Tapeçaria de Henrique VIII, tecida com fios de ouro e prata, é encontrada na Espanha.

Uma monumental tapeçaria que custou o equivalente a um resgate de um rei quando Henrique VIII a encomendou no século XVI foi descoberta na Espanha. Durante anos acreditou-se que ela havia sido destruída.

Uma obra-prima tecida com fios de ouro e prata, ela era uma impressionante demonstração de riqueza. Na década de 1530, o monarca Tudor deu-lhe o lugar de honra em Hampton Court. A enorme tapeçaria fazia parte de um conjunto, agora perdido, de nove tapeçarias que retratavam a vida de São Paulo.

Para Henrique VIII, assim como todos os monarcas de seu tempo, os assuntos bíblicos 4489906-6198317-image-a-32_1537701751504eram também assuntos políticos. Essa tapeçaria, por exemplo, foi encomendada na época do Ato de Supremacia, e sua cena principal retrata São Paulo dirigindo uma queima de livros pagãos em uma grande fogueira. A escolha dessa representação é era fazer um paralelo com as ações de São Paulos com as próprias ações de Henrique VIII, durante a dissolução dos monastérios orquestrada por ele.  A imagem enfatizava um antecedente religioso para as ações do rei.

A arte foi feita no mesmo período em que começaram os saques aos mosteiros e a destruição generalizada. Na mesma década, houve também especificamente uma série de proclamações sobre a destruição de “livros heréticos”, exatamente como os que estavam sendo queimados na pintura. Com a tapeçaria, Henrique estava basicamente dizendo a seus súditos que ele possuía autoridade religiosa para realizar suas ações. Como uma figura política, ele precisava justificar e fornecer sua autoridade real para as coisas menos palatáveis ​​que estava fazendo, e a arte escolhida demonstra perfeitamente sua intenção.

Simon Franses e Thomas P. Campbell, especialistas em tapeçarias, confirmaram que esta era um dos bens mais valiosos de Henrique VIII. Enquanto Franses a descreveu como “uma das mais suntuosas e importantes tapeçarias da Renascença”, Campbell a chamou de “o Santo Graal das tapeçarias Tudor”. Henrique VIII era tão apaixonado por tapeçarias que ele se gabava de ter mais de 2.500 delas, mas apenas uma pequena parcela delas sobreviveu, e esta é uma das maiores.

As tapeçarias de São Paulo estiveram em Hampton Court da época da morte do monarca, em 1547 e em 1670, Charles II as reutilizou em sua redecoração do Castelo de Windsor, onde a tapeçaria foi registrada pela última vez em 1770, antes de aparentemente desaparecer sem deixar vestígios.

Agora descobriu-se que um comerciante espanhol a comprou nos anos 60, e depois a vendeu para um colecionador de Barcelona. A tapeçaria acabou sendo vendida novamente, para um comprador não identificado em Madri, que a enviou para a Grã-Bretanha para ser limpa e conservado. Em 2013, o proprietário espanhol suspeitou de uma possível ligação de sua tapeçaria com Hampton Court e tentou em vão obter uma licença de exportação.

Franses espera que a Espanha conceda uma licença de exportação, uma vez que essa obra-prima merece estar em uma coleção pública britânica. Ele espera que o Reino Unido possa adquiri-la por muito menos do que seu valor de mais de 5 milhões de libras esterlinas, caso ela volte a entrar no mercado.

downloadA peça terá sua primeira exposição pública intitulada “Henrique VIII: As tapeçarias invisíveis”, que ocorrerá na galeria S. Franses de 1º a 19 de outubro, e fará parte de uma exposição do já referido S. Franses, especialista em tapeçarias e arte têxtil históricas. Segundo Franses: “A tapeçaria forneceu a Henrique VIII uma autoridade bíblica poderosa e inequívoca de um dos apóstolos de Cristo para a destruição de qualquer coisa vista como pagã ou ímpia”.

Thomas P. Campbell, ex-diretor do Metropolitan Museum of Art e especialista em tapeçarias renascentistas, falou de “um sentimento de reverência”, que sentiu quando viu pela primeira vez essa “grande obra de arte”. Ele passou anos estudando sobre o arquivo relacionado ao conjunto de tapeçarias perdidas de Henrique VIII. Ele reiterou que o monarca tinha uma enorme coleção de tapeçarias que desapareceu quase completamente, e mencionou que encontrar justamente essa tapeçaria depois de tantos anos era como ser transportado de volta ao passado.

A arte foi projetada para o rei por Pieter Coecke van Aelst e foi tecida em Bruxelas. Seu tamanho e seus detalhes extraordinários sugerem que tal tapeçaria teria levado até 24 meses para ficar pronta. A partir de provas documentais, Campbell calculou que as dez tapeçarias de custou tanto quanto uma das maiores armaduras do rei, e exigiu uma grande equipe de tecelões. Ele mencionou que, no século XVIII e no início do século XIX, as pinturas começaram a eclipsar tapeçarias, e muitas delas desapareceram: “Não sabemos o que aconteceu. Meu medo é que muitas tenham sido destruídas enquanto tentavam recuperar os fios de ouro usados nelas. Algumas foram doadas. (…). Esta não é a única tapeçaria sobrevivente dos conjuntos de tapeçarias, mas é uma peça iconograficamente importante da coleção de Henrique VIII, por ter uma ressonância com um período turbulento a história do país. ” Ele finalizou, acrescentando que: “As pessoas têm sido muito enganadas sobre o papel das artes figurativas na corte de Henrique, porque os historiadores da arte moldaram a história em termos de pintura e miniaturas de retratos. Conhecemos Holbein e um ou dois outros artistas, mas tem havido essa suposição de que a corte Tudor era um remanso. Não poderia ser menos verdade. Os palácios de Henrique estavam cobertos por tapeçarias de cores vivas e ricamente coloridas, com os desenhos mais modernos da época. As tapeçarias faziam parte da propaganda política dos Tudor, porque eram muito caras. Elas faziam parte da magnificência real”.

 

Fonte: https://www.dailymail.co.uk/news/article-6198317/Lost-Henry-VIII-tapestry-woven-gold-silver-thread-Spain.html

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