O Palácio de Versalhes, localizado a aproximadamente 20 minutos de Paris, funcionava como uma gaiola dourada, que apartava seus habitantes da dura realidade da miséria na França. Enquanto milhares de pessoas morriam de fome e peste pelo reino, atrás dos ricos portões do palácio, nobres esbanjavam com festas de alto luxo, jogatinas e compras de requintados tecidos, jóias e sapatos.
Esta realidade, no entanto, não resumia-se apenas ao moradores de Versalhes. A França durante a regência de Luis XVI, estava dividida em duas categorias bastante distintas: Os milionários e os miseráveis. Tal choque de camadas sociais era um dispositivo em constante fermentação para o estouro de uma grande revolução popular. Em outras palavras, o comércio de alto luxo e semi-luxo, dependida do dinheiro dos ricos e nobres para ser sustentado, sendo realizado através da manufatura de um povo faminto e miserável. E dentro deste contexto, em um país onde detalhes de aparência, trajes e apresentação eram assuntos de extrema importância, durante 20 anos, em seu palco particular de Versalhes, construído como uma passarela enfeitada sobre um abismo, Maria Antonieta representaria com estilo e graça, o papel da perfeita rainha do rococó.
A Estrela de uma Corte:

Quando Luís XVI assumiu o trono francês, as expectativas familiares de que Maria Antonieta intercedesse politicamente em nome da Áustria, eram enormes. No entanto, as mesmas mostrariam-se frustradas, uma vez que tornou-se claro que a rainha consorte da França, estava politicamente isolada dos assuntos de estado.
Como rainha consorte, os poderes políticos delegados à Maria Antonieta eram praticamente nulos. Era esperado na corte de Versalhes, que as rainhas consortes levassem vidas simples e pacatas, ocupando-se apenas das funções de criar seus inúmeros filhos e alienar-se de todo e qualquer problema envolvendo a política de estado. Seriam as amantes dos monarcas, as responsáveis por gastar vastas quantias em dinheiro em luxo, moda e trivialidades. Porém, ao contrário das esposas de Louis XIV e XV, Maria Antonieta passou a utilizar a moda e beleza, como um holofote onde podia expressar o que outrora lhe seria proibido. Com seus volumosos penteados, maquiagem e roupas, a rainha posicionou-se diante de seu povo, alimentando uma iconografia áurea de seu status régio. Ao invés de esconder-se atrás das pesadas portas de Versalhes, Maria Antonieta procurou publicidade para o estilo que construiu com ajuda de seus ministros da moda, e que seria referência em magazines por toda Paris, sendo exportada até às Américas, e consumidas por ávidos leitores, como por exemplo, o futuro presidente americano, Thomas Jefferson.
Os cosméticos da rainha:

O século XVIII foi caracterizado pelo exagerado uso de cosméticos pela aristocracia francesa. O interesse por roupas e sapatos elaborados, separavam os ricos dos pobres. Na corte real, a aplicação de rouge era generosa, e pós e tinturas eram utilizados a fim de criar dramáticos looks. Os cosméticos também tinham objetivos práticos, seu uso criava o que era considerado um rosto atraente, e eles podiam ocular os efeitos da idade, doenças ou manchas de sol.
Neste período ocorreu o resgate de itens de maquiagem outrora utilizados durante o renascimento. Entre eles, podemos destacar o ceruse veneziano e a cochonilha. O carbonato de chumbo, ou Ceruse (composto químico de fórmula PbCO3 ) possuía uma tonalidade de branco puro, sendo facilmente manufaturado e misturado a óleo, e deste modo, sendo diversas vezes aplicado em paredes, telas, madeira, ou até mesmo, na própria pele. Ele foi muito usado no século XVI, especialmente na corte de Elizabeth I da Inglaterra, a fim de conferir uma tez alva, algo que a última rainha Tudor, utilizaria como iconografia de reinado. Embora no século XVIII, as pessoas estivessem perfeitamente cientes da natureza potencialmente fatal do ceruse, ele continuou sendo um item cosmético popular. Ele era comumente aplicado em pegajosas camadas, coberto por pó de arroz e mantido por longos períodos de tempo, geralmente cobrindo a pele danificada por causa de seu uso prolongado. O uso excessivo desta substância, geralmente ocasionava em graves tipos de envenenamento, queda de cabelo, depressão e até a morte.

Além do ceruse, o cosmético mais utilizado no século XVIII, era o rouge. Ele consistia em um tipo de pasta cremosa, que servia para tingir a face das pessoas. Suas cores variavam de um rosa pálido ao laranja vivo, de acordo com as mudanças da moda. O rouge era o cosmético colorido mais aceito de todos, sendo usado tanto por homens quanto por mulheres. Ele era aplicado com fofas e densas esponjas feitas de lã espanhola. As origens dos ingredientes também resultava em diferenças em seus usos. O carmim ou cochonilla, corantes extraídos a partir de besouros, resultava em uma forte coloração vermelho azulada. Pigmentos extraídos de minerais, criavam tonalidades rubro avermelhadas. Por sua vez, rouges confeccionados a partir de bases vegetais, criavam tonalidades mais naturais e transparentes de vermelho. Ao contrário da França, que optava por utilizar tons fortes e escuros deste cosmético, na Inglaterra, a opção nacional era o uso de tonalidades mais claras do mesmo.
Nesta época, milhares de bálsamos labiais, pomadas e óleos perfumados foram vendidos por toda a Europa. Cada país tinha seu tipo de fórmula, o que ocasionava em variedades de receitas e produtos diferenciados, estimulando a importação e exportação pelo continente. Para hidratar e perfumar a pele, os cremes eram feitos a partir de banha de porco ou carneiro, misturadas com cera de abelha e óleos essenciais. A pele pálida, seguida de sobrancelhas negras, e lábios e bochechas rosadas, faziam parte do ideal de beleza deste período. As mulheres optavam por escurecer as sobrancelhas com extrato de sabugueiro ou cortiça queimada. Também era possível obter uma sobrancelha falsa, feita a partir de pelos de rato, moda que durou de 1700 a 1780.
Segundo a historiadora Antonia Fraser, em seu livro ‘Maria Antonieta’, foi pouco após a morte de Luis XV, que a beleza da jovem rainha chegou em seu auge. Seus seios que antes eram pequenos, encheram-se e levantaram-se, sua leve miopia apenas trazia graça ao seu olhar, e seus cabelos de uma tonalidade loura acinzentada, tornavam-se espessos debaixo da bacia de pó neles aplicada. A jovem rainha por sua vez, exploraria todo seu esplendor com o uso de variados cosméticos de luxo.

O séquito de luxo de Maria Antonieta, era composto por seus ministros da moda – o cabeleireiro e peruqueiro Léonard Autié, e a modista Marie-Jeanne Rose Bertin – e seu maquiador e perfumeiro particular, Jean-Louis Fargeon, responsável por desenvolver fragrâncias e itens cosméticos para a rainha. Fargeon criou para ela nove tonalidades diferentes de rouge, enquanto a maioria das mulheres dispunha apenas de uma cor.
Segundo Fraser, a febre do rouge na corte francesa, não passou despercebida aos olhos estrangeiros, especialmente ao dos próprios familiares da rainha. Quando Jose II chegou à Versalhes, o uso de maquiagem de sua irmã, rendeu-lhe comentários jocosos: – ”Um poucos mais!” – diria ele – ”Vai, põe mais debaixo dos olhos e no nariz, assim pode ficar parecida com uma das Fúrias se tentares!”
Segundo a historiadora, a impressão passada pela jovem rainha aos outros, era a de uma pessoa que utilizava as compras e outras vaidades, com modo de compensar lacunas em sua vida, como por exemplo, na época, a falha em gerar um herdeiro à coroa francesa.
A França do século XVIII experimentou a era da beleza e do materialismo. Para as mulheres de classe média, realçar um look com uma cuidadosa aplicação de cosméticos, era um importante passo para assegurar um importante casamento ou um alto status social. Em meados de 1770, com o crescente descaso pela nobreza e realeza, itens cosméticos deram espaços a looks mais naturais.
Uma paixão por perfumes:

O significado do perfume foi aflorado na França durante o século XVIII. Algumas das maiores perfumarias, como Houbigant, estabeleceram-se durante este período, existindo até os dias atuais. A corte de Louis XV, por exemplo, foi apelidada de a corte de perfume. Sua amante, a Madame Pompadour, recebeu os créditos por consagrar as cidades de Montpellier e Grasse, como os centros da perfumaria no mundo.
Em 1789, com o início da Revolução Francesa, o uso dos perfumes foi banido do país, uma vez que era considerado uma prática desnecessária. No entanto, tal prática retornaria após o reinado de Napoleão I, estabelecendo-se na França até os dias atuais.
Um sorriso controverso:

Atualmente, aliado à uma bela maquiagem, está um sorriso impecável. No entanto, para muitas pessoas do século XVIII, a higiene bucal era uma neglicenciada prática de limpeza. Muitas pessoas tinham dentes cariados e apodrecidos que caiam com o tempo, e por isso, usavam preenchimentos de cortiça, a fim de evitar bochechas murchas. Dentes falsos eram produzidos de ossos e marfim. George Washington tinha uma dentadura feita de ossos de animais e marfim. Dentes verdadeiros eram ocasionalmente retirados de cadáveres. Pós dentais eram usados como abrasivos para limpar os dentes. Esponjas e raspadores de língua, que diminuam o mal hálito, eram populares na época.
Cabelos Empoados:

Nesta época também era comum o uso de cabelos empoados, que nada mais eram que cabelos cobertos de um tipo de pó branco, que lhe conferiria uma aparência acinzentada, volume, e maior garantia na fixação de penteados. Tal técnica era utilizada tanto por homens quanto por mulheres, sendo uma herança trazida também do reinado de Luis XV, quando seu uso também era moda.
O principal produto utilizado no empoamento dos cabelos no século XVIII, era a farinha de trigo e o pó de arroz. O vasto uso diário do pó no cabelo pela população francesa, chegou a ocasionar uma lacuna temporária no abastecimento de trigo na França. Mesmo com os milhares de franceses passando fome, uma substancial quantidade de farinha de trigo ainda era usada para preencher os fios das classes mais altas.

Em um reino quebrado e repleto de gente faminta, os pomposos penteados cobertos de pó, seguidos de um programa econômico fracassado por parte dos estadistas franceses, logo ocasionaram no evento conhecido como ”A Guerra da farinha”. Segundo Weber, embora Maria Antonieta não tenha proferido a famigerada frase ”que eles comam brioches” (“Qu’ils mangent de la brioche”), não é implausível que a duradoura associação entre sua insensibilidade e enfeites de bolinhos e cabelos empoados, tenha se originado de seu hábito de exibir penteados cobertos de pó, diante de uma nação sem pão.
Mesmo odiado pelo povo mais humilde, a moda dos cabelos empoados continuaria em voga inclusive após a Revolução Francesa, embora fosse utilizada em menor escala que anteriormente.
Os Penteados da Rainha:

Em meados de 1775, a opulência alcançou um nível drástico e todos os seus símbolos foram ainda mais engrandecidos. As perucas eram maiores, assim como as joias e roupas. As perucas usadas em festas, raramente eram repetidas. Tinha-se por costume encomendar uma para cada ocasião especial. Em suma, a moda francesa era o reflexo do abismo politico-social vivenciado no reino.
A elegância masculina podia ser tão exagerada quanto a feminina. Os homens também aderiam a moda das perucas e penteados extravagantes, encomendando modelos novos e sempre que podiam, usando seus cabelos na altura dos ombros, com cachos e empoados.
Todos os dias após acordar, Maria Antonieta fazia o ritual público do toilet. Esta rotina era cuidadosamente elaborada e encenada, a fim de favorecer membros da corte real, que pudessem assisti-la ou ajudá-la. Eram nestas ocasiões que as damas da corte discutiam assuntos de suas indumentárias, frequentemente convidando intelectuais para juntar-se à roda.
O penteado era a segunda preocupação de Maria Antonieta toda manhã, após o ritual em que escolheria a roupa que usaria no dia. Seu cabeleireiro, Léonard, iria atendê-la todos os domingos, indo à Versalhes em uma carruagem puxada por seis cavalos. Uma vez que a rainha permitia que seus atendentes se ocupassem de outras freguesias em Paris – a fim de que ficassem antenados às novas modas – quando não estivesse na corte, Leonard deixava seus atendentes diários para executar os penteados reais. Segundo Madame de Genlis, Léonard brilhou desde o primeiro momento que chegou à corte: ‘‘Léonard chegou, chegou e tornou-se rei!”
Em 1776, época em que ocorreu uma considerável queda em sua relação com o rei, foi dito que os cabelos de Maria Antonieta ficaram ralos de tanto cair, afinando de modo dramático. Quando engravidou, as pomadas, pós e penteados pareceram complicar ainda mais a situação, levando Leonard a adaptar penteados para esta fase, algo que faria com perfeição.
Os Poufs:
Nos primeiros meses de 1774, Bertin e Léonard, criaram um inovador toucado chamado ‘pouf’. O cabeleireiro da rainha havia ganhando prestígio há pouco, quando desenvolveu elegantes penteados para atrizes e nobres francesas.
O pouf era feito sobre uma armação confeccionada em arame, tecido, gaze, crina de cavalo, cabelo falso e cabelos da própria mulher que o utilizaria, sendo erguido acima da testa da mesma. Após finalizá-lo no cabelo, o peruqueiro completaria o visual acrescentando rebuscados adornos de natureza morta e miniaturas variadas, a fim de expressar sentimentos ou comemorações especiais.
Stefan Zweig, em sua biografia da rainha francesa, descreveria de modo detalhado, a prática dos poufs:
”Com auxílio de pomadas fixadoras, primeiro o cabeleireiro penteia todos os cabelos para cima, em linha vertical, elevando-se desde a raiz até quase o dobra da altura de um chapéu de granadeiro prussiano. Só então, no espaço vazio, aproximadamente meio metro acima da linha das sobrancelhas, começa propriamente o reino plástico do artista. Não são apenas paisagens inteiras e panoramas com frutos, jardins, casas e navios em mares revoltos, uma colorida miscelânea é modelada com um pente sobre esses poufs, ou quês-à-quo.”
Segundo Caroline Webber em seu livro ‘A Rainha da Moda‘, os poufs eram como cartazes móveis personalizados, que promoviam uma radical transformação na aparência das francesas.
O encantamento de Maria Antonieta para com esta prática de penteado, foi quase imediato, e segundo aponta Weber, ”é quase impossível imaginar um adereço mais apropriado para sua campanha de maior prestigio publico’‘. A rainha da França exibiria seu visual pelas ruas de Paris, local para onde viajava de duas a três vezes por semana, no início do reinado de Luís XVI.

Dentre estes penteados realizados a partir do uso dos poufs, dois tornaram-se notórios. Eles são:
– Coiffure à l’Iphigénie: Um dos primeiros penteados de sucesso da rainha. Composto de frutas, adornados em um negro véu, encimado por uma lua crescente. Este penteado foi usado pouco tempo após a morte de Luís XV. Ele também visava homenagear a ópera do compositor Christoph Willibald Gluck, intitulada Iphigenie en Aulide, que havia estreado há pouco em Paris.
– Pouf à Inoculacion: Este penteado foi exibido pouco tempo após Maria Antonieta convencer seu marido, Luís XVI, a se submeter a uma inoculação de varíola, que nada mais era, que o ato de introduzir o vírus no organismo humano, a fim de que este obtivesse imunidade ao mesmo. Este costume era comum na Áustria, mas pareceu espantoso aos olhos de muitos franceses, que inclusive chegaram a apresentar petições a fim de que o monarca não se expusesse à tais práticas. Após a inoculação ter sido um sucesso, fazendo com que o rei retornasse em pleno estado de saúde, Maria Antonieta regozijou-se de seu feito, e a fim de comemorar, encomendou um gigantesco pouf, exibindo emblemas referentes à inoculação e à medicina. Atrás destes emblemas, ficaria uma árvore e um grande e brilhante sol, em referência a Luís XIV, ancestral em comum de Maria Antonieta e seu marido. Foi um dos penteados com forte conotação política utilizados pela rainha, uma vez que o emblema do sol encarnado, poderia referir-se tanto a ela, quanto a seu marido.
Pouco tempo após a moda dos poufs chegar ao auge, outro acessório rivalizaria a atenção das francesas: as penas de avestruz. Estes adornos poderiam chegar a mais de 90 centímetros de comprimento, e eram itens de caríssima aquisição.
A febre dos poufs, no entanto, não agradaria a todos. Segundo o Abade de Véri: ”Plumas e penteados ridículos se propagaram até as partes mais remotas do reino, e talvez em breve conquistem toda à Europa’’.
José II, também faria comentários a respeito dos penteados de sua irmã, Maria Antonieta. Segundo Fraser, ele diria que achava a fabulosa criação emplumada, ”leve demais para suportar o peso de uma coroa”.
Nem a mãe de Maria Antonieta, Maria Teresa da Áustria, deixaria de comentar sobre o assunto: ”Não posso evitar tocar em um assunto que vejo nos jornais com muita frequência: teus penteados! Dizem que atingem 90 centímetros de altura desde a raiz dos cabelos, acima disso ainda são adornados com penas e fitas…’’
No entanto, para a jovem que utilizava tais artifícios pois, segundo ela, ”tinha medo de entediar-se”, isso nada tinha de anormal, uma vez que o pedaço de mundo no qual estava acostumada a chamar de lar, o palácio de Versalhes, já estava habituado à esta moda.
Os poufs poderiam fazer sucesso na cabeça das mulheres, mas eles também eram um acessório difícil de usar, deste modo, tendo muitos pormenores. Eles eram praticamente impossíveis de lavar, facilitando então a proliferação dos mais variados tipos de fungos. Isso por sua vez, ocasionaria em um certo grau de coceira e agonia por parte de sua usuária. Ele também era desconfortável para dormir, uma vez que a mulher teria de prender seus cabelos a uma atadura tríplice, que apertaria e latejaria a cabeça repleta de acessórios, pomadas, apliques, pós e etc. A mulheres apoiariam a cabeça em travesseiros, dormindo quase que em posição totalmente ereta. Os poufs eram desconfortáveis até na execução das mais simples tarefas diárias da corte, como entrar em uma carruagem ou dançar. Segundo Weber:
”Com sua armação de gaze, flores e plumas, os penteados alcançavam alturas tão vertiginosas, as mulheres não conseguiam mais encontrar carruagens com teto suficientemente alto para acomodá-las, e com muita frequência via-se uma mulher mantendo a cabeça abaixada, ou pondo-a para fora da janela, enquanto viajava. Outras senhoras optavam por ajoelhar-se, como uma maneira ainda esdrúxula de proteger o ridículo edifício que as estorvava’’.
Zweig também comentaria sobre a moda dos penteados em seu livro:
”Aos poucos aquelas torres de cabelo e enchimentos tornam-se tão altas, graças a enchimentos maiores e mechas artificiais, que as senhoras não conseguem sentar-se em suas carruagens, ficando de joelhos com as saias erguidas, caso contrário a construção tocaria o teto dos coches; os caixilhos das portas do palácio são ampliados para que as damas não mais precisem abaixar-se ao cruzá-las; os tetos nos camarotes são arredondados”.
Nem a rainha escaparia de tais desventuras. Em um baile dado pela Duquesa de Chartres em fevereiro de 1776, Maria Antonieta estava usando plumas de avestruz enormes em seu cabelo, e para sair da carruagem sem danificá-las, precisou que duas damas as retirassem antes que ela pudesse sair da mesma e depois, as colocassem de volta em sua cabeça.

Os satíricos não deixaram por menos, ilustrando as desventuras destas mulheres em charges que se espalhariam pela França e resto da Europa, onde podia-se ver damas com cabelos pegando fogo ao encostar em lustres, ou presos em postes.
A fim de solucionar estes problemas, Le Sieur Beaulard, um negociante de modas e rival de Rose Bertin, inventou um penteado com um dispositivo mecânico que, quando era necessário, abaixava de 30 a 60 cm de altura. Talvez por um apreço à moda e as dificuldades que a mesma carrega, este dispositivo de molas, chamado de ‘coiffure à lá grand-mère‘ acabou por nunca tornar-se muito famoso.
O amor e devoção de Maria Antonieta por penteados, moda e luxo, também mostraria ser sua perdição, nesta constante escadaria que daria para o abismo de sua própria vida. Segundo Zweig, só quando a revolução a arranca violentamente daquele minúsculo palco rococó, a rainha reconhece o enorme erro de ter escolhido um papel limitado demais: o de serva de seus próprios e frívolos desejos.
O reflexo da moda Européia no Brasil Setecentista:

Não poderíamos deixar de mencionar o reflexo da moda européia desta época, no Brasil e na América setecentista. A moda era trazida da Europa, através de membros da alta sociedade brasileira, que viajavam ao continente para passar temporadas ou estudar. Jovens brancos abastados que viviam em Portugal ou na França, difundiam os costumes recém-adquiridos ao Brasil. Embora neste período, a taxa de miscigenação no Brasil entre negros, brancos e índios fosse alta, eram raras a população mestiça que fizesse parte das altas camadas sociais.
No país as pessoas apreciavam looks mais naturais e usavam pinturas com moderação. Já ao norte do continente, nos Estados Unidos, os Macaronis – homens obcecados pela moda, e que vestiam-se de modo mais efeminado – chegaram a ter espaço. Era comum que usassem grandes perucas empoadas e muito rouge, fazendo com que fossem constantemente satirizados por suas práticas consideradas muito femininas.
Bibliografia:
HERNANDEZ; Gabriela. Classic Beauty: The History of Makeup. Schiffer Publishing, Ltd. (September 28, 2011).
WILLIAMS; Neville. Powder and Paint: A History of the Englishwoman’s Toilet, Elizabeth I – Elizabeth II. (Longmans Green, 1957).
VITA; Ana Carlota R. História da Maquiagem, da Cosmética e do Penteado: Em Busca da Perfeição (Anhembi, Morumbi, 2008).
DOWNING; Sarah Jane. Beauty and Cosmetics 1550–1950. Shire Publications (February 21, 2012).
ZWEIG; Stefan. Maria Antonieta: Retrato de uma mulher comum. Zahar (15 de abril de 2013).
FRASER; Antonia. Maria Antonieta. Record (30 de novembro de 2006).
WEBER; Carolina. Rainha Da Moda. Como Maria Antonieta Se Vestiu Para A Revolução. Zahar; (1 de agosto de 2008).
Muito bom!