Desde poemas açucarados até atos e declarações de amor, a história é cheia de demonstrações públicas de afeto e gestos românticos. Deste modo, reunimos aqui, sete extraordinários momentos românticos que mudaram o curso da ciência, arte e até mesmo a própria história.
1- Marie Curie dedica sua vida ao trabalho que iniciou com seu marido:
Provavelmente o casal de cientistas mais poderoso da história, Pierre Curie e Marie Sklodowska conheceram-se em 1894, no Departamento de Física da Universidade Sorbonne. Ambos eram idealistas determinados a dedicar suas vidas à ciência, e rapidamente descobriram as similaridades de seus espíritos intelectuais. Pierre e Marie casaram-se um ano depois, e juntos, embarcaram em um trabalho pioneiro investigando a radioatividade. Em 1898, eles anunciaram a descoberta de dois novos elementos, Rádio e Polônio, ganhando juntos, o Prêmio Nobel de Física, em 1903.
A vida conjugal dos Curie foi dominada pelo trabalho de estudo e laboratório científico que, muitas vezes fora física e mentalmente desgastante. A exposição constante à radiação, também os fizeram sofrer significativos problemas de saúde, desde fadiga até má cicatrização da pele. Fora do trabalho, Marie e Pierre apreciavam passeios de bicicleta, longas aventuras e tinham duas filhas, Irene e Eva.
A relação teve um final trágico e chocante em 1906, quando Pierre foi morto após escorregar e cair embaixo de uma carroça puxada por um pesado cavalo. Após um intenso período de luto, Marie dedicou sua vida a terminar o trabalho que havia começado ao lado de seu marido. Ela assumiu a posição de Pierre na Sorbonne, tornando-se a primeira mulher a ensinar no local, ganhando um segundo Prêmio Nobel, de Química, em 1911.
Durante a Primeira Guerra Mundial, Marie continuou a desenvolver o trabalho que outrora havia iniciado ao lado de Pierre, como chefe do serviço de radiologia da Cruz Vermelha Internacional. Ela trabalhou incansavelmente treinando médicos e até mesmo dirigindo ambulâncias com equipamentos de raios-X para as linhas de frente.
Após a morte de Marie, de anemia aplástica [deficiência de glóbulos causadas pela falha no desenvolvimento da medula óssea] em 1934, obtida através dos anos de exposição à substâncias radioativas, ela foi enterrada ao lado de seu amado Pierre. Seus restos mortais mais tarde mudaram-se para o Panteão de Paris, em reconhecimento às inovadoras descobertas que fizeram juntos.
2- Rainha Vitória em luto por Albert:
Um dos casais reais mais populares da história, Rainha Vitória e Príncipe Albert, reinaram juntos por 21 anos. Casados em 1840, eles tiveram nove filhos e compartilharam os deveres diários da turbulenta vida real. No entanto, a estabilidade e política interna da família foi destruída em 14 de dezembro 1861, quando Albert faleceu inesperadamente.
A morte súbita de um homem saudável de 42 anos, por febre tifóide, pegou tanto a rainha quanto a nação desprevenida. A historiadora Helen Rappaport, sugere que a morte de Albert foi “nada menos que uma calamidade nacional”. Ao longo dos anos, Albert tinha assumido muitas das funções de um monarca reinante, partilhando da montanha de deveres reais de Vitória, até planejamentos populares, como a Grande Exposição de 1851 e os complexos dos museus de South Kensington.
Vitória rapidamente afundou-se para o que Rappaport chamou de “paralisante estado de dor implacável”. Ela não só tinha sido dependente da ajuda de Albert em lidar com assuntos reais e de negócios, como também fora intensamente dependente dele emocionalmente. De acordo com Rappaport, “Albert havia sido todos em um para Vitória: amigo, marido, confidente, sábio, conselheiro, secretário oficial e ministro do governo. Não havia um único aspecto de sua vida, em que ela não havia apelado para seus conselhos e sabedoria”. Ela sugere que “Albert foi sua única grande e permanente obsessão na vida. Sem ele, Vitória sentiu-se à deriva”.
Este intenso luto, rapidamente criou sérios problemas. Vitória passou a tomar rigorosas observâncias e rituais de luto, que duraram mais tempo do que o período de luto de dois anos convencional na época. Sua relutância em aparecer em público e decisão de trajar negro para o resto de sua vida, rendeu-lhe o apelido de “Viúva de Windsor”. Helen Rappaport sugere que, através destas ações, Vitória estava “transformando o luto em arte performática, retirando-se em um estado de dor patológica que ninguém podia penetrar e poucos compreendiam”. Ao longo do tempo, o sombrio recuo da rainha de sua vida pública, causou um significativo impacto em sua popularidade, com crescentes queixas de que ela nada fazia para justificar sua renda.
Vitória nunca recuperou-se totalmente da morte de Albert. Ela encomendou vários monumentos em sua homenagem, incluindo o Royal Albert Memorial nos jardins de Kensington, que foi concluído em 1876. Ela permaneceu de luto por 40 anos, até sua própria morte, aos 81 anos de idade.
3- Shakespeare escreve sonetos à Dama Negra (Dark Lady):
Algumas das poesias românticas mais aclamadas de todos os tempos, são os sonetos 127-154 de Shakespeare. Estes sonetos celebram a beleza de uma Dama Negra (ou ”Senhora Escura”). Eles marcaram a história como os mais românticos e eróticos sonetos, cujas linhas mais frequentemente citadas são: “Os olhos de minha senhora não são nada além do sol/ O coral é muito mais vermelho que seus rubros lábios… E ainda pelo paraíso, compreendo meu amor como tão raro / que qualquer contradição soa falsa em comparar”. No entanto, a identidade da Dama Negra abordada nos versos, permanece desconhecida, e provou ser um dos maiores mistérios da literatura.
O que os versos de Shakespeare revelam aos leitores sobre a sua misteriosa amante? Ele a retrata como uma mulher sedutora e erótica: o soneto 144 dirige-se a ela como “meu mal do sexo feminino” e “meu anjo mau”. Outros sonetos nos informam algumas características sobre seu cabelo negro e olhos de “corvo negro” e, apresenta sua tez escura: “Teu negro é o mais belo a meu ver”, “a própria beleza é negra”.
O relacionamento de Shakespeare com a Dama Negra tem intrigado estudiosos por séculos, e há uma infinidade de teorias sobre sua identidade. Dr. Aubrey Burl argumentou recentemente que, a Dama Negra é Aline Florio, a esposa de um tradutor italiano. Enquanto isso, o Dr. Duncan Salkeld identificou-a como Lucy Morgan, uma prostituta Clerkenwell, também conhecida como ‘Black Luce’. Outras possíveis candidatas para a Dark Lady, incluíram uma cortesã, uma senhoria, uma esposa de um Peruqueiro e até mesmo uma dama da rainha Elizabeth I, que chamava-se Mary Fitton. No entanto, é improvável que um dia saibamos com certeza a identidade da dama sedutora que inspirou tal notável poesia, ou inclusive, a natureza do relacionamento de Shakespeare com ela.
4 – Shah Jahan constrói o Taj Mahal:
Construído entre os anos de 1632 e 1653, o Taj Mahal, localizado na Índia, é conhecido em todo o mundo. Apesar de ser conhecido como uma maravilha da arquitetura, também é fruto de um dos maiores gestos românticos da história. O Taj Mahal foi edificado durante a vigência do governo do Imperador Mongol, Shah Jahan.
Em 1612, Shah Jahan casou-se com a princesa persa Arjumand Banu Begum. Vários poetas da corte, em seus versos descreviam a beleza da noiva, segundo a qual “era tão grande que a lua escondeu a sua face de vergonha diante dela”. Ela também teria à primeira vista, ficado encantada com o seu futuro esposo, o Imperador. Apesar do fato de que Shah Jahan possuía outras duas esposas, Arjumand é geralmente reconhecida como sendo aquela que foi o grande amor de sua vida. Ele até deu-lhe o nome de “Mumtaz Mahal”, que significa “jóia do palácio”. Ela tornou-se uma esposa leal e dedicada. Begum acompanhou o marido em várias campanhas militares, e o casal raramente passou um tempo distante.
Em 1631, após 19 anos de casamento, Mumtaz Mahal morreu ao dar à luz seu 14º filho. Segundo a lenda, perturbado com sua impotência em ajudá-la, Shah Jahan fez no leito de morte a promessa de construir para a sua esposa o maior túmulo que o mundo já tinha visto. Depois de um período de intenso luto, como prometido, ele começou a trabalhar em um mausoléu extraordinariamente rico para homenagear Mumtaz Mahal – o Taj Mahal.
O Shah dedicou-se na realização do projeto, e convocou os melhores homens da cúpula de construtores: pedreiros, pintores, calígrafos e outros artesãos. Estes homens vieram, tanto da Turquia, quanto do Iraque para trabalharem na construção. Nenhuma despesa ou detalhe minucioso fora poupado. No geral, cerca de 22.000 trabalhadores atuaram na construção ao longo dos mais de 21 anos que foram necessários para completar o monumento que se tornou épico. Após a morte do Imperador, Shah Jahan foi colocado ao lado de sua esposa. O memorial do Xá construído para sua amada esposa, tornou-se Patrimônio Mundial da UNESCO e ainda hoje atrai milhões de visitantes todos os anos.
5- Eduardo VIII abdica do trono em nome do amor:
Provocando uma crise que abalou a monarquia britânica, a decisão de Eduardo VIII em 1936, de abdicar ao trono pela mulher que amava, sem dúvidas, merece um lugar entre os momentos mais românticos da história.
Eduardo conheceu Wallis Simpson, uma elegante e carismática socialite americana, em 1931, durante uma festa promovida por sua então amante, Thelma Furness. Apesar de Wallis ser uma mulher casada, em 1934 ela e Edward tornaram-se amantes, o que levou a imensa desaprovação da família real. O príncipe não era nenhum anjo – ele tinha uma reputação de playboy e tinha tido vários casos amorosos. No entanto, enquanto sua família havia tolerado um caso afetivo com Wallis, qualquer sugestão de casamento foi categoricamente excluída. Como uma mulher casada em meio a um processo de divórcio, Wallis era uma consorte impossível para o futuro rei e chefe da Igreja da Inglaterra.
O casal ficou sob intensa pressão de todos os lados para acabar com o romance. Os ministros do rei, a Igreja da Inglaterra e a família real aconselhavam Eduardo a terminar o relacionamento. Enquanto isso, Wallis recebeu ameaças de morte e foi forçada a se retirar para a França, a fim de escapar da difamação na imprensa britânica, que a chamava de “Prostituta Yankee”. A Princesa Elizabeth, a futura Rainha Mãe, recusou-se a reconhecer Wallis, referindo-se a ela apenas como “uma certa pessoa” ou “aquela mulher”.
Apesar de tudo isso, em 10 de dezembro de 1936, Eduardo abdicou após apenas 325 dias como rei. Sua decisão inesperada e sem precedentes, fez com que seu tímido irmão mais novo, George VI, assumisse relutantemente ao trono.
Eduardo deixou seus motivos perfeitamente claros, declarando publicamente “Descobri que é impossível carregar o pesado fardo da responsabilidade e cumprir o meu dever como rei como eu gostaria de fazer, sem a ajuda e o apoio da mulher que eu amo.”
Após a abdicação de Eduardo e o divórcio de Wallis, o casal casou-se em uma cerimônia privada na França. Eles embarcaram em um luxuoso estilo de vida, e viveram juntos no exterior até a morte de Eduardo, em 1972.
As Cartas de Amor de Heloísa e Abaelardus:
Imortalizada através de uma série de cartas íntimas de amor, o condenado relacionamento de Heloísa e Abelardo é uma das mais comoventes histórias de amor do período medieval.
Tudo começou no século XII, em Paris, onde Petrus Abaelardus (Pedro Abelardo), um notável filósofo, fora empregado como tutor. Sua aluna foi Heloise d’Argenteuil (Heloísa), uma estudante brilhante e sobrinha de um cânone parisiense chamado Fulbert. Professor e aluna logo tornaram-se amantes e Heloísa viu-se grávida. A idade da jovem no momento não está clara, embora alguns acadêmicos como Mews, sugerem que ela pode ter tido em torno de 27 anos, e uma significativa reputação acadêmica.
Ao descobrir sua gravidez, Abelardo propõe casamento, mas Heloise estava relutante, pois saberia que ter uma esposa e família, comprometeriam a carreira de Abelardo. De acordo com suas cartas, ela “nunca procurou qualquer coisa nele, exceto a si mesmo… nunca buscando nenhum vínculo matrimonial.” Apesar de tal relutância, um casamento fora realizado em segredo, a fim de evitar qualquer dano à carreira de Abelardo. Tempos depois, Heloísa supostamente deu à luz um filho, Astrolábio, mas não sabe-se o que aconteceu a ele em sua vida adulta.
As coisas rapidamente tornaram-se um desastre. Irritado com os danos do relacionamento de sua sobrinha à sua reputação, Fulbert espalha a notícia do casamento secreto, que, consequentemente, faz com que Abelardo coloque Heloísa em um convento em Argenteuil. Fulbert ficou tão enfurecido que castrou Abelardo, como vingança por suas ações.
Após a vergonha e trauma de sua castração, Abelardo tornou-se monge na abadia de Saint-Denis, em Paris. Com a frequente insistência de que ela fizesse o mesmo, Heloísa também recebeu as ordens sagradas e o casal retirou-se para uma vida de celibato em mosteiros separados. No entanto, eles continuaram a se corresponder através de uma série de cartas, que documentam o antigo affair. O conteúdo íntimo e erótico destas cartas, intrigou acadêmicos por séculos. As cartas de Heloísa sugerem que, apesar de tudo, ela não arrependeu-se do caso, refletindo: “Eu deveria lamentar-me pelos pecados que cometi, mas apenas suspiro pelo que perdi”.
Amor após o túmulo:
Uma das mais trágicas historias de amor envolvendo a realeza européia. Inês de Castro, nobre galega de ascendência castelhana, entrou a serviço da princesa de Portugal, Constança de Castela, esposa de Pedro, príncipe herdeiro de Portugal. Entretanto, Pedro não tinha olhos para sua esposa, mas sim para a nobre castelhana que a servia, Inês de Castro. O pai do príncipe era totalmente contra este envolvimento que, ao que tudo indicara, não havia lhe gerado apenas netos, mas também um casamento secreto após a morte de D. Constança.
O rei de Portugal, pai de Pedro – junto de alguns homens leais à sua causa – executou um plano para assassinar Inês, algo que deu muito certo. De acordo com a lenda, Inês foi decapitada pedindo clemência, com o filho mais jovem nos braços. Pedro não ficou apenas devastado com o assassinato de sua adorada Inês, ele ficara cego de fúria.
O mais simbólico ato e a maior prova de amor que Pedro deu à Inês, foi quando subiu ao trono, tornando-se Pedro I de Portugal. Ele mandou que pegassem seu corpo e a coroassem como Rainha póstuma de Portugal, fazendo-lhe a cerimônia do beija-mão. Ou seja, os nobres portugueses beijavam a mão da rainha morta que outrora odiaram.
A trágica morte de Inês e o amor de D. Pedro I por ela, perpetuou lendas, poesias e narrativas históricas, fazendo nascer o mito de Inês de Castro.
FONTES:
History Extra: AQUI.