O Nascimento de Ana de Cleves

Ana de Cleves, nasceu perto de Düsseldorf, no ducado de Berg, em uma família principesca alemã, no dia 22 de Setembro de 1515, durante os primeiros anos de reinado do homem que viria tornar-se seu futuro esposo, Henrique VIII da Inglaterra.

A cidade de Düsseldorf fica localizada à margem direita do rio Reno e remonta aos tempos romanos. Por volta do século XII, os Bergs conquistaram o local, transformando-o em seu reino, em meados do século XIII. A cidade, que obteve tal estatuto através do Conde Adolf V, possuía significativa rota comercial e mercados, que a transformariam em um importante ponto para negociações com outros reinos da Europa.

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Ana de Cleves, por Hans Holbein.

Ana foi a segunda filha do Duque de Cleves, John III e sua esposa, Maria de Juliers. Segundo aponta a historiadora Elizabeth Norton, o sexo do bebê foi um tanto decepcionante para seus pais, que tiveram que deixar sua filha mais velha de 3 anos de idade, Sibylla, como herdeira de suas terras. Porém, tal situação manteria-se por pouco tempo, uma vez que menos de um ano mais tarde, Maria deu à luz um herdeiro varão, que seria chamado de William. O jovem desempenharia um importante e decisivo papel na vida de Ana, anos mais tarde.

A família de Ana pertencia à Casa Real de Von der Marck, mais popularmente conhecida como La Marck. Seu pai, John III, o pacífico, foi o terceiro Duque de Cleves e Conde de La Marck. Ana descendia da nata das grandes famílias nobres alemãs, assim como de Eduardo I da Inglaterra (todas as esposas de Henrique VIII descendiam dele) e de monarcas franceses, tendo parentesco paterno com Luís XIII. Segundo Norton, depois de Catarina de Aragão, filha dos Reis Católicos, Ana seria a esposa de Henrique VIII com a maior linhagem familiar.

Uma vez que William era agora o herdeiro oficial do Duque de Cleves, Ana e sua irmã foram afastadas de sua companhia, para que este pudesse receber uma educação adequada ao título que um dia iria carregar.

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Schloss Burg, local onde Ana de Cleves viveu seus primeiros anos.

A mãe de Ana, Maria, foi a responsável pela criação de suas filhas. Embora fosse moda no início do século XVI, que as jovens meninas recebessem uma instrução mais refinada, Maria não foi adepta de tal ideia. Suas filhas foram educadas para serem boas esposas para príncipes alemães, recebendo portanto, ao ponto de vista inglês, uma educação restrita, segundo aponta o embaixador Nicholas Wotton: –

”Acaso desde a sua infância (assim como Lady Sybilla foi até se casar e como Lady Amélia tem sido) ela foi criada com a senhora Duquesa sua mãe, e em maneiras, nunca escassas, sendo a duquesa sábia e muito restrita em modos aos seus filhos. Todo cavalheiro da corte a quem perguntei, informou-me que (Ana) sempre foi muito leal e gentil, motivos pelos quais ganhou o favor de sua mãe, que sofreu deveras ao afastar-se dela”. 

Ana portanto, era a favorita de sua mãe, sendo criada de modo restrito, porém, não sem bons modos. Ela passou desde seus primeiros anos, até o início de sua vida adulta, ao lado de Maria, passando seu tempo com trabalhos manuais, como por exemplo, costura e bordados.

Ela sabia ler e escrever, embora dominasse apenas a língua alemã. Sua educação não foi muito diferente da recebida por Jane Seymour, terceira esposa de Henrique VIII, mas foi muito contrastante com a erudição das esposas anteriores do monarca, como Catarina de Aragão e Ana Bolena, que falavam mais de um idioma e receberam requintada educação humanista.

Embora fosse considerada uma pessoa hábil e de boa escrita, que logo aprenderia o inglês, Ana não sabia cantar ou dançar, algo que Henrique VIII era fascinado e que, todas as suas esposas até então, eram adeptas.

Existem poucos registros a respeito da infância e primeiros anos de Ana. Sabemos que ela cresceu em Schloss Burg, sede ancestral dos Condes e Duques de Berg, na cidade de Solingen, perto do local onde nasceu, sob os cuidados de sua mãe, uma mulher católica devota. Tal aspecto abre espaço para debates entre estudiosos, sobre qual religião Ana seguiu nos primeiros anos de sua vida, uma vez que ela tem sido equivocadamente relacionada como luterana. Sabemos também que seu pai, John III, era seguidor do teólogo e humanista, Erasmo de Rotterdam, e aderiu a reforma protestante, embora tenha em muitos aspectos, mantido preceitos católicos, assim como Henrique VIII.

Podemos frisar um aspecto sobre a vida de Ana de Cleves. Conforme cita a historiadora Elizabeth Norton:

”Ninguém que viu Ana de Cleves em sua infância, poderia sequer ter imaginado que ela iria, por alguns breves meses, tornar-se uma rainha, ou terminar sua vida como a última cônjuge sobrevivente do monarca que mais casou-se na Inglaterra, e um dos mais notórios da Europa. Ana de Cleves sobreviveu ao seu desastroso casamento, para permanecer nas graças e bons termos do rei, e, embora Henrique tenha deixado uma viúva, foi Ana a esposa que verdadeiramente sobreviveu”. 

FONTES:
Anne of Cleves – Henry VIII’s Discarded Bride; Norton, Elizabeth. England, 2010.

Journey Mart.com: AQUI.
The Marrying of Anne of Cleves: Royal Protocol in Early Modern England; M. Warnicke, Retha. England, 2000.

4 comentários Adicione o seu

  1. roberta fernanda disse:

    ótimo texto!!! Depois de Catarina de Aragão ela eh a minha rainha preferida!!!

    1. Tudor Brasil disse:

      Fico feliz que tenha gostado, Roberta. Seja bem-vinda por aqui! 🙂

      1. roberta fernanda disse:

        Já sou leitora assídua do blog. Gosto muito dos artigos sobre as rainhas Tudor em especial Maria I,Catarina de Aragão e Ana de Cleves…

  2. Tudor Brasil disse:

    Fico mais feliz ainda! Que bom que gosta dos artigos, Roberta! ❤

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