O que você irá ler a seguir, é um dos vários registros de testemunhas da execução de Mary Stuart, rainha dos escoceses, decapitada no castelo de Fotheringhay, em 08 de Fevereiro de 1587.
Relatório realizado por uma testemunha católica anônima presente na execução:
Este é o relato da morte daquela rara e principesca mártir, Mary Stuart, antiga rainha da Escócia, executada no Castelo de Fotheringhay, em 08 de fevereiro de 1587.
Primeiro, foi construído no salão do castelo um andaime de sete metro quadrados lado a lado, e cerca de cinco metros de altura. Nos dois cantos superiores haviam dois banquinhos, um para o Conde de Shrewsbury e outro para o Conde de Kent; diretamente entre os ditos banquinhos foi colocado um bloco (local onde a cabeça repousa para ser decapitada) medindo um pé de altura, coberto de preto, e diante deste bloco, foi colocada uma pequenina almofada para a rainha sentar-se enquanto suas vestes seriam retiradas. Ao lado do andaime estava o alto-xerife, junto dos outros homens convocados para a ocasião.
Por volta das 9 horas da manhã, veio aquela santa e doce mártir, levada como um cordeiro ao abatedouro, trajando um vestido de cetim negro, bordado com motivos franceses em veludo da mesma cor; seu cabelo graciosamente atado por um véu de linho branco, que cobria sua cabeça e parte de seu traje até os pés. Chegando ao salão, ela parou e, com um semblante sorridente, perguntou a Shrewburry por que nenhum de seus próprios criados poderia estar presente. Ele respondeu que a Rainha, sua senhora, assim havia ordenado. ”Ai de mim’’, disse ela, ”Pessoas mais medíocres que eu não tiveram negado um favor tão insignificante, e eu espero que a Rainha, sua majestade, não lide tão mal comigo’’. ”Madame’’ – respondeu Shrewbury, ”Isto foi decidido a fim de evitar dois inconvenientes, o primeiro é que seu pessoal grite e emita alguns ruídos temerosos no momento de sua execução, e assim incomode a ti e a nós, ou então causem algum tumulto a fim de conseguir obter seu sangue e guarda-lo como relíquia, deste modo, ministrando um delito”. ”Meu Senhor’’, respondeu ela, ”Rogo-lhe que meu estado de serenidade possa deixar-me ter alguns de meus servos comigo, e darei-lhe minha palavra que eles não irão causar escândalo de qualquer tipo’’.
Diante desta promessa, duas de suas damas e cinco de seus homens foram enviados ao recinto, chegando ao salão, e vendo o local de execução preparado e sua senhora soberana aguardando a morte, eles então começaram a chorar do modo mais aflito e lastimável; ela então ergueu sua mão, desejando a eles que se abstenham e mantenham-se em silencio, ”pois’’, disse ela ”eu dei minha palavra a estes senhores que vocês ficarão quietos e não irão causar desconforto’’. E logo eles fizeram uma maravilhosa demonstração de submissão e obediência leal, ao seu verdadeiro príncipe, a quem, mesmo no momento da morte, eles honraram com toda a reverência e dever. Pois embora seus seios fossem vistos levantados e inchados como se seus corações feridos tivessem partido em pedaços, ainda assim eles, para seu duplo pesar, abstiveram-se de suas queixas a fim de realizar seu desejo.
Logo que ela subiu ao andaime, veio a ela um herege, chamado Doutor Fletcher, Reitor de Peterborough, e disse a ela como a rainha sua soberana, tocada com uma indizível preocupação por sua alma, o havia enviado para instruí-la e confortá-la nas verdadeiras palavras de Deus. No que ela virou seu rosto para ele, dizendo: ”Senhor Doutor, eu não tenho nada a ver com você, nem com sua doutrina’’, e imediatamente ajoelhou-se diante do bloco, e começou a entoar suas orações do modo mais piedoso. Então o doutor também entoou um tipo de oração recém-reformada; mas, a fim de prevenir-se de ouvi-lo, ela levantou sua voz e rezou tão alto, que ele não mais pode ser compreendido.
O Conde de Shrewsbury então falou com ela, e disse-lhe que ele iria rezar com ela e para ela. ”Meu Senhor’’ disse ela, ”eu agradeço-lhe se você rezar por mim; mas ao fazê-lo, reze secretamente para você, para que não rezemos juntos’’. Suas orações acabaram, ela levantou-se e beijou suas duas damas, e curvou seu corpo diante de seus homens, e encarregou-os de lembrar de seu doce filho, a quem ela enviava suas bênçãos, com a promessa de rezar por ele no céu; e por fim, saudar seus amigos, e dar seu último adeus aos seus pobres servos.
Os carrascos então, de forma áspera e rude, começaram a despi-la, e enquanto faziam isso, ela olhou para os nobres e, sorrindo, disse: ”Agora verdadeiramente, meus senhores, eu nunca tive tais tipos de noivos esperando por mim antes!’’. Então, estando pronta para o bloco (é necessário salientar que, ela não estava nua, apenas despiu-se de suas vestes mais pesadas) uma de suas damas tirou um lenço de cambraia todo trabalhado com bordados de ouro, e encostou sobre seu rosto; o que fez Fletcher gritar a ela que morreria na verdadeira fé de Cristo. Ela respondeu, ”Eu acredito piamente ser salva pela paixão e sangue de Jesus Cristo, e também acredito, de acordo com a fé da antiga igreja católica de Roma, e portanto, derramarei meu sangue’’. Ela terminou seu feliz e abençoado martírio para o conforto de todos os verdadeiros católicos, e para a vergonha e ruína de todos os hereges.
Após a Execução:
Os servos de Mary foram então ordenados a retornar aos seus aposentos. Henry Talbot, filho do Conde de Shrewsbury, foi imediatamente enviado a Londres com o certificado de execução.
Henry Gorman escreveu o seguinte registro do que ocorreu em Londres e no resto do Europa após ouvirem sobre a morte de Mary, rainha dos escoceses:
Em Londres, há os sinos das igrejas, as fogueiras ardentes e as festivas comemorações de alegria nas ruas, enquanto uma rainha de semblante maldoso amaldiçoava Burghley, amontoava oblações sobre Davison e gritava que Mary havia sido executada contra a sua vontade.
Na Escócia, furiosos ataques na fronteira com a Inglaterra foram realizados por nobres enlouquecidos de tristeza, enquanto um jovem rei “não mudou seu semblante ao receber a notícia da execução de sua mãe, nem abandonou seu costumeiro passatempo de caça”.
Em Paris, soaram os mais profundos sofrimentos e cânticos dos sacerdotes na Catedral de Notre Dame e sulfurosas ameaças de Henrique III, uma vez que ele recusou a audiência com o embaixador inglês e confiscou as encomendas e despachos de Elizabeth em Dieppe, além de ordenar um embargo sobre todos os navios ingleses em portos franceses.
Na Espanha, os planos de ataques foram renovados, e bravos homens foram reunidos em seus galeões de alta potência, junto de seus canhões, para um grande golpe destinado a destruir a Inglaterra protestante.
Em Fotheringhay, “um empoeirado dossel de estado jazia negligenciado em um armazém e em sua parte dianteira, estavam letras douradas desvanecendo-se: ”En ma fin est mon commencement.” (Tradução: Em meu fim está meu começo – Lema de Mary Stuart.)
Observação:
Embora seja um registro primário, e portanto, de suma importância, ele foi fornecido por um partidário católico e deste modo, deve ser considerado como sendo um tanto tendencioso. Foram ocultados por ele, aspectos notórios do ocorrido, como por exemplo o fato de que foram necessários três golpes de machado para separar a cabeça de Mary Stuart de seu corpo.
FONTES:
Scotland’s Mary: AQUI.
eu amo a historia de mary sou fã demais dela. por ela ter sido uma rainha amavel, simples e de uma doçura extrema .