No dia 25 de novembro de 1487 – mais de um ano após seu matrimônio com Henrique VII – Elizabeth de York foi coroada rainha da Inglaterra, na Abadia de Westminster.
Por ser a mais velha das princesas de York, Elizabeth era muito querida no norte, e seu casamento com Henrique simbolizou a união dos até então rivais ramos cadetes da Dinastia Plantageneta da qual os dois descendiam: Lancaster & York. Era importante que Henrique desse a sua esposa uma cerimônia que fosse recordada no futuro. A imagem era tudo e a Dinastia Tudor era nova e precisava deste tipo de esplendor e propaganda a fim de convencer o povo de sua legitimidade, para que assim pudesse sobreviver.
No dia 24, Elizabeth fez sua entrada de em Londres. Ela estava vestida esplendidamente, trajando uma túnica de pano branco de ouro e damasco, e um manto de pelo de arminho, preso em seu peito por um grande laço ricamente tecido em ouro. Seu cabelo estava solto, ornamentado apenas com uma delicada rede feita com fios de ouro, que eram muito populares na Itália e na França. Multidões mostraram muito entusiasmo em ver sua amada princesa tornar-se oficialmente Rainha consorte da Inglaterra.
A data escolhida não foi mera coincidência, uma vez que era dia de Santa Catarina, que, assim como Elizabeth, foi amplamente reverenciada por sua intelectualidade e piedade. Sabe-se que Elizabeth recebeu uma erudição adequada à uma dama de sua posição, e que possuía um grande amor e forte devoção pela cavalaria, que sem dúvidas foram instilados por sua mãe e avó paterna, Elizabeth Woodville, e a Duquesa de York, Cecily Neville.
Elizabeth de York seguiu rumo a sua coroação suntuosamente vestida com uma túnica de veludo roxo, com golas de pele de arminho, e um diadema de ouro ornamentado com pérolas e pedras preciosas. Esta coroa foi provavelmente um presente de Henrique VII, uma vez que a partir do final do século XIV, era habitual que a coroa usada por uma rainha em sua procissão de coroação, fosse presenteada a ela pelo rei.
Ela foi seguida por sua irmã Cecily, e entrou em Westminster Hall com seu cortejo, assumindo sua posição sob um dossel de seda roxa, decorado com lanças de prata. No local, ao lado de sua tia, a Duquesa de Suffolk, sua prima de quatorze anos de idade, Margaret de Clarence – agora esposa de Sir Richard Pole -, e sua sogra, Margaret Beaufort, Elizabeth esperou que a procissão se formasse.
Enquanto seguia seu trajeto para a abadia, pisando sobre um tecido listrado, o povo avançava atrás dela, ansioso para poder cortar uma parte do pano em que ela havia pisado; tais lembranças eram tradicionalmente valorizadas como um privilégio, sendo igualmente realizadas na coroação de Henrique VIII e Catarina de Aragão, anos depois. Porém, a multidão era muito barulhenta: “não havia espaço para tanta gente que excessivamente se pressionava para chegar até o tecido, de modo que certas pessoas acabaram pisoteadas e foram mortas, fazendo com que a ordem das senhoras que seguiam a Rainha fosse quebrada e conturbada.”
Na calma da abadia, Elizabeth caminhou ao longo da nave, acompanhada em ambos os lados pelos Bispos de Ely e Winchester; a sua frente estavam seu tio, John de la Pole, Duque de Suffolk, carregando um cetro dourado coberto com uma flor-de-lis, William FitzAlan, Conde de Arundel, que trajando suas vestes de Estado, carregou a haste com a pomba, e Jasper Tudor, Duque de Bedford, que teve a honra de carregar a coroa da consorte. Também na procissão estavam presentes o Conde de Oxford, como o senhor Grande Camareiro, vestindo “suas vestes de Parlamento”.
Atrás dela seguiram a Duquesa de Bedford e outras duquesas e condessas, vestidas em mantos e túnicas escarlates, cada uma delas portando em suas cabeças coroas de ouro ricamente decoradas com pérolas e pedras preciosas.
Elizabeth foi ungida duas vezes no peito e na cabeça, teve o anel colocado em seu quarto dedo, uma coroa de ouro em sua cabeça, e por fim, o cetro e vara de ouro foram postos em suas mãos. Após esse evento, ela e seu cortejo seguiram para Westminster Hall, onde um grande banquete a aguardava.
Não havia nenhuma tradição que impedisse reis de frequentarem e assistirem as coroações de suas consortes, mas Henrique VII permitiu que sua esposa desfrutasse de seu momento de glória sozinha. Ele assistiu toda a cerimônia com sua mãe, Margaret Beaufort e Lady Margaret Pole, filha do duque de Clarence, de trás de uma tela coberta com um pano de Arras, que havia sido especialmente erguida entre o altar e o púlpito.
Elizabeth realizou seu papel de rainha com perfeição. Ela compreendia exatamente o que era exigido dela, e agiu em conformidade – e aparentemente sem esforço -, com o ideal medieval de realeza. Ela era linda, devota, fértil e gentil – uma boa rainha tradicional.
De tempos em tempos, o rei a envolvia nas relações diplomáticas, principalmente para ajudar a providenciar os casamentos de seus filhos – uma tarefa que tradicionalmente as rainhas executavam. Além disso, ela exerceu uma influência suave e discreta sobre seu marido, e houve casos em que ela exerceu sua autoridade independente de seu marido, intervindo em assuntos da lei e fazendo requerimentos em nome de seus servos, comerciantes e de outros moradores de Londres.
O legado de Elizabeth à Dinastia Tudor era seu sangue Plantageneta, que compensou qualquer deficiência na árvore genealógica de Henrique VII, mas sua bondade brilha nos registros. Ela era muito amada. Muitas fontes mostram que ela merece muito mais crédito por suas realizações políticas do que a maioria dos historiadores estão dispostos a lhe oferecer, e que ela era muito ativa dentro das esferas tradicionais de influência no que compreende-se como os moldes de uma rainha medieval.
Como Amy Licence aponta em sua biografia “Elizabeth of York: The Forgotten Tudor Queen. ”:
“A sua realeza por si só a tornava única, mesmo entre outras mulheres de seu tempo […] Ela não só estava em conformidade com ideal contemporâneo de realeza, mas os superava. Acima de tudo, ela personificava as virtudes do sexo feminino de delicadeza, a piedade, a maternidade e compaixão, mas ela também mostrou seus pontos fortes como uma sobrevivente. ”
Em sua vida, Elizabeth teve conhecimento de três modelos de realeza antes de sua própria sucessão: Margaret de Anjou, que foi geralmente taxada como sendo “guerreira” e “agressiva”, enquanto Elizabeth Woodville, sua própria mãe, foi acusada repetidamente de ”arrogância” e ”nepotismo” e por fim, Anne Neville, que foi por muitos considerada como apenas um ”peão”, praticamente sem importância.
A posição de Elizabeth foi cautelosa, mas não menos impressionante ou admirável. Dentro deste jogo de poder onde todos adotavam uma postura de combate, ela escolheu demonstrar o lado mais acessível, suave e humano da realeza, uma figura materna que era simpática aos suplicantes e equilibrada, sem interferir diretamente no componente masculino de guerrear ou governar.
Hoje, Elizabeth de York é muitas vezes injustamente ofuscada por suas antecessoras e sucessoras, mas ela foi uma rainha de tanto sucesso quanto qualquer uma delas. Por isso, e por sua integridade e boa índole, sua memória merece ser celebrada.
Fontes:
Tudor and other Histories: AQUI.
History Extra: AQUI.
WEIR, Alison. Elizabeth of York: A Tudor Queen and Her World; Ballantine Books; 1st edition: December 3, 2013.
LICENCE, Amy. Elizabeth of York: The Forgotten Tudor Queen; Amberley: May 19, 2014.