Assim como o Natal, as comemorações do Ano Novo no período Tudor, eram bastante diferentes das praticadas atualmente.
Os Tudors acreditavam que o ano novo começava no dia 25 de Março, e neste dia era realizada a Festa da Anunciação, comemorando quando Maria anunciou pela primeira vez a chegada de Jesus.
A principal característica do dia 01 de janeiro, era dar e receber presentes. Embora o ato de dar presentes tenha sido bastante comum nas classes mais altas, não há registros de que tal costume tenha estendido-se às pessoas menos abastadas. No entanto, isto não quer dizer que não tenha tenha ocorrido; tal aspecto pode apenas não ter sido registrado. A autora Alison Sim, ressalta uma possível menção ao ritual de dar presentes, encontrada em um poema de Thomas Tusser: –
“No Natal de Cristo, muitas canções entoamos
e muitos presentes, para alegria do Rei entregamos”.
Nas classes mais altas, dar presentes tinha um grande significado político, sendo realizado com muita cerimônia. Os nobres usavam tal artifício, a fim de mostrar suas riquezas, ou obter o favor do Rei e com isto, afirmar seus estatutos. O monarca mostrava seu prazer ou decepção ao aceitar ou recusar presentes. Cortesãos disputavam para ver quem havia recebido ou dado os presentes mais importantes.
Todos os presentes reais recebidos, eram registrados na lista de presentes de Ano Novo. Instruções para o recebimento de presentes Reais na corte de Henrique VIII, sobrevivem até os dias de hoje:
“O Rei iria terminar de vestir-se na manhã de Ano Novo, e assim que terminasse de colocar seus sapatos, uma trombeta seria soada e um dos servos da Rainha viria entregar-lhe um presente seu, seguido pelos servos de outros importantes cortesãos com seus presentes. A rainha por sua vez, também receberia presentes em seus próprios aposentos’’.
Era de suma importância que o presente dado agradasse ao Rei. Se ele aceitasse seu presente, você então conquistaria o favor Real, mas se ele o rejeitasse, isto não seria nada auspicioso para você e para os seus.
O melhor exemplo disto, ocorreu em 1532, quando Henrique VIII aceitou um exótico conjunto de lanças de javali dos Pirenéus, ricamente ornamentadas como presente de Ano Novo de Ana Bolena, mas rejeitou um cálice de ouro de Catarina de Aragão. Henrique e Ana casariam-se no ano seguinte.
O presente de Ano Novo também poderia ser uma maneira de recuperar o favor real. Em 1580, Sir Philip Sydney irritou a rainha Elizabeth ao ter-lhe escrito implorando para que esta não desposasse o Duque d’Alençon. No entanto, em 1581, após presentear Elizabeth com uma corrente de jóias a fim de mostrar submissão à sua vontade, ele recuperou o favor real de sua soberana.
Em 1571, o Duque de Norfolk, enquanto preso na Torre de Londres por seu envolvimento na revolta dos Condes do Norte, enviou à rainha Elizabeth, uma exuberante jóia como um presente de ano novo. Embora impressionante, Elizabeth rejeitou o presente e o Duque fora executado em 02 de junho de 1572.
Robert Dudley, Conde de Leicester era um bem sucedido presenteador – ele deu à Elizabeth I inúmeros bons presentes. No primeiro Natal do reinado de Elizabeth, ele a presenteou com um elegante par de meias de seda – ela os amou tanto, que nunca mais usaria meias de lã novamente. Ele também deu à Elizabeth, o que acredita-se ter sido o primeiro relógio de pulso do mundo, devidamente adornado de jóias.
Por volta de 1582, Elizabeth I começou a receber presentes de Ano Novo, em cristal trabalhado, assim como garfos de ouro, prata e pedrarias (Garfos eram novidades no reino e na Corte).
Em 1534, Ana Bolena presenteou Henrique com uma fonte de mesa, feita de prata dourada. Ela continha água de rosas, bombeadas para uma bacia de modo que os presentes no local, pudessem lavar suas mãos. Ela também possuía uma taça de Basiléia, feita por Hans Holbein – era decorada com sátiros e um topo de coroa. Ela incluía o brasão de Ana – um falcão branco com rosas.
Era costume, que após receber um presente, o monarca daria outro em troca, a fim de demonstrar sua generosidade, garantindo que o presente dado fora de valor superior ao recebido.
Em 1532 após receber um presente de Ana Bolena, Henrique VIII deu-lhe “um conjunto combinado de cortinas para o seu quarto e dossel de sua cama, ricamente bordado em tecido de ouro, prata e cetim carmesim.’’
Também era costume que o rei desse presentes para a rainha e suas damas, embora no ano de 1532, Henrique VIII tenha decidido contra ela.
Os mensageiros que apresentavam os presentes em nome de seus mestres, também foram recompensados com dinheiro. A escala de quanto um mensageiro recebia, é claro, era variável; dependia se eles eram cavaleiros, escudeiros ou meros mensageiros.
Também era esperado que a rainha presenteasse suas damas. Em 1533, Ana Bolena deu à suas damas, selas e palafréns. As damas da rainha também presenteavam o rei. Os itens dados eram geralmente pessoais, como camisas bordadas e outros artefatos artesanais pessoais, que demonstravam suas habilidades femininas em trabalhos manuais.
Em 1534, Elizabeth Bolena, mãe de Ana, deu a Henrique VIII um “uma caixa de veludo bordada com os brasões reais, contendo seis colares, três trabalhados em ouro e três em prata”. A cunhada de Ana, Lady Rochford, presenteou o Rei com uma camisa e um colar trabalhado em prata.
A pintura de Hans Holbein, do pequenino Príncipe Eduardo, fora dada a Henrique como um presente de Natal. O monarca gostou muito do que recebera.
Deste modo, podemos concluir que os presentes trocados poderiam ser de qualquer natureza; desde camisas, jóias, selas, lanças ou taças.
Outro presente digno de menção, foi o trocado entre Ana Bolena e Henrique VIII em 1534. Nesta ocasião, Ana deu ao rei uma fonte de mesa de prata dourada quase certamente desenhada por Holbein. A fonte foi um “dispositivo bombeado que despejava água de rosas em uma bacia, de modo que os convidados pudessem lavar suas mãos’‘. A lista de presentes de Ano Novo, a descreve como: –
”Uma bela bacia dourada, tendo uma base ou placa de ouro em meio a sua borda, decorada com rubis e pérolas em que se detém uma fonte, que também possuía uma grade de ouro sobre ela, decorada com diamantes, de onde jorrava água dos seios de mulheres nuas em pés na fonte.’’
O Príncipe do Ano Novo:
Em 01 de Janeiro 1511, nas primeiras horas da manhã, Catarina de Aragão, deu à luz um menino. O bebê recebeu o nome de Henrique – como seu pai e seu avô – e foi devidamente batizado quatro dias mais tarde na capela de Richmond. O Rei Luís XII da França, enviou uma taça de ouro e sal, como presentes para o bebê real.
Seus padrinhos foram William Warham, Arcebispo de Canterbury, e Margarida da Áustria. O bebê, conhecido como “O menino do Ano Novo”, também foi logo foi investido como Duque da Cornualha.
O nascimento do príncipe foi comemorado com um torneio em honra de sua mãe, que fora realizado em Westminster. A rainha estava presente, apreciando o espetáculo com suas damas de Companhia. O rei e seus cavaleiros justaram e Henrique VIII ostentava as palavras “Loial Cure” (Coração Leal), bordado em sua camisa, como demonstração de amor e devoção à Rainha; outros cavaleiros também ostentavam palavras positivas, como “Desejo valente”, “Boa Vontade” e “Pensamentos Felizes”.
O torneio foi seguido de um banquete, realizado no Salão Branco do Palácio de Westminster, que acabou terminando em confusão pois a multidão ficou turbulenta e até mesmo tentaram alcançar o Rei. Felizmente, Henrique estava de muito bom humor e apenas riu de todo o caso.
No entanto, a alegria duraria pouco. Em 22 de fevereiro, o pequeno Henrique, Príncipe do Ano Novo, morreu de repente. Ele viveu por apenas 52 dias e a causa de sua morte é desconhecida. Seus pais ficaram muito perturbados, embora seja relatado que Henrique VIII tentou ser forte e confortar a rainha Catarina.
Então aproveitem hoje, e lembrem-se que cerca de 500 anos atrás, caso estivesse na Corte de Henrique, você teria de dar e receber presentes extraordinários, além de banquetear-se com tradicionais iguarias sazonais.
FONTES:
On the Tudor Trail: AQUI.
The Tudor Enthusiast: AQUI.
Sandra Byrd: AQUI.
Sandra Byrd AQUI.
History and other Thoughts: AQUI.
Eu adorei conhecer um pouco mais sobre o ano novo no período Tudor. Eu não sabia que eles consideravam o ano novo o dia 25 de março. Além do mais, achei interessantíssimo o uso dos presentes no dia 01 de janeiro como estratégia/troca de favores junto ao Rei. Essa dinâmica da corte inglesa eu também desconhecia.