Em outubro de 1485, dois meses após seu improvável triunfo em Bosworth, Henrique Tudor, anteriormente o Conde de Richmond, foi coroado na Abadia de Westminster.
No sábado, 29 de outubro de 1485, após uma procissão para a Torre de Londres, Henrique criou um novo brasão, o Dragão Vermelho.
Nesta tarde, a grande procissão da Torre até Westminster, encheu as ruas com pompa. Panos suntuosos de ouro, tecido roxo, sedas e cetins, foram usados pelos homens do cortejo. Os arautos, sargentos de armas, escudeiros, secretário do rei, esmoler, prefeito de Londres e da liga de Armas, e os Condes de Derby, Nottingham, Oxford e Lincoln, seguiram Henrique, que estava trajando uma longa veste de veludo roxo bordado com arminho e um rico cinturão, sendo levado sob um dossel real por quatro cavaleiros a pé. Os únicos dois Duques, Bedford e Suffolk, seguiram com seis homens de armas e seus distintivos.
No domingo, dia 30 de Outubro, Henrique fora ungido e coroado rei. As escrituras do serviço foram as mesmas utilizadas por Ricardo III – sendo alteradas às pressas para omitir referências a uma rainha.
O Arcebispo Bourchier, deveria executar todo o rito, mas acabou realizando somente a unção e coroação. O novo Duque de Bedford (Jasper Tudor, Tio de Henrique) teve a honra de carregar a coroa até o altar da Abadia. O novo Conde de Derby (Thomas Stanley, Padrasto de Henrique) ficou responsável pela espada de Estado. O Conde de Oxford liderou a comitiva do rei e o Bispo de Londres rezou a missa para os presentes.
A cerimônia fora realizada por John Shirwood (Bispo de Durham) e Robert Stillington (Bispo de Bath e Wells) e apoiada por Courtenay (Bispo Exeter) e John Morton (Bispo Ely). Embora o Arcebispo de Canterbury não tenha desempenhado um papel de destaque como o cabeça da igreja na Inglaterra, foi dele a função de ungir o rei e colocar-lhe a coroa. Como de praxe em coroações, quando Henrique fora formalmente proclamado Rei da Inglaterra, o ministério perguntou a multidão se eles o aceitavam como seu novo monarca, ao que todos gritaram: “Sim, sim!”
Fora uma cerimônia de muita pompa e considerada muito cara, mesmo para um rei, especialmente por este, estar fazendo tudo ao seu alcance, a fim de convencer seus novos súditos de que ele e nenhum outro, fora o escolhido por Deus para governar a Inglaterra.
De acordo com Dan Jones:
“Os registros da coroação foram elaborados por Sir Robert Willoughby, e eles falam de uma enxurrada de atividades entre os ourives, comerciantes de tecidos, bordadeiras, vendedores de sedas, alfaiates, trabalhadores, barqueiros e vendedores de Londres. Foram encomendadas aos vendedores peças de veludo e seda em roxo real, vermelho e preto, que foram em seguida, usados em belos casacos, mangas, chapéus, roupas, tapeçarias, almofadas e cortinas. Os homens de Henrique foram vestidos com chapéus emplumados com penas de avestruz, botas de couro espanhol e impressionantes trajes em negro e escarlate.”
A mãe de Henrique, Margaret Beaufort, havia determinado que ele deveria ofuscar seus antecessores Yorkistas e Plantagenetas. E ele certamente fez. Não fora apenas Henrique e seus cortesãos, os únicos vestidos para a ocasião, mas a própria Abadia estava repleta de esplendor.
O confessor de Margaret, escreveu que ao vê-lo ser coroado, ela “chorou maravilhosamente”. Claramente ela deveria estar feliz, no entanto, suas lágrimas não eram apenas de alegria, como também, de temor.
Margaret havia vivido um período tumultuado, que nós agora conhecemos como Guerras das Rosas. Foram tempos cruéis, onde reis e rainhas foram humilhados e depostos em uma guerra que jogava uns contra os outros, dividindo o reino. Por tudo o que ela vivenciara, seu filho Henrique, poderia ser apenas mais um, destes tantos monarcas passageiros.
Historiadoras como Elizabeth Norton e Lisle, apontam para o fato de que Margaret tornou-se uma força a ser reconhecida no reinado de seu filho. “O poder que ela tinha” escreveu Lisle, “estava por trás do trono”; mas todas suas preocupações foram deixadas para trás, enquanto Henrique usufruía deste momento de triunfo.
Após a missa, Henrique retornou à Torre de Londres para o banquete de coroação. Jasper Tudor teve a precedência sobre os outros nobres, cavalgando à frente deles com seu cavalo vestido com tecido de ouro aparado com arminho. Após a primeira curva, o campeão de Henrique, Sir Robert Dynmock, entrou emitindo o costumeiro desafio, exigindo saber quem ousaria desafiar a autoridade do rei. Houveram mais performances naquele dia, entre elas a representação icônica dos estandartes reais da Inglaterra e França junto com os de seu novo Rei, que enfatizou sua ascendência Galesa. No entanto, a mais proeminente entre elas fora o novo símbolo Tudor.
Henrique Tudor era um homem religioso e assim como aqueles que vieram antes dele, ele escolheu uma rosa, devido seu forte significado cristão. A rosa vermelha era um símbolo Lancaster, além de representar a paixão de Cristo, enquanto suas cinco pétalas, correspondiam as cinco penúrias que Cristo sofrera na cruz. Elas foram uns dos símbolos mais notáveis na Abadia e na roupa dos cortesãos.
No entanto, a rosa vermelha não seria a única representada, a branca – que havia tornado-se o símbolo da Casa Real de York – também apareceria neste jogo de simbolismos; embora a dinastia York também contasse com outros símbolos para representá-la. Apesar da Rosa Branca ter sido o símbolo preferido de Eduardo IV, ele também havia usado o Sol em Esplendor, a fim de comemorar uma de suas vitórias, e seu irmão mais novo, Ricardo III, havia optado pelo o javali branco. Henrique usaria a Rosa pois esta era simples e representava uma nova era, na qual um Lancaster e uma York estariam unidos e assim, não haveria motivo para mais conflitos.
Enquanto isto não era inteiramente verdade na época, já que ele ainda estava trabalhando nesta questão, para muitas pessoas, durante séculos depois, os Tudors viriam a representar a união destas duas casas em guerra, e tornariam-se uma das mais famosas Dinastias da história do mundo. Ironicamente, antes de Henrique tornar-se Rei da Inglaterra, quando era apenas uma criança, os bardos cantaram canções em homenagem a seu falecido pai (Edmund Tudor) e previram que grandes coisas aguardavam seu herdeiro. Quando ele desembarcou em Milford Haven em Pembrokeshire, no País de Gales, os bardos cantaram ainda mais alto, elogiando agora também seu tio, dizendo “Jasper trouxe-nos um dragão”, alegando que Henrique era o escolhido, o príncipe que fora prometido de uma antiga profecia galesa.
Nunca esquecendo quem fora o responsável por sua ascensão, ele recompensou muitos dos seus apoiantes de Gales com terras e títulos.
Henrique VII reinou durante vinte e cinco anos. Em seu período nascera o mito da Era de Ouro, ressuscitado sempre que necessário por seus sucessores dinásticos. Após sua morte, ele seria sucedido por um herdeiro há muito considerado improvável, seu filho homônimo, que subiria ao trono como Henrique VIII e cujo reinado eclipsara o de seu pai.
Embora Henrique VIII seja claramente o mais famoso dos três monarcas varões Tudor, é injusto esquecer seu pai. Ele nascera e vivera em um período obscuro, onde nobres lutavam por um lugar ao sol e mesmo estando com todas as fichas em desfavor, ele conseguiria o improvável, tornar-se o próximo monarca inglês. Seu reinado não fora calmo e sua angústia em gerar um herdeiro a fim de perpetuar sua recém-fundada dinastia, causaria grandes turbulências no reinado de seu filho e netos.
Henrique VII fora um bom pai e marido e merece ser reconhecido como tal; embora atualmente, ao lado de seus netos Eduardo VI e Maria I, este seja considerado como um mid-Tudor (Tudor intermediário).
Fontes:
Minerva Casterly Tumblr: AQUI.
Winter King: Henry VII and the Dawn of Tudor England; Penn, Thomas – Simon & Schuster; March 12, 2013.