Para o alto escalão da nobreza no período Tudor, um bom casamento foi o que trouxe prosperidade, status e fortalecimento de alianças
O amor romântico não era tido como base para constituição do matrimônio. No entanto, entre os anos de 1430 a 1565, sete senhoras próximas ao trono enfrentaram a ira real e escandalizaram o reino ao casarem-se com homens, considerados socialmente como ‘inferiores’, por amor. Ao fazerem isto, elas mudaram o curso da história.
Quinhentos anos atrás, os pais da nobreza e realeza realizavam casamentos arranjados para suas filhas com homens de posição apropriada, os cônjuges eram selecionados para obter vantagem política. Status era o elemento principal que definia esta sociedade, e, participar de um jogo em que você não escolhesse uma pessoa ‘apropriada’ poderia acarretar no menosprezo social.
Apesar do risco do ostracismo, o amor, ocasionalmente, triunfou, e existiram mulheres que lutaram para se casar com maridos pertencentes ao escalão inferior. Desde que ambas as partes tivessem interesse em lutar um pelo outro, nem mesmo a indignação por parte dos parentes poderia romper com uma união que era tida como inadequada. O único requisito válido para consolidar um casamento, era o consentimento de ambas as partes. Nem o padre, acordo parental, nem mesmo a cerimônia era necessária. Neste artigo você conhecerá um pouco acerca destas sete mulheres que tiveram a coragem de romper com a tradição, a fim de casarem por amor….
Catarina de Valois:
Catarina de Valois casou-se com Henrique V como parte do Tratado de Troyes, de 1420. Este tratado era destinado a acabar com a Guerra dos Cem Anos. O filho desta união herdaria os tronos da França e da Inglaterra. No entanto, Catarina sentia muito pesar por ter que casar-se com um homem 14 anos mais velho. Ademais, este homem tinha contribuído com devastação do seu país, e anteriormente tinha sido rejeitado por sua irmã mais velha.
Quaisquer que sejam os sentimentos de Catarina, Henrique ficou encantado com sua noiva jovem e bonita. Após o casamento, a nova rainha da Inglaterra logo ficou grávida do primeiro filho. Não muito tempo depois do nascimento do jovem Henry, filho do casal, Henrique V morreu. Catarina obteve toda a tratativa e honra real, haja vista que era a mãe do novo rei. Todavia, não havia nenhuma possibilidade de ela estar envolvida no Conselho de Regência criado para governar a Inglaterra e França.
A questão de seu novo casamento preocupou o Conselho, sobretudo, após rumores de que Catarina estaria sendo cortejada por Edmund Beaufort, um jovem que era meio-primo do rei falecido. Já existiam infelizes casos de casamentos morganáticos. Isabella d’Angouleme por exemplo, produziu nove crianças que, favorecidas por seu meio-irmão Henrique III, causaram polêmica no reino.
Para combater a ameaça que este possível casamento de Catarina poderia produzir – como por exemplo, uma horda de meio-irmãos famintos pelo trono -, foi promulgada uma lei que estabelecia a necessidade do consentimento do rei adulto para casar-se novamente. Como Henry, seu filho, era apenas uma criança na época, os homens do conselho presumivelmente acreditavam que isto encerraria a questão. No entanto, Catarina tinha outras ideias.
Em sua casa residia um jovem que havia chamado sua atenção – embora o modo como ele foi designado ou seu papel exato no local, permaneça desconhecido – era um jovem galês, Owain Maredudd Tudor (que ficou conhecido como Owen Tudor). Ele era variavelmente, referido como mordomo, pajem ou copeiro da rainha. Em um dos contos românticos sobre eles, aponta que o namoro entre Owen e Catarina teve início da primeira vez em que se encontraram, quando ela, girando na dança, escorregou e caiu em seu colo.
A data de seu casamento, ou até mesmo se houve uma cerimônia, são desconhecidas. No entanto, dado que apenas a exigência de casamento era o consentimento dos noivos, se Catarina e Owen disseram que eram marido e mulher, então, desde que não havia nenhum impedimento para o seu matrimônio, eles assim eram. A Lei Parlamentar exigia o consentimento real e, não tê-lo poderia torná-los criminosos, passíveis de punição. No entanto, não poderia invalidar o casamento, que produziu pelo menos quatro crianças.
Foram confirmados os temores dos nobres e do conselho: Henry VI tornou-se muito ligado a seus meio-irmãos, casou o mais velho, Edmund, com a herdeira da família Lancaster, Margaret Beaufort. Assim temos o início da Dinastia Tudor. Catarina morreu com apenas 35 anos, no isolamento ao qual ela havia sofrido, haja vista que ela foi banida após sua ‘indiscrição’. Owen permaneceu como um servo fiel da Casa de Lancaster. Quando estava em torno dos seus 60 anos, foi executado pelos Yorkistas, após a batalha da cruz de Mortimer, em 1461. Alegadamente suas últimas palavras foram: “Que a minha cabeça deva ficar onde estava acosutmada, deitada no colo da Rainha Catarina”.
Jacquetta St. Pol:
A segunda mulher cujo jogo do amor afetou a herança do trono, foi Jacquetta, filha do Conde de St Pol. Ela foi casada por dois anos com John, Duque de Bedford, irmão de Henrique V, e Inglês Regente da França, durante a menoridade de Henrique VI.
Com a morte de Bedford em 1435, Jacquetta escandalizou a Europa ao se casar com um senhor da casa de seu marido, Richard Woodville. Ele e sua duquesa (as senhoras mantinham o título de seu marido de mais alta patente) tiveram um total de 14 crianças. Jacquetta continuou a viver nos círculos dos Lancasters como a confidente da esposa de Henry VI, Marguerite de Anjou. Mas, ela estava preparada para apoiar os Yorks, quando, em uma circunstância similar a situação em que ela havia vivenciado, sua filha, Elizabeth que havia se tornado viúva, chamou a atenção de Edward IV. Eles se casaram e Elizabeth tornou-se rainha.
A influência dos filhos de Jacquetta causou ressentimento entre outras famílias nobres, que consideravam-se de melhor posição. Seu sucesso foi particularmente invejado pelos Nevilles – parentes maternos de Eduardo IV – que eram tão vorazes, ambiciosos e agressivos como o Woodvilles, e ainda mais numerosos. Brigas entre a família do rei e da Woodvilles suscitaram conflitos dinásticos.
Cecily de York:
Setenta anos passariam-se antes que o próximo escândalo real despontasse: Cecily de York atraiu a atenção do reino quando decidiu se casar por amor.
Cecily, primeiramente havia casado-se em 1487, com John, Visconde de Welles, que era meio-tio do rei. Tempos depois, Henrique VII casou-se com a irmã de Cecily, Elizabeth, a filha mais veha de Eduardo IV. Em 1503, Cecily já estava viúva há três anos, e então decidiu casar-se com Thomas Kyme, que era proveniente de uma família nobre de menor porte, os Lincolnshire. A jovem tinha um relacionamento próximo com Margaret Beaufort, mãe do rei. Todavia, isso não foi suficientemente para salvá-la da desgraça.
O rei Henrique VII se viu chocado com a situação, e sem dúvida havia planejado organizar um casamento mais vantajoso para a sua cunhada. Henrique tomou uma dura decisão, baniu Cecily e Kyme da Corte, e confiscou as suas propriedades. Embora não haja registro de Cecily e Kyme terem tido filhos, foi possível identificar um indivíduo com o mesmo nome, um sujeito chamado Thomas Kyme, casado com uma senhora chamada Anne Askew, na década de 1530. Seria fascinante saber se este Thomas era, na verdade, um descendente de Cecily.
Maria Tudor, Rainha da França:
Em quarto lugar na nossa lista de senhoras apaixonadas, temos a bisneta de ambas às mulheres que mencionamos neste artigo: Catherine de Valois e Jacquetta – a irmã de Henrique VIII, Maria. Em 1514, Maria foi prometida em casamento a Carlos de Castela. Henrique VIII investiu na preparação do casamento, equipou o guarda-roupa da sua irmã com roupas suntuosas, e planejou acompanhá-la na cerimônia que seria realizada nos Países Baixos, no Castelo de Calais.
Infelizmente, Maria foi rejeitada, não exatamente no altar, contudo, na porta da igreja. Carlos, que então tinha 14 anos, estaria em meio a uma articulada ‘peça’ arranjada para ele por seu avô, o Imperador Maximiliano. Na ocasião, seu avô comunicou que Maria, uma mulher com então 18 anos, era demasiadamente velha para seu neto. Diante desta situação, a cerimônia foi repentinamente adiada.
Esta traição era parte de uma peça maior no jogo do poder do Imperador Maximiliano, que havia secretamente feito um acordo de trégua com o inimigo em comum dele e de Henrique VIII: Luís XII da França. Henrique, no entanto, tentou superar as artimanhas de Maximiliano, ao orquestrar o casamento de Maria com o próprio Luís XII, que havia recentemente ficado viúvo. Esta situação não foi aceita por Maria, que viu a ideia de casar-se com um homem tão mais velho, como algo pouco animador. Luís já era um idoso, e sofria com uma doença chamada gota. Três meses após o casamento ele faleceu. Maria rapidamente casou-se com Charles Brandon.
Brandon era filho do porta-estandarte de Henrique VII, e ficou órfão quando seu pai foi morto na Batalha de Bosworth. O jovem tinha sido criado na Corte, tornando-se amigo próximo e companheiro de justas de Henrique VIII. Ele havia recebido em 1514 o título de Duque de Suffolk, mas isto não fez dele um cônjuge adequado para a irmã do rei e, Henrique VIII era implacável. O casal foi obrigado a pagar uma multa drástica antes de ser perdoado. Maria e Charles ficaram juntos por 18 anos.
Catarina Willoughby:
Após a morte de Maria, Suffolk não perdeu tempo em casar-se com sua protegida de 14 anos de idade, Catarina, Baronesa Willoughby d’Eresby, que inicialmente estava prometida a seu filho. Como Duquesa de Suffolk, Catarina era uma figura importante na Corte nos últimos anos do reinado de Henrique VIII – havia alguns rumores de que Henrique poderia fazê-la sua sétima esposa, quando ela ficou viúva em 1545.
Sendo uma amiga próxima de Catarina Parr, ela era conhecida coma uma seguidora do partido Reformista da religião, e também por sua sagacidade, ela era jocosamente chamada de ‘serva de Gardiner’, em referência ao Bispo Gardiner, o principal clérigo conservador.
Por volta de 1553, Catarina casou-se com Richard Bertie, que era de status muito inferior – filho de um mestre pedreiro. Bertie foi empregado na casa de Catarina como oficial de diligências e mestre dos cavalos, um papel que deu muitas oportunidades ao casal para o desenvolvimento de um relacionamento, pois ele estaria presente em todas as ocasiões. As visões religiosas protestantes de Catarina e Bertie, tornaram-se mais radicais com o passar do tempo, e eles deixaram a Inglaterra durante o reinado de Maria I e regressaram quando Elizabeth I tornou-se rainha, mas a nova monarca não gostava de Catarina e seus pontos de vista radicais e a Duquesa não era bem-vinda na corte, assim como seu marido origem humilde, que foi reconhecido como Barão Willoughby d’Eresby, de acordo com o costume.
Frances Brandon:
Casamentos impróprios parecem ter sido comuns na família Suffolk. Frances Brandon (filha de Maria e Charles Brandon), foi casada aos 16 anos com Henrique Grey, Marquês de Dorset. Com a morte do irmão mais novo de Frances, Henrique foi feito Duque de Suffolk.
Frances e Henrique tinham idades próximas e se adaptaram bem. Ele foi um reformador protestante zeloso e, juntamente com o Duque de Northumberland, tentou colocar sua filha mais velha, Lady Jane Grey, famosa por sua dedicação à religião protestante, no trono.
Inicialmente, os Suffolks foram perdoados pela rainha Maria I, que talvez tenha se lembrado de que ela e Frances tinham sido companheiras íntimas, mas uma segunda rebelião de Henrique era demais, e ele e Lady Jane foram executados.
Frances foi novamente perdoada, e junto com suas filhas foi mantida perto da rainha, até que ela casou-se novamente em 1555.
Sua escolha recaiu sobre um de seus próprios servos: Adrian Stokes. O casamento foi considerado ultrajante, não só devido à disparidade no Status dos dois (Stokes era o mestre de Cavalos da Duquesa), mas também porque ele tinha 22 anos e ela 38. O casal passou apenas quatro anos juntos e seus três filhos morreram na infância, antes da morte da própria Frances em 1559.
Lady Maria Grey:
Todas as senhoras mencionadas até agora encontraram a felicidade, ou pelo menos, tranquilidade com seus maridos, não importa o quão chocantes seus casamentos tenham sido. A mulher final em nossa lista, no entanto, tem uma história mais triste…
Lady Maria Grey, nascida em 1545, era a filha mais jovem de Frances Brandon, duquesa de Suffolk. Maria sofria de escoliose e era muito baixa, mas ainda era Dama de Companhia de sua prima, a rainha Elizabeth I. Em um período em que a aparência externa foi considerada um aspecto importante da realeza, sua deficiência física fazia com que Maria fosse uma escolha improvável de ser considerada como uma candidata alternativa para o trono. Talvez isto a tenha feito acreditar que sua escolha de marido era um assunto privado.
Sua escolha foi certamente surpreendente: Thomas Keyes, a pessoa mais alta na corte (enquanto Maria era a mais baixa), era um viúvo com idade em torno de 40 (enquanto Maria tinha 19 anos) e era pai de vários filhos. Thomas também não era mais do que um sargento encarregado da segurança do palácio.
Seu romance é comovente – É dito que ele lhe deu um anel, e uma corrente de ouro com um pingente de madrepérola.
Em julho de 1565, Maria e Keyes se casaram, assegurando cuidadosamente a presença de testemunhas. Mas depois de um mês de felicidade conjugal, o segredo vazou e Elizabeth I, lívida de raiva, jogou Keyes na prisão e colocou Maria sob prisão domiciliar. O casal nunca mais se encontrou.
Keyes permaneceu na prisão até 1570, quando ele foi libertado e autorizado a voltar para Kent, antes de morrer no ano seguinte. Maria, proibida de ir buscar as suas crianças órfãs, permaneceu confinada nas casas de cortesãos relutantes e parentes, até ser autorizada a voltar a Corte no final de 1577 antes de morrer em 1578.
Conclusão:
Estas histórias, sejam felizes ou tristes, mostram que mesmo em uma época onde o status era tudo, as mulheres estavam dispostas a arriscar suas reputações, posses e até mesmo a sua liberdade por amores que atravessaram as divisões sociais.
FONTES:
History Extra: AQUI.
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