Os 3 Maiores Mitos da História Britânica de Acordo com Lucy Worsley

O artigo de hoje foi escrito por Lucy Worsley. Todos que estudam história britânica já ouviram falar neste nome. Worsley é PHD em história pela University of Sussex, autora de diversos best sellers, apresentadora de televisão e atual curadora do Historic Royal Palaces – instituição independente que gerencia alguns dos palácios reais desocupados do Reino Unido, como Torre de Londres, Hampton Court, Kensington Palace e etc. Confira:


Muitas pessoas lembram-se de suas lições de história aprendidas na escola, como datas e batalhas, acontecimentos importantes, ou reis e rainhas. Mas assim que você começa a aprofundar-se no assunto, tudo torna-se naturalmente mais complexo. Ao invés de uma única versão de “o que aconteceu”, ou ”a verdadeira história”, sabemos que a história é realmente uma tapeçaria de eventos complexos e interligados e as pessoas com mais poder, são geralmente as que conseguem reescrevê-la. Deste modo, como separamos o fato da ficção? No artigo de hoje, vamos acabar com alguns mitos…

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A Guerra das Rosas:
O senso comum conta que, o desafortunado e arrogante Henrique Tudor, venceu o vilão Ricardo III em Bosworth Field, em 1485, levando ao fim os terríveis 30 anos de conflitos locais, conhecidos como a Guerra das Rosas.
Esta é a história que o próprio Henrique queria que nos lembrássemos, mas está repleta de inconsistências. Os próprios historiadores henricanos, trabalharam a imagem de Ricardo III como a de um monarca indiscutivelmente ”mau”, que assassinou seus próprios sobrinhos a fim de obter o trono. Diziam ainda, que todos podiam ver a maldade de Ricardo refletida em seu próprio corpo.

John Rous, um historiador a serviço de Henrique Tudor, descreveu como Ricardo nasceu com os cabelos na altura dos ombros, e até mesmo com garras. Quando William Shakespeare voltou-se para os livros de história Tudor a fim de buscar por inspiração, ele encontrou os materiais para criar o Ricardo III que hoje tanto amamos odiar.

No entanto, o mesmo historiador, John Rous, havia feito uma descrição anterior de Ricardo III no momento em que ele ainda era rei. Não é de surpreender que esta versão tem-no como um soberbo governante, com absolutamente nenhuma deformidade física.
Henrique também enfatizou sua própria conquista ao pôr um fim na Guerra das Rosas. Este período certamente continha alguns momentos sombrios, como a Batalha de Towton em 1461. Crânios encontrados no local, mostram as horríveis fendas quadradas deixadas por martelos que choviam sobre as cabeças dos soldados que fugiam de perseguidores montados.
Mas os historiadores modernos têm apontado que, longe de ser um conflito de 32 anos, os combates de fato, duraram um total de 13 semanas. E sobre as ”rosas” que dizem representar os dois lados em conflito? Shakespeare novamente, receio dizer. Henrique apenas adotou a rosa vermelha como símbolo pessoal após o final do conflito. A célebre cena de Shakespeare em Henrique IV Parte I, em que os nobres tomam uma rosa vermelha (símbolo dos Lancaster) ou uma branca (símbolo dos York) para mostrar qual lado vão tomar no conflito, foi inteiramente inventada.

É verdade, no entanto, que Henrique usou habilmente a idéia das rosas para defender a paz e a reconciliação no pós-guerra, e após seu matrimônio com Elizabeth de York. A rosa Tudor vermelha e branca, representando sua união, é um dos símbolos mais emblemáticos da história inglesa. Atualmente, os eventos em um parque de estacionamento em Leicester, levaram a um renascimento da reputação de Ricardo III. No entanto, uma história acabou provando-se verdadeira. Quando seu esqueleto foi descoberto no local, ele possuía uma espinha ligeiramente envergada.

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A Revolução Gloriosa:

Em 1688, um príncipe holandês chamado William, desembarcou com um exército em Devon. A aristocracia protestante britânica convidou-o a tomar a coroa no lugar do católico, absolutista e impopular James II. O Parlamento ofereceu o trono conjuntamente ao novo rei William III e sua esposa inglesa Mary, uma vez que eles concordaram com um contrato que limitava os seus poderes.

Foi um momento decisivo para a democracia britânica. Em 1988, 300 anos após a “Revolução Gloriosa”, houve um debate na Câmara dos Comuns se tal aniversário deveria ser celebrado. A então primeira-ministra Margaret Thatcher, argumentou que foi uma “transferência pacífica de poder que deu origem ao título da revolução sem sangue na Inglaterra”.

Sim. De fato, foi pacífico na Inglaterra, mas não na Escócia ou na Irlanda. Lá, William teve que impor a mudança de regime com táticas brutais, como a Batalha do Boyne (na Irlanda) ou o massacre do Clã MacDonald em Glencoe (na Escócia). Isso deixou um amargo legado de sectarismo.
O próprio William não tinha tanto interesse na Grã-Bretanha. Ele só queria o trono porque o facilitaria a ajudar a república holandesa em sua luta contra o rei católico Louis da França. Então, o que ocorreu de fato? Os historiadores da econômica apontam que a invasão de William foi financiada pelos comerciantes de Amsterdã, que queriam proteger seus próprios interesses financeiros, aproximando os Países Baixos e a Grã-Bretanha. Não  conte isso a Nigel Farage.

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O Motim Indiano:

Se você tem uma certa idade, seu livro de história teria ensinado sobre as violentas revoltas de 1857 na Índia britânica, como ”O Motim Indiano”. No entanto, se você é da Índia, chamará os mesmos eventos de ”A Primeira Guerra da Independência”. Mas o que é certo é que na época, os britânicos queriam defini-lo como um conflito militar direto.

O rebelde mais conhecido, Mangal Pandey, era um Sipai, ou membro do exército britânico na Índia, nascido em quartéis perto da capital britânica de Calcutá, ou Kolkata, como é conhecido atualmente.
Houve uma agitação generalizada entre as tropas indianas, tanto hindus como muçulmanas, que haviam sido comandadas a usar cartuchos que temiam terem sido untados com gordura animal, que, para eles, era algo religiosamente ofensivo.

Pandey tentou incitar seus companheiros soldados a rebelião e, embora eles não tenham se juntado a ele, falharam notavelmente em ajudar os oficiais britânicos que o subjugaram. Ele tentou atirar em si mesmo, mas foi dominado, julgado pela corte marcial, e enforcado em uma árvore de figos.
Os britânicos na época, alegaram várias vezes que Pandey estava bêbado, ou em um estado de “frenesi” religioso, e o apresentaram como um caso de insubordinação militar punido de acordo com a lei.

Naturalmente, olhando para trás, a rebelião de 1857, brutalmente esmagada pelos britânicos, parece um ponto de parada ao longo do caminho para a independência indiana, e Pandey agora é visto como um mártir, com seu rosto aparecendo em selos e livros escolares.
Pode ser, no entanto, que até mesmo os nacionalistas indianos tenham exagerado a rebelião de 1857, descrevendo-a como generalizada e politicamente motivada, porque essa era a história que melhor lhes convinha? Recentemente, os historiadores argumentaram que a violência não era coordenada e que estava confinada a apenas algumas áreas.

FONTES:
RadioTimes: AQUI.

2 comentários Adicione o seu

  1. Roberto Oliveira. disse:

    O que tem haver o mal de Ricardo III ,com seu corpo claudicante.Ė cada uma…

    1. Tudor Brasil disse:

      Exato. Nada tem a ver, mas era assim que a historiografia inglesa o colocava, como um homem cruel cuja maldade era refletida em seu corpo, através de uma deformidade na espinha.

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