Restrições da Realeza: É verdade que a família real não pode comer frutos do mar?

Tempos atrás houve uma calorosa discussão na internet, a respeito dos protocolos reais envolvendo a entrada da então atriz americana, Meghan Markle para a família real inglesa. Entre as normas que a jovem deveria seguir, algumas eram bastante curiosas, como o ato de não participar de partidas de Banco Imobiliário, andar sempre um passo atrás de seu marido, e não comer frutos do mar. Embora os dois primeiros casos tenham soado muito mais problemáticos ou contraditórios no Reino Unido, parece que alguns leitores brasileiros apenas focaram-se ao fato de que a jovem não poderá mais desfrutar de frutos do mar. Mas será que é verdade?

No artigo de hoje, falaremos um pouco mais sobre o assunto.

Embora para muitos seja uma iguaria deliciosa de se desfrutar, o fato é que o consumo de frutos do mar, desde os tempos antigos, esteve intimamente relacionado a perigos em relação ao seu cozimento, origem e outros pormenores. Não é para menos que, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), cerca de 350 mil pessoas por ano em todo o mundo morrem devido a intoxicação alimentar. Não obstante, também sabe-se que, o caso de intoxicação alimentar ligada a frutos do mar, também já foi a causa mortis de monarcas ingleses. O monarca Henrique I da Inglaterra, faleceu em dezembro de 1135, provavelmente devido à intoxicação proveniente do consumo de um de seus pratos favoritos, um peixe chamado Lampreia. O consumo exacerbado do mesmo, contra o conselho de seu médico pessoal, foi, segundo a maioria dos historiadores, a causa da morte do monarca inglês.

Conforme sabemos, qualquer assunto que conote a interrupção de um reinado através da morte de seu governante, é claramente um assunto de preocupação, sendo então, motivo de análise por conselheiros, médicos e servos da coroa. Uma morte por infecção através do consumo de frutos do mar, é um aspecto que continua a ser comum, inclusive nos dias de hoje.

Segundo o portal de notícias, ‘O Globo’, a OMS afirma que: ”A contaminação pode causar mais de 200 tipos de doenças, desde diarreia a câncer. Os principais agentes são Salmonella Typhi, E. coli e norovírus. Exemplos de opções inseguras incluem alimentos de origem animal crus, frutas e vegetais contaminados com fezes e mariscos contendo biotoxinas marinhas”.

Outro fator interessante é que, segundo consta, a segurança real também protocola a proibição do consumo de carnes cruas ou mal passadas pela família real inglesa, também pelo seu risco de intoxicação alimentar, que poderia levar à morte.

Segundo o jornal ‘The New York Times’: ”O consumo de peixe fresco, logo após pescado, pode ocasionar, segundo relatórios do C.S.P.I (Center for Science in the Public Interest) o envenenamento causado por uma toxina de nome scombrotoxina. Os sintomas incluem rubor de pele, dores de cabeça, cólicas, diarréia e perda de visão.’’

Segundo a lista do jornal, os campeões no ranking do C.S.P.I, em envenenamento através de alimentos, são:

4. Ostras: 132 surtos; 3,409 casos.
5. Batatas: 108 surtos; 3,659 casos.
6. Queijo: 83 surtos; 2,761 casos.
7. Sorvete: 74 surtos; 2,594 casos.
8. Tomates: 31 surtos; 3,292 casos.
9. Brotos: 31 surtos; 2,022 casos.
10. Frutos carnudos: 25 surtos; 3,397 casos.

De acordo com o site oficial da OMS:

‘’A toxoplasmose transmitida por alimentos, uma doença parasitária severa disseminada por carne não cozida ou crua e produtos frescos, pode causar até 20% da carga total de doenças transmitidas por alimentos e afeta mais de 1 milhão de pessoas a cada ano. A infecção por Listeria também tem um impacto severo na saúde das pessoas afetadas e causa aproximadamente 400 mortes anualmente na Região Européia. A Listeria pode resultar em septicemia e meningite, e geralmente é propagada pelo consumo de vegetais crus contaminados, pratos prontos para comer, carnes processadas, peixes defumados ou queijos macios.’’

Segundo o volume 1, do Diário de Saúde Pública [de 28 volumes], publicado em 25 de Outubro de 2005, por J. McLauchlin, outras doenças também envolvem o consumo de frutos do mar, como:

”A intoxicação por peixes escromboides, está associada ao consumo de peixes contaminados da família Escombroide (incluindo atum, cavala, arenque, marlin, bonito e xaréu-preto). A escombroide é uma intoxicação química e os sintomas ocorrem dentro de 10 minutos à 2 h após o consumo de da histamina pré-formada em peixes escombróides, e incluem erupção cutânea no rosto, pescoço e coxins superiores, rubor, transpiração, náuseas, vômitos, diarréia, cólicas abdominais, dor de cabeça, tonturas , palpitações, sensação de queimação oral, gosto metálico e hipotensão. Os sintomas geralmente se resolvem dentro de 24 h. Embora a maioria dos casos não procure atendimento médico, em alguns casos, os sintomas podem ser suficientemente severos para alertar os casos para buscar atendimento médico urgente, onde drogas anti-histamínicas podem ser usadas.’’

Levando em conta todos estes fatores, não é de se surpreender que o consumo de peixes e frutos do mar em geral, seja um fator arriscado pela população em geral, desde às classes baixas, até às mais altas escalas sociais. No entanto, a intenção agora. é dissecar as fontes e registros relacionados à família real britânica, a fim de compreender em quais outros fatores consiste tal protocolo de proibição.

Segundo os tabloides britânicos, tanto a rainha, quanto o resto da família real, não podem consumir frutos do mar, como Lagosta ou até carnes cruas, quando estiverem em algum banquete, evento, restaurante ou viagem não filiada à instituição da família real. Dentro do grupo de proibições, consta o marisco, devido, conforme citado acima, ao alto risco de intoxicação alimentar. [The Sun]

O principal motivo também provém do fato de que a rainha, o Príncipe Charles, e os príncipes Harry, William e suas parceiras, não podem ‘se dar ao luxo de ser vítimas de uma infecção alimentar’.

O jornal britânico The Sun revelou o que a família real pode e não pode comer quando está em um restaurante ou viaja, e parece que luxos como lagosta e bife estão fora do menu.

De acordo com o tabloide australiano NINE, o jornal The Sun afirma que:

‘’A rainha Elizabeth, sendo a líder disciplinada que é, supostamente segue essas regras sem exceção. No entanto, alguns de seus membros da família, uns mais travessos, aparentemente as ignoram de vez em quando (como é o caso do Príncipe Harry)’’.

Outros tabloides de menor proeminência, como o Travel and Leisure e Her, parecem concordar que a família real deve evitar o consumo de frutos do mar e carne mal passada em geral – o primeiro acrescentando que, água de torneira também deve ser evitada.

Mesmo envoltos a protocolos reais que devem ser cumpridos, parecem que, em ambiente familiar e quando crianças, as regras costumam ser mais suaves. Conforme o tabloide americano ‘RACKED’ ressalta, toda a comida consumida no Palácio de Kensington era totalmente controlada e decidida por terceiros. Apenas a princesa Diana foi quem decidiu ter seu próprio menu, na época em que morou no local. Para seus filhos, às vezes era servido frango assado, torta de carne moída e iscas de peixe feitas em casa. Como eles eram muito jovens, a tentativa era fazer com que os meninos comessem alimentos de crianças comuns. No entanto, esta alimentação que ia contra os protocolos, foi apenas permitida devido a idade dos jovens herdeiros.

Segundo o tabloide, Daily Mail e The Guardian, a cozinheira e chef, Rosaleen McBride, responsável por servir pratos para Barack Obama e o Presidente irlandês, a rainha Elizabeth II possui uma aversão em consumir frutos do mar. Esta informação foi passada a ela, pelo principal chefe de cozinha de sua majestade, Mark Flanagan. Segundo o tabloide, Flanagan não comentou se a monarca gostava ou não do sabor dos frutos do mar, ou se seus requisitos alimentares eram devidos somente a medos relacionados à sua saúde.

É necessário também salientar que, apesar das reivindicações pessoais da rainha em não comer frutos do mar, a equipe do Palácio de Buckingham serviu lagostas como prato de entrada na ocasião em que o presidente Obama visitou o Reino Unido, em 2011, embora não haja relatos de que a rainha o tenha consumido de fato, uma vez que ela pode declinar de um composto de determinado menu, ou substituí-lo pelo que lhe agrade mais.

Segundo aponta o portal gastronômico Cooking Light, a família real é ainda mais restritiva quando deixa suas fronteiras:

‘’Há algo a ser extraído sobre o modo como a realeza cuida de sua dieta quando está fora das fronteiras britânicas: A preparação de alimentos é muito importante, e educar-se para entender como o manuseio de frutos do mar pode afetá-lo em território desconhecido é crucial’’.

Segundo o tabloide da BBC, ‘’a rainha Elizabeth segue fielmente todas essas regras e algumas de suas peculiaridades, mas não seria de se estranhar que o jovem William ou Harry, comam uma lagosta de vez em quando…’’

De acordo com o tabloide The Guardian, a base para o consumo alimentar da família real fora dos banquetes de estado e jantares oficiais, costuma ser bem simples: pratos a base de ovos e frango. Tudo pode ser encontrado a partir dos diários do servo Charles Oliver, que trabalhou no Palácio de Buckingham durante o reinado da Rainha Victoria, e que teve seus pratos copiados nos reinados de George VI e Elizabeth II. Seus diários foram eventualmente utilizados em 2003, como base para um livro de jantares do palácio. Ele é composto por pratos com ovos mexidos, cozidos, fritos e etc. A rainha costuma apreciar pratos mais simples, como frango grelhado com salada.

O que podemos concluir, com base no que foi mostrado acima, é que nenhuma regra é forte demais para não ser quebrada de vez em quando, por motivos mais nobres. No entanto, elas existem e devem ser seguidas quase sempre à risca, a não ser que motivos diplomáticos, ou de bem-estar familiar, estejam em jogo.

Bibliografia:

BREWER; Clifford. The Death of Kings: A Medical History of the Kings and Queens of England; Abson Books London; First Edition edition (30 Jan. 2000).

Daily Mail:[ http://www.dailymail.co.uk/news/article-2702303/The-Queen-not-shellfish-Obama-hates-beetroot-Members-elite-club-chefs-cook-world-s-leaders-reveal-secrets.html]

Cooking Light: [http://www.cookinglight.com/healthy-living/health/why-the-royal-family-cant-eat-shellfish-diet-restrictions]


Racked: [https://www.racked.com/2015/5/12/8574815/royal-family-chef-cooking-princess-diana-prince-william-harry]

Travel and Leisure: [http://www.travelandleisure.com/food-drink/royal-family-banned-food]

The New Daily: [https://thenewdaily.com.au/entertainment/celebrity/2017/08/16/royal-family-diet/ ] 

WHO [OMS]: http://www.who.int/mediacentre/news/releases/2015/foodborne-disease-estimates/en/

O Globo: https://oglobo.globo.com/sociedade/saude/intoxicacao-alimentar-mata-mais-de-350-mil-pessoas-por-ano-alerta-oms-15768347

WELL: https://well.blogs.nytimes.com/2009/10/06/top-10-food-poisoning-risks/

NINE: https://honey.nine.com.au/2017/08/09/14/05/foods-royal-family-cant-eat-in-public

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