“Reis insanos, reis crianças e reis aprisionados; famílias hostis, sucessões questionadas e monarcas que executam os próprios irmãos; nobres exilados, guerra com a França e inimigos ferrenhos unidos contra um inimigo comum: a história da “Guerra das Rosas” é tão cheia de dramaticidade que às vezes parece ficção – tanto que George R. R. Martin citou o conflito como a inspiração de A Guerra dos Tronos. ”
O trecho lido acima, é a introdução do novo livro – E, de certa forma, o primeiro traduzido aqui no Brasil, sobre o famoso conflito inglês, mais tarde conhecido como a “Guerra das Rosas. ”
O livro biográfico do escritor Martin J. Dougherty, foi distribuído aqui no país, pela Editora M.Books, e assim que recebi meu exemplar, fiquei completamente encantada com a sua diagramação muito bem-feita. As ilustrações são belíssimas e mesmo que estejam todas em preto e branco, combinaram perfeitamente com cada detalhe apresentado no livro.
O livro em si é muito explicativo, pois tem início contando de modo bastante didático, todas as pequenas contendas políticas e desacordos que, quando acumulados, culminaram na guerra sangrenta que dividiu o reino da Inglaterra.
Para quem está começando a interessar-se pelo período, o documento é uma ótima pedida, já, para os que adentraram profundamente no assunto através de pesquisas – que é o caso de quem vos fala – ele pode soar um tanto repetitivo, pela carga de explicações e detalhes contidas nele, a fim de sanar as dúvidas dos leitores.
No entanto, apesar de não existir novidades sobre a história da “Guerra dos Primos”, o autor acrescentou pequenos detalhes explicativos sobre aspectos do cotidiano no período, tais como: Questões de herança e sucessão, o tipo de proteção que uma armadura poderia oferecer, heráldica e simbologias, tipos de armas utilizadas, métodos de execução comuns, entre outras bem-vindas curiosidades sobre o período abordado.
O livro também oferece outras curiosidades históricas bem interessantes, como a loucura de Carlos VI “O Bem-Amado” da França e como tal singularidade pode ter sido transferida para seu neto, Henrique IV da Inglaterra, acarretando em todos os problemas e dificuldades que levaram a eclosão da Guerra.
Outro aspecto positivo, foi a tentativa* de empregar parcialidade dentro do campo historiagráfico, no qual o livro foi escrito, considerando todo o senso comum que ainda prevalece sobre determinadas personalidades, como os famosos casos em que alguns tornam-se vítimas da dicotomia, virando vilões ou mocinhos anacrônicos.
Toda a primeira parte do livro é focada em explicar as bases da guerra e todas as desavenças políticas entre Ricardo, Duque de York e a Facção Lancasteriana.
Este é um detalhe importante para esclarecer dúvidas sobre as questões de sucessão dinástica, que muitas vezes são deixadas de fora em estudos sobre o assunto.
A segunda parte é sobre a ascensão de Eduardo IV ao trono e todas as dificuldades que ele encontrou durante seu reinado, incluindo as traições de seus aliados mais próximos. Porém, fica claro também que Eduardo não era uma vítima inocente. Ele claramente sabia que suas ações trariam consequências e estava disposto a lidar com elas quando o momento chegasse.
A parte final do livro é, como naturalmente esperamos, sobre a ascensão de Ricardo III ao trono e seu curto reinado que teve fim na famosa batalha de Bosworth, contra o requerente Henrique Tudor – mais tarde Henrique VII.
Como o livro é sobre a Guerra das Rosas e suas batalhas políticas e bélicas, o reinado de Henrique não chega a ser comentado profundamente no livro, porém ao fim encontramos um breve resumo sobre o reinado dele, de seu filho e netos.
Um aspecto que agradou-me muito no livro, foi o fato do autor – diferente de alguns outros pesquisadores da época – não tentar preencher as lacunas históricas com conjecturas e suposições pessoais. Conforme mencionado acima, ele manteve-se o mais imparcial possível, apenas relatando os casos, as possiblidades e teorias famosas sobre o que pode ter acontecido, mas nunca afirmando ou mesmo mostrando-se inclinado à algum aspecto específico.
Conforme o próprio autor menciona na conclusão, a história da Guerra das Rosas é tão rica e cheia de mistérios e situações improváveis, que sempre inspirou muitas obras de ficção.
Algumas podem ser consideradas “Ficção histórica direta”, ou seja, ambientada no período da narrativa histórica, utilizando os fatos ocorridos e personalidades históricas como personagens e os retratando como eram – pelo menos na medida possível diante de documentações do período -, tentando sempre manter uma fidelidade com o que sabemos sobre história documentada.
Em outros casos – que são muito mais comuns de se encontrar – temos a Ficção pseudo-histórica ou alternativa, na qual personagens e situações são inseridos ou retirados, e fatos são manipulados ou modificados para se encaixar no enredo criado pelo autor da obra. Algumas vezes a história é apenas usada como simples inspiração de fundo, e este é o caso da famosa saga escrita por George R. R. Martin, As Crônicas de Gelo e Fogo, que foi adaptada televisivamente na popular série da HBO “Game of Thrones”.
Como o próprio autor admitiu em uma entrevista para a revista Rolling Stone em 2014:
“Em As Crônicas de Gelo e Fogo, eu me inspirei em situações da Guerras das Rosas, da Guerra dos Cem anos, algumas Cruzadas e em algumas lendas fantásticas como as lendas Arturianas e todas estas coisas funcionam em conjunto na minha cabeça, e de alguma forma, se transformam em algo que eu espero que seja exclusivamente meu. (…) Eu considerei em uma fase muito precoce – por volta de 1991 – escrever romances sobre a Guerras das Rosas. Mas o problema com ficção histórica é que você já sabe o que vai acontecer. Se você sabe alguma coisa sobre a Guerra das Rosas, você sabe que os Príncipes na Torre não vão escapar. Eu queria tornar mais inesperado e criar mais algumas voltas e reviravoltas. ”
O propósito das obras pseudo-históricas é o entretenimento. Mesmo que existam os que prefiram os livros biográficos que mantenham os detalhes históricos exatos, a verdade é que a grande maioria dos leitores – incluindo eu mesma – só quer mesmo um pouco de diversão enquanto viaja e visita diversos períodos do tempo, através destes livros incríveis.
Enfim, o que podemos perceber é que a história é incrivelmente rica e que pode ser utilizada de formas diferentes dependendo de cada autor e mesmo assim, o fascínio sobre o período nunca deixa de existir. Sendo assim, da mesma forma que Martin J. Dougherty conclui seu livro, nós podemos concluir esta resenha.
“Pode ser que parte da atração dessas obras de imaginação ou contos inspirados em eventos históricos, seja o fato de serem familiares. Soam verdadeiras porque casos parecidos já aconteceram. Ou talvez simplesmente boas histórias sejam sempre boas histórias. Seja como pura ficção parcialmente inspirada em fatos reais, seja como romance histórico tecido em torno de fatos reais, seja como narrativa histórica que descreva esses fatos, a Guerra das Rosas é mesmo um grande enredo. ”
No fim, o livro surpreendeu-me bastante e de forma positiva, sendo um acréscimo muito bem-vindo às prateleiras das livrarias brasileiras, que infelizmente sofrem com uma escassez de livros biográficos sobre muitos períodos da história. Agora só nos resta torcer para que ele não seja o único a chegar até nós e que muitos outros livros tão enriquecedores e esclarecedores como este cheguem até aqui.
O livro A GUERRA DAS ROSAS – A HISTÓRIA QUE INSPIROU GAME OF THRONES, pode ser adquirido nas melhores livrarias no país, ou online, no site da editora M.Books: AQUI.
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A resenha ficou ótima.
Como falou, tomara que sejamos inundados com essas obras traduzidas!!!
Ficamos muito felizes que tenha gostado, Graziela. Ficamos na torcida para novos títulos, não é!? 🙂
Ja quero este livro!
É um livro incrível, mas muito longo. :3 Adoro ler livros, cada um é diferente na narrativa e nos personagens, é bom que cada vez mais diretores e atores se aventurem a realizar séries baseados em livros. Adorei historia Game of Thrones, conta uma trama extraordinária. A série também é muito fiel aos livros, espero ansiosamente a seguinte temporada. Pelos resumes que li, Game of Thrones 7 promete muito para o espectador e espero que assim seja. Deixe de ver a serie há um tempo, mas acho que a voltarei a ver. Achei muito interessante a maneira em que terminou a última temporada por todos os spoilers. Acho que as atuações foram muito boas, é uma das minhas serie preferidas.