Em 11 de Agosto de 1492, o pai de Lucrezia, o Cardeal Rodrigo Borgia, tornou-se Papa, adotando a alcunha de Alexandre VI. Graças a isto, foi necessário arquitetar novas estratégias maritais para dobrar e agradar os Sforza de Milão e em particular, o Cardeal Ascanio – que fizera uma decisiva contribuição para sua eleição como pontífice.
O contrato marital anterior de Lucrezia com o Conde di Procida, foi aberto

para cancelamento, com um ato vinculado dia 08 de Novembro de 1492, tornando-se efetivo no dia 02 de Fevereiro de 1493.
Em 1493, um contrato por procuração, uniu maritalmente Lucrezia a Giovanni Sforza, Senhor de Pesaro e Conde de Cotignola. Sforza, já era relacionado com o Duque de Urbino e Marquês de Mântua, viúvo de Margherita Gonzaga, e primo em segundo grau do Cardeal Ascanio Sforza.
Após inúmeros contratempos e adiamentos, a cerimônia de casamento foi realizada no Vaticano, em 12 de Junho de 1493. Giovanni Sforza retornaria sozinho à Pesaro no verão, sem ter consumado o casamento – talvez devido à tenra idade da noiva. Sforza foi chamado à Roma no outono, para cumprir seus deveres conjugais, em troca do pagamento integral do dote. Porém, na primavera de 1494, mudanças nas condições políticas da península, colocaram em crise a posição do Senhor de Pesaro ao olhos do Papa, devido ao apoio concedido por Ludovico o Mouro, ao Rei Carlos VIII da França, que avançava ao Reino de Nápoles; lá o novo soberano, D. Afonso II de Aragão, havia formado com o Papa, uma

aliança selada em maio, pelo casamento de Gioffre Borgia, irmão mais novo de Lucrezia, com Sancha de Aragão, filha natural do rei.
No mês seguinte, na véspera da chegada dos franceses à Itália, Lucrezia acompanhou seu marido à Pesaro, ao lado de Adriana de Milá e sua nora, Giulia Farnese, amante do papa.
Sforza, que deveria defender os territórios do papado contra Charles VIII, na realidade informou o Duque de Milão sobre as intenções de seu sogro e aliados napolitanos. Tal conduta para com o Papa, primeiramente significou a Giovanni, a perda da proteção e mais tarde condenação papal, que concretizaria-se em 1497. Aparentemente, de fato, após a aproximação de Ludovico o Mouro com Alexandre VI, Sforza pareceu manter seus próprios privilégios durante a retirada do Rei da França de Nápoles, no verão de 1495, quando, junto de sua esposa, recebeu em Junho em Perugia, seu sogro, que por prudência, preferiu afastar-se temporariamente de Roma. No Outono de 1495, Lucrezia retorna com seu

marido à Roma, no Palácio de Santa Maria in Portico, que estava disponível ao Papa, compartilhado com Adriana e Giulia.
Sforza lutou no verão de 1496 em Nápoles, contra os franceses, contrario à sucessiva ordem do Papa de que retornasse à Roma, preferindo ao invés disto, retornar à Pesaro, talvez com medo das medidas que o Papa poderia tomar, devido a seu jogo de aliança dupla no passado. No entanto, Sforza recebera um ultimato de Alexandre VI em janeiro, tendo de retornar à Roma e colocar-se à disposição do Papa, como comandante do exército papal; em seguida, ele envolveu-se na conquista da Fortaleza de Ostia.
Parecia que as coisas haviam mudado, e que Sforza havia novamente ganhado o favor de Alexandre VI, bem como o acordo marital com Lucrezia – fato documentado em algumas relações diplomáticas -; quando de repente, em 24 Março de 1497, fugiu as escondidas de Roma, após descobrir uma conspiração secreta do Papa Borgia para matá-lo; conspiração esta, que segundo alguns cronistas de Pesaro, foi revelada a ele, pela própria mulher. Imediatamente, o Papa convidou-o novamente para retornar à Roma, Giovanni não apenas se opôs com uma firme rejeição, como manteve sua esposa a seu lado. A reação imediata do Papa, foi enviar à Pesaro, o Padre geral dos Agostinianos, Mariano da Genazzano, com a tarefa de persuadir Sforza a aceitar a anulação do casamento, deixando-lhe a liberdade de escolher como justificativa, a não-consumação de seu casamento por incapacidade sexual, ou como alternativa, a falha em romper o contrato de casamento anterior de Lucrezia com Gaspare di Procida, alegando que na realidade a anulação de contrato só havia sido enviada e nunca cancelada.

Apesar de inicialmente ter optado pela segunda alternativa, Giovanni seguiu as instruções do cardeal Ascanio Sforza e Ludovico il Moro, de aceitar o fracasso e beber por sua incapacidade. No entanto, em seguida afirmou várias vezes exatamente o oposto para seus contemporâneos, com declarações que mais tarde seriam endossadas pelo nascimento de um filho, que teria em 1510 com sua terceira esposa, Genebra Tiepolo.
Junto com tais alegações, Sforza fez circular insinuações infundadas, em Milão e Pesaro, sobre relações ilícitas entre Alexandre VI e sua filha; que espalharam-se rapidamente por pessoas como Giuliano della Rovere, Iacopo Sannazzaro, Jovian Pontano – inimigos jurados dos Borgia – e Francesco Guicciardini, continuando mais tarde, durante o século XIX por Victor Hugo e Gaetano Donizetti.

O processo de separação, confiado a Ascanio Sforza, teve fim em 19 de Dezembro de 1497, com a declaração de nulidade do matrimônio. Naqueles meses e no próximo, durante o qual Lucrezia passou longos períodos no convento de San Sisto, houveram alguns episódios enigmáticos, que sempre permaneceram sem solução e ajudaram a alimentar a sinistra reputação, que ainda hoje rodeia Lucrezia e a família Borgia.
Em 15 de Junho de 1497, ocorreu a morte violenta e inexplicada de Giovanni Borgia, encontrado morto no Tibre, após uma noite passada em companhia de Cesare e outros membros da família, então hóspedes de sua mãe Vannozza. Em fevereiro de 1498, foi descoberto no mesmo rio, o corpo sem vida de Pedro Calderón, conhecido como Perotto, fiel encarregado de Alexandre VI, juntamente de Pantasilea, encontrada no rio ao mesmo dia. Finalmente, no início de 1498, houve o nascimento de um bebê, Giovanni Borgia, conhecido como o ”infante romano”, cuja paternidade é por sua vez, atribuída ao jovem Perotto e assumido por Alexandre VI e Cesare Borgia, sucessivamente.

Os contemporâneos acreditavam que a mãe desconhecida, tratava-se de Lucrezia – assim como pesquisas atuais, apoiam tal teoria -; o certo é, que três anos mais tarde, no dia da assinatura do contrato de casamento com Alfonso d’Este – terceiro marido de Lucrezia -, Alexandre VI emitiu uma bula secreta, indicando o infante romano, como seu, e emitindo pouco depois, uma segunda bula, que no entanto, passara a reconhece-lo como filho de Cesare Borgia, talvez como tentativa de prover direitos, apoio financeiro e herança ao bebê, assim como tirar da vista da Corte d’Este, qualquer fundamento para os rumores que circulavam em Ferrara, sobre a existência de um filho bastardo de sua futura Duquesa Lucrezia.

No início de 1498, novas negociações foram conduzidas pelo papa, para casar Lucrezia com Alfonso de Aragão, príncipe de Salerno, parte de uma aliança mais ampla, que incluía a união de Cesare Borgia com Carlotta, filha legítima do rei de Nápoles Frederico I, que sucedeu em 1495, o falecido Rei Afonso – pai natural do noivo de Lucrezia, e de Sancha, esposa de Geoffrey Borgia. O contrato foi assinado em 20 de junho de 1498; Lucrezia traria consigo 40.000 ducados, enquanto Alfonso, com dezessete anos na ocasião, foi feito pelo rei de Nápoles, Duque de Bisceglie. O casamento ocorreu em 21 de julho, no Vaticano, e de acordo com os contemporâneos, era destinado à um futuro de felicidade, pois, conforme relatado pelo orador Mantua C. Canale,“seduzida por suas atenções e beleza, Madonna Lucrezia tem para seu marido uma paixão verdadeira”.
No entanto, as negociações de casamento de Cesare Borgia e Charlotte falharam, talvez por medo do rei de Nápoles, de uma subsequente usurpação do trono por Cesare, cada dia em maior favor de seu pai, após a morte de Giovanni.
CONTINUA…