A história não tem sido justa com Joana. A figura da Rainha espanhola, filha dos Reis Católicos, sempre foi muito atraente para romancistas através dos séculos, pois reunia uma série de características marcantes em todo bom best-seller: paixão arrebatadora, amor não correspondido, desgosto e ciúme excessivo, beirando a obsessão.
Em uma pesquisa à respeito da opinião dos espanhóis sobre Joana de Castela, é muito provável que 9 entre 10, respondam sem hesitar, que tratava-se de uma mulher completamente louca. Porém, será que estamos sendo justos em disseminar tal alcunha e ideia?
A maioria dos historiadores concordam que ela sofria de transtornos melancólicos e depressão; no entanto, tais aspectos em relação aos inúmeros acontecimentos de sua vida, são bastante compreensíveis. Afinal, quem não iria sofrer após vivenciar a perda do grande amor de sua vida, e mais tarde ser mantida em cárcere por ordem das pessoas à quem mais quis bem, chegando a ser maltratada por eles, além de caluniada, difamada e chamada de ”louca” – alcunha esta, que permanece até hoje no imaginário popular.
Nossa intenção com esta série de artigos, é proporcionar à Joana, a oportunidade de poder falar através dos fatos históricos, saindo da obscuridade difamatória criada por sua alcunha famosa e adentrando à uma maior compreensão dos acontecimentos de sua vida e período.
Introdução histórica:
Isabel de Castela, casou-se com Fernando de Aragão no ano de 1469. A relação sexual entre rei e rainha, foi dita como sendo muito boa desde o início.

Ambos possuíam bastante em comum no leito e para a alegria do casal, um ano depois, em 1470, nasceu em Dueñas/Palência, sua primeira filha, a quem chamariam de Isabel – assim como a mãe.
Mesmo feliz com sua filha, a Rainha levaria 8 anos para voltar a ter outra criança – embora durante este período, tenha sofrido um aborto em Toledo.
Foi um momento difícil para a Rainha, afinal, ela encontrava-se em plena guerra de sucessão entre os partidários dos direitos dinásticos de Juana la Beltraneja, e os de seu próprio. As constantes excursões e inspeções militares, acabaram por cobrar um preço à Isabel.

Religiosa como era, a Rainha peregrinou à província de Burgos, rumo ao monastério de San Juan de Ortega, à fim de pedir ao santo – que diziam ser o padroeiro da esterilidade – intercessão para que concebesse novamente uma criança, de preferência um herdeiro varão. É claro que Isabel também passara por inúmeros tratamentos de fertilidade do período, com um físico judeu, chamado Lorenzo Badoc. No entanto, quer tenha sido por suas orações, tratamentos, ou porque os ventos de Sevilha assim quiseram, a Rainha de Castela deu à luz ao seu cobiçado filho, em 30 de Junho de 1478, no Alcazar de Sevilha. Ao que parecia, as coisas enfim mudariam…
Oito meses após o nascimento do príncipe Juan, Isabel inicia uma nova gestação, desta vez, na antiga capital visigótica de Toledo, no Palácio do Conde de Cifuentes.
Nascimento:
Com um pano de algodão cobrindo a face para que os espectadores não

pudessem ver sua grande soberana sentindo-se acuada com as dores do parto (era comum na Espanha, que os partos fossem assistidos por testemunhas), nasceu no dia 06 de Novembro de 1479, sua terceira filha, Joana, no Palácio de Cifuentes. Seu parto encaminhou-se com tanta facilidade, que aqueles que o assistiram, poderiam jurar que fora quase sem dor à Rainha.
Neste momento, sua primogênita Isabel estaria com nove anos de idade e o pequenino e frágil Juan, com 22 meses.
O bebê seria batizado com o nome de sua avó paterna e do santo padroeiro de sua família, São João.
Infância e Aprendizado:

A jovem Joana foi uma criança muito bonita, que chamava atenção na Corte e de seus pais, por parecer-se muito com a mãe de Fernando – sua avó paterna -, doña Juana Enríquez, motivo que fez com que sua mãe Isabel, a apelidasse de ”minha sogra” e seu pai, de ”mi madre”.
Desde pequena, ela foi muito inteligente e conforme foi crescendo, aprendeu suas primeiras tarefas como fiar e bordar com sua mãe Isabel, que a ensinou a manejar a roca e fiar a lã e ás vezes – dependendo de seu tempo livre – até divertia-se em jogos e brincadeiras menos formais com seus filhos.
Joana e suas irmãs também aprenderiam outra lição muito importante com sua mãe, e que mudaria suas vidas para sempre: os conselhos maritais.

Fernando era um notório mulherengo, cujos bastardos e casos amorosos com amantes, tornariam-se conhecidos. Isto deixava uma Isabel furiosa de ciúmes. A jovem Joana (e seus irmãos), sabia da existência destes bastardos de seu pai; conhecia Alonso e a outra Juana, filhos da catalã Aldonza de Ivorra, além de Alfonsa, filha de Luisa Estrada, entre outros.
Perante isto, Isabel dizia à suas filhas que como rainhas que seriam e filhas de quem eram, seu sangue real era muito valioso, deste modo, por mais que seus maridos saíssem com mulheres para se divertir, ninguém lhes tomaria o trono e sempre seriam as esposas legítimas do Rei. Isabel, Joana, Maria e Catarina, levariam a seus maridos via matrimônio, inúmeras árvores genealógicas importantes e muito sangue real correndo em suas veias azuis.

No estrito e itinerante ambiente da Corte castelhana de sua época, Juana aprendeu civismo, boas maneiras, gestão da corte, jóquei e leitura de romances – especialmente os da Península Ibérica.
A Rainha acreditava que suas filhas deveriam receber uma ampla educação clássica e estimulante. Deste modo, assim como o resto de suas irmãs, Joana recebeu uma educação extremamente requintada e cuidadosa, seguindo os preceitos humanistas e típica para mulheres da realeza e alta nobreza do século XV; estudando dança, música (manejo de instrumentos como, alaúde e cravo), história, literatura, filosofia, política, direito canônico e tradições religiosas baseadas nos clássicos, combinadas de uma profunda revisão dos textos sagrados.
Os pais de Joana estavam convencidos de que seus descendentes deviam fazer honra ao fato, de que o papado havia lhes dado a distinção de serem reis muito católicos, na medida que esforçavam-se para expulsar de seus territórios, judeus e mouros, após a conclusão do episódio que ficaria conhecido como a reconquista. Então, um padre dominicano, Andrés Miranda, ficou encarregado de dar-lhes a base do catolicismo.

Isabel de Castela aprendeu latim apenas após adulta e com muito esforço pessoal, e não estava disposta que suas filhas passassem pelo mesmo problema. Graças a isto, Beatriz Galindo (conhecida como ”la latina”), que havia sido sua mestra, foi responsável por este aspecto da educação das princesas de Castela e Aragão.
Joana deleitou a todos que conhecia por seu domínio nato na língua, podendo utilizá-la durante conversas inteiras. Além de latim, ela aprendeu o grego, francês e castelhano. Ela e suas irmãs, também sabiam montar à cavalo, caçar, praticar falcoaria, arco e flecha, costurar todo tipo de bordado, desde pedrarias, tapeçarias à camisas (as meninas sabiam, que sua mãe costurava com esmero as camisas de seu pai) e cardar a lã.

A jovem Joana teve como preceptor, grandes personalidades do renascimento espanhol, como por exemplo, Alejandro Geraldino, que proporcionou-lhe uma educação nos preceitos humanistas. Registros do período, mostram que Joana tinha pouca habilidade para a dança, mas tocava habilmente o cravo.
Da mesma forma, ela também estava em constante contato com o mundo da política, e suas obrigações reais enquanto jovem, incluíam acompanhar seus pais e irmãos à atos da Corte e outras responsabilidades, chegando a acampar junto à sua família, nos arredores de Granada.
Isabel preocupou-se pessoalmente na questão da educação de seu filhos e conforme conta-nos Manuel Ríos Mazcarelle, em seu livro “Reinas de España”: “Sempre houve uma sala, quarto, ou espaço – umas vezes grande, outras pequeno – na câmara da Rainha, em que estudavam ou entretiam-se seus filhos’’.

Joana e seus irmãos experimentaram uma infância bastante incomum. Ela testemunhou a rendição dos mouros em Granada e a primeira viagem de Colombo ao ‘novo mundo’. Ao lado de seus irmãos, ela também viu seus pais lidarem com questões militares e diplomáticas dos reinos.
Isabel hospedava em sua corte, inúmeros humanistas famosos, como Lucio Marineo e até os irmãos Geraldino. A biblioteca foi então, expandida para suportar um grande número de trabalhos de prestígio, enquanto uma sala de música era sempre reservada aos jovens.

Catarina de Aragão, foi a última filha de Isabel e Fernando à nascer. A rainha passou a maior parte de sua gravidez, longe de seus filhos e Corte, em um campo de batalha, em guerra contra os mouros. Finalmente, Isabel abriria mão do ambiente conflituoso em setembro, para o nascimento de sua filha, em 1485.
Joana e seus irmãos, passariam parte de sua infância no Palácio de Alhambra, no qual eles guardariam boas recordações de seus tempos de ouro. Em 1492, o domínio muçulmano de Granada chegou ao fim, quando Isabel e Fernando derrotaram os nasridas – última dinastia muçulmana na Península Ibérica.
O complexo arquitetônico de Alhambra, passou então por inúmeras reformas a mando dos monarcas, a fim de transformar-se em um Palácio Real para eles, seus filhos e Corte real. As pinturas e dourados árabes foram apagadas, a fim de deixar o local propício para católicos.
Adolescência:
Conforme foi crescendo, Joana foi transformando-se em uma belíssima jovem. Com seus cabelos castanho-acobreados (mais escuros que o de sua irmã caçula, Catarina) e grandes e misteriosos olhos verdes puxados, seguidos de um rosto ovalado, busto elevado e proeminente, além do semblante elegante e porte esguio, ela foi considerada a mais bela filha dos reis católicos.
Mesmo ainda donzela, a jovem adolescente possuía o corpo de uma mulher bem formada e para os pais, ela logo precisaria casar-se. No entanto, ao passar sua vida desfrutando da leitura das sagradas escrituras, isto a levou a manifestar uma importante veia espiritual, que seguiria-se para o resto de sua existência.
Ao contrário de seus pais, Joana não pensava no amor ou em casar-se; sua verdadeira vontade e até então vocação, era com Deus. A jovem manifestou a seus pais, a vontade de tornar-se freira, mas apesar de sua profunda insistência, eles acreditavam que tinham reservado-lhe um futuro muito mais promissor e politicamente favorável a seus interesses.
A ideia de seus pais, era casá-la com um príncipe europeu, com a intenção de conseguir um herdeiro que aliaria vários países ao reino.
Eles então, receberam uma proposta marital do rei francês, para seu herdeiro, o delfim Charles da França. Tal proposta foi imediatamente recusada, levando em consideração o desprezo que os espanhóis tinham pelo reino vizinho.
Eles voltariam a receber um proposta marital para Joana, desta vez, do Rei da Escócia, James IV, recebendo este como resposta, a mesma negativa da vez anterior.

Em 1490, seguindo sua habitual política de isolamento da França, os reis católicos estavam de olho nos outros herdeiros de casas européias superiores. A filha mais velha dos monarcas, Isabel, já era casada com o herdeiro do trono de Portugal.
Ao completar 16 anos, no ano de 1495, é arranjado seu casamento com o Arquiduque Felipe da Áustria, filho de Maximiliano I e Maria de Borgonha, conhecido pela alcunha de, ”o belo”. A união era em âmbito político, que visava como objetivo, cercar o inimigo reino da França. Para isto, também casaram seu herdeiro, príncipe Juan, com a irmã de Felipe, Margarida da Áustria. Joana então, fica noiva. Este seria um passo crucial para sua vida à partir de então…
CONTINUA…
Bibliografia:
Cervantes Virtual: AQUI.
Galeon: AQUI.
Neokunst: AQUI.
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Biografias y Vidas: AQUI.
Diálogos: AQUI.
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Foro Real: AQUI.
ABC.ESII: AQUI.
Department Kings: AQUI.
Venerable Vivens: AQUI.
História Interminable: AQUI.
Sinto lhe desagradar (uma vez que deve ser leitora do Wikipedia), mas nós não a utilizamos como fonte. 🙂
Tenho muito interesse em conhecer as histórias dos filhos de Isabel de Castelo e Henrique agradeço o que li ,mas gostaria de saber mais.