Owen Tudor: O Pai de uma Dinastia [PARTE I]

As histórias galesas e inglesas, estão repletas de figuras românticas, como galantes e bravos guerreiros, abençoados com um inato senso de cavalheirismo e moral, que fazem com que os seus nomes vivam nos anais da história. A maior concretização de tal personagem, é sem dúvida o Rei Arthur, o príncipe mítico que todos os reis posteriores esforçaram-se para copiar. Dezenas de homens medievais, inspirados nos muitos contos do Rei Arthur e seus honrados cavaleiros, igualmente se esforçaram para reproduzir os ideais destes personagens, em uma tentativa de moldar suas vidas de acordo com o sacramento da Cavalaria.

Owen ap Maredudd ap Tudur, foi um destes homens do século XIV,  abençoado com sagacidade, romantismo e talento marcial, bem como o sangue nobre necessário para ser considerado um verdadeiro cavaleiro.

Filho de um Fora-da-lei:

Owain ap Maredudd, nasceu por volta de 1400, o mesmo ano em que o primo de seu pai, Owain Glendower Maredudd, liderou uma rebelião contra

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Snowdonia.

o domínio inglês e é possível que a criança tenha sido nomeada em homenagem ao seu nobre primo de segundo grau.

Quando Owain tinha cerca de 6 anos de idade, a rebelião e o sonho galês de independência, haviam terminado; os galeses foram derrotados e seu pai estava morto. Algumas histórias insistem que Maredudd, na realidade fugiu para as montanhas de Snowdonia, após matar um homem e que levou seu filho com ele, enquanto outras lendas, dizem que ele fugiu para Londres, a fim de reerguer sua casa, depois que a fortuna e reputação da família, fora irrevogavelmente danificada pela aliança com Glendower.

Os irmãos mais velhos de Maredudd, Rhys e Gwilym, desempenharam um papel integrante na rebelião de Glendower, que começou com sua emboscada às forças do Rei Henrique IV, quando este chegou em sua Anglesey, determinado a vingar-se da população e das cidades locais, em uma ostensiva exibição de autoridade e força marcial.

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Rebelião de Glendower.

A imponente força de Henrique IV afundou, pois ele fora constantemente atacado por campanhas de guerrilha dos “ap Tudur” sendo forçado a uma retirada humilhante para a segurança de suas tropas. Amargurado por este acontecimento, Henrique IV emitiu uma proclamação em que ele esforçava-se para perdoar cada rebelde que levantou armas contra ele; mas havia uma ressalva. Três pessoas em particular, foram excluídas do perdão real, e eles eram: Owain Glendower, Rhys ap Tudur e Gwilym ap Tudur. Após isto, os irmãos Tudor mais velhos, ainda capturaram uma das mais importantes fortalezas do rei em Conwy, em 01 de abril de 1401.

Embora Maredudd agora estivesse proibido – como resultado da rebelião do rei anterior -, ele havia sido um funcionário local conhecido, dando continuidade a uma longa tradição de serviço familiar para o monarca no poder, quer fossem eles ingleses ou príncipes de Gales. Ele havia servido como Regente de Malltraeth [1387-1395], Cidadão do Newborough e

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Henrique IV.

finalmente, como Escheator (Um Oficial Real, responsável por reverter propriedades de um falecido para o estado, originalmente a um senhor feudal, em casos onde não existissem herdeiros legais ou requerentes) da Ilha de Anglesey entre 1388 e 1391.

Estes títulos e terras, no entanto viriam a ser extintos após a rebelião e as mortes, primeiro de Maredudd e depois de seus irmãos Rhys e Gwilym. Assim, a família Tudor foi efetivamente arruinada como uma força nobre galesa. Das escassas informações disponíveis, parece que Maredudd trabalhou como um escudeiro para o bispo de Bangor em 1405, durante o meio da revolta; no entanto, suspeita-se que ele havia morrido por volta de 1407. Mais uma vez, as circunstâncias que cercam esta época da história, infelizmente são quase inexistentes, mas ele não é mencionado novamente após esta data.
Maredudd conseguiu casar-se pouco antes da eclosão da rebelião, e como funcionário respeitado que era na época, ele desposou Margaret Ferch Dafydd, filha do Lorde de Anglesey. Foi através dessa união, que seu filho nasceu em 1400, enquanto o mundo em torno deles entrou em colapso, tornando repleto de perigos e incertezas.

Embora nascido em um período não muito ideal para criar uma criança, o menino foi batizado como Owen ap Maredudd, e converteria-se no homem que em breve, seria único sobrevivente da linhagem masculina da dinastia dominante de Penmynydd Tudur, que dentro de uma década foi esmagada, como resultado da Guerra da Independência.

Há muita falta de informação sobre as circunstâncias exatas do início da vida de Owen, mas o que parece claro, é que com sete anos de idade, ele

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Inglaterra Medieval.

estava na Corte inglesa de Henrique IV, para tornar-se um dos Camareiros do Rei. Isto pode parecer incomum, uma vez que seu pai, tios e primos, estavam lutando contra Henrique IV na guerra galesa de independência, mas o fato, era que a Corte era o lugar onde qualquer homem ambicioso que esperasse crescer e fazer fortuna, deveria estar e como a família Tudor estava no irredimível caminho para a ruína catastrófica, Londres era o único lugar onde Owen poderia posicionar-se para crescer.

Assim como todos os galeses neste terrível período, Owen teria enfrentado

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Henrique V.

um futuro no País de Gales sob leis rígidas, duras e opressivas, impostas pelo amargo Rei Henrique IV, e embora sua nacionalidade galesa não tenha tornado mais fácil para ele adaptar-se à vida em Londres, ou ganhar aceitação entre os moradores locais, com a orientação certa e um bom patrono, houve pelo menos a oportunidade de ganhar uma vida razoável.
Em sua adolescência, Owen foi aceito como parte do exército do rei, como um jovem capaz e é possível que ele estivesse em ação, ou pelo menos, em torno da infame Batalha de Agincourt em 1415.

Por esta altura, o Rei era Henrique V e o corajoso e guerreiro governante, tomou parte pessoalmente na condução de seu exército para uma vitória imortal sobre as forças francesas. Seja qual tenha sido o papel desempenhado por Owen na batalha, logo depois dela, ele foi promovido para o cargo de Escudeiro, um estatuto para os meninos em torno da idade de 14 ou 15 anos, em que eram essencialmente aprendizes de cavaleiros.

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Batalha de Agincourt.

Um Escudeiro tinha muitos serviços que precisava prestar para o Cavaleiro, a quem ele era designado para servir, e as funções eram semelhantes às de um servo, porém mais em consonância, com o objetivo geral de tornar-se um cavaleiro por si, após o trabalho ser concluído. Os trabalhos típicos do escudeiro de um cavaleiro, incluíam cuidar da armadura e cavalos do Cavaleiro e acompanha-lo em qualquer batalha. Um grande Cavaleiro teria muitos Escudeiros e todos eles estariam igualmente tentando impressionar seu benfeitor, a fim de alcançar a posição de futuramente, tornar-se um cavaleiro condecorado.
Pouco sabe-se de sua vida neste período, no entanto, parece que ele estava presente na França, novamente em torno de maio de 1421, ao serviço do proeminente Sir Walter Hungerford, um nobre Barão inglês, que estava prestando um papel fundamental como administrador do rei nas guerras contra os franceses.

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Catarina de Valois.

Ele foi chamado durante este período, como “Owen Meredith” e tinha cerca de 21 de idade. Esta época, teria sido sua primeira introdução real na guerra.
Foi também neste emocionante e perigoso tempo – embora a datação exata seja difícil de verificar -, que ele entrou ao serviço da recém-enviuvada rainha Catarina de Valois, esposa do recentemente falecido rei Henrique V.
Este posto pode ter sido a posição mais alta que um homem como Owen podia almejar chegar, e é mais do que provável que ele a conseguiu por seus serviços prestados ao Barão de Hungerford. Seu posto era o de Mestre do Guarda-Roupa da rainha, enquanto ela estava morando no castelo de Windsor e o papel essencialmente, significava que ele estava no controle dos alfaiates, cômodos e qualquer outra coisa relacionada a seu quarto e guarda-roupa. Também era seu trabalho, lidar com todos os inventários dos vestidos e garantir que todas as roupas que foram enviadas para serem limpas, estivessem satisfatoriamente contabilizadas quando retornassem. Sua presença também deveria garantir que todos os ladrões de jóias fossem desencorajados, uma ocorrência comum, considerando a natureza opulenta do guarda-roupa de uma rainha.

Continua…

 

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