Qualquer pessoa que se negasse a realizar o juramento referente ao Ato de Respeito ao Juramento de Sucessão, seria acusada de traição. Diante de sua abstenção, o caso de Maria não era diferente, tendo portanto, que lidar de modo bastante cauteloso com os interesses do rei e os seus próprios. Foi nesta época em que o número de missivas clandestinas, trocadas entre Catarina de Aragão e Maria, cresceu consideravelmente.
Após a anulação de seu casamento com o monarca inglês, Catarina ficou em exílio nos castelos ingleses de Buckden, More e Kimbolton, proibida de ver sua filha. A separação entre mãe e filha, por conseguinte, partiu da crença do próprio monarca de que, tal afastamento, encorajaria uma atitude de submissão vinda da jovem, e uma possível conciliação a partir de seus interesses políticos para com a mesma. Sempre que possível, estas mulheres trocavam correspondências escondidas dos olhos do rei, sendo transportadas através de amigos ou emissários que poderiam realizar visitas à antiga rainha consorte inglesa.
Talvez o aspecto principal deste documento, tenha sido o modo como ele foi escrito. Trata-se de uma correspondência com caráter mais intimista, onde Catarina coloca-se primeiramente, como uma mãe, lutando pelos interesses de sua filha. No desenrolar da carta, podemos notar os pequenos conselhos maternos e demonstrações de afeto, acalentando Maria diante da situação em que vivia. Na época, Maria vivenciava algumas situações de extrema pressão psicológica, vindas de seu pai e sua madrasta Ana Bolena, e as palavras de sua mãe, indicavam a força pela luta de um ideal, beirando à crença católica do martírio conjunto.
Isolada na household de sua meio-irmã, Elizabeth, sob os cuidados dos tios de sua madrasta, Sir John e Lady Anne Shelton, as correspondências que a jovem de 17 anos de idade recebia de sua mãe, eram os sinais de afeto que lhe faltavam. No local, ela seria pouco mais que uma servente – a fim de lembrá-la de sua condição de bastarda. O pouco contato que Henrique VIII (que realizava visitas para Elizabeth no local) mantinha com Maria, também a deixava instável acerca do caminho que deveria trilhar no âmbito dos interesses reais.
Foi neste difícil período, onde Maria tentava lidar com as consequências legais de seus atos para com o rei, que o discurso contido na carta de Catarina, pode ter sido o baluarte de uma crença de vida que se estenderia até o período de seu próprio reinado. No documento abaixo, notamos nitidamente as instruções que Catarina fornece à sua filha, sobre como se portar diante deste cenário e de possíveis represálias vindas do rei ou de terceiros. A antiga rainha ensina à jovem, o que provavelmente pode ter aprendido outrora, como filha dos reis católicos: a manter-se convicta diante de seus ideais, mas sem desagradar a Deus.
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¹ The Act of Supremacy, 1534; C 65/143, m. 5, nos. 8 and 9.
²BL, Arundel 151, fol. 195; LP VI, 1126.
Bibliografia:
WHITELOCK, Anna. Mary Tudor: England’s First Queen; Bloomsbury Publishing, 1 Março de 2010.