Cesare passou outubro na França, a fim de forjar uma nova aliança com Luís XII – então à beira de reivindicar os Estados de Milão e Nápoles.
Para facilitar tais negociações, Alexandre VI confiou o galero (um tipo de chapéu de abas largas, utilizado pelo clero. Durante séculos, o uso do galero estava limitado aos cardeais, como uma coroa que simbolizava o título de Príncipe da Igreja) a Georges d’Amboise e uma dispensa para o rei Luís XII da França, para que este pudesse desposar Ana da Bretanha, viúva de Carlos VIII, quando fora declarada (em 18 de dezembro) a nulidade do casamento de seu matrimônio com Jeanne de Valois.
O passo seguinte, foi em 12 de maio de 1499, o casamento francês de Cesare, patrocinado por Luís XII, com Charlotte d’Albret, irmã do rei de Navarra, que legaria a ele, a posse do ducado de Valentinois.

Por medo das consequências desta nova aliança, Alfonso de Aragão abandonou Roma com inúmeros Milaneses e Napolitanos. Talvez em uma tentativa de desviar Lucrezia das dores do abandono, o Papa confiou-lhe a tarefa de governar a cidade de Foligno e Spoleto, algo que ela fez durante o sexto mês de gravidez.
Novamente ao lado de seu marido, em Setembro, eles juntos retornaram à Roma, onde em novembro, Lucrezia deu à luz a um filho, chamado Rodrigo. Os temores do Duque de Bisceglie sobre uma possível traição de seu cunhado – que haviam terminado nos primeiros meses de vida de seu filho -, ampliaram progressivamente com o aumento do poder de Cesare, que agora completamente pró-França, reconhecia no napolitano marido de sua irmã, o último obstáculo para a criação de seu próprio estado. O medo de Alfonso, realizou-se no verão, em 15 de Julho de 150o, quando ele foi atacado perto de S. Pietro, por alguns estranhos que o feriram gravemente.

O Duque foi socorrido e transportado para o Vaticano, onde foi confiado aos cuidados dos médicos de Lucrezia e de sua irmã Sancha. Alfonso recuperou-se em poucas semanas, mas manteve-se sob proteção nos apartamentos Papais. No entanto, na noite de 18 de Agosto, ele foi estrangulado em seu quarto, ao que parece, por Micheletto Corella, capitão Valentino, que de acordo com testemunhos, fora o responsável pelos dois ataques deferidos à vítima.
No final do mês, Lucrezia refugiou-se em Rocca di Nepi, retornando à Roma no início de dezembro, pouco antes de ser oferecida em casamento ao Duque de Gravina, Francesco Orsini. A proposta, junto com a de muitos outros pretendentes, foi recusada por ela, que declarou estar disponível a outro arranjo marital proposto por seu pai, desta vez, com Alfonso d’Este, herdeiro do Duque de Ferrara, Ercole I.
Terceiro Casamento:
Após a morte de seu segundo marido, o pai de Lucrezia, o Papa Alexandre

VI, queria organizar um terceiro casamento. Mais uma vez a política determinou o matrimônio de Lucrezia, com o jovem viúvo Alfonso d’Este, filho mais velho de Ercole d’Este, Duque de Ferrara. Ela estava ansiosa para o casamento. Lucrezia considerava Roma uma prisão e pensou que finalmente iria ter uma melhor chance de liderar as rédeas de sua própria vida em Ferrara, longe de seu pai e de seu irmão ambicioso.
Com o novo casamento, a intenção dos Borgia era criar uma aliança com o sólido Estado d’Este; seria ao mesmo tempo, a consolidação das recentes conquistas de Cesare para o Estado de Roma, além de oferecer ajuda contra as reivindicações venezianas sobre tais territórios.

No entanto, o projeto encontrou forte resistência por parte de Ercole d’Este, que estava em negociações com o Rei da França, para dar seu filho a mão de Luísa d’Angoulême em casamento. Eles também tinham fortes suspeitas sobre a integridade moral da filha do Papa, devido aos numerosos rumores que circularam nas chancelarias italianas nos últimos anos.
O projeto, inicialmente oposto até mesmo pelo rei da França, mais tarde foi fortemente apoiado pelo mesmo, em troca do consentimento de uma passagem segura pelos Estados Pontifícios, para as tropas francesas na Joint Venture de Luís XII e Fernando de Aragão, para a divisão do reino de Nápoles.

Por sugestão do rei francês, as reivindicações do Duque para o casamento, deveriam ser muito altas: 100.000 ducados; os castelos e os Pieve di Cento; jóias e outros objetos de valor estimado à 75.000 ducados; a redução da taxa anual a pagar à Santa Sé pelo Feudo de Ferrara, de 4000 para 100 ducados; e finalmente, a posse direta da mesma contenda para todos os descendentes da linha masculina de Lucrezia e Alfonso d’Este. Ciente dos benefícios, tanto para a filha, quanto político-dinásticas de tal casamento, o Papa finalmente aprovou o contrato de matrimônio, em 26 de agosto, sendo ele, assinado no castelo de Belfiore em Ferrara.
Em setembro de 1501, Lucrezia decidiu partir para Ferrara; deu suas possessões romanas para seu filho Rodrigo, mas apenas saiu de Roma no dia 06 de janeiro 1502. Sua chegada em Ferrara teve lugar no dia 02 de fevereiro, em uma série de festividades produzidas por todos os parentes, que reuniram-se para saudar o novo casal, que juntos, uniram-se aos tributos de numerosos humanistas literários e poetas presentes na Corte.
A vida em Ferrara:
O povo de Ferrara adorou Lucrezia, elogiando-a por sua beleza, graça interior e personalidade. Com sua habilidade de socializar-se com artistas, cortesãos e poetas da corte renascentista, ela ajudou a tornar Ferrara, um centro de artes e cultura do renascimento.
Sanadas as diferenças iniciais, a monotonia foi o que distinguiu sua nova vida na corte. O casal foi caracterizado por seu amor à arte e relações amistosas com os humanistas, poetas e músicos presentes em Ferrara. Eles tornaram seus confidentes, poetas como Tito Vespasiano Strozzi e o filho dele, Hercules (por meio deste último, a Duquesa conheceu no outono de 1502, Pietro Bembo, convidando-0 então, para a casa de campo de Ostellato Strozzi.)
Pietro Bembo, cuja reputação como um estudioso já era conhecida por todos, passou grande parte de seu tempo com Lucrezia, durante o ano de 1503.

Durante este ano, a relação entre os dois -como emerge de cartas afetuosas trocadas entre eles, que sobrevivem até hoje -, sugere que talvez ambos tenham abandonado as regras convencionais das relações cortesãs.
No entanto, não é certo qual o grau de intimidade de tal relação. Certamente, a presença de Bembo e outros de seus amigos literários, ajudou Lucrezia no final de 1502, a superar o trauma físico e suas consequências emocionais, após a perda de uma filha durante o parto; assim como também, a ajudaram quando em 1503, iniciaram os dolorosos momentos relacionados com os terríveis eventos familiares que ocorreram em 18 de agosto com a morte do Papa, e não muito tempo depois, com a queda e desgraça de seu irmão Cesare.
A ruína dos Borgias não envolveu Lucrezia, cuja única preocupação – exceto por uma tentativa do pai e marido para apoiar as reivindicações iniciais de Valentino e várias intercessões posteriores para a sua libertação

do cativeiro espanhol – eram para seu filho Rodrigo.
Em dezembro de 1503, Bembo deixou Ferrara, mas isto não interrompeu, até 1517, sua correspondência com Lucrezia. Ao longo dos anos, o tom das cartas, no entanto, parece cada vez mais convencional.
Após a morte de Ercole d’Este, em 25 de janeiro de 1505, Alfonso confiou a Lucrezia – além dos deveres rituais de representação -, a gestão de demandas dos cidadãos do príncipe, uma tarefa que foi dita ter sido executada pela nova Duquesa, com “engenho e boa graça”.
Filhos:
Lucrezia foi mãe de sete ou oito crianças conhecidas:
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Giovanni Borgia “Infante Romanus” (1498-1548): A paternidade da criança foi dita ser de Perotto, mas Alexandre e Cesare também foram apontados como o pai. Também é possível que esta criança (identificada mais tarde na vida como meio-irmão de Lucrezia) tenha sido resultado de uma ligação entre Rodrigo Borgia (o Papa Alexandre VI, pai de Lucrezia) e uma amante desconhecida, como este assegurou em uma bula papal.
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Rodrigo Borgia de Aragão (01 de novembro de 1499 – agosto de 1512): Filho com Alfonso de Aragão.
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Ercole II d’Este, Duque de Ferrara (05 de abril de 1508 – 03 de outubro de 1559).
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Ippolito II d’Este (25 de agosto de 1509 – 01 dezembro de 1572): Arcebispo de Milão e mais tarde Cardeal.
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Alessandro d’Este (1514-1516): Morto na infância.
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Leonora d’Este (03 de julho de 1515 – 15 de julho de 1575): Uma freira.
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Francesco d’Este, Marquês de Massalombarda (01 de novembro de 1516 – 02 de fevereiro de 1578).
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Isabella Maria d’Este (Nascida e falecida em 14 de junho de 1519).
Últimos Anos:
Em 1512, Lucrezia começou a levar uma vida reclusa, talvez causada pela notícia da morte de Rodrigo, seu filho com Alfonso de Aragão. Embora

separada de Rodrigo, ela tinha a certeza que ele estava sendo bem cuidado; tendo selecionado de sua governanta, seu tutor e os servos para supervisionar seu Ducado de Bisceglie (que ele havia herdado de seu pai).
Ela começou a passar mais tempo em seus aposentos ou em conventos nas proximidades, tornando-se ausente e mal-humorada. Voltada cada vez mais para a religião, piedade e obras de caridade, ela passou a usar cilício de pêlo (utilizado também por Thomas More e Catarina de Aragão) sob seus vestidos bordados, como uma forma de penitência. Enquanto os anos progrediram, ela engordou bastante e foi dito que envelheceu muito. Lucrezia também era atormentada por crises de melancolia.
No dia 14 de Junho de 1519, após dar à luz uma menina natimorta (Isabella Maria), ela desenvolveu uma febre debilitante (provavelmente febre puerperal). Lucrezia morreu dez dias mais tarde, aos 39 anos de idade. Poucos dias antes de sua morte, ela escreveu uma carta ao Papa Leão X, pedindo sua bênção e elogiando seu papado.
Ela foi enterrada no Mosteiro de Corpus Christi, vestindo o hábito franciscano (e seu cílicio de pêlos), que ela havia abraçado nos últimos anos, como resultado de seu crescente fervor religioso.
Os últimos anos de devoção na Corte de Ferrara e os numerosos descendentes assegurados a d’Este, contribuíram para uma lembrança honesta de sua vida neste local, em um flagrante contraste com os tumultuosos anos de sua vida em Roma – durante os quais, ela foi um instrumento político nas mãos de seu pai e irmão.

Apesar de ter frequentado diversos círculos artísticos, é muito pobre a iconografia sobre Lucrezia. Existem certas imagens dela, em algumas medalhas durante sua juventude, incluindo a de Giancristoforo Romano, cunhadas para seu casamento. É difícil reconhecer a confiabilidade de alguns retratos dela, com exceção talvez, dos dois exemplares, preservados em Nimes e Como, que não são originais conhecidos.
Lucrezia Borgia foi muitas vezes acusada de ser frívola e sem coração, mas um exame de sua vida, revela que tais avaliações não foram sempre merecidas. Na realidade, grande parte das insinuações sobre seu filho ilegítimo e alegado comportamento incestuoso, podem ter sido em retaliação aos maus atos cometidos por seu pai e por seu irmão Cesare.
Muitos historiadores, de fato a vêem como um peão político, cujos casamentos eram usados para promover as ambições de seus familiares. Nascida em uma família cruel e gananciosa, Lucrezia era muito mais um produto de seu tempo e meio, e aceitou tais ambições e suas consequências, pelo o bem de sua família, os Borgia.

FONTES:
Treccani: AQUI.
Geni: AQUI.
Notable Biographies: AQUI.
Biography: AQUI.