Embora não fizesse parte da realeza, Ana Bolena nasceu em uma família rica e bem relacionada. Ela não possuía títulos em seu nome, porém, seu avô era um Duque e seu pai ocupou vários importantes cargos na Corte antes de Ana acender aos olhos do Rei.
A mãe de Ana, Elizabeth Bolena, era uma Howard por nascimento, uma das famílias mais poderosas de toda a Inglaterra e seu pai, descendia da família Butler. Não restam dúvidas de que o sangue real, corria em suas veias, pois Ana, podia reivindicar nomes de peso, como Eduardo I, Eleanor de Aquitânia e Henrique II, como seus ancestrais.
Tecnicamente falando, Ana Bolena foi tão ou mais bem nascida que o próprio Henrique VIII.
Não há dúvidas de que Thomas Bolena enfrentou amargas dificuldades financeiras durante o início da vida de Ana, porém, a noção de que ela foi arrancada da pobreza, insignificância e obscuridade, pelos gentis e calorosos braços do rei, é falsa. No momento em que Ana atingiu a idade de contrair matrimônio, seu pai já era um muito bem sucedido cortesão, rico o suficiente para financiar produtivas carreiras de seus filhos na corte e ela era uma moça bem educada, inteligente, popular e com ótimas perspectivas no campo marital.
Em 1525, Henrique VIII elevou Thomas Bolena, a Visconde de Rochford. A partir de então, Ana passou a assinar suas cartas como Anne Rochford. Quatro anos depois, o rei concedeu a Thomas Bolena, os títulos de Conde de Ormond e Conde de Wiltshire (o título de Visconde Rochford, passou então para George, irmão de Ana). Claramente, tais títulos vieram ao lado de um significativo aumento na renda da família Bolena.
No dia 1 de Setembro de 1532 – nesta manhã – , no Castelo de Windsor, Ana Bolena recebeu o título de Marquês de Pembroke. Tal evento, foi significativo por inúmeras razões; a primeira – e provavelmente principal – é que nenhuma mulher, jamais havia sido agraciada com o título; a segunda, o Condado de Pembroke, já havia sido anteriormente retido pelo tio-avô de Henrique, Jasper Tudor e possuía fortes conexões reais; finalmente a terceira e última, o título fez de Ana, a mulher da não-realeza, de maior prestígio no reino.
Com o título, é claro, vieram as propriedades. Antonia Fraser afirma que, Ana recebeu, ”cinco mansões no País de Gales, outra em Somerset, duas em Essex e cinco em Hertfordshire – incluindo Hunsdon e Eastwick; estas foram adicionadas às duas casas que ela já havia recebido em Middlesex, em 1532″. Ana Bolena agora, era uma mulher muito rica, recebendo £ 200 a mais que sua renda de seu pai, quando o rei a notara pela primeira vez.
O marquesado foi concedido a Ana e seus herdeiros do sexo masculino, porém, a patente não incluía a habitual disposição que mencionava que os herdeiros varões, teriam de possuir nascimento legítimo, permitindo assim, que o título passasse para qualquer filho ilegítimo que Ana poderia ter. Tal incomum cláusula, não passaria despercebida pela Corte. Normalmente, os títulos eram especificados para passar aos filhos legítimos de seu titular. No entanto, a provisão ou patente de Ana, especificava que seria apenas transmissível, aos seus herdeiros do sexo masculino.
As especulações então, correram soltas pela Corte, ávida em fofocas. Será que um novo bastardo Real estaria a caminho? Ou então, será que Ana, finalmente iria entregar sua virgindade ao monarca, sem um anel de casamento – já que havia sido assegurada de que seus filhos, embora ilegítimos, carregariam um título semi-real?
Tal ideia permeava o imaginário popular, pois Catarina de Aragão estava firme e resignada a não concordar ou render-se a anulação que seu marido tanto buscara. Para muitos, um novo casamento Real, parecia uma ideia mais que distante.
Porque Marquês e não Marquesa?
Primeiramente, o título era originalmente masculino. Porém, a ortografia do século XVI do título de Ana, foi muitas vezes Marquesse ou Marquês de Pembroke – às vezes também, Lady marquesse; uma adequação feminina – assim como duquesa -, do relativamente raro título de Marquês.
Cerimônia:
A cerimônia foi realizada por Henrique VIII na Capela do Castelo de Windsor. O evento em si, foi algo pródigo e testemunhado por inúmeros membros da nobreza – custando mais de £ 1000 dos cofres reais. Parece provável que Henrique tenha conferido o título à Ana, como modo de aumentar seu status social, de modo que seu próximo casamento real, pudesse ser melhor recebido. Porém, também é possível que ele possa ter ”presenteado” Ana, por tê-lo esperado por tanto tempo, através do longo, complicado e meticuloso divórcio do monarca, com sua primeira esposa, Catarina de Aragão. Há registros, que no mês seguinte, o rei perguntara à Duquesa de Norfolk, se ela não achava que Ana era uma mulher bem restituída em títulos e bens. Isto provavelmente, pode ter sido outro indicativo do porque Henrique VIII concedia mais e mais bens e títulos a sua dama e família; ele desejava uma nova esposa bem referenciada. A Duquesa – que não era amiga de Ana -, deve ter considerado tal pergunta impertinente, uma vez que uma boa parte destes títulos e bens, haviam saído dos próprios cofres do monarca.
Já o biógrafo de Ana, Ives, salienta que os motivos por trás de tal título, são muito mais simples e conotam o encontro do monarca inglês, com Francis I da França. Eric Ives, escreve a seguinte nota em seu livro ”The Life and Death of Anne Boleyn” de 2004: –
”Se ela tivesse agora de ir ao seu encontro (Francis I) como predestinada Rainha da Inglaterra, ela necessitaria de

status. Isto, foi dado à ela, em uma impressionante cerimônia no Castelo de Windsor, na manhã de domingo, 1 de Setembro. Lá, seus cabelos pairavam sobre seus ombros, aparados por pele de arminho de veludo carmesim, dificilmente visível sob as jóias; Ana foi conduzida à presença do Rei, pelo mestre das armas da jarreteira, com as Condessas de Rutland e Derby e sua prima Maria Howard, a futura esposa do Duque de Richmond, carregando o manto de veludo carmesim e coroa de ouro de um marquês. Henrique estava ladeado pelos Duques de Norfolk e Suffolk e cercado pela Corte, com os oficiais de armas em seus trajes e La Pommeraye, como convidado de honra. Ana ajoelhou-se ao rei, enquanto Stephen Gardiner leu uma patente, conferindo-a em seu próprio direito e descendência, o título de Marquês de Pembroke. Henrique colocou-lhe seu manto e coroa e entregou-lhe o título de nobreza, além de conceder-lhe outras terras no valor de mil libras por ano”.
Ana então, agradeceu ao Rei e retirou-se. O rei saiu da Capela de St George, onde “uma missa solene” foi recitada e celebrada por Gardiner. Henrique e Francis, representado por seu embaixador, La Pommeraye, então juraram pelos termos do Tratado de Auxílio Mútuo entre Inglaterra e França e anunciaram o plano dos dois de encontrarem-se em Calais. Ao som de ”Te Deum”, as protocolaridades terminaram, que foram seguidas por um suntuoso banquete no Castelo. Ana Bolena agora, estava pronta para o palco europeu.
Ana agora, era Rainha em tudo, exceto em nome. Ela era agora, a primeira inglesa a quem foi concedido um título de nobreza hereditária. Enquanto ela esteve ajoelhada ouvindo as palavras do Gardner, ela pode ter sentido uma grande satisfação no fato de que agora, era a mulher nobre (da não-realeza) de mais alto escalão na Inglaterra. Ela e Henrique, estavam então, um passo mais perto de seu objetivo, já que embora ainda fosse legalmente casado com sua primeira esposa, Catarina de Aragão, o monarca já estava preparando-se para o seu casamento com Ana. Em Outubro, ela ocupou uma posição de honra, na reunião de Henrique e Francis em Calais.
Poucos meses depois, os dois se casariam e Ana seria coroada Rainha consorte da Inglaterra.
A extinção do título:
Não está claro em registros, como o marquesado de Pembroke, deixou de existir. Existem no entanto, três possibilidades; ele pode ter fundido-se com a coroa, no casamento da Marquês com Rei, em 28 de maio de 1533; ele pode ter sido confiscado em 15 de maio de 1536, quando Ana foi declarada culpada de alta traição; ou, ele pode ter tornado-se extinto com a morte de Ana, sem herdeiros do sexo masculino, em 19 de maio de 1536.
Ouça a música Te Deum, tocada no evento 02. Gibbons: Te Deum I (13:45):
FONTES:
On the Tudor Trail: AQUI.
Under These Restless Skies
The Life and Death of Anne Boleyn – Eric Ives
The Tudor Enthusiast: AQUI.
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