amarela. Mulheres que praticavam a prostituição fora de um bordel, eram frequentemente expostas aos elementos mais duros da sociedade. Algumas foram presas, torturadas ou mutiladas.
– Disfunção Sexual:
Se um homem não pudesse fazer sexo, a Igreja trazia um grupo especial de “detetives particulares”, que era formado por sábias mulheres da aldeia, que iriam examinar o pênis do marido e avaliar sua saúde geral, a fim de determinar se ele era capaz de realizar sexo para procriação ou prazer. Se o pênis fosse deformado, ou se houve algum outro motivo para que ele não pudesse consumar o casamento, o casal estaria separado. Muitos médicos medievais da Europa, eram grandes seguidores da medicina islâmica. Médicos muçulmanos e farmacêuticos, foram os primeiros a prescrever medicamentos para o tratamento da disfunção erétil – incluindo terapia medicamentosa combinada com dieta. A maioria destas drogas, eram de medicação oral, embora alguns pacientes também fossem tratados por meios tópicos e transuretrais.
FONTES:
Odde: AQUI.
Express.co: AQUI.
Author her Storian Parent: AQUI.
Tudortimes.co: AQUI.
Lissa Bryan: AQUI.
Que texto incrível! Uma aula mesmo, super completo…
Fico tão feliz que tenha gostado Juliana! É sempre tão bom receber um feedback como esse. Obrigada! 🙂
Texto maravilhosos, bem melhor que muita aula que eu já tive ^^
Ai que bom que gostou Cintia. Ficamos tão felizes com a recepção do artigo. Obrigada! 🙂
Nossa, isso foi muito bom!!! É difícil encontrar uma publicação bem feita e concisa sem muita enrolação. O texto é cativante, objetivo e preciso! Parabéns!!
Fico muito feliz que tenha gostado Jeferson.
Seja bem-vindo! 🙂
Maravilhoso! Muito completo, parabéns pela publicação de excelente qualidade!!!
gostei muito deste texto , me esclareceu algumas curiosodades sobre a epoca medieval.
Que site incrivel! Amei toda essa aula de história que tive lendo seus artigos. bjs