Ao contrário do que convencionalmente vem sendo difundido pelo senso comum – seja através de filmes, documentários tendenciosos ou best-sellers romanceados – a atriz Marilyn Monroe foi uma mulher que preferiu levar uma vida discreta e longe dos holofotes.
Mitificada pela cultura popular, a atriz tornou-se um conhecido ícone que continua a estampar manchetes de revistas, livros, desenhos de camisetas e diversos outros itens de consumo. Durante a vida, Marilyn foi muito diferente da loira fatal, amante de joias e alvo de escândalos pelos quais ficaria conhecida em morte – momento em que foi idealizada como um ícone sexual e subproduto de Hollywood, indústria de caráter machista, que outrora fez parte.
Em vida, Marilyn temia ficar conhecida apenas por ter um belo corpo, e não por seus trabalhos e esforços para tornar-se uma boa atriz. Sua rotina longe dos tabloides e das câmeras era pacata; ela gostava de ler, escrever poesias, sonhava em ser mãe, e tinha poucos amigos verdadeiramente próximos. Minimalista no viver, Marilyn chegou a dizer em uma de suas muitas entrevistas, que não acreditava realmente que os diamantes eram os melhores amigos de uma mulher ¹ – menção ao nome da música ”Diamonds are the girl’s best friend” cantada por ela no filme de 1953, ”Os homens preferem as loiras”.
Mas então qual motivo levou esta mulher que, aparentemente gostava de levar a vida com discrição, evitando escândalos, a ficar conhecida por tantos como a amante do presidente norte-americano, John F. Kennedy, ou até mesmo do irmão deste, Robert Kennedy?
No artigo de hoje, falaremos a respeito dos mitos acerca dos supostos relacionamentos amorosos de Marilyn com estes dois homens, e a repercussão desses affairs através do senso comum e da cultura popular.

Quem foi Marilyn Monroe? Breve introdução biográfica:
Norma Jeane Mortenson – mais conhecida como Marilyn Monroe – nasceu na cidade de Los Angeles, Estados Unidos, no dia 1 de junho de 1926. Ela foi filha de Gladys Pearl Baker, e de um homem no qual a verdadeira identidade ainda permanece alvo de conjecturas.
Financeiramente e psicologicamente instável, Gladys mostrou-se incapaz de criar a jovem, desde tenra idade, deixando-a sob os cuidados de uma família adotiva, os Bolenders. Aos sete anos de idade, Norma voltaria aos cuidados de sua mãe por um breve período de tempo, até a entrada de Gladys em um hospital psiquiátrico. As frequentes crises mentais da mãe de Norma, fizeram com que a jovem vivesse para o resto de sua vida, relativamente afastada do contato materno.

Após deixar a mãe pela segunda vez, Norma é acolhida por Grace Goddard, uma amiga de Gladys. Após esse período ela frequenta um lar adotivo, ficando em 1937, aos cuidados de uma mulher de nome Ana Lower, a quem ela chamava de tia. Ela viveu com Lower até 1942, quando esta passou a enfrentar problemas financeiros, tendo que abrir mão da tutela da menina. Nesse momento, Marilyn tentou retornar aos cuidados de Goddard, que, por não mais poder cuidar dela, deu-lhe duas opções: a de voltar ao orfanato, ou de se casar. Temendo a primeira opção, Marilyn desposa, aos 16 anos de idade, um amigo da localidade, de nome James Dougherty. O casamento duraria até 1946.
Após divorciar-se, Norma passa a trabalhar como modelo, posteriormente adotando o nome artístico de Marilyn Monroe – pelo qual ficaria mundialmente conhecida. Ela conseguiria um breve contrato de seis meses com a produtora Columbia, que seria encerrado após a jovem negar-se a passar um fim de semana com Harry Cohn – dono do estúdio – em seu iate particular.

Após receber aulas de atuação da atriz e dramaturga alemã, Natasha Lytess, Marilyn atua em alguns filmes, obtendo um novo contrato de sete anos com a Fox, que seguiria com o lançamento de um dos grandes sucessos de sua trajetória artística, o longa-metragem ‘Os Homens Preferem as Loiras’ (Gentlemen Prefer Blondes), de 1953. Com este longa, Marilyn alcançaria o estrelato.
A vida de Marilyn foi marcada por quadros de instabilidade psicológica derivadas de crises de ansiedade e depressão. Ela casou-se três vezes, entre elas, com o jogador de baseball, Joe DiMaggio, e com o dramaturgo, Arthur Miller. Embora adorasse a companhia de crianças, a atriz nunca conseguiu realizar seu sonho de ser mãe. Marilyn faleceu aos 36 anos de idade, em sua casa, no dia 4 de agosto de 1962. Ela foi vitima de uma overdose acidental de barbitúricos.

A Construção do Mito de Marilyn Monroe:
Conforme visto anteriormente, com o sucesso do filme de 1953, ‘Os Homens Preferem as Loiras’, Marilyn foi eternizada nas telas como a loira fatal, e um dos símbolos sexuais de sua época. Tal estereótipo fez com que a imagem de Marilyn como uma atriz dedicada, que fazia aulas de canto e atuação, fosse ofuscada por sua aparência e curvas sinuosas, estampando capas de grandes tabloides da época.
Ao pensar na construção midiática de sua imagem como femme fatale na Hollywood da década de 50/60, podemos compreender o porquê de seu nome ser constantemente atrelado a escândalos e boatos de affairs extraconjugais com outros homens de proeminência – especialmente política – da época. Marilyn, enquanto mulher lida como desejável, deveria no senso comum, estar com um homem de posição lida como igualmente desejável.

Os boatos de um suposto caso entre Marilyn e o então presidente norte-americano, John F. Kennedy, ou até mesmo com o irmão deste (Robert) começaram a ganhar proeminência midiática após o falecimento da atriz, e o assassinato de Kennedy – em 1962 e 1963, respectivamente.
O pivô para às muitas histórias posteriormente inventadas acerca de tais relacionamentos, teve como alvo a participação da atriz no evento do partido democrata, e também aniversário do presidente Kennedy, no ano de 1962.
Happy Birthday, Mr. President – A Participação de Marilyn no aniversário de Kennedy:
No dia 18 de maio de 1962, Marilyn ensaiou a música ‘Happy Birthday’, usando o seu piano branco, juntamente do compositor Richard Adler, em seu apartamento. Logo depois (no dia 19), ela seguiu rumo ao estádio Madison Square Garden, em Nova York, onde aconteceria uma grande festa a fim de arrecadar fundos para o partido Democrata e também para comemorar o aniversário do então presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy. Uma vez que o evento tinha objetivos majoritariamente políticos, Jacqueline – a esposa do presidente – não compareceu às festividades.

Os ingressos foram comercializados por até 100 dólares – um valor considerado bastante elevado para os padrões da época. Na ocasião, 15.000 ingressos foram vendidos, e diversos artistas proeminentes compareceram ao evento, entre eles, nomes como Maria Callas, Ella Fitzgerald, Jimmy Durante e claro, Marilyn Monroe. Esta era uma grande oportunidade para Marilyn voltar a obter notoriedade enquanto atriz, uma vez que, no ano anterior, esta havia experimentado certo declínio em sua carreira, decorrente de episódios referentes à sua saúde física e mental, e o fim de seu matrimônio com o dramaturgo, Arthur Miller.
Diferente do que dita o senso comum, Marilyn não chegou no evento ‘de surpresa’, ‘chocando e irritando a todos’ – inclusive o presidente. Em realidade, ela havia recebido um convite oficial da organização do evento, além de uma autorização do estúdio da Fox (sua atual contratante), uma vez que, na época, ela encontrava-se em gravação para um longa-metragem. Outro ponto a ser destacado, é que a posterior demissão de Marilyn da Fox, ocorreria não devido à sua presença no evento per se, e sim, devido às suas muitas faltas ao set de filmagens, durante as gravações.

Marilyn não esteve sozinha durante a festa; ela estava acompanhada de seu ex-sogro, Isadore Miller, pai de Arthur – de quem ela sempre foi muito próxima. Uma vez que era seu acompanhante na ocasião, ela e Isadore permaneceram juntos durante todo o evento. Tempos depois, seu massagista, Ralph Roberts falou acerca do que Marilyn fez após o encerramento da noite. De acordo com Roberts, ela chegou em casa às 4 horas da manhã, recebendo dele uma massagem e indo direto dormir.
Não há qualquer registro de que Marilyn, durante o evento, tenha ficado a sós com Kennedy. Uma vez que tratava-se um evento oficial e ambos estavam seguindo suas agendas profissionais, tampouco haveria disponibilidade de tempo para que ocorresse qualquer assunto de natureza informal. Torna-se necessário também destacar que, durante sua vida, Marilyn teria estado apenas 4 vezes no mesmo local que John Kennedy, sendo que, dessas quatro, ela encontrou-o frente a frente em apenas uma ocasião (no caso, o evento acima citado, no Madison Square Garden).

Muito também especula-se acerca da roupa que Marilyn utilizou durante essa noite. Tratava-se de um vestido confeccionado em tecido marquisete, na mesma cor da pele da atriz, decotado e com sobreposição de tecidos, que passava a ideia de possuir certa transparência. Em realidade, não era um vestido transparente, e sim um modelo feito a partir de uma técnica diferenciada de sobreposição de tecidos, chamada moulage, e arrematado através do aplique de cristais em sua extensão. Tampouco tratava-se de um modelo inédito, sendo, por sua vez, muito parecido com outro já utilizado pela atriz alemã, Marlene Dietrich – conhecida apreciadora das confecções de Louis. O vestido também não foi costurado no corpo da atriz, conforme costumam afirmar; ele tinha um grande zíper na região das costas, o que descarta a hipótese de que a peça teria sido especialmente confeccionada para as curvas de Monroe.

Os idealizadores do mito – A construção póstuma do affair de Marilyn e Kennedy:
O mito de que Marilyn e John Kennedy se relacionaram romanticamente, surgiu menos do modo como ambos se portaram em público e diante da mídia, e mais como fruto de comentários de terceiros, quase uma década após o falecimento de ambos.

Em 1972, o autor Norman Mailer ganhou proeminência na mídia, ao lançar uma biografia sobre Marilyn Monroe. No livro, ele afirmava, entre outras informações, que a atriz havia realizado 20 abortos, era obcecada por sexo, e que tinha um affair com JFK. Na época, a notícia em questão não havia sido amplamente comentada, uma vez que nenhum outro boato acerca de Marilyn e Kennedy havia sido espalhado anteriormente.
Um ano depois, no dia 13 julho de 1973, Mailer comentou em uma entrevista com Mike Wallace, que ele escreveu o livro, uma vez que ”precisava muito de dinheiro”². Mailer também admitiu que seu trabalho não foi realizado através de uma pesquisa séria, e que acreditava que a conspiração envolvendo o nome dos Kennedys o faria vender mais exemplares. Ele também declarou que não crer realmente na hipótese de que a atriz havia sido realmente assassinada³.
Em 1974, um segundo – e dito mais ‘revelador’ – livro biográfico sobre Marilyn Monroe foi publicado, dessa vez, seguindo o fluxo editorial do sucesso de Norman Mailer. O livro em questão, foi escrito por um jornalista de nome, Robert Slatzer, sendo intitulado como ‘The Life And the Curious Death Of Marilyn Monroe’. No documento, Slatzer afirmou que conhecia a atriz desde o final dos anos 40, e que a havia desposado secretamente em 1953, no México. No entanto, talvez a informação mais amplamente divulgada por Slatzer, tenha sido a de que Marilyn mantinha um diário vermelho, onde escrevia todos os ‘cabulosos’ segredos da família Kennedy, e que estava supostamente planejando realizar uma conferência de imprensa a fim de torná-los públicos para toda o país. Slatzer afirmou que a atriz ‘sabia demais’ e que por isso, foi ‘assassinada’ pela família em questão (o bordão ‘sabia demais’ é até hoje utilizados por adeptos dessa teoria da conspiração envolvendo Monroe).

Há de se mencionar, todavia, que Robert Slatzer encontrou Marilyn somente uma vez, no ano de 1952, enquanto a atriz gravava o filme ‘Niagara’ – seu primeiro grande sucesso. Slatzer conseguiu uma credencial para entrevistá-la e tirar fotos com ela (as únicas que ele tinha com a atriz). O homem não causou boa impressão em alguns membros da produção; Richard Allan, o ator coadjuvante no filme de Marilyn, disse: “Esse Slatzer nunca viu Marilyn novamente, tanto quanto eu saiba, tanto quanto Marilyn sabia e, tanto quanto qualquer outra pessoa em Hollywood saiba”. De fato, as evidências não se encerram somente nas palavras de Allan; o nome Robert Slatzer não se encontra em nenhuma agenda telefônica da atriz, tampouco em fotos com amigos ou conhecidos da atriz. Ninguém de seu círculo social disse tê-lo conhecido. Quando questionado onde estariam os papéis do ‘casamento secreto’ dos dois, Slatzer afirmou que os havia perdido em um incêndio. Nenhum diário vermelho com ‘revelações’ foi encontrado entre os tantos poemas e anotações pessoais de Marilyn. Assim como muito do que é criado sobre Marilyn, evidências que suportam as informações de Slatzer, até os dias de hoje, nunca foram encontradas.
Após o sucesso de vendas do livro de Norman e Slatzer, surgiram dezenas de outros autores que foram incrementado essas histórias, a fim de chocar seus leitores – e novamente, sem quaisquer evidências para fundamentar tais afirmações. Após quase 50 anos do lançamento destes livros, as histórias que, nos anos 70 foram vistas como fofocas e especulações, hoje são interpretadas como sendo fatos, amplamente enraizados no senso comum e imaginário popular.
De acordo com o biógrafo de Marilyn, Donald Spoto:
Nenhum biógrafo consegue manter um argumento concreto a fim de afirmar a existência de um caso entre Marilyn e os Kennedys. Tudo o que podemos afirmar com certeza, é que Marilyn e o presidente estiveram sob o mesmo teto 4 vezes, entre outubro de 1961 e maio de 1962.⁴
Marilyn e Robert Kennedy:
Conforme mencionado anteriormente, no que tange supostos affairs, o nome de Marilyn não está somente ligado a John Kennedy, mas também ao irmão deste, Robert Kennedy – na época, então Procurador-Geral dos Estados Unidos.
No entanto, Marilyn encontrou-se pessoalmente com Robert apenas duas vezes, sendo a primeira, durante um jantar em que este era convidado especial, e requisitou a presença da atriz.
A carta abaixo, é o relato de Marilyn para seu antigo enteado, Bobby, acerca deste encontro com Robert Kennedy. Tratava-se – segundo aponta a atriz no documento aqui transcrito – de um jantar de caráter profissional, no qual ela debateu com o Procurador, temas acerca dos Direitos Civis dos norte-americanos. O jantar em questão, ocorreu no dia 02 de fevereiro de 1962, e a carta foi escrita por ela, um dia após o evento (03/02/1962).

Transcrição:
Oh, Bobby, guess what: I had a dinner last night with the Attorney-General of the United States, Robert Kennedy, and I asked him what his department was going to do about Civil Rights and some other issues. He is very intelligent and besides all that, he’s got a terrific sense of humor. I think you would like him. Anyway, I had to go to this dinner last night as he was the guest of honor and when they asked him who he wanted to meet, he wanted to meet me. So, I went to the dinner and I sat next to him, and he isn’t a bad dancer either. But I was mostly impressed with how serious he is about Civil Rights. He answered all of my questions and then he said he would write me a letter and put it on paper. So, i’ll send you a copy of the letter when I get it because there will be some very interesting things in it because I really asked many questions. First of all he asked if i had attending some kind of meetings. (Ha Ha!) I laughed and said ‘’no, but these are the kind of questions that the youth of America want answers to and want things done about.’’ Not that I’m so youthful, but I feel youthful. But he’s an old 36 himself which astounded me because I’m 35. It was a pleasant evening, all in all.
Tradução:
Oh, Bobby, adivinhe só: Na noite passada eu tive um jantar com o Procurador-Geral dos Estados Unidos, Robert Kennedy, e lhe perguntei sobre o que seu departamento iria fazer a respeito dos Direitos Civis e outros assuntos. Ele é muito inteligente e além do mais, tem um ótimo senso de humor. Eu acho que você iria gostar dele. Em todo modo, eu tive que ir a esse jantar ontem à noite, pois ele era o convidado de honra, e quando perguntaram quem ele gostaria de conhecer, ele respondeu que queria conhecer a mim. Então eu fui para o jantar e me sentei próxima a ele, e ele também não é um mal dançarino. Mas fiquei bastante impressionada com a seriedade dele acerca dos Direitos Civis. Ele respondeu todas as minhas perguntas e então disse que iria me escrever uma carta e colocaria isso no papel. Então eu te enviarei uma cópia da carta quando receber, porque haverá coisas muito interessantes, uma vez que fiz muitas perguntas. Primeiramente, ele perguntou se eu estava frequentando algum tipo de conferência sobre o assunto. (Ha Ha!) Eu ri e respondi ‘’não, mas esse é o tipo de questionamento que a juventude da America quer respostas e atitudes a respeito’’. Não que eu seja tão jovem, mas eu me sinto jovem. Ele mesmo tem 36 anos e isso me surpreendeu, porque eu tenho 35. Contudo, foi uma ótima noite.
Quatro meses depois de tal evento, uma outra oportunidade para um segundo encontro com Robert Kennedy, ocorreu através de um convite para um jantar em homenagem a Peter Lawford e Pat Newcomb, que seria organizado por Robert e sua esposa, Ethel. Pat era agente de Marilyn, e seu convite para comparecer no evento, devia-se ao fato da estreita ligação entre essas duas mulheres.
No entanto, Marilyn enviou um telegrama, no dia 13 de junho de 1962, para Robert e Ethel, declinando tal convite. É importante frisar que, o telegrama foi uma resposta de Marilyn ao casal, e não especificamente a Kennedy. O motivo da recusa da atriz, dava-se ao fato de que esta havia acabado de ser desligada da Fox e estava participando de constantes reuniões – sem sucesso – com o estúdio, a fim de tentar retomar suas relações profissionais com a empresa.
Transcrição:
Atty General and Mrs. Robert F. Kennedy,
Dear attorney general and Mrs Robert Kennedy I would have been delighted to have accepted your invitation honoring Pat and Peter Lawford. Unfortunately I am involved in a freedom ride protesting the loss of the minority rights belonging to the fev remaining earthward stars. After all, all we demanded was our right to twinkle
Marilyn Monroe.Tradução:
Pr. Geral e Sra. Robert F. Kennedy,
Caro Procurador-Geral e Sra. Robert Kennedy, eu ficaria encantada em aceitar seu convite em homenagem à Pat e Peter Lawford. Infelizmente, estou envolvida em um protesto livre contra a perda dos direitos minoritários pertencentes às poucas estrelas restantes da Terra. Afinal, tudo o que exigíamos era o nosso direito de brilhar.
Marilyn Monroe.
Além desses dois eventos acima citados, Robert também esteve presente no aniversário de John Kennedy, no Madison Square Garden, no dia 19 de maio do mesmo ano. Essa foi a segunda vez em que Marilyn encontrou com Robert pessoalmente. No entanto, assim como no caso de John, anteriormente citado, a presença da atriz em tal festividade, era de caráter profissional, não havendo motivos para acreditar que qualquer outra aproximação de caráter casual, tenha ocorrido entre ela e Robert naquele dia.
Marilyn e as supostas ligações telefônicas à Casa Branca:
Outro boato amplamente difundido pelo senso comum, é o de que Marilyn costumava manter um próximo contato com a Casa Branca, através de constantes ligações telefônicas para John Kennedy e sua família.
No entanto, Marilyn não tinha – conforme pode ser observado no desenrolar do artigo – um relacionamento próximo com qualquer um dos Kennedys, que justificasse a realização de chamadas telefônicas de caráter não-profissional à Casa Branca. A fim de desmistificar tais boatos, é possível ver na imagem em destaque (abaixo), uma foto da conta telefônica da atriz, datada de junho de 1962 – pouco antes de seu falecimento. Conforme pode ser visto, não há ligações para Washington (Casa Branca). Marilyn mantinha ligações com pessoas de seu círculo social íntimo, que viviam em Nova York, Los Angeles e etc.

Os Kennedys e Hollywood:
Marilyn Monroe não foi a única atriz norte-americana a se encontrar profissionalmente com a família Kennedy. Durante décadas, artistas de Hollywood utilizaram de seu meio e popularidade, a fim de expressar opiniões acerca do cenário político. Tal empreitada era comum, particularmente na década de 60 – período de grandes mudanças sociais – quando diversos artistas expressaram apoio aos ideais políticos representados por JFK e seus irmãos.
Na imagens destacadas abaixo, podemos ver alguns atores que mantinham relações profissionais com a família, participando de eventos ao lado dos Kennedys:



Marilyn e JFK – um caso da ficção, e não realidade:
Quando as pessoas pensam em Marilyn Monroe, a maioria têm em mente seu ”affair” com o presidente norte-americano. Muitos também acreditam que Kennedy esteve diretamente envolvido com o seu falecimento. Marilyn, portanto, passou a ser vista como uma atriz desesperada em ser a nova primeira-dama; a amante de todos os irmãos Kennedys, e um joguete na mão de homens poderosos, que a destruíram porque assim podiam fazer.
Marilyn foi uma mulher vítima de uma anti-propaganda construída após sua morte, por pessoas que pouco a conheciam ou nunca tiveram a oportunidade de conhecê-la de fato. Ela viveu sua vida fazendo parte de uma indústria machista, que buscou utilizar, não o seu talento, e sim seu corpo, para lucrar e conseguir vender capas de revistas. A atriz, que passou longos anos de sua existência lendo grandes dramaturgos, estudando canto clássico, ouvindo música erudita e fazendo aulas de atuação, passou a ser conhecida pelo povo como a ‘loira fatal, que encantou um presidente’. A Marilyn que seus amigos conheceram e contam a respeito, no entanto, é alguém diferente; ela foi uma mulher discreta quanto à sua vida pessoal, evitando falar acerca de seus ex-maridos para a imprensa ou para o público, e cortando laços com pessoas, à qualquer sinal de invasão maior das mesmas em sua privacidade.
Durante sua vida, Marilyn mostrou ser uma pessoa que não acreditava em ações vingativas, sendo portanto, pouco provável que tenha colocado sua carreira em risco, apenas para prejudicar a imagem do então presidente dos Estados Unidos.
A atriz, que mais tarde se tornaria um ícone da cultura popular hollywoodiana do século XX, foi vítima de uma leitura fantasiosa de sua trajetória, fornecida por homens que queriam lucrar em cima de sua condição enquanto mulher, em uma indústria predominantemente masculina.
Envolta a mitos e contradições, o trabalho de Marilyn enquanto atriz, permanece, e sua trajetória, aos poucos, vem sendo revisada e re-analisada por historiadores, pesquisadores e biógrafos que, por sua vez, buscam separar o amálgama da pessoa e do mito.
Imagens fakes de Marilyn e Kennedy que circulam pela internet:
Conforme mencionado anteriormente, a única imagem de Marilyn Monroe e JFK existente, é a tirada pelo fotógrafo da Casa Branca, Cecil Stoughton, no evento no Madison Square Garden, em 1962. Todas as outras imagens da atriz e de Kennedy, que circulam pela internet, são montagens. Deixamos aqui, alguns exemplos conhecidos de montagens ou imagens realizadas com sósias de Marilyn e do ex-presidente norte-americano:




Referências:
Esse artigo foi escrito pela página Tudor Brasil, em parceria com Luciana Gerhardt, dona do grupo de estudos sobre Marilyn Monroe, intitulado Marilyn Monroe Fãs – Brasil.
₁ – [‘As pessoas me perguntam com frequência: ‘Você acha que os diamantes são os melhores amigos de uma garota?’ E francamente, eu não acho.] Menção realizada por Marilyn Monroe durante uma entrevista concedida por ela à revista LIFE, em 25 de Maio de 1953.
² – [Trecho original: Asked why he hadn’t contacted Mrs. Murray, Mailer said that he didn’t like using telephone calls for getting facts and, besides, he had only 60 days to write the book and didn’t have time for investigation. He under took the project because “I needed the money.”] Disponível em: [https://www.nytimes.com/1973/07/22/archives/mike-mailer-and-marilyn-television.html]. Acesso em 20/09/2019.
³ – [Trecho Original: All Hollywood was gossiping about Marilyn having an affair with Bobby Kennedy, which I believe in fact she was not having, although they were dear and close friends. So, if she could be murdered in such a way that it would look like a suicide, for unrequited love of Bobby Kennedy, it would be a huge embarrassment for the Kennedys.”]. Disponível em: [https://www.nytimes.com/1973/07/13/archives/tv-mailer-discusses-death-of-marilyn-monroe-possibility-of-murder.html]. Acesso em 20/09/2019.
⁴- Entrevista disponível em: [https://www.youtube.com/watch?v=BACan6uXpWk&feature=youtu.be&fbclid=IwAR0fLm1Q6or9eMmgjRXnnBJdYF5A3hWHOfUg7MarX_PsoZSeiNxX1hGStUo]. Acesso em 20/09/2019.
Bibliografia:
SPOTO; Donald. Marilyn Monroe: The Biography. Record, 12 de Abril de 2013. Brasil.
VITACCO-ROBLES; Gary. ICON: The Life, Times and Films of Marilyn Monroe; Volume 1. BearManor Media; 1st edition (March 6, 2014).
BUZZFEED. The Scandalous True Story Of Marilyn Monroe & JFK. Disponível em: [https://www.buzzfeed.com/marijaneg/the-scandalous-true-story-of-marilyn-monroe-jfk-12bng?fbclid=IwAR22YA_bGComtlPlxxO9BwUP8eg5w6tSsD0DDBiq3kN7T3-3cmZaUjE6Qd8]. Acesso em: 20 de setembro de 2019.
É muito triste que pessoas sem escrúpulos ganhem dinheiro difamando a vida de alguém. Por isso temos que ter cuidado com biografias, escolhendo autores notoriamente sérios.
Parabéns pelo artigo, bem esclarecedor e detalhado.
Artigo muito bom. Meus parabéns.