Em algum ponto durante seu relacionamento, Ana Bolena e Henrique VIII adotaram a madressilva e bolotas como um emblema privado. Quando exatamente eles adotaram tais símbolos, ou se adotaram separadamente ou em conjunto, não está claro, porém, o que podemos afirmar, é que ele aparecia regularmente no mobiliário do palácio.
A madressilva, tem sido um símbolo de amor e devoção, enquanto a bolota, simboliza a fertilidade, crescimento e renascimento. Ela também tem sido usada como um emblema da sorte, prosperidade e juventude. Muito parecido com o emblema de falcão de Ana, que simboliza uma nova vida surgindo à partir do toco de uma árvore – a fim de remediar o passado de esterilidade de Henrique -, a bolota novamente simbolizava a fertilidade de Ana, assim como uma nova vida e um futuro para a Dinastia Tudor.
O interessante, é que dois dos itens que descrevem o emblema particular de Henrique e Ana, sobrevivem aos tempos atuais. O primeiro aparece no capítulo seis do ‘L’Ecclesiaste’ de Alnwick, que começa com o pronome ‘I’. Eric Ives descreve a letra do manuscrito ‘I’ como tendo ”acima e abaixo, traços horizontais retos, com o tamanho de um selo postal normal e um talo curvado com onze folhas de carvalho e sete copinhos de bolotas (quatro cheios e três vazios) e uma flor de madressilva com uma pequena gavinha em branco e dourado.
Hoje o manuscrito está na coleção do Duque de Northumberland e alojado no Castelo Alnwick. O motivo de Ana e Henrique, estava regularmente em destaque no mobiliário do palácio – graças ao fato de que costura, tapeçaria e bordados ‘eram’ a atividade esperada de uma grande senhora, suas servas e seus mais humildes assistentes e a Rainha Ana Bolena, não decepcionou.
George Wyatt disse que Hampton Court, estava suntuosa com ”as ricas e requintadas obras, em maior parte forjadas pelas próprias mãos e agulhas [de Ana], e também de suas damas.”
No palácio, em 1548, havia um: –
‘tapete de ouro, prata e bordados de seda, com rosas vermelhas e brancas e as cifras da rainha Ana, com uma borda sobre ela, com madressilvas e bolotas; o ”H” e ”A” bordados, com franjas em todas as terminações e uma grande e profunda franja aos lados, de ouro, prata, seda e linho, com damasco verde, medindo três jardas e amplitude pequena’.
Isto não apenas nos fornece um vislumbre dos esplêndidos acessórios que teriam adornado as câmaras de Ana, como também oferece-nos valiosas informações sobre a vida doméstica de uma rainha Tudor e suas damas. Obviamente, muito tempo seria dedicado a produzir tão intrincado trabalho.
De acordo com Eric Ives, houve também uma almofada bordada com ‘madressilva e bolotas’, o lema de Ana e as letras ‘H’ e ‘A’, e outra com madressilva e a letra ‘H’. Ives também menciona uma almofada no palácio de Whitehall, bordada com a cifra e madressilva de Henrique e possivelmente outra, bordada com madressilva, bolotas e flores de morango – embora ele não tenha sido claro, sobre o significado das flores de morango.
Em 1550, ainda existiam no Palácio de Hampton Court, duas cadeiras baixas de tecido de ouro, bordadas com as cifras de Ana. Havia também, uma ”cadeira de ferro, toda coberta de bordados, feitos em seda e ouro, com a cifra da antiga Rainha Ana; o encosto e parte posterior com franjas de ouro veneziano, com quatro empunhaduras de prata e ouro, com os brasões do rei e rainha Ana entre eles; o assento coberto com tecido de ouro”.
Ives acredita, que a mais magnífica evocação do trabalho de Ana e sua comitiva, é encontrada em uma descrição nos inventários de Henrique VIII, detalhando um conjunto de tapeçarias, feitas em dourado, para o leito de Ana, em Oatlands, chamado ‘a cama da Rainha Ana’. Eles eram: –
”Um dossel, um testador, seis sanefas e três bases de pano carmesim de ouro, com trabalhos de vidro com tecido branco e prata, adornados com ricos bordados e bordas de veludo roxo sobre as costuras, com 108 brasões do Rei e da Rainha Ana, com coroas sobre os emblemas e dois grandes escudos do rei e da rainha, unindo-se em uma grinalda com a coroa imperial. O escudos de armas, adornava uma ornamentada cobertura e dossel; o dossel e as bases vincadas em franjas de ouro veneziano e prata e as senefas com profundas franjas duplas vincadas, um lado de seda vermelha e branco e o outro de ouro veneziano e prata. No final as mencionadas senefas, foram franzidas com uma estreita franja de ouro e prata. A colcha foi feita de “damasco vermelho e branco revestidos juntos, com uma borda de tecido de outro, com os emblemas do rei e rainha Ana nos quatro cantos e as armas no centro (assim como no dossel e teto), com padrões losango bordados de ouro veneziano (fazendo o padrão de um diamante lapidado), com uma estreita franja de ouro veneziano com tafetá marrom-avermelhado.”
Embora nenhum dos itens acima mencionados sobreviva, um pedaço da valance bordada por Ana, ainda resiste ao tempo e está atualmente, na coleção Burrell, em Glasgow Museum. Esta é a segunda representação sobrevivente dos emblemas particulares de Ana e Henrique. Ela mede 5,2 m de comprimento, feita de cetim branco, com apliques de veludo negro. Seus adornos incluem, tanto as letras ‘HA’, como as bolotas e madressilvas.
Os inventários de Henrique não listam em qual conjunto de tapeçarias ela pertencia e portanto, é assumido que houvessem sido perdidas durante a vida do monarca. Instalada na mesma coleção, está a cabeceira cerimonial, feita para o casamento de Henrique VIII com sua quarta esposa, a alemã, Ana de Cleves. Além do falcão e este emblema privado de Ana, ela também possuía um secundário – um leopardo.
FONTES:
On the Tudor Trail: AQUI.