[Antes de iniciar o artigo, sugerimos a leitura da Parte VII]
A Imperatriz passou o inverno de 1872, ao lado de sua filha caçula, a pequenina Valéria. Neste período, ela aproveitou para analisar a índole de sua nova dama de companhia, a Condessa de Festetics, uma das poucas pessoas na qual a presença lhe trazia algum conforto.

A rotina matinal da Imperatriz é sempre a mesma. E a partir de então, ela manda chamar a Condessa em seus aposentos logo cedo. Ao adentrar nos quartos reais, Festetics encontra a desconfiada Angerer, a cabeleireira da Imperatriz, responsável por cuidar de seu cabelo e penteado. Angerer não confia em Festetics, e em nenhuma dama do séquito de Elisabeth. Acostumada a escutar confissões da imperatriz, a mulher aprendeu a desenvolver um tino a respeito de suas damas de companhia.
Festetics por sua vez, enxerga-se como uma húngara intrusa e ‘espiã’ de Andrássy. Uma vez que a maioria do séquito da Imperatriz possui a mesma impressão da mulher, isto dificulta seu entrosamento com elas.
A rotina de cuidados com o cabelo da Imperatriz, é minuciosa. Sissi sempre apreciou os trabalhos de sua cabeleireira, e para que não viesse a se separar dela um dia, a Imperatriz designou como seu secretário pessoal, o marido da mesma.
Angerer era de origem humilde, filha de parteira. Porém, com o ofício de outrora pentear atrizes, ela obteve habilidades que Elisabeth não deixaria passar em vão. Conhecida por suas longas madeixas de tom castanho escuro, com leves reflexos dourados, a vaidosa Imperatriz precisa dos melhores atendentes, e por isso, não poupou esforços em tê-la ao seu lado.

Todos os dias era a mesma coisa. A cada fio de cabelo que caia de sua cabeça, Elisabeth mostrava-se aflita. A fim de acalmar sua senhora, Angerer desenvolveu um método bastante eficaz de esconder em seu avental, os fios de cabelo da Imperatriz, que ficavam entre os dentes do pente. Após a escovação, seus cabelos eram esfregados com creme, a fim de que ficassem com aparência de limpos e com aroma agradável.
Lavar o cabelo da Imperatriz, constituía em um árduo trabalho, que exigia um dia inteiro dedicado à esta tarefa.
Quando Sissi deixa Merano – local onde passou uma temporada ao lado de sua filha, Valéria – rumo à corte em Viena, Festetics tem que aprender a familiarizar-se com o ambiente imperial.
No dia 21 de Janeiro ocorre, como de costume em todas às sextas-feiras, um jantar na casa da Arquiduquesa Sofia. Lá tem lugar a apresentação das damas de companhia imperiais.
A imponente figura da Arquiduquesa, reserva à Festetics apenas um aceno de cabeça, preferindo deleitar-se em conversas com as damas do séquito austríaco.
Após o banquete, a Imperatriz então pergunta à sua dama:
– Senti-vos ofendida?
Ao que ela responde:
– Não. Vossa Majestade; antes, irritada!
-É preciso acostumar-se. Quem está ligado a mim, é natural que também sofra perseguições. Admiro-me que o arquiduque não tenha logo iniciado suas instruções; ele ocupa-se de ensinar a todos, menos a si mesmo! – Disse a Elisabeth.
O clima na corte austríaca é um reflexo da hostilidade da Áustria para com a Hungria, e a amizade do Imperador com o hungrófono, Conde de Bellegarde, constitui em grandes desavenças entre Franz e sua esposa.
Neste inquieto cenário, Sissi recebe uma carta de Merano, onde ficou a pequenina Valéria. As notícias a afligem. A menina encontra-se indisposta.
Isto é o suficiente para que o semblante da Imperatriz murche ainda mais.
Pode-se destacar uma conversa entre Elisabeth e Miss Throckmorton, aia inglesa que servia como espiã da Inglaterra. Em seus escritos, ela reparou que Elisabeth era sempre deveras resoluta e original, mas também um tanto amarga, evitando ao máximo as pessoas que sua posição lhe obrigava a tolerar. Certo dia, a Imperatriz comenta com Throckmorton:
– Não vos surpreende… – Pergunta Elisabeth – … que eu viva como uma eremita?
– Certamente. Vossa Majestade é deveras jovem para tal!
– Decerto. Mas não tenho outra escolha, senão esta vida. Perseguiram-me tanto, censuraram-me, caluniaram-me, ofenderam-me e feriram-me tanto. A minha alma, Deus conhece. Nunca fiz mal a ninguém! Deste modo, resolvi procurar uma companhia que me deixe sossegada, não me incomode e me dê satisfação. Retirei-me para dentro de mim mesma, busquei a natureza: a floresta não ofende. Por certo, foi difícil viver só; mas nós acabamos por acostumar-nos a tudo. E agora, isto me dá prazer. A natureza é muito mais grata que os homens!
Tempos depois, Sissi faz com a Condessa Festetics, uma excursão à Ermida, um dos mais belos locais nos arredores de Merano. Ela então pergunta-lhe:
– Gostarias de viver como um eremita?
– Agora não. – Festetics lhe responde.
– A paz é um grande tesouro. E só se pode conquistá-la alheia dos homens. Certamente, isto leva-nos a refletir… – Responde a Imperatriz.

Elisabeth costumava devanear, falando de quando era mais jovem e havia acabado de desposar Franz. Um semblante frio regava sua face, mas, um certo ar de malícia tão característico de sua personalidade, a fazia rir com os brilhantes olhos, antes da boca, quando regozijava-se de algo.
Embora constantemente triste, estar ao lado da Imperatriz podia ser maravilhoso. Sua companhia em um jantar íntimo, poderia ser deliciosa, desde que ninguém lhe fosse antipático, ou lhe desagradasse. Caso o contrário, Elisabeth sempre dominou o poder de criar uma atmosfera gélida em seu entorno.
Após ter passado uma semana em Merano, a Imperatriz segue viagem rumo à Buda. Sua chegada à Pest levou o povo para às ruas. Tal acolhida era um reflexo do quanto era amada pelo povo húngaro, povo este, que a acolheu do fundo de seu coração.
É em Pest que chegam as boas novas. Sua primogênita, a bela Arquiduquesa Gisela da Áustria, que mal havia completado 16 primaveras, ficara noiva.
A reação da Imperatriz a tal enlace, é um tanto fria, uma vez que acredita ser demasiado cedo para a jovem contrair matrimônio.
Mas estava decidido. O escolhido foi Leopoldo da Baviera, segundo filho de Luitpold, o futuro regente da Baviera.
O casamento será um rito católico, de modo que, segundo Franz Joseph escreve à sua mãe: ”com a penúria atual de príncipes católicos, era preciso não deixar escapar o único entre eles ao qual poderia dar Gisela com o coração em paz”.

Nos anos que se passaram, a jovem Gisela cresceu e desenvolveu-se, tornando-se uma esbelta e bela jovem para sua idade. Elisabeth custa a acreditar que sua filha, que outrora foi criança, cresceu e tornou-se mulher.
Os noivos terão que esperar pelo menos um ano para o matrimonio, e entre as más línguas rolam boatos que, a falta de entusiasmo de Sissi, deve-se ao fato de que esta reluta em mostrar ter uma filha já crescida.
Em realidade, a falta de entusiasmo da mesma, deve-se a distância em que esta sempre viveu de sua filha, que cresceu e passou a maior parte do tempo, ao lado da avó paterna, a Arquiduquesa Sofia.
Pouco após seu retorno a Merano, Elisabeth recebe a notícia de que sua sogra está enferma, padecendo de distúrbios nervosos. Ela é chamada imediatamente à Viena, onde chega, no dia 16 de Maio.
As notícias não são boas. O estado da Arquiduquesa agravara-se; no entanto, ela ainda mantinha-se lúcida, despedindo-se com carinhosas palavras de seus familiares e amigos. Seu estado vai se agravando em crises de stress e agonia. Embora alguns tivessem esperanças de que ela fosse melhorar, estas são rapidamente substituídas pela espera do pior.
Diante de tal perspectiva, a corte em peso se reune, a família, ministros da casa imperial e o séquito. Há um forte e silencioso clima de tristeza e pesar. A noite chega, horas se passam e a Arquiduquesa ainda vive; ao amanhecer, todos saem para fazer suas refeições e deveres, mas Franz e Elisabeth permanecem ao lado de Sofia. A Imperatriz estava há mais de 10 horas sem se alimentar, mas mesmo assim, recusou-se deixar o recinto.
Por volta das duas horas da tarde, do dia 28 de Maio de 1872, o sofrimento da Arquiduquesa cessa e ela deixa este mundo.

Sissi mostra-se muito abalada e triste. Ela procura recordar dos últimos momentos de vida de Sofia, quando esta mostrou-se deveras diferente com ela, que em seu íntimo, também reconhecia não ter sido a melhor das noras.
Pouco após os ritos funerários, Elisabeth deixa Schonbrunn, seguindo rumo a Ischl. Ela veste luto, mas nem mesmo as cores de ébano parecem ofuscar a graciosidade da Imperatriz. Segundo Festetics, cada vez que passeia com a Imperatriz: ”Basta vê-la. Ela é a graciosidade em pessoa. Ora me parece um lírio, ora um cisne, uma fada ou uma sílfide. E, contudo, não: uma rainha! Mulher régia da cabeça aos pés! Fina e nobre em tudo. Em seguida me vem à memória os inúmeros boatos maldosos, e creio que, uma parte destes, deve originar-se de muita inveja, pois ela é, em uma palavra, deliciosamente bela e graciosa. Mas a sua falta de alegria é o que sempre mais impressiona. Está aureolada por uma placidez impressionante, sendo tão jovem. A sua voz é no geral tranquila e abafada, raramente excitada. Uma ou outra vez sente-se nela um tremor, quando a imperatriz narra como foi tratada impiedosamente. Como é possível que se possa ofender uma criatura de semelhante aspecto?’’
Nos frequentes momentos de mau humor e tristeza, a Imperatriz narra para Festetics, os infortúnios passados com os membros de sua família, como por exemplo, o Arquiduque Ludwig Viktor, que a odeia e espalha na corte, mentiras e boatos a seu respeito.
No entanto, não é apenas mau humor e tristeza que cercam a vida da Imperatriz. Em um jantar, por exemplo, o encarregado do príncipe Lobkwitz, sentado em frente de Sissi, brinca com um palito. Em certo momento, faz com que o mesmo, sem querer, escape de seus dedos e voe por cima da mesa, caindo no prato da Imperatriz. Ela tenta fingir que nada aconteceu, mas não contém o impulso e cai em gargalhadas com tanto gosto, que lágrimas escorrem de sua face. Ao ouvir o barulho, o Imperador diz: ”O que está acontecendo aqui? Conte-me para que eu possa rir também!’’. O encarregado então, olha para a Imperatriz com um semblante de medo, e esta, com pena, vira-se para o Imperador e diz: ”Sabes, veio-me uma certa coisa… Uma lembrança em mente…’’

Momentos de alegria e plenitude cercavam a vida de Elisabeth, quando esta encontrava-se em alguma viagem ao lado dos filhos. Ela divertia-se com Rodolfo, com então 14 anos, que tornou-se um belo jovem, com seus brilhantes olhos escuros.
Rodolfo era um menino bastante maduro para sua idade, e aprendera húngaro com o Bispo Rónay, a pedido de Sissi. Haviam crescentes ideais liberais em sua cabeça, embora ainda um tanto imaturos. Ele chega a dizer ao seu professor, que: ”O homem nada mais é que um animal selecionado; cujo os nobres e clérigos tem sempre trabalhado em conjunto, a fim de manter o resto do povo na ignorância, e assim, dominarem a todos tranquilamente; que a dita alta sociedade, com raras excessões, não passa de um tumor maligno no corpo de uma nação…” e assim por diante.
Quando perguntam na corte, onde o príncipe arrumara tais pensamentos e opiniões, julgam estas terem vindo através da influencia mal administrada das palavras de sua mãe, a Imperatriz. No entanto, o Principe herdeiro se parece muito pouco com Sissi, tendo influencia de diversos mestres e pensadores da época.
Enquanto a jovem Giselda é uma doce e perfeitamente comum dama da época, e a pequena Valéria, um tanto tímida, medrosa e esquiva, a personalidade de Rodolfo mostra-se mais predisposta à singularidades de caráter, talvez, herdados de seu lado paterno.
Um dos passatempos prediletos da Imperatriz, é a caçada. Dotada de grande desenvoltura nesta área, Sissi domina o manejo de armas e cavalgada, melhor que muitos homens treinados. Ás vezes a Imperatriz chegava a cavalgar das 11 às 17 horas, sem parar.
Para o bom humor da imperatriz acabar, basta esta seguir rumo à capital, no ambiente da corte. Basta um emissário real ou um encarregado vir a seu encontro, que Sissi usa uma de suas mais famosas armas, um véu negro atado em seu chapéu, uma sombrinha grande, e um inseparável leque, que leva consigo até em suas cavalgadas. Quando depara-se com um emissário, entra no primeiro aposento que encontra, sempre dizendo à suas acompanhantes: ”Depressa, vamos embora! – Eu sinto quem gosta de mim e quem não gosta!”
A realidade é que, Elisabeth está muito longe das coisas práticas. Não tem noção alguma do valor do dinheiro. Certa vez, passeando com Festetics em Buda, ela pergunta à sua companheira:
– Tem dinheiro? – ao que ela responde – Sim, majestade.
– Quanto? – pergunta a Imperatriz.
– Não muito. Vinte florins.
– Oh, é muito! – diz Elisabeth.
Ela queria ir a Kugler, uma famosa confeitaria em Pest, para fazer umas compras para Valéria. Quando chega ao local, ela escolhe todos os itens com uma alegria infantil e quando junta uma volumosa cesta de produtos, pergunta: – Já deu 20 florins?
Quando, em realidade, já havia dado mais de 150!

Sob muitos aspectos, físicos ou intelectuais, ela mostra grande empenho e desenvoltura. Cuida da magreza de seu corpo, pratica esportes e ginástica. Ela ama ler, adora grandes poetas, tem sede de conhecimento. A nobreza, os costumes tradicionais e o orgulho de classe, nunca fizeram parte de sua pessoa. Ela viveu uma infância livre, e tudo que a prendia, tendia a entristece-la. Sua luta por independência era crescente. Ela viria a dizer com frequência: –Desejaria ser uma gaivota!
Sissi é uma sonhadora. Sua mente não tem descanso. Sonha em ver todos felizes! Necessita sempre de uma ocupação. Tendo sido separada dos dois primeiros filhos, renunciou aos poucos deles, mas da pequena Valéria, manteve-a em seus braços. Ela era dona de seu coração. Sempre que falava da pequenina, trazia um grande sorriso nos lábios.
Enquanto Sissi é sonhadora, Franz mantém os dois pés no chão. O Imperador é totalmente carregado de deveres, sempre submetendo-se a eles com muito cuidado e zelo. Ele não concebe como um pessoa consegue ser como Sissi, vivendo sempre tão isolada de tudo e todos.
A censura de que a Imperatriz se ocupa pouco de seus deveres de soberana, mostra-se injusta, especialmente durante o ano de 1873. Neste ano, ela compareceu à inúmeras ocasiões formais, marcando presença ainda em orfanatos, sanatórios e eventos religiosos. Ela sempre suspirou um pouco em eventos formais, mas mantinha seu papel de modo perfeito, arrancando elogios onde fosse.
Logo após a Páscoa, em 20 de Abril, ocorre o casamento de Gisela. A belíssima jovem, subiu ao altar em um vestido enfeitado de prata, com os cabelos soltos, adornados por um brilhante diadema. Elisabeth presenciou a cerimonia, aparecendo de modo tão radiante e suave, que ninguém poderia dizer ter uma filha em idade de casar.
Na hora em que Gisela diz ”sim” ao marido, os olhos de Sissi se enchem de lágrimas, que também não foram poupadas no momento da despedida.
Foi triste ver sua filha deixar seu lar, mas Gisela, no fundo, nunca foi inteiramente sua.
As festas que seguiram-se ao matrimonio, foram, como de costume, um tormento para a Imperatriz.
Ao assistir a peça de teatro, ‘Sonho de uma Noite de Verão’, escolhida em homenagem à Gisela, Sissi então diz: ‘É possível, que em honra de uma jovem esposa se escolha uma peça em que uma princesa se apaixona por um burro?” No que brinca o príncipe Leopold: ”Seria talvez, alguma alusão?”

No mês de Setembro, com a visita do rei da Itália, deve realizar-se um passo importante nos novos rumos da política exterior, sob a direção de Andrássy. Elisabeth então, é chamada de Schonbrunn. Ao chegar, sente-se muito mal, com uma febre gástrica. O mal estar a impede de receber o soberano. Ela passaria 10 dias de cama, não podendo sequer participar de uma tão esperada exposição equina.
No mês de Outubro, a fim de buscar tratamento, ela refugia-se em Godollo. No local, ela aos poucos, vai melhorando.
No dia 2 de dezembro, os soberanos tem de ir à Viena para o jubileu do Imperador, com então 25 anos de reinado. Logo após as cerimônias, no dia 3 de dezembro, Sissi regressa a Godollo. Sua sempre curta permanência em Viena, torna-se cada vez mais, alvo de notícias de tabloides – que a acusam de não cumprir seus deveres imperiais.
O ano de 1874 inicia-se com boas novas. Sissi torna-se avó. Tanto a Imperatriz, quanto sua filha Gisela, casaram-se aos 16 anos de idade. No dia 8 de Janeiro, ela deu à luz, uma bela menininha. Embora hajam casos de cólera no local, Elisabeth parte imediatamente para Munique, a fim de encontrar a filha.
No dia seguinte ao batizado, a Imperatriz comenta com Festetics: ‘Hoje, Maria, vou com um médico visitar o hospital dos coléricos, mas irei sozinha, pois não posso assumir a responsabilidade de levar alguém comigo”. É raro que membros da realeza visitem tais locais, mas Elisabeth demonstra uma coragem ostentada por poucos de sangue real. Após retornar, a Imperatriz despe-se da cabeça aos pés e joga fora suas luvas. Ela não voltaria a visitar sua filha durante alguns dias, e viraria manchete nos jornais locais, por sua bravura e devoção para com os enfermos.
Em 22 de Janeiro, ela chega a Pest. Semanas depois ela retorna à Viena, após uma viagem de Franz para São Petersburgo.
Na terça-feira de carnaval, ocorre um capítulo pouco divulgado da vida da Imperatriz, sua aventura em um baile de máscaras.
Sissi resolve ir disfarçada para um baile, durante a noite. Quando todos no palácio vão dormir, Elisabeth levanta-se, coloca um belo traje amarelo e uma peruca avermelhada. Em seguida, cobre seu rosto com uma grande máscara em renda negra, a fim de que nenhuma parte de seu rosto, se torne visível. No local, ela diz chamar-se Gabriela. É neste recinto que a Imperatriz passa horas em companhia do jovem Fritz Pacher, que não só desconfia de sua identidade, como troca confidências e risadas com ela durante grande parte da noite. Sissi guardaria o endereço do jovem, onde viria a enviar um carta com a letra disfarçada, tempos depois.

No dia 27 de fevereiro, Franz e Andrassy retornam de São Petersburgo. A viagem fora bastante satisfatória para ambos. Neste momento, a única distração para Elisabeth, é a lembrança do dia de sua aventura no baile à fantasia. Ela cultivou a correspondência com Pacher, trocando cartas em fevereiro e março, fingindo estar na Inglaterra, para onde só pretendia ir no fim do verão. Uma das cartas dizia:
”Caro amigo. Quanta pena tenho de ti! Tão longo tempo sem notícias minhas; que deserto terá sido a tua vida, quão interminável as horas! Mas não me foi possível agir de outro modo. Minha cabeça estava esgotada, carecia do ímpeto de escrever. Certos dias o teu dominó amarelo (apelido que Sissi ganhou, em referência ao chamativo traje amarelo que usava no baile) sentava-se horas a fio à janela, com o olhar perdido no nevoeiro, desconsolado; depois eu voltava a ser alegre e corria de uma diversão para outra. Se eu pensava também em ti? O que eu pensava, sei-o eu, isto é suficiente. Não tenho nenhuma obrigação de satisfazer a tua curiosidade, senhor presunçoso, e assim nada te direi a este respeito. Elogiam tanto Londres! Para mim, é insuportável. Tenho que te descrever a cidade? Leia o guia Baedeker, e me poupará o trabalho! Pergunta-me como passo meus dias. Há pouco de interessante. Alguma velha tia, um cachorrinho birrento, muita lamuria acerca de minha extravagancia e, para diversão, todos os dias um passeio de carro, à tardinha em Hyde Park; à noite, uma reunião da sociedade após o teatro: eis ai minha existência, em todo o seu oco, a sua insipidez, seu aborrecimento. Sim, Fritz, até tu serias uma distração aqui. Que dizes a isto? Serás menos presunçoso, ao menos por um dia? Imagine que fraqueza: sinto saudades, sim senhor. Saudades da tua Viena despreocupada e cheia de sol; mas, como os gatos, saudades do lugar, não das pessoas. E agora, boa noite. O relógio que tenho em minha frente marca meia-noite e pouco. Sonhas comigo, neste momento, ou faz ressoar contos apaixonados no silencio noturno? No interesse dos vizinhos, faço votos antes pela primeira hipótese.
Minha prima regressou para casa dos pais; por conseguinte, quando escreveres, enderece assim: Mr. Leonard Willand, General Postoffice, London.
Cordiais saudações,
Gabriela.
A carta é entregue por Elisabete à sua irmã, ex-rainha de Nápoles, que vai justamente à Inglaterra, e se encarrega de retirar no local, as correspondências posteriores. Ela acredita que este, é o melhor modo de confundir as pistas e preservar sua identidade.
Quando contou sua aventura à sua dama Ferenczy, esta alarmou-se, pedindo que encerrasse com as correspondências o quanto antes, uma vez que estas, poderiam ser mal interpretadas se descobertas. Mas Sissi recusou-se.
A sua nova carta suscita no destinatário verdadeira tempestade de sentimentos. Em abril ela lhe envia outra correspondência, ainda simulando estar em Londres.
Com as descrições da Inglaterra e alusão à sua antipatia por cães, a intenção de Elisabeth era despistar Fritz. No entanto, o jovem, que desconfiava de sua identidade desde o baile, devido ao seu traje e modos requintados, parece não ter se deixado enganar. Ele inclusive chegou a aludir a ela, como se fosse a Imperatriz, respondendo-lhe que seu nome não era Gabriela, tampouco Frederika, e que podia muito bem chamar-se Elisabeth. A fim de castigá-lo, a Imperatriz cessa todas as correspondências, optando por ignorar totalmente sua aventura no baile de mascaradas de uma vez por todas.

Vem crescendo um grande interesse em Elisabeth de conhecer a Inglaterra, tida como o paraíso da equitação. E no final de Julho, a Imperatriz segue até a ilha de Wight junto de sua filha mais nova, a fim de fazer um tratamento curativo com os banhos de mar.
Neste período, Sissi evita recepções formais, e encara sua estada como merecidas férias. Especialmente devido as intrigas correndo em um partido boêmio, que culpa Elisabeth por Franz não ter se coroado em Praga. Para os absolutistas e centralistas, a política da Arquiduquesa Sofia, a quem eles almejariam voltar do mortos, desapareceu por culpa da Imperatriz.
Após uma estada em Londres e na Irlanda, Sissi retorna ao continente, seguindo uma maratona de viagens, que incluem Ischl e Possenhoffen. Os últimos dias do ano são passados ao lado do Imperador e família, em Godollo, fazendo cavalgadas.
Outro ano inicia-se, e com ele, os deveres protocolares nas festas e atividades da corte. Elisabeth passa a usar cada vez mais sua sombrinha e leque, a fim de evitar pessoas indesejadas a seu lado.
Muitos interpretam sua timidez e solidão, como um tipo de arrogância ou ar real, o que não poderia ser mais diferente.

A imperatriz necessita de um apoio, carece de amigos fiéis e sinceros a seu lado. Ela carrega um calendário, um simples almanaque popular húngaro, István Bácsi Naptára – no qual de vez em quando faz anotações de próprio punho, marcando alguma curta poesia que mais tenha gostado, ou escrevendo uma que ela mesma tenha criado. Sob a data de março de 1875, encontramos a seguinte passagem, intitulada ‘Sem Repouso’:
”O grande desejo cede a um maior,
o coração nunca está satisfeito.
E se porventura conseguires a felicidade
não é mais felicidade para ti…”Poema 2:
”Deveria então constranger-me?
E disto tiraria proveito?
Quem, então, é vencedor
se a vencida sou eu?
É um louco salteador
que julga enriquecer
a si mesmo na floresta
espreitando e roubando.”
Na Hungria é onnde Elisabeth mais sente-se à vontade. É sempre triste ter de retornar à Viena, em uma corte onde muitos não a querem bem. Pelo menos, ainda nestes anos, a Imperatriz pode regozijar-se da companhia de seu afetuoso marido Franz, e da alegria que os animais, a equitação, ginástica e cavalos lhe dão.
Continua…
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Artigos anteriores:
Primeira Parte: Nascimento e Primeiros Anos
Segunda Parte: Casamento e Vida na Corte Austríaca
Terceira Parte: Gestações e Desventuras com a Sogra
Quarta Parte: Batalha de Magenta, Depressão, Doença e Retiro
Quinta Parte: Guerra Austro-Prussiana e Conflitos na Hungria
Sexta Parte: Guerra Austro-Prussiana, Coroação como Rainha da Hungria
Sétima Parte: Morte de Maximiliano, Gravidez, e Conflitos com a Prússia
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