Os Borgias dominaram o Renascimento, fascinando pessoas ao longo do tempo com o seu poder, charme e reputações questionáveis. Eles inspiraram inúmeros livros, filmes, trabalhos acadêmicos e rumores; e a única coisa que todos podem concordar, é sobre quão difícil é adentrar profundamente nesta trama familiar já tão estereotipada: clérigo corrupto e sua prole incestuosa, ou pai de família amoroso e sua prole incompreendida? A verdadeira natureza desta família, provavelmente encontra-se em algum lugar no meio desta lacuna de mistérios e sem dúvidas, é um baú de tesouros para qualquer bom romancista histórico, ou script hollywoodiano.
É natural que em meio a tantos mistérios, foi um prazer poder estudar e conhecer um pouco sobre a vida da menina dos olhos desta família, Lucrezia Borgia. Para muitos, a bela Lucrezia sempre foi uma mulher de face angelical, com o quente sangue Borgia nas veias, cujo nascimento e trajetória no seio desta, que foi uma das famílias mais turbulentas da Europa renascentista, outorgou-lhe muito mais que apenas um nome e lugar em meio a este cenário caótico. Com esta série de 3 artigos, descobriremos um pouco sobre a vida desta mulher, que não diferente do resto de sua família, há séculos vem sendo alvo de mitos, lendas e senso comum entre muitos curiosos e estudiosos pelo mundo.
Nascimento:
A jovem Lucrezia Borgia, veio ao mundo em 18 de Abril de 1480, em Subiaco, perto de Roma – estados italianos. Ela foi filha ilegítima do

Cardeal espanhol Rodrigo Borgia – que mais tarde tornaria-se o Papa Alexandre VI -, e uma de suas amantes, Giovanna (Vannozza) de Candia dei Cattanei – uma italiana de origem lombardia -, que também foi mãe dos outros dois irmãos mais velhos de Lucrezia, Cesare e Giovanni e do terceiro e mais novo, Gioffre. Lucrezia falava e escrevia em diversos idiomas, como italiano, francês, latim e grego.
Não sabemos quando Vannozza (mãe de Lucrezia) enviuvou de seu primeiro marido, o oficial papal, Domenico Giannotti d’Arignano; porém, é certo que algum tempo antes do nascimento de Lucrezia, ela já havia casado-se novamente com Giorgio della Croce, também secretário apostólico. Ao lado de sua mãe, Lucrezia passaria seus primeiros anos na casa de sua avó, na Piazza Pizzo di Merlo, em Roma. Ao ficar novamente viúva, Catanei casou-se novamente em 1486 – não sem um bom dote -, com Carlo Canale, um erudito de Mântua, já camerlengo do Cardeal Francesco Gonzaga e amigo de Poliziano, com o qual a jovem Lucrezia, iniciou suas primeiras lições de poesia.
Nesta época, era comum que pessoas ligadas à igreja tivessem filhos fora do matrimônio. Ela e seus irmãos, foram os únicos filhos aos quais Rodrigo daria seu nome, após tornar-se o Papa Alexandre VI, em 1492. Lucrezia tinha ancestralidade espanhola, dos Borja, que italianizaram o nome, passando a chamarem-se Borgia. Rodrigo, seu pai, nasceu no município de Xàtiva, na província de Valência, na Espanha. Um local pacato, que em pouco lembrava as turbulentas e sujas ruas de Roma, onde no seio do Renascimento, todos os locais pareciam encontrar o Vaticano. Ele havia estudado Direito em Bolonha e tornou-se um Bispo, Cardeal e vice-reitor da igreja quando seu tio foi eleito Papa Calisto III.

Conforme vimos anteriormente, embora ainda muito jovem, ela tenha passado seus primeiros anos ao lado de sua mãe, Lucrezia logo veria-se separada da mesma, a fim de receber uma digna educação renascentista – período quando artistas, arquitetos e cientistas, procuravam meios de transformar o mundo ao seu redor -, condizente à sua condição.
Enquanto viveu em um Palácio em Roma, ela foi para o Convento de São Sisto, na Via Appia e depois, para a casa de Adriana de Milá, viúva de Ludovico Orsini, prima de seu pai Rodrigo.
Adriana de Milá, era mãe de Orso Orsini, que era casado com a belíssima Julia Farnese, que mais tarde envolveria-se com Rodrigo e quando Lucrezia fizesse 12 anos, daria-lhe uma filha chamada Laura, em 1492. Rodrigo desde sempre, amou e mimou muito todos os seus filhos e a angelical Lucrezia claramente não foi excessão.
Lucrezia recebeu a melhor instrução que poderia ter à sua disposição, sendo educada por mestres e eruditos, dos quais até hoje ouvimos falar; um destaque, foi o humanista Pomponio Leto. Juntamente das noções de música e diversos idiomas, ela também aprendeu dança, bordado e educação religiosa, que foi-lhe dada pelas freiras do convento de San Sisto.

Ela era considerada belíssima ao padrão do renascimento europeu, possuía cabelos cor de ouro e olhos cor mel, que variavam sua coloração até o verde. Dizem que mais tarde na vida, Lucrezia adorava clarear seus cabelos para deixá-los mais loiros e belos. Acreditam que uma pintura de Pinturicchio (1454-1513), chamada ” Disputation of Saint Catherine”, usou-a como modelo. Nela, podemos ver uma jovem e esbelta mulher, de cabelos cor de ouro, ondulados, caindo em cascata por suas delicadas costas.
Com o desenvolvimento intelectual e é claro, físico de Lucrezia em uma jovem bela mulher, ela foi cada dia mais, tornando-se uma importante peça-chave para os interesses de seu pai e de seu irmão Cesare. Aos onze anos de idade, no dia 26 de Fevereiro de 1491, foi assinado o primeiro contrato de casamento de Lucrezia. Ela fora prometida ao jovem do Reino de Valência, Don Cherubino Juan de Centelles, Senhor de Val d’Ayora. A intenção do Cardeal Borgia com tal união, era renovar as antigas relações políticas com sua terra natal, a Espanha. Ao final de Abril, sem ter cancelado o contrato anterior, uma nova escritura a comprometia ao jovem Gaspare d’Aversa, Conde di Procida no Reino de Nápoles, mas que no momento, também vivia em Valência, local onde a esposa teria futuramente de residir.
A aliança com um jovem napolitano, fora talvez ditada por razões políticas, relacionadas com a paz restaurada do Papa Inocêncio VIII com o Rei de Nápoles, Fernando I (também conhecido como Ferrante) de Aragão, na primavera de 1492.
Não era para ser… Ao final das contas, ambos os compromissos foram desfeitos. Mesmo assim, ainda aos 11 anos, ela ficou noiva. O pretendente que ao fim mais encaixou-se aos interesses Borgia, foi Giovanni Sforza, com quem ela casou-se, em 12 de junho de 1493.
CONTINUA…
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